É interessante notar que por estes dias duas
não-nações estiveram em causa. Os católicos , via Ratzinger, sob um fogo que extravasa a repreensão pelo ( súbito) conhecimento dos crimes pedófilos; os ciganos, na mira de vários governos ( Sarkozy é apenas o
lead dog) por motivos que também ulltrapassam os seus crimes individuais ( que existem). O ponto de contacto? Uns e outros convenientemente embrulhados numa culpa colectiva. Dá que pensar, não dá?
No site do
Bloco, em Abril último :
As autoridades alemãs e kosovares estão a exercer pressões sobre os refugiados a deportar de modo a que estes se disponham a seguir "voluntariamente" para o Kosovo. Se deixarem escoar-se o prazo até à deportação não poderão levar consigo os bens obtidos na Alemanha, nunca mais lhes será permitido deslocar-se a um país da União Europeia além de terem de se sujeitar a uma situação de absoluta marginalização quando chegarem ao território balcânico.Ainda que não confirmada ( o texto não remete para qualquer fonte) a notícia é sinal de confusão evidente. O problema começou nos anos 90, quando a UE cancelou o
visa regime para búlgaros e romenos. A partir de 2007 , passou a ser ainda mais fácil a emigração
en masse de ciganos para a França , Áustria, e Alemanha. Números
não oficiais: 600.000 na Bulgária e dois milhões na Roménia. Ainda antes de analisarmos a questão como uma mera medida securitária, temos de a ver como uma expiação.
Rei Édipo é muito conhecida, mas a suite ,
Édipo em Colono, é muito boa. Já aqui a trouxe muitas vezes, por isso recordemos apenas o essencial: Édipo chega, velho, cego e cansado, ao espaço sagrado com as muralhas de Atenas à vista. E chega portador da maldição da casa dos Labdácidas. O
Coloneus reflecte a situação de todos os párias, com culpa, sem culpa, com consciência ou sem ela. Atenas será a nossa cidade, Colono os arrabaldes onde se instalam pretos, ciganos, muçulmanos,etc.
O artigo 109 da Constituição da República de Weimar garantia todos direitos de cidadania aos ciganos Contudo, em Julho de 1926, uma lei da Bavária obrigou ao internamento compulsivo (por dois anos ) de todos os Sinti e Roma que vagueassem em bandos e não fizessem prova de emprego. A lei tornou-se lei federal em 1929. Os ciganos,
zigeuner ( do alemão "intocável") , passaram a ser encerrados nos
Zigeneurlager, sobretudo depois dos Jogos de 1936. Claro que foram sujeitos às mesmas discriminações de judeus e deficientes mentais no que ao apuramento da raça dizia respeito.O dr. Robert Ritter, psiquiatra e fanático darwinista, dirigiu a partir de 1938 os estudos raciais. Ajudado por Sophie Ehrhardt e Eva Justin ( antropólogo e psiquiatra) concluiu em 1940 que 90% dos ciganos alemães eram
mestiços e produto do acasalamento com o sub-proletariado criminoso e anti-social. Depois da guerra ,estes cientistas ( sim, não eram beatos nem evangelistas, eram...cientistas) continuaram a trabalhar n a univesidade de Tubingen ( Ritter suicidou-se em 1950).
Não me interessa comparar pontualmente esta ou aquela medida de um político europeu com o
pathos nazi. Isso , pese a boa intenção de alertar, afasta-nos do essencial. Podem pensar que são simples coincidências as actuais deportações de ciganos, ou podem ver, de novo, o que acontece quando metemos no mesmo jarro o nacionalismo e a crise económica e financeira.