A Joana, a minha muito cara Joana, tem razão. O tipo é o anti-bacalhau. O bacalhau é um assunto com o qual não brinco. Como a mão me está a voltar, sejamos sérios:
O reco do mar. As caras e as choras, para a canja. As línguas, e as bochechas, guisadas com poejos e chouriço ou avinhadas dois dias em alho e louro: as panadas linguarudas não se calam quando se picam no azeite infernento.
E os pratos que se deixaram de fazer? À Conde da Guarda, o albardado ( dois bacalhaus médios inteiros a entalar camarão da costa), o autêntico à Gomes de Sá ( no forno e não no tacho). A Bé, no
Carrossel ( Cova-Gala, Figueira da Foz), ainda manda para a mesa a superlativa dobrada à Figueira Antiga: só para homens (e mulheres clássicas).
Os bolinhos de bacalhau ( amassem-nos no sovacos), claro ( fica para outro número). Da minha infância, o
bacalhau podre, hoje no
index dos nutricionistas. Sugiro uma variação ligeira. Postas do meio, do verdadeiro, demolhado 24 horas em sítio frio, desfeitas em lascas. Fervam o leite e desliguem o lume. Nem um seca-adegas ferve bacalhau. Este passo é fundamental. O leite amolece o peixe e prepara-o para o que falta. Mergulhem as ditas. Tirem-nas e deixem-nas brincar com alho fatiado, pimenta ( pouca...), salsa do vaso e limão. Depois é passar por farinha e acamá-las na frigideira de azeite. Acompanha um carolino pilantra, vermelho de tomate e interrogado por coentros. Um tinto novo, castelão, sem madeira e o Benfica até pode empatar com o Guimarães quero lá saber importa-me lá bem.