Morreram mais mulheres este ano às mãos dos homens, mas o que aumentou foi a visibilidade do fenómeno. Tem de se tapar o fenómeno. Esta doutrina é semelhante à defendida pelo padre Vítor Feytor Pinto quando coordenou o Projecto Vida: não havia mais UDIV ( drogados que se injectam), havia era mais visibilidade do fenómeno. O resultado foi um triste recorde que demorou anos a apagar. Faz sentido. Elza Pais, especialista em "questões de género" , também fez uma comissão à frente do Instituto Português da Droga e Toxicodependencia ( 200-2002), na linha habitual de entregar a política de droga a pessoal partidário em trânsito ou a curiosos ( João Goulão acabou com a tradição) . Conheci fugazmente ambos e guardo uma óptima impressão pessoal do padre Feytor Pinto.
FNV, eu acho que dizer que aumentou a visibilidade, não é querer tapar o fenómeno. É simplesmente dizer que aumentou a visibilidade. É um facto que essa violência é agora mais visível, precisamente porque todos lhe dão agora mais atenção, desde o Estado aos jornais, passando pela gente comum. Achas que aumentou a violência doméstica? Não sei, não sei quais os números anteriores de mulheres espancadas ou mortas pelos maridos (essa é a relação de poder tradicional, o inverso é marginal), mas não me custa a crer que não seja maior agora. Só quererão tapar o fenómeno aqueles que acham que este tipo de violência não tem qualquer especificidade em relação a outros. O mesmo se passa com os maus tratos a crianças, a pedofilia, etc. Como sabes, Portugal acordou um dia destes horrorizado com o surgimento deste fenómeno no País…
Bem, a única parte que não compreendo é porque insistes em considerar-me burro. Mas talvez tenha algum fundamento, porque às vezes tenho dificuldade em expressar-me. Portanto, referes-te a números fornecidos pelo Observatório das Mulheres Assassinadas, da UMAR? Numa pesquisa rápida, encontrei essa referência É um aumento de nove casos em relação ao ano passado. Queria eu dizer que o fenómeno se tornou mais visível desde que começou a contagem. Ou seja, desde que se começou a isolar o fenómeno, na imprensa, por ONG, pelos governos e pelas policias. Julgo que era isso a que se referia a Elza Pais. Sendo, ou não sendo, fico pelo menos com a certeza razoável de que a senhora não quereria tapar o fenómeno. E quando eu dizia que não sei se existe agora mais violência desse tipo (não falava só de assassinatos, mas de maus tratos em geral), referia-me a um período de tempo mais alargado do que este ano e o ano que passou. Sabes quantas mulheres foram alvo de violência doméstica, incluíndo assassinatos, em 1976? Nem eu. Teríamos de ir de tribunal em tribunal, de esquadra em esquadra, fazer essa contagem, e nem assim teríamos resultados fiáveis.
Não filho, não me pareces burro, só , e como sempre, aterrorizado com a possibilidade do aumento de qualquer tipo de violência ou da degradção em geral. És um conservador nato.
Não, rico, não é qualquer tipo de violência. Há agora muito mais assaltos e roubos do que há trinta, quarenta anos atrás. Podíamos todos, crianças e adultos, passear e brincar na rua de noite, na nossa cidade, que nada acontecia, e eu ia para a escola a pé sozinho, os pais não levavam os meninos até à porta da escola, como agora, a única droga que se consumia vinha da Bairrada ou do Cartaxo, não de Marrocos ou da Colômbia, claro, não se viam sem abrigo (acho até que era proibido), fora um ou outro excêntrico tolerado ou pedinte de estimação na Baixa ou bêbedo que não se aguentava nas canetas, e a limpeza das ruas era razoável (bem, esta última, nem por isso, se bem me recordo) E acredito perfeitamente que isso dos UDIV aconteceu como tu dizes, se estavas lá. Eu sei a minha parte, porque também estava lá e nem sequer temos obrigação de ter estado em sítios iguais. E outras coisas nem eu nem tu sabemos, porque nenhum dos dois lá estava, nem estava ninguém que se interessasse. Pronto, espero que a Elsa Pais não tenha dito aquilo com a intenção de esconder números e a realidade, embora sinceramente não acredite nisso. De qualquer forma, é também função dessas organizações privadas e outros grupos de pressão evitar que isso não aconteça.
Dantes não havia filhos de mães solteiras colocavam-nos na "roda". 39 são as oficiais, outras morreram e muitas outras arrastam-se já mortas. Que há mais visibilidade há. Mas continua a haver o fenómeno porque há um outro que é endémico. Escrevi isto num outro blog, sim, sou infiel ao mar salgado, às vezes, "porque as avós ensinaram as mães que ensinaram as filhas e, os homens também acham, que uma pessoa não se basta a ela própria e que tem que ter alguém ao lado para ser feliz. E saem da faculdade e "conquistam o mundo", têm amigos, viajam, pensam, são inteligentes e qdo conversam vêem-se rodeados de atenção e interesse mas o mundo está formatado e é preciso uma especial coragem para descolar dessa formatação: nada tem importância se não se tiver ao lado um tipo(a) que até nem lê livros, que é dondoca ou broeiro mas que é melhor que nada, porque entendem que nada, é estar sem companheiro(a). (39 mulheres foram mortas pelo companheiro em Portugal num ano). Há um escritor francês que não recordo o nome mas gostava de recordar que escreveu: "quem tem um grande sonho não deve contentar-se com um sonho menor". Se houver um(a) que leia livros, seja inteligente, com sentido de humor, culto(a), confiável, boa pessoa, generoso(a) sim existe, já conheci, quiser partilhar um pouquinho da vida até pode ser narcisista, mas só um bocadinho, não se pode levar muito a sério. O problema é levarmo-nos muito a sério quem se leva muito a sério, ofende-se ou ofende. Há um pormenor essencial, ele ou ela pode ser quase perfeito mas tem de querer estar connosco e, nunca, fazer nada para nos magoar deliberadamente durante mais tempo que uma breve discussão." Se diminuirmos o sonho e aceitarmos apenas para ter companhia quem realmente não amamos ou nos ama estamos a dar o primeiro passo para perder a auto-estima e se o outro for abusador tem o caminho aberto para nos fazer vítima. Este processo só diminuirá se em filmes, livros, blogues, família e amigos este machismo encapotado, e esta certeza que se está melhor acompanhado que sozinho (tb veiculado sempre neste blog) se modificar. Sim estou em directa antes que pergunte. Incapaz de trabalhar direito por falta de sono.
Como dizia Gandhi, quem não pratica o que defende...todos temos as nossas incongruências, mas discrepâncias tão explícitas em certos comportamentos dominantes chegam a ser anedóticas...como é que perante a transversalidade deste fenómeno em termos sócio-económicos, certas pessoas, ainda por cima mulheres, ainda crêem que alguém que é vítima de violência doméstica (física e/ou psicológica) o é porque ou é masoquista ou se encaixa noutro tipo qualquer de traços distintivos com que o enunciador projecta os seus próprios nas avaliações levianas que faz dos outros (há rótulos que dão tanto jeito...)...não admira, mesmo, que mulheres morram nas mãos de algozes, porque antes de perecerem (e há várias formas de matar alguém) muitas das carpideiras participaram activa e cobardemente, em linchamentos psicológicos, com ofensas gratuitas e infundadas (as tais conversas de cabeleireiro com um pouco mais de verniz), excluindo socialmente, com o discurso que advoga que quem denuncia se vitimiza (então no que é que ficamos- se denuncia é por que se vitimiza, se morre é porque deveria ter denunciado a tempo...) ...a arrogância vivencial é demasiadamente ignóbil- deveriam experimentar passar por certas experiências de vida e aí sim veriam se manteriam a máscara Comme les Garçonssobre a face, como diz Inês Pedrosa ...até lá, deveriam benzer-se para que não lhes calhe em sorte um dia ou às filhas...mas, claro, se calhar, aí sim, será uma tragédia grega...são tantas vezes estes seres que, depois, fazem grandes discursos sobre nada...
...isto é, é tão mais confortável falar-se de violência doméstica em "lares" cujas personagens encaixem nos plots cósmicos que norteiam universos, estranhamente, apaziguadores...o pior é quando os anti-heróis não são quem se deseja que sejam, pois não dá jeito e destrói imagens que são tão caras... é como a solidariedade online e à distância...as tragédias longínquas são tão melhores, pois pode-se fazer de bonzinho sem sair de casa à distância de um click ou de textos publicados detentores de uma tal sensibilidade distanciada (a mais confortável) que, antes de mais, gratificam egos com a tal necessidade de se sentirem tão magnânimos perante as desgraças alheias...quanto mais alheias, mais longínquas e mais rotuláveis melhores...agora, quando é no mesmo prédio é uma chatice, pois pode sujar a carpete...
Pois caramelo, estiveste lá. Pena é que sejas agente secreto e eu esteja para aqui a responder a um nick.Caso contrário podíamos trocar ideias como dois tipos ( ou és tipa?) que estiveram "lá".
Não, FNV, o "estive lá" não se refere ao mesmo local onde tu estiveste. Queria eu dizer que conheci outras coisas, outros locais, que também sei alguma coisa sobre o que aqui discutimos. Todos temos as nossas experiências. É pena que continues com esse princípio da desconfiança, sempre esse complexo de que és patrulhado, e relação a mim, essa irritaçãozinha permanente, comentários de duas três linhas. Agora sou "agente secreto"? Eu? É pena. Dito isto, conversa acabada. Podes respirar à vontde.
Vinha aqui comentar o seu comentário: acerca "da ideia". O seu texto poderia ser traduzido nesta metáfora. "Se tivesse só modificasse um nº do bilhete da lotaria, teria tido a terminação". O ambiente está pesado. Hoje faço anos e no dia dos meus anos faço só o que me apetece e, a escrever e a falar tb, nos restante 365 dias. Apesar, dum amigo meu mais velho e mais sage, me ter dito que os silêncios são nossos, as palavras deixam de ser, a propósito da perda de um amigo por causa do que lhe escrevi. Vá buscar (ou vão buscar) "uma man best friend", geladinha apesar do frio e "conversem". Não se deve perder ninguém na vida, todos somos precisos a todos. (não "grite" comigo hoje, Filipe. Faço anos.)
Nice try, caramelo, mas fazeres-te de parvo não adianta. O agente secreto era evidentemente uma comparação :até com pessoas que trabalharam na mesma área do que eu eu estou obrigado a falar com nicks. Tens razão , já estou farto desta merda infantil dos nicks e trics. Adios.
Chama-se exemplo prático da aplicação imediata da ideia do meu amigo "os silêncios são nossos". Boa oportunidade para não me meter. Nasci as 10.50 por isso apartir desta idade vai ser assim. 2010 anda a ensinar muito, pena é que te está a ensinar tanto que aqui a pouco ficas como "as crianças na manhã seguinte".
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