Vou retomando a mão que me fugiu por infelizes motivos que não vêm ao caso. Com tanto cozinheiro de fusão-plástico e tanto fanático da cozinha-sem-sabor que por aí há, esta série pretende ser um soldado no combate pelo radical primor dos sentidos. Hoje, uma sugestão sem título.
Nabos. É o tempo deles. Uma feliz coincidência permitiu que o meu abastecimento de nabos da horta não fosse interrompido pela reforma, esperada , da dona Idalina. A minha nabada , toco-a de ouvido, ouvido no sentido lato, que aprendeu com uma velha beirã criada de um coronel. Fundo de azeite, cenoura e cebola às rodelas, uma unha de louro, dois dentes de alho apalpados, estrugido ligeiríssimo como uma passada do Aimar. Água e ei-los, brancotes e sumarentos, os nabos-príncipes. É de bom tom agradecer a nabada com dois valetes: um raminho de poejo e um courato de bom presunto. O poejo, com o seu cheiro indisciplinado e sabor estóico, é o complemento directo da nabada.
Se vos sobrarem nabos, experimentem estufá-los com carne de porco. A carne, claro está, ou é de talho do mercado - se de confiança - ou de supermercado que não a vá buscar a explorações miseráveis e anabolizantes. Esfreguem a bicheza com uma vinha de alhos e esqueçam-na de um dia para o outro. Depois torturem-na em toucinho 100% puro ( o da
Montanheira, grande empresa, é de lei) e não se esqueçam de adicionar a dita vinha. Salteiem o corte ( pode ser perna, secreto, febra, tanto faz) , juntem os nabos aos cubos e pedacinhos de abóbora-menina: que linda ela fica ao pé dos marmanjos. Façam rir a caçarola com um ramo de coentros e sentem-se à mesa.
Os nabos, meus amigos, quem não os conhece é que é um grande nabo.