SAUDADES DE LISBOA:Este post de VLX lembrou-me as malditas saudades que sinto de Lisboa. Questões profissionais levaram-me há alguns meses a emigrar. Tenho raízes em Coimbra, onde nasci e vivi e, além de Lisboa, vivi em Paris e agora na Capital do Império (gosto de todas estas cidades). Tenho felizmente viajado alguma coisa nesta vida, mas é, confesso, sobretudo de Lisboa que tenho infinitas saudades.
Saudades que não quero matar. Como alguém que me é muito querido me ensinou, as saudades não se matam, acarinham-se e aprende-se a gostar de viver com elas. E é com esta Lisboa, magistralmente retratada aqui por António Botto, que eu tenho aprendido a gostar de viver:
Lisboa, berço da força
Cais das grandes aventuras
Onde embarcaram aqueles
Em madrugadas escuras
E em barcos de uma só verga
Navegando sem receio
De que o mar na sua fúria
Partisse de meio a meio
A frágil embarcação,
Lisboa das Descobertas
Pátria de espada na mão!
Lisboa rica de timbres
Mas em que um é sempre belo:
- O Sol doirando as ameias
Do seu glorioso Castelo!
Ó Lisboa das fragatas
E das manhãs outonais,
Dos marinheiros valentes
Beijando estas e aquelas
À noite pelos portais.
Lisboa desmazelada
Sem garbo, sem atitude,
E sem compostura séria;
Lisboa da fadistice
- Senhora Dona e galdéria!
Lisboa das zaragatas
Por qualquer coisa e por nada;
Lisboa dos decilitros
De tasca em tasca, vadia,
Complicante e à bofetada;
Lisboa da tradição
- Sorriso de nostalgia!
Quartel do alto heroismo,
Lisboa chorosa e forte,
Saudosa, infeliz, cantando
Na plangência de um harmónio
Cantigas que ouviu à morte!
Lisboa dos pátios sujos
Onde se ralha e se dança
Até romper a alvorada!
Descalça, de mãos na ilharga,
Impetuosa, vibrante,
Lisboa da garotada
Jogando a bola nas ruas.
Lisboa das horas mortas
Com namoros à janela.
Lisboa dos chafarizes
Onde a água é um cantar
De nautas e mariantes;
Lisboa das guitarradas
No lirismo dos amantes!
Lisboa das melancias
Descarregadas ao Sol
E aos berros no Cais da Areia.
Lisboa das noites lindas
E onde é oiro a lua cheia!
Ó Lisboa dos mendigos
E dos velhos sem asilo;
Lisboa do céu azul
E onde o Tejo é mais tranquilo.
Lisboa de bairros tristes,
Humilde, religiosa
Sem fundos de convicção,
Lisboa do meu amor,
Essa maldita paixão
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.