E depois há aquela promessa - o tempo tuda cura. Nada. Só se for como a cura das carnes, toda sal e perda de água, o músculo ficando seco e paralisado. O que acontece é outra maravilha da natureza. À medida que os meses e os anos passam, habituamo-nos. Sem vergonha: qualquer perda é inferior à vontade de continuar a fazer as coisas mais mesquinhas.
O tempo tudo cura. Quando as crianças eram internadas sem os pais choravam toda a noite e no dia seguinte "portavam-se bem". Quem as visse no dia seguinte pensava que não tinha feito qq diferença não serem acompanhadas. Na realidade estavam "serenas" porque já não tinham nem ânimo, nem força, nem esperança, estavam muito mal, tinham desistido. O tempo a curar também é assim. Primeiro dói que não se aguenta, depois aguenta-se porque dói e depois não se aguenta nem dói. É como um campo armadilhado, a relva cobre-o mas nunca mais será igual.
Devia ser horrivel para as crianças dormirem sem os pais ao lado nos hospitais. E para os pais. Eu acho que ficaria a dormir numa tenda à porta do hospital, como os ciganos…;) Espero que esteja agora tudo diferente. Eu, quando era criança, nunca estive internado, mas tenho boas recordações de estar doente em casa, na caminha. Boas recordações porque não tive nada de grave, só por isso. De consultas hospitalares, fiquei com uma carinhosa recordação dos desenhos na sala de espera do hospital das crianças (era o Instituto Maternal, por acaso), com a história do Velho, do Rapaz e do Burro.
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