Coisas recentes, outras muito antigas e outras assim-assim. Comecemos pela novidade:
Making Islam Democratic: Social Movements and the Post-Islamist Turn, de Asef Bayat ( Stanford U.P., Stanford, California,2007). Importante não é saber se o Islão é compatível com a democracia ( e por extensão com a modernidade aqui entendida na sua fase tardia), mas sob que condições é que os muçulmanos podem alcançar esa compatibilidade, diz Bayat. Outra linha interessante do livro é a comparação entre a Revolução Iraniana e o Movimento Islâmico ocorrido no Egipto. Bayat parte do princípio que um contextoreligioso e social idêntico em ambos os países deu origem a evoluções muito diferentes. Por último, uma profecia: "Obstacles to democratic governance in Muslim societys have little to do with religion as such; they are more closely tied to the material and nonmaterial interests of those who hold the power". Bayat escorrega depois na definição dos tais "interesses não-materiais" e isso é assunto para outra conversa...
A TVI confirmou Pedro Ângelo Passos Correia Coelho: as mesmas mãos à frente, o mesmo olhar para o lado num misto de inquirição/confirmação, o mesmo gesto assertivo com ambos os polegares a fechar a argola com o indicador ( o mindinho fica sempre numa posição ingrata). Nada de novo. Se bem se lembram, houve uma altura em que Marques Mendes falava no mesmo tom autoritário de Cavaco ( embora em falsete); como sabem, Pedro Silva Pereira , com a ajuda de um nariz igual, imita na perfeição a voz nasalada e as pausas afectadas de Sócrates.
posted by FNV on 11:28 da tarde
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STASIS BENFIQUISTA:
Prometeram a Quique Flores "quatro nomes de primeiro plano". Quando o caldo entornar, o sr. Vieira dirá que não paga as promessas de Rui Costa. E muito bem. Esses "nomes de primeiro plano" acabarão por ser os primeiros brasileiros do Ipatinga ou os segundos urugaios do Defensor Central que se chegarem à frente na fotografia da praxe. Não deve ser bem isso que Flores deseja. Flores pôs o Valência a jogar muito bem. Eu também conseguia: Vicente ( grande nome), Joaquim, Mista, Baraja, etc. Difícil é pôr a jogar bem o Cardozo e o Di Maria; impossível é pôr a jogar ( bem ou mal) o Luís Filipe, o Luisão e o Nélson. O Mantorras não precisa que o ensinem.
posted by FNV on 8:57 da tarde
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ODI ET AMO (LXXXVII):
50.151 ou 50.551? A indecisa distracção diante do número de mortos do terramoto no Império do Meio quase fecha a discussão. Mais quatrocentos menos trezentos, mais crianças menos mulheres. É igual. Hannah Arendt, uma mulher extraordinária, descrevia a sociedade como uma reunião espírita em que de repente desaparece a mesa em torno da qual as pessoas se reuniam: continuamos lá, mas já nada temos em comum.
O CÉU DO EURO TEM UM NOVO ENCANTO: Depois das orações de mãos dadas no balneário, sabemos agora que Scolari "anima os jogadores" (SIC, sic) com a música de Roberto Leal. Não tem como não dar certo.
O PÂNTANO FOI BETONADO: Tenho assistido às primárias do PSD com o mesmo vago interesse com que vou seguindo a meia maratona entre Clinton e Obama. Interesse plenamente justificado, porque tanto as legislativas portuguesas de 2009 como as presidenciais americanas de Novembro podem influir, de forma igualmente remota e indirecta, na vida das pessoas que habitam onde habito, que fazem o que faço e que têm os meus rendimentos. Curioso como a luta política nacional se transformou numa galeria psicanalítica. José Sócrates é a personificação perfeita do padrasto: a figura tirânica, arrogante e irascível de quem temos de nos queixar a todos os que encontramos. Aquele que faz questão de nos mostrar que não somos dos dele, deixando-nos as côdeas do jantar (mesmo que não se perceba exactamente quem fica com o miolo, ou, sequer, se existe miolo algum). Pedro Passos Coelho é o vizinho do lado da nossa infância. Jovial, parece que jogámos à bola com ele, podíamos ser nós. Não sabemos exactamente o que ele sabe, mas a verdade é que nunca lhe perguntámos, não sabíamos que ia chegar ali, nós também nunca pensámos em chegar ali. Santana Lopes é o tio que nos deixava acender o cigarro às escondidas. O zio do Amarcord (não o pobre do Teo, claro, mas o irresistível Pataca), que um dia nos há-de levar para a América. Permite-nos sonhar com a recuperação da grandiosa sardinhada anual para os amigos, entretanto suspensa por via da contenção orçamental familiar. Manuela Ferreira Leite é o pai por que tantos ansiavam desde que Cavaco Silva se eclipsou de S. Bento. Austero mas justo, rigoroso mas racional, exigente mas capaz de reconhecer o esforço. Mostrando até, a espaços, uma surpreendente e finíssima veia de sensibilidade, como ontem, quando asseverou, sincera, que o problema de Portugal é - quem diria - ... "social". Assim, para além de continuar a disciplinar as contas desta cambada de perdulários em que nos tornámos, o pai completa a sua figura com a indispensável dimensão da providência. Todos seremos seus filhos, poupados, trabalhadores e comedidamente felizes.
Anda muita gente preocupada com o facto de a ministra da defesa espanhola ser mulher e estar grávida. Pois acho uma escolha felicíssima e equilibrada: criar vidas enquanto se manda em quem as tira.
E um cansaço diante da torrente de palavras, das insinuações grosseiras ( uma originalidade), do orgulho em plantar palmeiras na praia, do stile empesé do jovem-velho preboste. A vitória de Manuela Ferreira Leite não trará um novo começo ou a refundação do partido; também não trará imagens de almoços familiares em marisqueiras ou a deslocalização da secretaria de estado das comunidades para Alvoco da Serra. A vitória de MFL será higiene pura e dura. E todos precisamos dela desde pequeninos.
posted by FNV on 11:46 da tarde
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ODI ET AMO (LXXXVI):
A morte nunca morre. O tempo encarrega-se da reanimação consecutiva. O amor morre com frequência: umas vezes à nascença, outras devido à seca extrema, com frequência levado na tempestade. A morte esconde-se em fotografias, nas janelas entaipadas, no nariz tantas vezes. Como não vive, não envelhece. Está sempre disponível, é forte, concreta e fiável. Fingimos que o amor nunca morre porque somos dados ao espiritismo.
La gloria...; para mañana! El dinero? Yo no quiero placeres por mi dinero... La voluntad...; Es verdad! Con ella todo se gana; borra montes, seca pontos... Yo no he visto más que tontos que tuvieran voluntad.
Não adianta esconder até porque existem lá muitos que as estudaram: o partido atravessa uma luta de classes. Marx considerava as classes sociais como dinâmicas, isto é, cada uma apenas existia relativamente à outra: aos seus limites, aos seus poderes, à sua estratégia. Até ao fim do mês veremos uma candidata que corporiza uma ruptura com o partido recente, veremos em acção uma candidata da memória. Por isso conta com o apoio de Cavaco, Marcelo e Balsemão. Enquanto que no PS, ao tempo em que Sócrates ganhou a memória foi de oposição - e por isso Alegre e João Soares não ganharam -, no PSD a memória é a do desperdício do poder ( Santana Lopes) e da irrelevância simbólica ( Menezes via Passos Coelho). "O que constitui uma classe?", perguntava Marx em O Capital ( vol III, edição do FLPH, Mosocovo,1962). A resposta passava sempre por saber por que motivo existiam as três grandes classes ( assalariados, capitalistas e grandes proprietários). MFL existe porque existem os populistas e os sistémicos, a sua candidatura definindo-se por oposição a eles. O resto ( o país) virá depois.
Ninguém, ó Cirno, que tenha enganado hóspede ou suplicante passou despercebido aos deuses.
(tradução de Frederico Lourenço, 2006)
posted by FNV on 11:59 da manhã
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A VACA DAS CORDAS:
"Ó Presidenti: aquela é a minha janeli! " explicava a embevecida deputada Rosa Albernaz a Pinto da Costa, esta semana, em São Bento. Coerente com a defesa que faz dos direitos dos animais, nomeadamente dos touros, a deputada não teve uma palavra de crítica para com a tropa de choque do FCP que sovou uma dezena de jornalistas no estádio do Dragão, uns dias antes da recepção ao presidente portista. Uma jornalista da Antena1 teve de receber tratamento hospitalar. Fosse uma vaca brava talvez a deputada se tivesse comovido.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.