Os media tornaram-se num obstáculo à liberdade na democracia. Dotados do poder de representar a democracia , constroem a representação obedecendo a regras que os espectadores desconhecem. São a raposa a guardar o galinheiro.
1) No geral:
Stauber, partisan anti-Bush e anti-manipulação ( petrolíferas , aquecimento global, Iraque, etc), pega no mandamento de Alex Carey ( um virtuoso que morreu cedo demais, senão, segundo Chomsky, teria escrito "a definitiva história da propaganda") : o século XX foi marcado pelo crescimento da democracia, do poder corporativo das grandes empresas e do esforço da propaganda para proteger o poder corporativo do poder da democracia. Stauber diz que os media garantem o poder das corporações através das empresas de relaçoes públicas, porque a maioria do trabalhos dos media, sustentados pelos grandes grupos económicos, é feito sobre o material fornecida pelas agências. A massa acrítica de proletários-estagiários das redacções agradece. Pedro Luis Boitel. Se perguntarem a um jovem ansioso por exemplos de resistência cívica e ética contra as ditaduras, é provavel que o jovem não saiba. Talvez imagine Boitel como uma vítima do fascismo sul-americano. Não: foi um intelectual cubano cujo corpo está hoje uma sepultura sem nome, em Havana. Quando Fidel esteve em Portugal, não houve um jornalista, um só, que perguntasse por Pedro Boitel ou por qualquer outro que ainda esteja vivo dentro de uma das ratoneras do regime. Por outro lado, fora dos media tradicionais, comparem na wikipédia as entradas sobre Pinochet e Fidel, no que diz respeito às dimensões da opressão, tortura e assassínio. Em que ficamos? No morno ponto médio que nos obriga a imaginar um equilíbrio sideral ou místico? Não. Na certeza de que existe a tendência para sujar qualquer prancha da realidade? Disparate: quem conta um conto acrescenta um ponto ( além de que a imprensa nasceu do combate político) . Fiquemos numa conclusão mais modesta: em cada momento, a prancha mediática está em branco e é depois desenhada consoante a inclinação do artista. O que fica enterrado de vez é a ilusão da imparcialidade como regra. Para o que conta nesta discussão, aplicada ao caso português, queremos é saber é se essa inclinação é ou não inimiga sistemática da liberdade. Num alvo é fácil concordar com Stauber: os media clássicos têm como principal objectivo vender. O " Avante!"e o Povo Livre, por exemplo, não. Num país pequeno e pobre, calculo que o mercado seja mais selvagem do que o delta do Okavango. Ora, se queres vender e estás dependente dos grandes grupos financeiros, é curial supor que trabalharás para garantir o remanso da sociedade construída pelos teus patrões. E isso não é liberdade.
2) No particular: Encaremos os media tradicionais como a depuração do debate no espaço público que ocorre nas redes sociais. Passa-se da simples reunião na colina de Pnyx para a ecclesia organizada ( o que aliás aconteceu em Atenas). Os principais media, para além de , como já vimos, assentarem talvez mais de metade da matéria editada no pré-fabricado das agências de comunicação, representam a sociedade de uma forma essencialista, porque: a) há figuras intocáveis. Verificamos uma enorme discrepância na forma como são tratados os bons ( futebolistas, grandes empresários, banqueiros, etc) por oposiçao aos tratos de polé a que são sujeitos os maus: os políticos caídos em desgraça, os radicais, de esquerda ou de direita, etc) b) existe um index prohibitorum . O media interpretam o que em cada momento farejam como a ideia dominante e excluem da ágora o que é inconveniente. Se a ordem é o orgulho pátrio futeboleiro, os críticos da construçção de dez estádios são remetidos para a categoria de excêntricos; se a ordem é esperança e optimismo ( um truísmo, bem sei), os cépticos são profetas da desgraça. É certo que cada nicho é habitado por aves raras. Acontece que essa suposta variedade é diluída nas páginas ( latu sensu) de opinião, não afectando as mensagens principais. c) pouco sabemos, porque pouco ou nenhum relevo é dado, o que acontece aos jornalistas condenados por difamação ou às relacões de jornalistas com grupos de pressão, facções partidárias ou grandes corporações. Se um político for condenado por ter perdido um processo contra um jornalista, estão dezenas de media à porta do tribunal; se for o inverso, com sorte talvez bispemos uma pequena nota num lugar desamparado da ediçãodo dia ( impressa ou radiotelevisiva). d) os políticos podem ser individualmente destratados, mas a relação preferencial dos media é com o actual sistema partidário. Porque, como repete Pacheco Pereira, preferem saltear as pequenas anedotas e intrigas, os media acabam por não incomodar verdadeiramente a coutada partidária. Os únicos prejudicados são os cidadãos, que recebem uma representação benigna e infantil do jogo partidário.
Este pequeno esboço de Mark Warren recorda um ponto essencial: em democracia, o cidadão afectado por uma decisão política deve poder agir sobre essa decisão na exacta proporção daquilo que o afecta. A representação mediática, dada a opacidade dos mecanismos de decisão política ( o que vemos na ARTv é espuma amarela), assume uma importância arrepiante. A confiança que depositamos nessa representação, apesar de sabermos que existem directores que mandam esconder notícias ( levando à demissão de sub-directores), é duplamente arrepiante. Um problema de opacidade e de luz? Então termina-se com a fórmula do Bispo de Sodor e Man ( citada por Mathew Arnold). Ela resume a dificuldade: Nunca vás contra a melhor luz que tiveres, mas assegura-te de que a tua luz não é a escuridão. A melhor luz que temos são os melhores jornalistas que temos.
Bem visto. Quem ouve ou vê relatos das torturas na Chechénia, do Holodomor, do Massacre de Pando, dos fuzilamentos a que Che assistia do pátio da prisão a fumar charuto, quem se indigna com a deportação de prisioneiros políticos cubanos, com a morte de 30 deficientes mentais por fome e frio nos excelentes hospitais cubanos, ou pela prisão da Juíza Afiuni, ou pela prisão de Peña Esclusa, as mulheres de branco que desfilam em Cuba não passam já as da Praça de Maio faziam furor,
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