É deprimente esta mania. Explica-se porque muita da esquerda portuguesa é culturalmente atrasada. E esse atraso não parece preocupá-la: recordam-se do "fascista" lançado por professores ao mesmo Santos Silva que dizia gostar de malhar na direita?
As esquerdas mais evoluídas mas respeitadoras da tradição, e mais radicais e dogmáticas, assentam a crítica nos modelos capitalistas e imperialistas de génese americana. São as esquerdas despolitizadas, dos funcionários públicos e dos jovens preguiçosos e ignorantes, que adoptam o bordão do fascismo. É verdade que os panfletistas profissionais aproveitam a onda em períodos de campanha, mas fazem-no porque existe um público-alvo fácil e lerdo.
Tudo isto tem um efeito perverso, que explica , em boa medida, por que motivo não se governa à esquerda em Portugal. Acantonando o discurso esquerdista
oficial em bordões, abstrações e catálogos de museu, ilude-se o equilíbrio. É verdade que a direita liberal ( na economia...) vocifera contra o socialismo de estado, mas isso são dores de parto: trinta anos depois do 25 de Abril, estamos organicamente muito mais perto do 24 do que do 26. E dos dois grandes ganhos - isegoria e protecção social -, só o segundo tem marca ideológica. E socialista, porque o fascismo e o nazismo, que também asseguraram a protecção social, beberam no socialismo esse princípio.