Se os partidos são o pulmão do sistema democrático, uma doença partidária significa a pleurisia democrática. Parece inconstestável a premissa inicial, logo, resta discutir a inferência. Talvez não.
Tenho alinhavado textos sobre uma democracia inimiga da liberdade e deixei os partidos para o fim. Nem os sistemas totalitários dispensaram os partidos (comunistas, fascistas e nazis) Únicos ou não, os partidos as partes, são as estruturas que gerem o espaço entre as aspirações populares e as realidades - cultural, económica e diplomática. Se recorrermos a um princípio montesquiano, são eles que redigem o contrato de delegação de poder. Quando se diz que não há vida política sem os partidos, não é porque eles sejam óptimos, antes porque sem eles não há esperança da liberdade política entendida como a vontade popular soberana ( fechando Montesquieu).
O mundo mudou um bocadinho. Uma das capacidades originais dos partidos era concentrar a representação do contrato. Hoje esse papel é , com frequência, ultrapassado pela sistema media-redes sociais. Os partidos começam a receber propostas - umas vezes ridículas, outras consistentes-, através de canais periféricos. Não tenho ilusões: muitas vezes o sistema é retroalimentado pelos próprios partidos. Acontece que nem sempre as coisas se passarão assim.
As transformações dentro do partidos também são boas de analisar. Aproveitemos a visão clássico- marxista de Bourdieu:
a) A luta de classes dentro do partido - entre os que reclamam o regresso à pureza original e os que pretendem o reforço do poder , alargando a clientela e desprezando a base identitária.
b) A aquisição do capital delegado - a instituição investe nos que investiram na instituição ( colaram muitos cartazes , percorreram o calvário todo, etc )
c) A institucionalizaçao do capital político: o famoso aparelho nada mais sendo do que a demonstração de que a oferta de postos estáveis de permanência alimenta e reforça as esperanças da base de recrutamento.
Os snipers dos blogues, os media e as mobilizações infinitas ( roubando o termo a Sloterdijk) das redes sociais estão a afectar a visão clássica de Bourdieu? Não parece e esse é o problema. Se até o sistema media-redes fica à porta da gestão do capital político feita pelos partidos, podemos compreender a inexpugnabilidade da fortaleza.
É natural que o Capucho esteja "chateado"... "A aquisição do capital delegado - a instituição investe nos que investiram na instituição ( colaram muitos cartazes , percorreram o calvário todo, etc )"
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