Não consigo esconder alguma simpatia por algumas facetas de Manuel Alegre e evoco antigas (até de outras gerações) e grandes amizades entre familiares de ambos. Por isso me custa assistir ao triste espectáculo que faz e não percebo a razão pela qual ele se deixou enveredar nesta armadilha que o Bloco Socialista lhe armou. E se deixou espartilhar entre aquela maltosa do Bloco e o piorzinho que os socialistas conseguem produzir (aquele Augusto Santos Silva, que figurinha…). E se deixou escorregar nas cascas de banana atiradas por Soares. E se deixou tentar pela campanha suja que lhe foi sugerida.
O que depois se veio a virar contra ele pois, entre outras, nunca conseguiu explicar toda a confusão do episódio BPP e a devolução (ou não) dos proveitos com a propaganda ao banco, ou a razão pela qual se afirmou quartanista quando nem o terceiro ano da faculdade tinha (mas alguém se esquece das habilitações que tem?!? Não nos bastava um Primeiro-Ministro que se licencia ao domingo, iríamos ter também um Presidente que não sabe a quantas andou?!?). Alegre diz que se engana e comete erros mas, ao contrário do que julga, os portugueses não querem pessoa assim para Presidente, particularmente neste momento gravíssimo para o qual os seus amigos socialistas conduziram o país.
Francamente confrangedor é o discurso da sua campanha. Alegre diz uma coisa, os bloquistas hiperbolizam-na e os socialistas contradizem-na: aqueles comícios devem ser uma tremenda confusão para quem os ouve. Alegre fala como se não tivesse estado na AR, como se os seus amigos socialistas não estivessem no poder há praticamente 15 anos, como se não tivessem sido eles a mergulhar o país na bancarrota. Ora pede Alegre uma intervenção bacoca do Presidente para suster o FMI, ora vem Santos Silva mandar o Presidente estar calado; ora clama Alegre pela magistratura activa do Presidente para isto ou aquilo, ora vem Assis apelar à cooperação estratégica, ora vocifera contra as cargas policiais, ora vem o Governo mandar dar umas bastonadas valentes aos sindicalistas que se manifestam: aquilo é uma confusão monumental, um desastre!
Só conseguiu a amizade bloquista, que vai alegremente às suas cavalitas, a consumação da vingança soarista (e de grande parte dos socialistas), ter Nobre a roer-lhe os calcanhares e a aporrinhá-lo para desistir a seu favor, enfim..., sair pela porta baixa. É muito pouco.
Mas no que a mim diz respeito, conseguiu retirar-me à abstenção e convenceu-me a votar em Cavaco Silva.
"Não, não o admiro; não, não é o meu herói; não, não jantaria com ele numa marisqueira da Avenida da Liberdade; não, não me riria das suas graçolas; não, não o acompanharia a uma discoteca nem me poria aos saltinhos. Estas eleições não consagram jovens cantores. Não, não o considero providencial. É um político. E um bom político faz duas coisas: administra bem a cidade e ganha eleições para poder administrar bem a cidade. Não, não espero que CS resolva o problema do Darfour nem o do preço do petróleo. Não, não lê Gide nem Mann, mas nunca se se fotografou com lombadas de livros. Os meus gostos pessoais não contam. Mais: nenhum gosto conta nestas andanças. Voto CS porque é previsível na sua acção política e sei que sabe o que nos espera. E é suficiente". Razões para votar CS, quase me convence. Realmente, tem razão é previsível. Se houver segunda volta sobem as taxas de juro. Vamos todos votar CS para não subirem as taxas de juro. (não havia necessidade)
Sim, admiro-o; sim, foi o meu herói;jantaria com ele numa marisqueira da Avenida da Liberdade; sim riria com ele; sim acompanha-lo-ia a uma discoteca mas não me poria aos saltinhos. Estas eleições não consagram jovens cantores. Considero-o quase providencial. Não um político. E um bom político faz duas coisas: administra bem a cidade (não faz parte das competencias de um PR) e ganha eleições para poder administrar bem a cidade. Sim acho que podia ajudar a resolver o problema do Darfour mas não podia nada em relação ao preço do petróleo. Lê Gide, Mann e muitos outros, mas nunca se se fotografou com lombadas de livros. Os meus gostos pessoais não contam. Mais: nenhum gosto conta nestas andanças. Voto Fernando Nobre (apesar de não ter feito campanha por ele apenas fui voluntaria para arranjar assinaturas) porque é um homem de bem que não considera a mulher uma sub-especie, um homem inteligente habituado a ouvir (que é o que compete a um presidente), e habituado a resolver conflitos em situação de crise (julgo que estamos numa situação de crise) e sei que sabe o que nos espera. E é suficiente.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.