Semana terrível. O dr. Nogueira Leite recordou-me que , afinal, MFL apoiou o aumento dos salários dos funcionários públicos, um funcionário municipal envia-me ininteligíveis recados sem vírgulas , descobri que sou um "PSD metralhado", mas, ao mesmo tempo, "amigo dos assessores do governo". Como se não bastasse, o Benfica perdeu. Salvou a semana a visita ao meu barraco do Nuno Mota Pinto. Estivemos ontem, serpenteando entre umas men best friends, em tenebrosa conspiração visando o lançamento do futuro líder do PSD. Agora vou de viagem e regressarei, se os deuses assim o quiserem, como mandava o mestre: miando pouco, arranhando sempre , temendo nunca.
O que aqui foi lembrado foi outra coisa. MFL foi a eleições dizendo a verdade sobre o estado do país. Dizem agora que era evidente? Ai era? Então por que motivo continuámos alegremente a gastar, a viajar, a aumentar funcionários, a prometer comboios e estradas? Ao contrário do que diz um comentador da casa, MFL não era apenas mais uma economista com uma visão sombria. MFL foi uma política que se candidatou a PM com uma visão sombria. Um mundo de diferença.
Via Gelsenkirchen de boas memórias fui dar ao FCP e constatei que o FCP, o 12º melhor clube de todos os tempos, é o clube com maior número de títulos do futebol português, ao contrário do que alguns apregoam, vermelhos de raiva.
Constatei ainda que, desde a época 77/78, o FCP ganhou 19 campeonatos, ficou em segundo em 11, e em terceiro em três (foi o campeonato do túnel, o do Octávio Machado, e um outro, em 82, de que não me lembro).
Ou seja, nos últimos 33 campeonatos, o FCP ficou nos dois primeiros lugares em 30. Quase dou por mim a ter dó de vocês...
posted by VLX on 5:07 da tarde
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NOGUEIRA LEITE ESTÁ ENGANADO:
Só discuti ideias. Como desta vez até nem foi muito grosseiro ( apenas banal no diagnóstico clínico, somos todos obsessivos), e discute ideias, respondo e agradeço os textos. Aliás, já aqui tinha qualificado uma entrevista sua como lúcida e razoável, bem como certíssima a sua posição negocial -não se começa por ceder no essencial. Os seus rapazes que procurem nos meus arquivos e caches e essas coisas todas - já estão habituados. Quanto à minha liberdade de editar os meus textos, não negoceio nem explico. Não tenho culpa se sou lido ao segundo, mas faço links e assino o que escrevo. E isto incomoda? E a memória do google também? Sem dúvida.
posted by VLX on 11:37 da manhã
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QUASIMODO, SEMPRE:
Fez parte do grupo da Solaria, foi membro do Partido Comunista Italiano e professor universitário em Milão. Um bocado pesado de fórmulas para o meu gosto, o siciliano tem, no entanto, linhas geniais de síntese. Em Del Mio odore di uomo ( 1936):
Negli alberi uccisi ululano gli inferni: dorme l'estate nel vergine miel il ramarro nell'infanzia di mostro.
Na minha louca tradução livre:
Nas árvores degoladas o inferno explode: dormita o Verão sobre o mel virgem, e o lagarto verde na infância do monstro.
posted by FNV on 10:10 da manhã
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O NOVO PORTUGAL (IV):
Uma leitora envia-me uma carta de Toronto. Quer saber como será com os direitos das mulheres. Serão iguais aos dos homens, obviamente. Nem percebo a pergunta. Todos terão direito à família, ao amor, a educar os filhos, ao trabalho, a alimentos saudáveis ( cebolos sem antibióticos e enchidos sem nitratos), à água, à terra, à saúde. É muito, eu sei. A organização política que garantirá estes direitos é inovadora e reaccionária. Todos serão iguais, não porque tenham de ser iguais ( voltaríamos aos crimes do século passado), mas porque podem ser iguais. Este princípio é regido por um mecanismo de abdicação voluntária: se eu posso viver com quatro cabras, porque hei-de querer ter dez? Não hei-de, não posso. Serão o território e a pobreza a ordenar a estratificação. Já funcionou no passado, portanto, não é uma utopia. Não vos parece? "A ciência", diz-me um familiar, "tu queres aniquilar a ciência nessa organização social". A ciência ( e a sua antepassada, a técnica), como todo o produto da cultura, serve os homens. Ora, os meus homens querem coisas simples: remédios bons , previsão meteorológica precisa, cirurgias baratas, cartas marítimas e topográficas correctas, seguros de colheitas e por aí em diante. Satélites, carros eléctricos, 200 canais de TV, escadas rolantes - não terão utilidade nenhuma. A nossa ciência política viverá de uma refrescada fórmula negativa: vive com o que não tens, sonha com o que não precisas.
posted by FNV on 2:36 da manhã
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Explicando a utilidade do César Peixoto:
Em Julho de 2008, MFL avisava que não havia dinheiro para nada. Metade do PSD publicado, o que agora está na liderança, zombou da velha; o governo, quase um ano depois, aumentou os funcionários públicos e prometeu comboios , auto-estradas e penicos tecnológicos. MFL ficou isolada e o país continuou a comprar fichas como os dementes nos asilos. O PS protegia o governo e este protegia o poder. E o PSD publicado , agora na direccção, protegia o quê?
posted by FNV on 1:03 da tarde
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O NOVO PORTUGAL (III):
Não temos jazidas preciosas nem recursos naturais em quantidade suficiente (o território é minúsculo) , não temos nenhuma indústria que qualquer outro país não suplante facilmente, estamos envelhecidos, nasce menos de uma criança por cada par de amancebados e o estrangeiro não nos vai ajudar nos próximos 30 anos. Em que é que somos realmente bons? Ora pensem. Todo o português sabe fazer pelo menos uma das seguintes coisas:
a) Plantar couves, batatas e vinha. b) Caçar c) Pescar d) Falar
Não estamos habituados a cindir o átomo, desenhar aviões, inventar remédios milagrosos ou escrever manuais de filosofia. O novo Portugal será novo porque descobrirá as suas capacidades. Descobrir é inovar, não é? A susbsistência ficará assegurada. É melhor uma cave com batatas do que várias contas a descoberto. A organização será feita a partir da base. Aqueles portugueses que só sabem falar ( deputados, candidatos, comentadores, etc) serão muito úteis. Formarão centenas de equipas que ligarão todas as vilas, cidades e aldeias, transmitindo pessoalmente as mensagens dos seus compatriotas: um verdadeiro LMS - long message service.
posted by FNV on 10:16 da tarde
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ELEGANTE, OBJECTIVA E INTELIGENTE :
Esta apreciação, que envolveu a História do México. Até podia ter incluido Grijalva, Cortés, Porfírio Dias e Madero.
posted by FNV on 12:05 da tarde
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MANDELSTAM, SEMPRE:
O trabalho é como bois de seis asas Que metem medo e aos homens aparecem, E flores pré-invernais, inchadas rosas, Gordas de sangue venoso florescem...
( 1930, trad. de Nina e Filipe Guerra)
posted by FNV on 10:24 da manhã
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O NOVO PORTUGAL (II):
Um velho amigo mete-se comigo ( ver comentários ao número anterior) por causa da lavoura. Claro que sim. Nunca deixámos de ser um povo de lavradores, pastores e pescadores. O comércio veio por causa dos excedentes e não devido a qualquer sinapse empresarial. Somos lavradores ao volante de um SLK, pastores dentro de um spa e peixeiras em qualquer discussão. Sonho com o regresso da calma e dos limites. A religião pode continuar a ser a católica. Um mulher, oficial e recatada, para cada um obriga os homens a competir no mercado dos bastardos. É bom para a raça. A higiene e os modos na cama também agradecem. Vou na rua e perguntam-me: e então o parlamento, os partidos e essas superestruturas todas? Que ingenuidade. Num país de novo entregue a produzir o que come, a deitar-se cedo e a passar os domingos na missa e em belos almoços debaixo da parreira, para que servem parlamento e partidos? Outra infantilidade é julgar este novo Portugal o velho Portugal. Não compreendem que estas propostas não representam uma idealização do Portugal novecentista. Este novo Portugal é uma máquina do tempo: fui lá, não gostei e volto atrás. Mas regresso diferente, muito diferente.
As procissões católicas também não fecham ruas? Causa impressão? Casem-se, mantenham-se casados, façam filhos, abdiquem dos LCD, das viagens a Punta Cana, dos implantes mamários e dos i-phones ou lá o raio que é.
posted by FNV on 10:51 da tarde
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O NOVO PORTUGAL (I):
Dizem que é proibido, não sei. O que sei é que temos de ajustar contas. Sonho com um país novamente rural, carregado de aldeias e vinhas e pomares e miúdas engravidadas por magarefes que se casam com elas. Os campos seriam lavrados pelos estudantes ( que ainda há pouco de lá saíram), ficariam apenas alguns a aprender medicina e direito e pouco mais. O programa é extenso, neste número traçarei apenas as fundações. Regionalização? Pois claro. Não dez, ou vinte, mas mil. Uma vila, um juiz, um cabo da guarda e um bacharel roedor. Como? Centros comerciais e despachantes oficiais das empresa municipalizadas? Gozais. Dos Dolce Vita faremos pedra para separar os lameiros e a rataria terá muito trabalho. A partir a pedra. A estética? Bigodes e socas ( já usam havaianas e argolas no nariz, não hão-de notar a diferença).
( cont.)
posted by FNV on 9:34 da tarde
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FRENESIM, FRENESIM:
Já somos uma choldra. O "Mudar" é, portanto, para uma choldra menor, maior, ou mais quentinha?
posted by FNV on 9:23 da tarde
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PALAVRAS DE FELICITAÇÃO E DE APOIO:
Aproximando-se o fim da sexta jornada queria frisar o excelente futebol dos dois mais directos rivais do FCP, a Académica e o Braga.
E queria ainda, com todo o fair play, deixar uma palavra de apoio aos que dantes costumavam competir com o FCP, o Sporting (que, recentemente, e por quatro vezes, ficou em segundo lugar) e o Benfica (que no ano passado viu luz ao fundo do túnel, da forma que todos sabemos): não desanimem!
É público que estão a 9 e a 10 pontos do FCP mas não desanimem. Ainda há muito para jogar, o campeonato vai no início, ainda só se disputaram 18 pontos, pelo que estarem já a 9 e 10 pontos de distância nesta fase não é preocupante.
posted by VLX on 4:18 da tarde
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CHERCHEZ L'AUDACE:
Em vez de la femme. Quem obriga quem a assinar o quê? E continuo a registar o nosso fino sentido de humor colectivo. Uma sociedade na qual, desde o fim da AD, tudo ( dinheiro, cargos públicos, benesses várias) foi dividido entre o bloco central PS-PSD , descobriu agora, a meio de uma crise gravíssima, a vergonha da cooperação política.
posted by FNV on 11:34 da manhã
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TEMPOS SOMBRIOS (III):
Como era de esperar, tão inchados de marketing político e não aprenderam nada. O PSD , seis meses depois da promessa de um modelo liberal na saúde e na segurança social, de uma mensagem mobilizadora e de "esperança" ( "Mudar") e de uma prática política "sem ataques ao carácter" do PM, como está?
1) Imobilizado por uma proposta de revisão constitucional que correu excepcionalmente mal: mal explicada, mal recebida e mal corrigida ( e a reboque das sondagens).
2) Sem dizer uma palavra sobre educação, cultura , ambiente ( sim, organizaram um colóquio para discutir um paradigma), defesa e política externa (quem se importa com regiões-piloto tambem podia dar atenção a esta área).
3) Atolado numa cova de lobo coberta por um orçamento. Julgam que o PS está disposto a cortar até ao osso, e a aguentar com as pedradas que os cidadãos lhe vão atirar, para depois aparecerem como os salvadores da nação. Brilhante: só falta convencer os cabeçudos.
4) Em catilinárias, afinal, contra o carácter do PM.
É evidente que os tempos seriam menos sombrios se esta direcção dissesse e fizesse o que tem de ser dito e feito, sem se importar de perder eleições ( leia-se vitaminas para o ego e lugares para os prebostes que amassam o pão). Enfim, se fossem outra coisa diferente do que são.
posted by FNV on 6:35 da tarde
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CANCERADO (IV):
Quando é que desistimos? Uma mulher, que retratei aqui, aparentemente nunca desistiu: já sem forças, esperava a filha pequena todos os dias para lancharem depois da escola. Falo em aparências porque a mulher já tinha desistido: só assim podia dar tanto valor a um tabuleiro de leite e bolachas. Outros nunca desistem. Maníacos, decidem parar o curso dos acontecimentos - outra vez a flecha de Zenão - em mil apeadeiros de tal forma que desprezam o comboio . São uma sub-espécie de estóicos, alunos de Marco Aurélio: Quem viu o presente viu tudo.
O famoso artigo de Hans Zherer - "Die Revolution der Intelligenz" -, publicado no Die Taut (21, nº7, Outubro de 1921), é mais do que uma análise do papel das minorias e dos intelectuais nos processos inovadores. A primeira parte do texto - Fragmentos de uma política do futuro - centra-se no papel da liberdade. Comparando-a a uma bandeira encharcada de chuva que o vento não agita, Zherer admite-a condicionada pelo silêncio da censura reaccionária ( Zherer era um conservador). É bom notar que naqueles tempos - queda do governo de Fehrenbach humilhado pela multa de 132 biliões de marcos imposta pelos aliados, sobrevivência raquítica dos dois governos de Wirth e agitação do embrião nazi, o Volkischer Beobachter - a censura de que fala Zherer não é reconhecível. O problema era a dependência do stratum intelectual das condições objectivas - os intelectuais deveriam superá-las. A questão é bem boa. Quem pensa deve ser capaz de se sobrepor às necessidades imediatas ( materiais) da discussão. Isto, que parecerá pedante aos olhos de uma ovelha, significa apenas que, em períodos de tensão social e política, a maior liberdade reside em criar as condições mentais para que todas as outra liberdades intelectuais possam existir. Fazer comparações livres com o passado , sem nenhuma fé na repetição deste, é um exemplo dessa liberdade.
posted by FNV on 10:16 da manhã
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JÁ ERA SÓ O QUE FALTAVA...:
É a crise, o preço dos colégios, da saúde, os juros altos, o crédito difícil, a ameaça do FMI, o Sócras, os seus comboios de brincar e tudo o mais de que se lembra, e ainda vão colocar um supermercado do Corte Inglés e o Clube Gourmet ali pertinho, no Fluvial. Vai ser o diabo...
posted by VLX on 2:07 da manhã
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VIVA A BRIOSA!
Não leva seis vitórias, como o fantástico Futebol Clube do Porto, mas vai muito bem encaminhada. E ganhar contra o Guimarães é sempre uma dupla vitória. Não só é inimigo como amigo dos inimigos. E ganhar aos inimigos amigos dos inimigos é sempre divertido. Penso eu de cá para comigo.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.