Antecipar o fim ou aguentar , numa trincheira branca, os últimos dias? A favor da primeira: o comando é nosso, a dor é apenas mental. A favor da segunda: sermos recordados como dignos na morte. A escolha é óbvia. Só que não é. Na maioria dos casos acabamos por escolher a segunda. Não por bravata ou ânsia de uma espécie de posteridade privada. Somos apenas tão insaciáveis nos dias de guarda como fomos nos belos dias do desperdício.
Se eu tiver Alzeimer e o sol me bater na cara e eu não sentir prazer, estiver (hipótese altamente improvável) com o homem que me ame e o estiver a fazer sofrer lentamente até ao desespero por não o reconhecer e por ter que me trocar a fralda até a exaustão. Eu queria que alguém tivesse a coragem de me dar uma dose letal de potássio. Eu queria, muito. Isto é ser digno na morte. Mas julgo que não acontecerá. A discussão mais fácil está em 3 aminas, ventilação assistida e critérios de morte cerebral, se os amam deixem-nos morrer. A discussão está em reanimar, reanimar, como se os médicos fossem deuses e deuses teimosos que não podem ter insucessos. A discussão está em desistir demasiado cedo, não faz hemodiálise, não se põe em cuidados intensivos porque tem idade. Ou pôe-se sem critérios porque é negócio, já existe em Portugal? Não sei. O critério não é a idade é a vida com qualidade. A idade não deve ser critério. E velho é quem tem mais de 65, o teu pai com 92 não é velho.
Se tiver Alzheimer e dinheiro para pagar, tratam-lhe o colesterol, as plaquetas, os diabetes, a tensão, fazem-lhe fisioterapia ao joelho que já não serve para andar e à mão que nem a comida leva à boca. E eu assisto a isto atónita e sem poder dizer nada.
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