Fazer um paralelo das vidas das sociedades com a dos indivíduos foi sempre uma tentação para a psicologia social e para o observador de costumes. Freud, Reich, Le Bon, Orwell e Roth, entre outros, cederam à tentação organicista. Não vem mal ao mundo. Peguemos na acção sobre o perigo. Não falo da reacção, mas da acção, ou seja, daquilo que resulta de uma construção da atitude depois de termos tomado consciência do que nos ameaça. E peguemos no meu traço lusitano favorito: a histeria. Há gente admirada pela calma aparente que temos exibido. É um comportamento histérico, por estranho que possa parecer.Num estádio inicial, o histérico fica abananado porque o seu texto é o da extracção de vantagens através da manipulação das fidelidades ou subserviências que os outros lhe devem. Numa desgraça anunciada, e que lhe diz respeito, o histérico fica sem letras.Literalmente, sem palavras. É verdade que já começamos a bispar alguns traços da acção futura. Um é o da atribuição de responsabilidades externas , nisso se distinguindo do deprimido. O outro é o defeito fundamental ( roubando a Balint um conceito clínico) do histérico: nas situações realmente duras, vem ao de cima a fraqueza estrutural. No nível grupal, isto significa a nossa falta de sentido colectivo ; no nível individual, a falta de amor-próprio. Recordemos o mito urbano associado a um conhecido médico português chamado a casa de uma histérica, que, numa crise conversiva, dizia estar paralisada. A mulher não se levantava da cama. O médico começa a despir-se: a mulher salta da cama e foge espavorida. É o que vai acontecer quando o FMI entrar no nosso quarto, mas não se iludam: faremos queixa do médico.
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