Quanto mais nos afastamos do centro, mais política se torna a atmosfera. Esta descrição -teoria de Benjamin ( a propósito de Marselha em Imagens de Pensamento) ainda é válida?
Tentemos definir três esferas: a central, a periférica e a ausente. A central estabelece a decisão dos aparelhos partidários e das portas corrediças das nomeações para orgãos e empresas do Estado; a periférica respira na administração autárquica e nas estruturas locais dos partidos; a ausente vive nas cidades e agrupa a população pragmática e desinteressada da política ( intelectuais, "jovens" e trabalhadores desiludidos ).
A esfera central não se modificou muito desde a modernização política de finais do século XIX. Não convoca a participação: orienta-a. A periférica (recordemos Pascoaes e a sua amarga definição dos autarcas: ninhadas de bacharéis roedores ) assegura uma dupla função. Por um lado, fornece as tropas paras as stasis partidárias; por outro, regateia a influência local através de rotação de pessoal entre os quadros partidários regionais e a administração local. A ausente divide-se entre os funcionários públicos pragmáticos, que votam em quem os prejudica menos , e os abstencionistas crónicos.
A apneia da participação cívica não se mede, portanto, pela abstenção eleitoral, antes pelo sufoco que o código de representação regido pelos colégios partidários impõe.
Antes de mais, dou-lhe os parabéns por se lembrar de Pascoaes, um dos nossos maiores vultos, esquecido por quase todos...
Depois, permita-me que lhe diga que acho curiosa a sua análise, que termina com uma consideração sobre a abstenção. Quase que afirma que a abstenção não interessa, mas continua a falar nela (é a segunda ou terceira vez?). Esta e as outras análises que ultimamente tem sido feitas, são tão certeiras como o encontro de um abstencionista com uma mesa de voto... Parece que ninguém quer perceber que, em primeiro lugar, não se pode analisar algo que se desconhece (a percentagem ou o número é conhecido, mas o "porquê" - que é o que interessa - é uma incógnita). Creio que, ao contrário do que afirma, a apneia da participação cívica mede-se também pela abstenção eleitoral...
Discordo, meu Caro FB. Claro que a abstenção interessa, mas o que ocorre até ela aparecer interessa-me mais. V. mesmo o diz, sabemos pouco sobre ela, mas sabemos mais sobre a cadeia completa.
Caro FNV, Estou a gostar desta série. A esfera central orienta mais do que convoca à participação, não poderia estar mais de acordo. E como fazer para convocar à participação ? O exemplo que deu, no post (II), de Miguel Vale de Almeida ? Um abraço
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