Diz o Vasco( post anterior) que o Estado rapa tudo. Seja. Conheço muito boa gente que trabalha desalmadamente e que viu o ordenado rapado, o custo das coisas aumentado e o destino lixado. Zangam-se? Talvez, mas ao contrário das sociedades comerciais não podem fugir para paraísos fiscais.
Prefiro seguir Ratzinger ( ou Adam Smith) -não ao capital sem um mínimo de moral - e ir um pouco mais além: estamos todos no mesmo barco ou não? Não duvido da existência do risco de fuga do capital, mas também não duvido da esferovite social que representa este egoísmo de albardar os sacrifícios sempre nos mesmos. Que espécie de sociedade é esta que, quando as coisas apertam, dá a uns o direito de escapar e impõe a outros o dever de sofrer?
Acrescente-se que as comparações feitas com a poupança do IVA no carro do vulgar cidadão demonstram os pés de barro da tal "dimensão social" do empresariado.
A "dimensão social" do empresariado está - e sempre esteve - no empreendorismo bem sucedido, ou seja, na geração de lucro correndo riscos. Não nas casinhas dos bairros "sociais" e coisas semelhantes.
ok, Filipe, até pode parecer imoral (embora 'a moral' não entre muito bem nos conceitos republicanos, que falam de ética republicada e acenam com a lei).
São sempre os mesmos a pagar? Desde o fim da década passada - dos queijos limianos, dos pântanos - que não são sempre os mesmos a pagar. Quem trabalha por conta própria, quem não está nas boas graças e nas negociatas do Estado e Para-Estado, quem não é empregado público andam já bem albardados - e tem de trabalhar o dobro, o triplo, para ganhar o que ganhavam há anos atrás. E sem certezas, pois muitos acabam a fechar portas, e no desemprego. Eu detesto discursos regionais, mas vão ao Norte ver o que acontece - ou ao interior, ou á Marinha Grande conversar com Eng. Neto. E a 'tensão social' só não é maior porque tantos vivem de biscates, e sempre viveram com pouco. Nos entretantos até este Outono, a função publica, tinha sistematicamente aumentos substantivos - se os salários se congelavam, havia as "progressões", umas ajudas quaisqueres, os subsidios de compensação como os agora instituidos pelo "ardina" dos Açores. Poucos públicos funcionários que conheço se reformaram esta década depois dos 60 anos - e sempre com pensões que equivalem os ordenados que tinham, com as penalizações compensadas por aumentos de 'ultima hora'. Claro que existem excepções, uns jubilados ou carolas, mas que tipicamente eram corridos para dar lugar aos 'novos', a menos que estivessem disponiveis ou servissem o corropio de bazófias deste Estado que tudo quer abocanhar. Na dita reforma da 'educação' do anterior governo, uma das poucas medidas sensatas que atalhava racionalização de custos foi logo pulverizada pela D.Alçada. Custou mais que o recorrente submarino, mas poucos se indignaram. Depois é ver as corridas ás reformas da Caixa Geral de Aposentações até ao fim do ano - também uma autêntica antecipação de dividendos- sem que o ministro das Finanças acene a um minimo de falta de 'bom-senso'.
Por isso esta indignação com dividendos tem o seu quê de irónico - o Estado e o Para-Estado, com tantas empresas 'cotadas', habituado a sustentar-se mutuamente com os impostos da malta fora dos circuitos e ocultadas das montras mediáticas, com os subsidios UE e enchumaçados com o crédito fácil contando com a Alemanha e afins como fiadores, percebem que na mingua de ordenha em que viviam, a manta já não cobre tudo e vêm as leis e as regras, não como referências ou fundações, mas (como aliás se foram habituando a ver) como uma especie de LEGO para se conformar a medida das necessidades próprias. andam agora a raparem-se uns aos outros. É uma especie de autofagia de siameses, na qual me é dificil distinguir moral, bom-senso ou até minimo de racionalidade.
E desculpe FNV, o bom-senso dita que quem nos observa , como aqueles que esperamos que nos concedam crédito, está a ver se se vive com as regras que nos proprios estabelecemos. E o que vê, com elementar bom-senso, não os deve deixar muito convencidos.
e os pequenos accionistas da PT? Aqueles que compraram 100, 200, 300 acções com as suas economias suadas, ou com empréstimos, e que agora viam uma luz ao fundo do túnel (nenhuma relação).
O problema dos dividendos não é a PT, são os accionistas.
isso do IVA é apenas a "boa desculpa" que usamos para justificar a decisão de comprar aquele carrinho que andávamos mortinhos por ter nas mãos, porque no fundo vamos pagar praticamente a mesma coisa.
a maior parte das pessoas compra carros a crédito, logo, vai pagar as prestações a 23%
Vasco, tens razão. E até existem os accionistas de pequenas empresas. Por isso é de evitar demagogia e indignação baratas e falei de grandes accionistas.
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