E depois há aquela doçura - o tempo tuda cura. Nada. Só se for como a cura das carnes, toda sal e perda de água, o músculo ficando seco e paralisado. O que acontece é outra maravilha da natureza. À medida que os meses e os anos passam, habituamo-nos. Sem vergonha: qualquer perda é inferior à vontade de continuar a fazer as coisas mais mesquinhas.
Uma contribuição: Parece-me que o tempo, tudo, tudo, não cura, mas cura muita coisa. Depende, inclusive da cada um. O que faz o efeito é o esquecimento gradual (com tropeços nos sinais do passado, quando os revisitamos) e a conformação. O músculo pode até reforçar-se e fazer ainda coisas heróicas, não mesquinhas. Mas há quem sofra sempre e aí o único remédio para continuar vivo é mesmo a habituação à dor.
Pois há. Muito pode ser dito sobre isto e dá uma longa série. Conheço uma pessoa que nunca sequer se habituou à morte de um filho, que aconteceu há quarenta e sete anos. E tem músculo e ânimo suficientes para levantar um tractor. O filho sobrevivente apenas, até agora, soube tudo, como e quando, por outros familiares. Recentemente, recebeu a guarda do (curto) espólio desse irmão, das mãos da mãe, quase em silêncio.
É duro, é, e congelado pode até matar. Aprendi isso num célebre filmezito do Hitchcok. Mas por dentro tem de ser maleável e não pode ser seco nem demasiado salgado. Também gosto de torresmos e nesses já prefiro roer as partes duras. Nos queijos, depende dos queijos.
Mas tu repetiste-te ali em cima, ou é impressão minha?
É impressão sua Caramelo. Tinha que pôr em cima para se comentar, nem todos têm a nossa perseverança. O Vasco ficou tão profícuo em comentários após a "ida a Israel" (até se esquece que a vida não é só futebol) e aqui o nosso amigo fez repeated. (agora se acordar com mau humor vai dizer "não é nada disso!!!!") "Sou completa, faço a festa e atiro os foguetes".
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