A LIBERDADE ESSENCIAL: Hoje tive o reconforto de perceber por que razão, sendo nós tão diferentes, conseguimos partilhar o mesmo caixilho no Mar Salgado. Vi a contorção extrema (e certamente dolorosa...) do nosso Comandante (homem, ao que julgo saber, agnóstico), ao admitir que a referência à herança cristã no texto da Constituição da União Europeia só será legítima se não tiver o propósito de excluir a adesão de países não cristãos, assim resolvendo a quadratura do círculo a favor da inclusão e da tolerância. Vi a denúncia corajosa do pseudo-anti-anti-semitismo fascista por Neptuno. Vi o nosso FNV reconhecer, num arrebatamento da sinceridade que caracteriza o ser moral, que há um ideário de esquerda "digno desse nome", para lá dos fariseus, de que falou Mounier, que se arrogam a representação dos seus valores.
Pressuposto desta liberdade de pensamento e de expressão em que todos cremos é, também, a liberdade do consumidor de informação. E, por isso, causou-me verdadeira azia a crítica do Terras do Nunca a um texto do NMP onde se faz um link para uma publicação americana. Escreve JMF: "O link de uma notícia em inglês está no Mar Salgado, mas bastava ter lido o DN de segunda-feira". A mensagem sub-liminar é: "não havia necessidade de citar os Américas, o DN também deu conta do caso".
Ora, por um lado, preferir a imprensa estrangeira à nacional é, apenas, uma questão de gosto individual, tão insusceptível de reparo como o facto de o Terras do Nunca ter reproduzido profusamente canções de Jacques Brel - e não, por exemplo, de Ary dos Santos -, ou continuar a publicar textos de canções inglesas tão bons (ou tão maus) como outros homólogos nacionais.
Por outro lado, não é verdade que "tivesse bastado" ler o DN; bem diversamente, "era preciso" ter lido o DN. E nesta subtil diferença de formulação habita a crescente irrelevância do DN no panorama jornalístico português. Que, lamentavelmente, fez com que o DN deixasse de ser, de há um ano para cá, o meu jornal diário.
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