Se entendermos por biologismo , no contexto da discussão, o primado do natural, recuso o osso. Se entendermos por biologismo o primado da técnica científica, ainda recuso mais. Explicando:
Apoio muitas coisas contra o natural. Por exemplo, apoio o casamento e a família nuclear, estruturas culturais anti-naturais.Não há nada de natural num casal que fica junto uma vida inteira ( está bem, parece que há uns pinguins, mas são excepções), até porque ele, o homem, produz num só mês espermatozóides suficiente para fecundar todas as mulheres do distrito. Também me faz impressão o incesto, apesar de ser natural que um primata copule com a fêmea mais jovem do clã. Ainda bem que a cultura e a religião são anti-naturais.
Mais sumarenta é análise do biologismo na parentalidade gay. Deixo sempre de fora a adopção, porque é um dado adquirido da cultura ( sim, sempre existiu e não precisou do activismo LGBT para nada) e é até pouco frequente na savana. Já quando dois homens pedem um óvulo a uma mulher e uma barriga a outra e se dizem depois pais da criança, o que aconteceu foi precisamente biologismo: puro e duro. Não foi com poemas, preces ou lançamento de búzios que se adulterou a cultura da maternidade.
É certo que se pode, e deve, argumentar que a ciência é uma realização da cultura humana. Pois é: os babuínos não transplantam fígados. É por ser uma realização da cultura humana que são questionáveis as suas aplicações. Se assim não fosse, estaríamos no reino da Bíblia ou do Corão.
Quando a nossa paixão na vida forem crianças. E as compreendermos e respeitarmos de forma quase visceral. Consigo olhar uma criança que não conheço, que nunca vi e dizer de imediato se está doente. Se toda a nossa vida for à volta de conseguir cada vez mais ser assim, chegarmos a um momento, tal como os casais gay, que não sabemos bem se queremos filhos - filhos agarram os pais no dia que agarram no dedo e para toda a vida é uma opção dificil quando somos solteiros - mas se nos enganamos e depois sentimos falta por não termos tido não há retorno, ao contrário dos homens, tem um tempo estabelecido na mulher (até aos 30 anos, depois desce, desce...)- ...da biologia, tipo a crónica do MEC ontem - a opção é usarmos a técnica para nos ajudar a conseguir o que a natureza nos permite mas a cultura, a religião, os princípios, a educação eu sei lá, os limites que não empurramos a nós próprios, nos impede (aos casais gay tb é possível ter um filho natural "enganando" o companheiro indo para a cama com uma mulher e tendo um filho, ou enganando uma mulher tendo um filho com ela). O tempo passa e a possibilidade de engravidar por uma relação com esse objectivo, e só esse, seria uma técnica eficaz muito praticada mas perfeitamente incorrecta para o homem/pai (tal como podia acontecer num homem gay ou casal gay). Restaria a adopção que agora é possivel para uma mulher solteira mas que não foi para mim, vivia numa preconceituosa cidade que o grupo da adopção me impediu essa possibilidade e coloquei-me em lista muito cedo na vida - tinha dificuldade de me apaixonar e/ou confiar num homem, e não me dedicava muito ao assunto confesso, pq ainda agora acho que posso viver mto bem sem - e surgiu uma miúda de 5 anos "não adoptável" que eu queria adoptar mas bastava uma visita para não a tornar elegível, e nunca foi adoptada...e 10 anos depois desisti do processo, e não há retorno. Ou, 2º hipótese, este biologismo autista que coloca em ambiente asseptico um dador que desconhecemos dentro de nós ou ainda pior um dador e uma dadora desconhecidos dentro de nós para nascer uma criança que concerteza amariamos, que -convencida- teria mais hipótese de ser feliz que muitas outras mas que seria (ou não?) uma persistência autista? e um acto de arrogância? Legitimo para quem não consegue de todo olhar nos olhos um homem e deitar-se com ele para fazer um filho sem lhe dizer, e continua a não conseguir, mas se de repente virasse uma harpia, começa a percentagem a pender para o biologismo autista e esse, já lhe passou pela cabeça confessa, mas não conseguiria olhar bem nos olhos uma criança e dizer-lhe o teu pai é um tubo de ensaio cheio de grandes nadadores e não te posso contar mais nada. E a criança perguntaria e porquê? E a resposta se fosse honesta seria porque a tua mãe durante o seu período mais fértil não se permitiu apaixonar e/ou confiar num homem para teu pai. Devia ter co-autoria do que vai escrever acerca disto, Filipe, mas use à vontade e se ajudar outras pessoas valeu a pena, Psi.
Mesmo com um "pai" de tubo de ensaio, o MEU filho brindou-me antes de adormecer com um "adoro-te mãe", enroscado no meu colo! Este singelo "adoro-te mãe" é a consequência da minha persistência autista e do meu acto de arrogância. Olho sempre para os olhos do MEU filho quando lhe digo como nasceu e porque nasceu: dador anónimo e porque EU queria ter um filho (biológico). Ah, ele sabe que a mãe "se permite" apaixonar e confiar nos homens, mas que escolheu um tubo de ensaio durante o seu período mais fértil. As respostas honestas são sempre as melhores para as crianças.
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