Não gosto de meter foice em seara alheia mas não resisto. Sendo Nobre, qualquer um diria que realmente uma pessoa meter-se com partidos deste tipo não era solução, o que resolveria o problema da saída, e o apoiaria na mesma, publicamente, a política, a mudança e a pessoa. E resolver-se-ia um problema. Mas ser nobre não está ao alcance de qualquer um.
O desespero que assolou os benfiquistas tem a sua razão de ser e não é desconhecida. Eles pensam que ganham por decreto e por isso não se prepararam para o banho de bola que, logo em Agosto, levaram a gosto. Depois, no Dragão, aqueles cinco directos contra zero. No outro dia um e esta semana outro banho. São baldes atrás de baldes de água fria. Agora, uma vez mais pensavam que o ovo estava já estrelado e salgado no corpinho da galinha.
É isto que os perde, não os árbitros e todas as manigâncias que os seus dirigentes divulgam para convencer os incautos.
N’A Bola vejo delícias. Uma, que os jogadores não tinham percebido as técnicas de Jesus. Esta teoria destrói tanto treinador como jogadores. Estes últimos não percebem, o anterior não se explica. Que categoria….
Uma segunda era igualmente apetitosa. Os jogadores benfiquistas não sabiam, aquando do 3-1, se deveriam continuar a jogar ou se já teriam ganho. Era difícil ter-lhes explicado a coisa antes? Fazer-lhes as contas?
Outra nota. Parece que as claques do Benfica não precisam de adversários para disparatar, bastam-lhes as forças de autoridade. As últimas poucas-vergonhas passam-se ente as claques benfiquistas e a PSP.
Uma coisa este Benfica tem de semelhante com o governo socialista: quando estão em perda não aparecem os generais. Ou sequer os sargentos.
Resta revelar uma coisa: passo sempre a Páscoa feliz em Eiriz, Paços de Ferreira. Espero que o foguetório seja tão animado como sempre. Ou mais.
Esta sondagem ( PS tecnicamente à frente) pode bem reflectir uma realidade: o PSD narrou -agora gostam muito da narrativa - muito mal a história do pretexto para chumbar o PEC IV ( ao contrário da troça que fazia um amigo meu, talvez haja muita gente a pensar isto). E se as pessoas tiverem compreendido que o cenário em que vão viver será ainda pior do que aquele que o PS tinha negociado, o caldo pode entornar. O affair Nobre também não deve ter ajudado ( calculo que o efeito pretendido fosse o inverso).
Longe de mim querer ultrapassar os politólogos ( a sério, como o Pedro Magalhães), mas, se a tendência da Marktest for confirmada por outras empresas, confirma-se uma velha cantilena portuguesa : para melhor está bem está bem/ para pior já basta assim. Os constantes avanços e recuos ( o medo é dinâmico) da equipa de PPC só reforçam esta impressão.
Se fosse do PS não cantaria de galo. Por um lado, porque não teria nada para cantar; por outro, porque me parece, e metendo de novo a foice em seara alheia, que as empresas de sondagens vão ter dias difíceis Em situações angustiantes, as pessoas tendem a ser mais imprevisíveis na procura de referências. Dito de outro modo: mais emocionais, menos leais.
Os que culpabilizam os desvarios do pré-PREC e do PREC ( deixemos de lado a cordata e civilizadíssima interpelação de Salgueiro Maia a Spínola) nunca se lembram de ir mais longe. Uma das razões porque apareceram tantos marxistas instântaneos e loucos de Rilhafoles a seguir a 1974, e uma das razões do nosso atraso, foi precisamente o Estado Novo.
Se em vez de 48 anos desertos de liberdade e de participação cívica e de 48 anos transbordantes de perseguição, tortura e assassínio de opositores - académicos, artistas e cientistas -, tivéssemos vivido anos semelhantes aos dos ingleses ou franceses, talvez a dívida de Abril ( a má, porque a boa parece que é leve) não fosse hoje tão pesada.
posted by FNV on 11:27 da manhã
#
(5) comments
ANTENA ISLÂMICA:
Quando o Francisco foi apresentado como cabeça de lista do PSD por Bragança, tive uma desilusão porque há muito lhe vaticinava o Ministério da Cultura. Durante uns tempos tratei-o por Malraux 2.0 ou coisa do género. O que não imaginava era o alvoroço que o Francisco causaria, ao ponto de os habituais endereços electrónicos lhe dedicarem tanta baba.
Bem, ele está pesado, isso é verdade, mas é porque passa o tempo a almoçar em vez de despachar o meu próximo livro e recusar todos os outros. Também não é um intelectual de esquerda. Coitado, acho que nem na puberdade militou na OCMLP, devia preferir as francesinhas. Concedo que é conservador naquele sentido miserável de quem valoriza as diferenças entre e os sexos e bebe um bom casamento ( coisas que merecem a lapidação). E não nego que o Francisco não começou como moço de campanha online para acabar como pequeno nababo dos media: falta-lhe currículo.
O que é certo é que, tirando estes aspectos menores, não se percebe o incómodo.
posted by FNV on 12:55 da manhã
#
(2) comments
UMA DEMOCRACIA INIMIGA DA LIBERDADE (V):
Não é preciso estar sempre a inventar a roda. Hoje cedo o meu espaço:
"Um dia teremos um governo genuinamente democrático, um governo que dirá ao povo o que está acontecer, o que deve ser feito , quais os sacrifícios necessários e porquê. Necessitará dos mecanismos adequados, o principal dos quais será a escolha das palavras certas, o exacto tom de voz.
O facto de que quando alguém quer saber o que que pensa a pessoa comum, e aproximar-se dela em conformidade, ser apelidado de intelectual snob que quer descer ao nível das massas ou suspeito de conspirar para estabelecer uma Gestapo inglesa, demonstra como tão indolentemente novecentista a nossa noção de democracia permaneceu".
Adenda: por falar em propaganda, ler esta excelente desmistificação. Surpresa? Nenhuma, basta ler Gramsci e não ficar apenas pelo uso da expressão "intelectual orgânico".
Com Sá Carneiro e Cavaco Silva (sobretudo na segunda eleição) , o partido soube transmitir ideias simples e precisas. Ambos atiraram a matar sobre anacronias ( medias estatizados, extinção do Conselho da Revolução, etc) e ambos revelaram desprezo pelo aparelho ( das birras de Sá Carneiro ao eucaliptal cavaquista). No plano comunicacional, nenhum durava dois dias às mãos das agências de maquilhagem de hoje.
Ao contrário do PS, que tem apresentado um semi-quadro doutrinário estanque ( solidariedade social, educação gratuita e pública, SNS inviolável, etc), o PSD só conseguiu afirmar-se através de uma espécie de liberdade negativa: libertar as pessoas dos sucessivos espartilhos socialistas. Sendo um partido verdadeiramente popular, ou seja, sem guião pré-definido, os inúmeros funantes têm sempre agendas particulares por uma simples razão: não existe agenda colectiva e os limites são desconhecidos. De Jardim a Miguel Veiga, o sertão é vasto.
O reverso da vivacidade é, logicamente, a rebeldia. Sempre que uma liderança emana de um reino, os outros olham-na como uma delegação plenipotenciária: Vejamos o que nos oferecem, e o que conseguem, e depois falamos. A famosa disciplina não nasce de receitas obscuras ou místicas. Os vários reinos só se subjugam quando compreendem que perdem mais rebelando-se do que obedecendo.
Num cenário destes, uma liderança só convence se for capaz de um bypass político: falar para fora do partido. A hesitação, o medo das sondagens e a hiper-produção das agências de comunicação não são palavras desse discurso. A atribuição decisiva é a que concede à liderança uma movimento excêntrico: a força vem do exterior.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.