Tantos bloggers a analisar, hora a hora, cada palavra, cada gesto, cada notícia da refrega pré-eleitoral ( embora depois digam cobra e lagartos da dita), dão-me espaço para ir noutras direcções. Temporizemos um pedaço, levemos o terceiro obstáculo - o actual sistema partidário - para os médios. Devagar e com temple.
Insisto numa ideia: se vamos viver uma situação excepcional, é possível equacionar mudanças rizomáticas ( como dizia o EPC, inspirado em Deleuze). A tal raiz, a do actual sitema partidário, assenta em que tipo de solo? Qualquer um que conheça um pouco do sistema sabe que um componente essencial é a representação separatista que os partidos fazem da sua própria actividade. O termo sociedade civil nasceu de onde, senão desse separatismo? Não cabe aqui a análise comparativa, até porque não é necessária. A sociedade portuguesa viveu o grosso do século passado num regime de partido único e depois num mosaico de partidos-pirilampo, até que reposou no quadro actual. Esse quadro apropriou-se das técnicas de manejamento dos recursos. Nos primeiros tempos, com os media quase todos controlados pelo Estado, as empresas públicas ( bancos inclusive) totalmente manietadas e os sindicatos anexados. O PCP nem o discurso ecológico deixou de fora , cooptando-o sob a sigla Os Verdes, como narra Zita Seabra no seu livro Foi Assim.
A modernização dos dinheiros da UE não foi só betão como hoje se diz. Nos anos 80, muitas aldeias a 5 km de Coimbra, por exemplo, não tinham saneamento. E mesmo que o investimento tivesse sido apenas betão - estradas, escolas e hospitais - tal só pode ser desprezado por quem sempre viveu na Avenida de Roma, estudou no Liceu Françês e se foi operar a Londres. O que foi acontecendo, como a todas as coisas lentas, foi o aumento progressivo da separação. Uma década e meia de bem estar isolou as pessoas do continente das acções colectivas. O caso da Madeira, para falar num destacamento real, é explícito: é possível prescindir da democracia política, no que ela tem de liberalismo ( para usar uma expressão de Carl Schmitt), para beneficiar de melhorias concretas na vida quotidiana, ou seja, para criar uma equidade concreta. Bem, talvez não seja assim, porque o povo vota Jardim e o povo nunca se engana, não é?
Não é por acaso que o pessoal partidário é robusto e não desarmará facilmente. São muitos anos de humilhações, toneladas de baterias de telemóvel e o hábito de desenvolver um milhão de variantes do "vencer o futuro". A ductibilidade do sistema permite-lhe a sobrevivência nas condições mais difíceis. A inexperiência da politização e intelectualização ( palavras malditas pelos deolindas) das gerações que cresceram naa décadas de abastança ( a crédito, bem sei) favorece essa capacidade de sobrevivência.
Também insisto que uma certa dose de violência será indispensável e inevitável. Não falo de um quadro revolucionário, falo de uma violência comum, natural, crescida na impotência. O que vier a seguir é que poderá, ou não, ser suficiente para que as pessoas compreendam que não podem continuar a desinteressar-se dos assuntos que lhes dizem respeito ( a nobre arte da política segundo Valery). O castelhano sem ossos, como Unamuno descrevia o homem português, terá, pelo menos, cartilagens.
/ Nobre era afinal um Cavaco para os pobres de espírito, sempre prontos para acreditar em fadas e duendes./ O Luis Januario tem razao tambem na politica eu nao sei escolher os homens, tanta ingenuidade so pode mostrar ser pobre de espirito. Resolvi comentar no meu blog habitual um post que fui ver que seria inevitavel o LJ escrever logo que soube do FN. Um post interessante, as usual.
Paciência. Isso não tem muita importância, foi apenas uma jogada politiqueira para esconder o sapo que o PSD tem de engolir ( aprovar agora o PEC IV que recusou ontem).
Ou seja, violência antes da auto-consciência das próprias responsabilidades.
É a violência, de certo modo, libertadora? Obriga à superação das limitações e medos? E o inverso, será verdade? A ausência de violência (ou para todos os efeitos, privações ou a miséria) leva ao conformismo, ao medo, à impotência?
Espero apenas que seja relativa, ou seja comum e natural, mas não insensata e sobretudo, potente: de modo a libertar.
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