LIDERANÇA: Folheando o último número da Sábado, reparei na crónica de António Tadeia ("AT") sobre Scolari. Reparei, principalmente, porque ele defende uma tese diferente (senão contrária) da minha, na análise da competência de Scolari. Eu penso que as qualidades de liderança, juntamente com as capacidades técnicas, são essenciais para termos um grande treinador e tão importantes como aquelas. AT considera que (pegando no seu exemplo) Carlos Queiroz é tão competente como Mourinho, Capello ou Scolari, embora perca na comparação dos respectivos feitios: falta-lhe o feitio de lider. Não concordo com tal separação de virtudes na avaliação da qualidade de um treinador porque... sem o tal feitio não há grande treinador. Mais, um mago da estratégia e da metodologia de treino sem capacidade ou carisma de líder, em igualdade de circunstâncias, nunca ganhará ao líder. Uma páginas adiante, encontro uma reportagem sobre o inacreditável Kim Jong-Il. Na linha do seu papá, presidindo aos destinos da Coreia do Norte (no nosso parlamento, há quem arrisque tratar-se de uma democracia...), o querido líder "torra" os parcos recursos do país em armas, lagostas e conhaque, sabendo-se que tem permanentemente ao seu serviço umas camaradas das "brigadas do prazer". Mais de oitenta por cento da população do país (em que se inclui a população urbana) não morre de fome devido ao auxílio de outros países, entre os quais os seus vizinhos do Sul. A exemplo de outros ditadores comunistas, a gestão do seu país é ruinosa (talvez devido às insuficiências do próprio sistema...) mas a sua capacidade de liderança é indiscutível, ou mesmo, literalmente, à prova de bala.
posted by Neptuno on 11:13 da tarde
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LADOS: Não ignoro o sangue e o vómito em ambas as mãos, mas quando tiver de escolher ( não sendo corajoso prefiro que seja na contra-espionagem, em salas de interrogatórios horas a fio) entre Israel e o outro mundo - do Hezbollah, do Irão e da Síria -, lutarei por Israel. Escolherei lutar por um sítio onde há putas, gays, democracia, pornografia, críticos, ciência, televisão. E não, não sou judeu, não acredito na profecia de Steiner.
Caro João: tem razão, não existe nenhum paraíso para "o outro". Existe uma vontade ocidental de tolerar comportamentos.
posted by FNV on 9:09 da tarde
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ATRÁS DE MIM VIRÁ... Lawrence Musgrove, professor de inglês na Saint Xavier University, em Chicago, diz que sofremos de false nostalgia quando avaliamos a maneira como os nosso filhos escrevem. Utilizando um estudo de uns colegas especializados, que descobriram 2,57 erros por cada 100 palavras, Musgrove acha que no nosso tempo também havia quem escrevesse bem e quem escrevesse mal. O problema estará nas nossas expectativas acerca das novas gerações. Um comentador do artigo ( publicado em www.insidehighered.com) , professor em Berkeley, diz que os sujeitos desse estudo devem ser génios...
A INFINITA ESTUPIDEZ: Agora dizem os jornais ( neste caso os argelinos) que Materazzi é o ponta-de-lança da linha racista de Berlusconi. Se o italiano tivesse chamado "paneleiro" a Zidane, seria a vanguarda homofóbica de Ratzinger, se lhe tivesse chamado "cubano" seria um assalariado do Alberto João. E por aí fora.
posted by FNV on 12:26 da tarde
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NO TEMPO EM QUE UM GAJO PODIA FAZER O QUE QUERIA: Que Coleridge rivalizou com De Quincey, já eu sabia: dois grandes comedores de ópio. O que não sabia é que Coleridge teve a sensatez de experimentar quase tudo o resto: desde o éter ( vulgar na época) até ao meimendro negro ( hiosciamina), passando pelo haxixe que lhe trouxeram da Índia em 1803. Dizia ele ( fazendo fé na Barbara Hodgson) que gostava de levar o ópio a tribunal.
posted by FNV on 11:49 da manhã
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UMA PROFISSÃO DE FUTURO: Uma psiquiatra inglesa de 63 anos deu à luz, um psicólogo português vai explicar que os rapazes que maltrataram a Gisberta ( e eventualmente a terão morto) fizeram-no porque estavam imbuídos de uma febre colectiva. Os psis são assim: quando não estão a fazer asneiras estão a tentar justificá-las.
AS ERAS DE ÇÓCRATES: Ontem, no debate sobre o Estado da Nação o deputado Nuno Melo ironizava: "Um dia destes o Sr. Primeiro Ministro aparece aqui a dizer que há duas eras: A. C. e D. C. - antes e depois de Sócrates". Do lado, alguém lhe sussurava que Sócrates é com cê de Simão da Veiga.
posted by PC on 2:41 da tarde
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LA VICTIME: Parece que, afinal, o mundial de futebol vai acabar bem. Já é unânime entre a quase totalidade da imprensa internacional (até mesmo entre alguma "inteligência" italiana!) que Zidane foi uma vítima do ignóbil Materazzi - na mesma linha de raciocínio que transforma Rooney em vítima de Ronaldo, os holandeses em vítimas da dureza dos portugueses e os plongeurs franceses em vítimas de toda a gente. Parece que o demónio italiano insultou a irmã e a mãe de Zizou, causando-lhe forte contracção do tórax que o levou a dar a marrada. Parece que Zidane nunca foi expulso de um jogo na sua longa carreira. E os piores insultos que os colegas e árbitros alguma vez ouviram da sua boca foram "safado", "miserável" e "bruto". Quando levava pontapés dos adversários apenas se ouvia "ui!" (em francês, claro).
posted by Neptuno on 12:21 da manhã
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CLIENTES: Anda toda a gente muito espantada com a quantidade de rapaziada bem remunerada que trabalha ou presta serviços à CML. A tradição remonta ao império romano, em que os candidatos políticos se distinguiam (e se faziam eleger) pela qualidade e sobretudo quantidade da sua clientela, que orbitava à volta da sua carreira e respectivo sucesso. Nos grandes centros o fenómeno até aparece bem disfarçado. Qualquer investigação minimamente diligente a pequenos e médios municípios do país verificará a assombrosa percentagem da respectiva população a soldo da câmara. Repercutindo as "cabeças" em famílias, facilmente se adivinha como se perpetuam no poder certos e determinados autarcas. Se transportarmos o fenómeno para o poder central e para a administração pública e institutos satélite...
À SOMBRA DE UMA ACÁCIA: Este calor faz o leopardo suspirar pelo seu poiso de Verão. Brisas frescas, árvores em barda, carnes verdes, poucos excursionistas em safari. É lá para cima, quase à borda da Galiza, que o leopardo se há-de retirar com a família. Perguntam vocês: mas então o leopardo não é solitário? Claro que sim, a família é que não sabe.
A DIAPSALMATA * DO LEOPARDO KIERKEGAARD (V):"O salmão é um pitéu, mas o seu abuso prejudica a saúde: é indigesto. Quando, há dias, em Hamburgo, a pesca do salmão se revelou demasiado abundante, a polícia ordenou aos patrões que não o servissem ao criados mais do que uma vez por semana. Seria desejável que a polícia publicasse um anúncio semelhante relativo ao afecto.
posted by PC on 1:57 da tarde
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SÉRIE AFEGÃ (III): Mais de quatro anos e meio depois da invasão do Afeganistão, liderada pelos EUA e sob mandato da ONU, o território produz ( números de 2005) 4.161 toneladas de ópio. O resto do mundo produz apenas 459. O que é que correu mal? Em Outubro de 2003, P. Chouvy analisava, no Asian Times, o impacto da intervenção ocidental no que à produção de ópio dizia respeito. Chouvy dizia, e bem, que os anos seguintes colocariam à prova a política de erradicação do novo governo de Kabul e a eficácia da intervenção ocidental. Os taliban permitiram e taxaram a cultura da papoila até 2000, altura em que a conseguiram reduzir drasticamente no território por eles controlado ( 87% do país). Em 2001 levantam a proibição, mas depois ( Dezembro) chegam os ocidentais. Assim, é falsa a tese propalada que culpa a invasão ocidental pelo espectacular aumento da produção: a colheita de 2002, ainda da responsabilidade dos talibans, foi de 3.400 toneladas. É verdade que no único ano em que se empenharam, os taliban conseguiram um recorde : em 2001 , por efeito da proibição do ano anterior, apenas se produziram 185 toneladas. O que é que os taliban conseguiram fazer que as forças ocidentais e o presidente Karzai não têm conseguido? Nesse ano de 2001, exceptuando uma pequena zona controlada pela Aliança do Norte, os taliban conseguiram impedir a recolha da produção porque a tinham debaixo de olho: sempre taxaram as colheitas e o comércio em 2,5%, através do Zakat e da Usher: metade para os pobres, a outra metade para os mullahs e para os taliban. Depois da invasão o país desintegrou-se e os senhores da guerra embrulharam-se no negócio: controlando estradas e zonas remotas, apropriaram-se do comércio do ópio impondo taxas muito mas elevadas do que as praticadas pelo governo taliban. Estes dois factores - anarquia e chantagem - causaram, inevitavelmente, o aumento da superfície cultivada. Resta a questão da "erradicação forçada". Como já aqui foi dito, os taliban, ressurgidos, protegem hoje, em Helmand e Kandahar, os agricultores atingidos pelas intenções de Kabul e da ONU. Isto é fatal por três razões:
- Reforça politicamente o poder taliban nessas zonas. - Permite aos fanáticos obter receitas que financiam a compra de armas. - Estimula o aumento da superfície cultivada e, por inerência, da produção de ópio.
COISAS EXCELENTES: Via L. C., descubro isto. Até fiquei comovido. Ao Departamento de História da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, obrigado, obrigado, muito obrigado.
posted by PC on 3:59 da manhã
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O MUNDO DA CARLA: Conhecem-se, casam-se, têm um filho, o Leonardo, hoje com quatro anos. Ele envolveu-se com outra e ela não gostou: pô-lo na rua e pediu o divórcio. A mãe enfiou-lhe dois pares de estalos em sinal de cumplicidade. Outros tempos. Aparece-me com uma saia mais curta do que o plantel do Benfica e diz-me que já tem um "amigo": Nunca estive melhor ! Resta dizer que ela e o ex-marido, ao longo dos anos, se atolaram em dívidas devido à aquisição de bens de extrema necessidade como, por exemplo, motos de água. O que esta história tem de fascinante é o poder de síntese. Tudo isto já ouvi, vezes sem conta, mas parcelarmente. Por que é que ela "nunca esteve melhor "? Porque está convencida que vai ter sempre 29 anos. Porque os exemplos que viveu não são para seguir. Porque é assim que as coisas se passam nas novelas. Pergunta final: o mundo está em decomposição? Ainda não. E talvez nunca venha a estar: há sempre a esperança de que o pequeno Leonardo jamais se case ou se reproduza.
LA FIFÁ: Terminado o Campeonato do Mundo e para além do aspecto desportivo, fica sempre a impressão que a FIFA é uma Liga de clubes em tamanho mundial, permeável a toda a espécie de influências dos "clubes grandes" que, normalmente, têm os seus representantes bem "sentadinhos" no trono da nebulosa organização. Não deixa de ser escandalosa a forma como a Fifa patrocinou - com declarações do próprio presidente! - certas campanhas encomendadas na imprensa de certos países, dando a entender que "clubes pequenos" dificilmente alguma vez conseguirão ser campeões. A campanha contra a selecção portuguesa começou logo após o jogo com a Holanda. A táctica inicial dos holandeses - useiros e vezeiros em jogo duro - consistiu em aniquilar fisicamente Cristiano Ronaldo, entendido como a maior ameaça. Não só o conseguem - com impunidade - como ainda se "esquecem" duas vezes de devolver a bola, num registo sujo que não me lembro de ver em mundiais ou em jogos entre selecções. Quem é que fica com a imagem denegrida? Portugal, claro! A seguir, ganhamos mais uma vez aos ingleses. A "dor de corno" é tanta que o tradicional desportivismo é posto de lado e recomeça nova campanha contra os truculentos portugueses. Rooney calca as "partes" do Ricardo Carvalho; quem é o mau da fita? Ronaldo, claro, porque se insurge contra a agressão que vitimou o seu companheiro de equipa! Chegamos ao jogo com a França já devidamente encomendados: até os merdeurs dos franceses se dão ao luxo de nos chamar mergulhadores -tendo na equipa um Henry com molas prontas a disparar sempre que sente um toquezinho e um Maluda que "cava" um penalty inexistente na própria final - e agressivos - quando se tem nas fileiras o jogador mais caceteiro e arruaceiro dos últimos anos: Vieira. Posto isto, convém dizer que a própria Itália eliminou a Austrália com um penalty inexistente. Ou seja, todos são fiteiros quando é preciso e todos são caceteiros quando é preciso. Mas quem é que ficou com o rótulo? Chega a altura dos prémios. C. Ronaldo não ganha o título de melhor jogador jovem do torneio devido ao fair-play (!?!?), graças ao seu episódio com Rooney. Um jogador que foi perseguido e lesionado pelos adversários, é penalizado por um episódio em que gesticula contra o agressor (que seria expulso de qualquer maneira, conforme confirmado pelo árbitro do jogo) de um colega de equipa! Ontem, assisti à mais violenta marrada (se tivesse cornos matava o Materazzi) de que há memória, perpetrada por esse grande jogador que é (foi...) Zidane - de todos os que eu vi jogar, melhor que ele só o Maradona. No entanto, parece que as marradas não contam para efeitos de fair-play, tendo Zidane recebido o título de melhor jogador do campeonato! Todos os factos e toda a campanha da imprensa interessada - bem usada pelos nossos adversários - foram acompanhados de declarações cúmplices de dirigentes da Fifa. No entanto, tal como acontece na nossa liga, os clubes pequenos têm que "baixar a bolinha" e prestar vassalagem à organização, sob pena de retaliações piores. Talvez isso explique porque é que a nossa selecção não foi devidamente defendida nessa guerra por quem tinha obrigação de o fazer.
posted by Neptuno on 11:15 da tarde
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MEMÓRIA (II): E o que é feito da "iminente ruptura financeira" da PJ? A coisa não estava preta ao ponto de ter causado uma greve? Deixou de estar?
posted by FNV on 12:38 da tarde
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MEMÓRIA (I):Agora que o dr. Freitas se foi embora, o que é feito desse terrível drama dos portugueses que estavam a ser expulsos do Canadá? Se bem me lembro, eram milhares.
A OUTRA METADE: Na sua crónica na Sábado desta semana, J. Pacheco Pereira volta à carga contra a "futebolândia" em que Portugal se transformou, contra a forma asfixiante e avassaladora como o futebol esmagou o espaço público em Portugal. Penso que tem toda a razão e que urge lutar contra essa apatia que se apoderou da população, esse desinteresse pela sociedade e respectivo destino ou destinos. Sim, porque o interesse nacional pelo futebol não é complementar, mas sim eucalíptico. Tudo o resto deixou de existir ou deixou de interessar. Tornou-se normal que um telejornal abra com a lesão de um suplente num treino do Benfica. Esta alienação não é saudável deve ser combatida. No entanto, parece-me que fica por contar a outra metade da história: o que motivou o actual panorama? Para além da importância da televisão (e dos media, em geral) e da sua involução para o "dar ao espectador aquilo que ele quer ver", que patrocinou torrentes de tele-lixo, penso que os grandes responsáveis pela actual situação são os políticos, em geral, e aqueles que governaram o país nos últimos anos, em particular. A triste realidade é que os últimos anos de Portugal como nação foram uma sucessão de trambolhões em direcção ao abismo. Os nossos políticos e governantes foram fieis exemplos de irresponsabilidade (extensível a toda a justiça), incompetência, compadrio, amadorismo e leviandade. Não é por acaso que, ao fim destes anos todos de democracia, o Estado social está falido, a despesa (administração) pública nunca sofreu qualquer dieta - apenas foi engordando - a justiça não funciona, a educação e a saúde estão como se sabe, o país arde todos os anos, o sistema político faliu mas nunca ninguém lhe tocou, o parlamento descredibilizou-se completamente, nunca ninguém é responsável por coisa alguma, política ou judicialmente, etc. Não foi por acaso que as últimas eleições, legislativas e presidenciais, foram ganhas com campanhas descaradamente mentirosas. Perante isto, a população perdeu qualquer réstia de confiança no tratamento de assuntos sérios e importantes para a sociedade, descobrindo que o seu voto, verdadeiramente, nunca serviu para nada. A certa altura a população ganhou uma certa repugnância pelas mesmas mentiras de sempre, na boca das mesmas personagens de sempre, sentindo na pele a degradação do país ao arrepio dos discursos de circunstância. Em simultâneo, aparece uma selecção de futebol com qualidade, competência, profissionalismo e carácter. Capaz de competir com qualquer um no mundo. Que recupera o orgulho nacional e que renova a esperança, de forma abstracta, num sucesso colectivo. A opção parece óbvia. Por muito que nos custe, o futebol ganhou "no campo" e substituiu um produto descredibilizado - pelos seus próprios intervenientes - pela sua imagem de sucesso. Paradoxalmente, no mundo da fantasia (i.e., no futebol) triunfamos com profissionalismo, competência e carácter. No mundo real (i.e., na política) triunfa a fantasia.
posted by Neptuno on 4:07 da tarde
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DORMIR NA BÉBÉLÂNDIA: Continuando a minha recente sanha povoadora, passei duas noites na maternidade em missão de relevante apoio logístico. É curioso que, do mesmo modo que o choro de um bébé nos pode tirar o sono - e tira mesmo - o choro de dez ou mais é uma verdadeira canção de embalar.
posted by Neptuno on 3:59 da tarde
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CONFIRMADO:The tide is turning no sudeste do Afeganistão: os ingleses estão a pedir reforços. E já lá estão mais de 30.000 homens. E no próximo post da Série Afegã conversaremos sobre o assunto.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.