UM PAÍS DE CAPELAS IMPERFEITAS: O ano de 2003 foi o ano dos debates, artigos, ensaios e blogadas sobre a justiça e a sua crise.
Hoje à tarde, em conversa, um amigo falava-me do cataclismo constante das obras públicas em Portugal. À noite, o Telejornal noticiava que as obras de conclusão da Via do Infante romperam uma conduta de água que abastece cerca de 100.000 algarvios.
Comecei a somá-las. A dúvida peripatética sobre a Ponte do Freixo. A queda da Ponte de Entre-os-Rios. Os estacionamentos automóveis inundados - e, ao que julgo, ainda inúteis - no Castelo do Queijo. O tabuleiro da Ponte Europa, única no Mundo com um degrau entre as duas partes, por assentamento da sapata de um dos pilares. A inundação do Metro no Rossio. Os alicerces da Ponte Vasco da Gama que, ao que consta, se estão a divorciar das suas bases.
Não seria importante saber quem são e onde estudaram os engenheiros e técnicos responsáveis? Havê-los-á?
posted by PC on 9:09 da tarde
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ANTES PELO CONTRÁRIO: Se bem me lembro ( hoje estou cheio de reminiscências, neste caso nemesianas), era o título da coluna de opinião do Dr. Portas no Independente. Mas serve para expressar a minha, no caso em apreço. Causou reboliço a exclusão do PCP e do BE da discussão do novo Conceito de Estratégia Militar, aparentemente porque o Dr.Portas considera estes camaradas como subversivos. Pois acho mal que estes partidos protestem, mas também acho mal que o Dr. Portas os tenha excluído.
Acho mal que PCP e BE protestem por serem desresponsabilizados de uma trapalhada sem nexo. Sabemos todos que se Portugal for ameaçado, o Dr. Portas entrega, num alarde de clarividência, a defesa da nação à N.S.ª de Fátima, como fez no affair do crude galego. Ora é óbvio, que PCP e BE, neste novo conceito místico-estratégico, de pouco servirão.
Por outro lado, acho mal não aproveitar a contribuição da extrema esquerda. Durante a invasão do Iraque, o Dr. Miguel Portas e o Prof. Rosas exibiram interessantes conhecimentos estratégico-militares nas rádios, TV's e jornais. Está bem que não acertaram na nova Estalinegrado na qual Bagdad se deveria ter transformado, nem nos 500.000 mortos, mas souberam prever que a guerra iria terminar um dia, o que é deveras assinalável. Já o PCP deveria ser igualmente aproveitado, e bem. Ainda andam pela Soeiro Pereira Gomes muitos veteranos estudiosos dos tempos áureos das campanhas afegã, checa e húngara, isto para não falar das visitas de estudo que fazem regularmente a Cuba: muito utéis para aprender a identificar, interrogar e eliminar dissidentes subversivos.
posted by FNV on 7:13 da tarde
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DURA LEX SED LEX: Entre as pessoas indultadas pelo nosso PR conta-se a enfermeira da Maia que tinha sido condenada, entre outros crimes, pela prática de abortos. Assumindo o carácter específico de cada indulto, em que cada caso é um caso, confesso que não conheço as motivações da decisão do PR. No entanto, desconfio que estamos perante um statement do PR contra a actual lei do aborto. E, se assim foi, estamos perante mais um bom exemplo do que não deve ser um Presidente da República. Se pretende uma mudança na lei, deve promover o respectivo debate e, neste caso concreto, sujeitar-se à decisão da maioria em referendo - embora, tal como se já se viu relativamente ao referendo da regionalização, certos aspectos da democracia causam urticária a este PR. Agora, aquele que seria supostamente o maior defensor da legalidade democrática usar a sua prerrogativa do indulto para obviar a uma lei com que não concorda, faz lembrar a mais famosa escuta de Ferro...
posted by Neptuno on 6:01 da tarde
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20.000 mortos: A natureza terrorista. E pensar que há homens que mimetizam as consequências do deslocamento de placas tectónicas, a sua sede irracional e indiscriminada de morte e destruição.
posted by FNV on 1:00 da tarde
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Almanaque das Intoxicações VII: O melhor modelo até hoje adoptado para o controlo do consumo de opiáceos foi o do anos vinte do século passado. Nos EUA, os consumidores eram cadastrados e sob supervisão médica era-lhes dispensada a heroína e a morfina que necessitavam. Por outro lado, sobretudo a partir da conferências de Haia (1912) e de Xangai (1909), estabeleceram-se esforços no sentido da controlar a produção mundial. Nessa altura, claro que o número de consumidores era insignificante quando comparado o actual. Mas vários factores e uma longa história, impossível de aqui contar, a não ser aos soluços, invibializaram esta política, realista e humana.
Hoje os tempos são outros, e a newsletter do UNODC ( gabinete da ONU para as Drogas e Crime) do passado mês, dava conta de algumas evoluções, tímidas, no Afeganistão. Em Nagahar, distrito de Surkhrod, os agricultores acabaram com 1500 ha de papaver somniferum. Mas avisaram: "sem a vossa ajuda (Ocidente) para modernizar as infra-estruturas agrícolas (leia-se retenção de água, ou seja, barragens), continuaremos a ter inundações na Primavera e secas no Verão". Ou seja, voltar-se-ão de novo para a cultura sazonal e rápida do ópio.
Claro que nada disto interessa a quem julga possuir, na ponta da língua ou da caneta, "soluções" para o "flagelo"
PS:outras edições deste almanaque podem ser consultadas nos arquivos do Mar salgado
posted by FNV on 12:33 da tarde
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COMO É? Da página 45, classificados/local do Público de hoje, num anúncio de um condomínio privado: Abra as pernas e aproveite!.
Não contentes, exibem um "1º Prémio Qualidade e Gestão", que "não é tudo" mas "define uma empresa". Sem sombra de dúvida.
posted by FNV on 11:40 da manhã
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SEGURANÇA A BORDO: Depois de um psicólogo experimentado, o nosso cauteloso Comandante assegurou a contratação de um aprendiz de psiquiatra. A bordo, o sentimento de segurança cresce exponencialmente. Fora da nau, a coisa torna-se mais delicada: já é difícil persuadir a blogosfera de que o Mar Salgado não é apenas uma gigantesca manobra de angariação de clientela para os dois marinheiros. Um abraço, Tiago, e bem vindo a esta caravela sem astrolábio.
ANO NOVO, VIDA NOVA: A tripulação desta escuna foi reforçada, neste final de ano, com a presença de um médico a bordo. O Tiago Reis Marques (TRM) embarcou no Mar Salgado. Para ele um voto de boas vindas.
Com a sua presença reforça-se o pluralismo nesta nau, que passou a contar com dois práticos do Direito (vulgo advogados), um estudioso dessa ciência oculta na sua vertente penalista, um economista (muitas vezes considerado como um mero merceeiro, sem desmerecer os merceeiros), um psicólogo clínico e um médico ainda em estado de clínico geral (ainda que conste que vai enveredar pelos mistérios da Mente e dos fármacos, especializando-se em psiquiatria).
Alarga-se também o leque de idades dos participantes, passando a haver gente que ainda se lembra vivamente do pós-25 de Abril e outros para os quais Os Capitães de Abril não passam de um título de um razoável filme da Maria de Medeiros. E pensamos, pelo que dele conhecemos, que também o espectro de opiniões políticas foi alargado.
É pois boa altura para efectuar um ponto de ordem, recordando algumas questões fundamentais do nosso Livro de Estilo:
Não há desdobramentos de personalidades: os nomes que estão na coluna da direita, incluindo o de Neptuno, correspondem a cinco pessoas diferentes. Que vivem, trabalham e divertem-se em locais diferentes: Lisboa, Coimbra, Porto e Washington.
Continuarão a surgir certamente questões de difícil gestão: por exemplo a compatibilização entre quem dá a cara e o nome e quem assina sob pseudónimo. Mas estamos cá para isso, para mais tarde reflectirmos sobre as implicações desta situação e minimizarmos os estragos.
Os textos são da exclusiva responsabilidade individual de quem os assina. Nunca se praticou, não se pratica nem se praticará qualquer tipo de censura nesta escuna. Os limites da escrita serão única e exclusivamente ditados pela consciência individual de quem aqui escreve. Mantemos com muito orgulho e honra a nossa filiação na União dos Blogues Livres, uma vez que o seu ideário anti-totalitarismo marxista na blogosfera corresponde à tendência largamente maioritária deste blogue. Mas somos e seremos uma página pluralista.
APOCALIPSE: Coube-me o quarto de vigia no deck superior desta sossegada nave e desta desabitada blogosfera. Estou sozinho com as estrelas e com os merlins, que nadam em semi-círculo à volta do navio, indiferentes a S.João Baptista, o último dos profetas. Pouca gente me lerá nesta altura, nesta precisa altura, e por isso as palavras são preciosas. Aliás a palavra é sempre preciosa, é sempre subserviva e infecciosa, contagiante: a palavra dos profetas também, mas essas são carregadas de condenação. A vinda de um Salvador, e por conseguinte a sua fala, não teria sentido num mundo bom e justo. Aguardemos assim serenamente, as profecias reveladas de outro João. Talvez o de Patmos?
posted by FNV on 11:01 da tarde
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NATAL: Por esta hora imagino que já tenhamos tudo pronto.
Já se ateou uma poderosa lareira e já se começaram a tirar as rolhas a umas quantas garrafas de vinho tinto (Quinta do Vallado, Reserva, 2000, pareceu-me bem), por forma a que respire profundamente e se aqueça ligeiramente, nas proximidades do fogo.
As lembranças e os presentes das crianças estão todos comprados («é preciso ainda ir buscá-los ao carro!...») e a pequenada, numa excitação medonha, corre em todas as direcções em gritaria ensurdecedora. Convém esconder-lhes as rabanadas, que se banham regaladamente em abundante calda, os chocolates, os pinhões, o nogat e o ananás, que esperam já alinhados o momento próprio de tirar a boca de lacaio.
Ao lado da sopa fumegante, o bacalhau (criteriosamente escolhido, de lombo alvo e imponentemente alto) coze sozinho, enquanto espera a reconfortante companhia das couves, batatas, cebolas e ovos.
Após aturada escolha, optou-se pelo azeite Romeu (em equipe que ganha não se mexe). Quanto aos vinagres, será à escolha entre o Moura Alves (claro) e o de vinho do Porto, de Augusto Leite (excelente).
O serra continua a babar-se («e já alguém roubou um bocado!...»), ao lado de um paio de lombo fumado de Ponte Lima, finamente cortado, e da cesta do pão, devidamente coberta para que não seque.
Parece que não nos esquecemos de nada, pensamos enquanto sacamos a última das rolhas (agora a um LBV de 75 da Noval, engarrafado em 81 – período revolucionário, bem sei, mas pode ser que seja um bom néctar).
Não nos esquecemos de nada. Mas isso só será realmente verdade se nos lembrarmos de que o que se está a comemorar, hoje, não é um qualquer aniversário de um velhote simpático, de barbas brancas e nariz vermelho, criado por uma multinacional de refrigerantes.
O que se comemora hoje é o nascimento de Jesus Cristo ou, por outras palavras, a vinda à terra do Filho de Deus, Ele próprio igualmente Deus. E, mesmo para quem não creia nisto, comemora-se a sua Mensagem e a Palavra que nos deixou: qualquer que seja o prisma ou ponto de vista pelo qual se observe, essa Mensagem é indiscutivelmente boa.
Santo Natal a todos, é o desejo deste velho lobo do mar.
posted by VLX on 6:01 da tarde
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NATAL: A nau aproxima-se do seu destino. Navegando em cabotagem, já se reconhecem na costa as luzes do conforto da casa, da família e também dos amigos, enfim, das tripulações a que gostamos de pertencer. Queremos desembarcar no Natal e não podemos passar-lhe ao lado. Por isso mesmo, será porventura necessário passar ao largo do blog. Como bons marinheiros, logo estaremos de volta a este porto seguro, de onde podemos navegar sempre e para todo o lado. Em boa companhia.
posted by Neptuno on 5:02 da tarde
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HÁ TELEPATIA NA LAPÓNIA? Todos os outros pareciam misses-mundo num qualquer concurso na Guatemala: pediram paz, o fim da fome, amor e outras prebendas irrealizáveis. Só Nuno Gomes e Moreira, os maiores a partir de hoje, pediram ao Pai Natal a única coisa que só ele é capaz de nos dar: o título.
PORQUE DE FACTO NÃO SOU PATRIOTA, continuo. Lamento incomodar o sentimento geral, até o que só crítica os mandantes políticos do contingente da GNR no Iraque, mas tem de ser. Os soldados estão lá com "espírito de missão e para defender o nome de Portugal", na soluçante comandita que se encarrega de "preservar a paz mundial", diz esse extraordinário comediante, o ministro F.Lopes. Muito bem. Mas se assim é, porque é que desataram a rosnar com a mera possibilidade de verem a sua missão reduzida de seis meses para quatro? Porque é que me incomodam com questíunculas sobre descontos no IRS e outros trocos?
Não fui de facto agraciado com o dom do patriotismo, admito a minha miséria. Ainda hoje preferia ser leonês ou castelhano, brasileiro ou zambeziano do mapa-cor-de-rosa. Mas de todo o modo, sei reconhecer soldados profissionais. Mesmo disfarçados.
posted by FNV on 9:15 da tarde
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PORQUE NÃO SOU PATRIOTA, posso falar. Cinco (5), cinco exames em 48 horas, para entrar em medicina em Badajoz. Não tugem nem mugem, se fosse em Portugal tinhamos motim convenientemente organizado pelos papás e pelo BE. De que falo? De uma reportagem da SIC, que mostra os caminhos dos futuros ex-médicos portugueses, que têm de ir a Espanha obter o diploma de medical doctor porque com 18 valores de média final não conseguem entrar em no curso de Medicina português. E Badajoz não é sequer a 5ª ou 6ª cidade espanhola. Nem a 5ª ou 8ª melhor escola de medicina de nuestros hermanos.
Deve ser isto que os bravos patriotas que para aí pululam, entendem por contra-reacção á invasão espanhola. Ou será contra-evasão?
posted by FNV on 9:01 da tarde
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DESCOBRIRAM A PÓLVORA: Os chineses, claro. E também descobriram agora, os 365 membros do Comité Central do Partido Comunista , ao fim de milhões de mortos, estropiados e torturados, que a propriedade privada obtida legalmente não pode ser violada. Longe vão os tempos dos Guardas Vermelhos, em que as flores no jardim eram contra-revolucionárias. Só é pena que as utopias de esquerda, travestidas de uma insuportável superioridade moral (o que as torna comparativamente miseráveis), tenham de durar tanto, tenham de matar e humilhar tantos seres humanos, até morderem o pó.
posted by FNV on 7:39 da tarde
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AINDA CANOTILHO: Gostava de contar dois factos curiosos. Um deles, revela a minha admiração pelo Professor: foi o único professor cuja assinatura desejei ter (e tive) nas fitas da minha pasta académica. O outro, revela a admiração e o respeito que granjeou além fronteiras. Encontrando-me no Brasil, conheci estudantes de direito que, ao saberem que eu tinha tido a felicidade de o ter como professor, logo manifestaram a sua profunda inveja por esse facto, tendo-me pedido se lhes poderia facultar os meus apontamentos das suas aulas, como se de uma "relíquia" se tratasse (dada a qualidade desses apontamentos, não era manifestamente o caso!).
posted by Neptuno on 4:03 da tarde
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CAPITAL: O nosso VLX não referiu, quanto a mim, uma das características mais fortes da nossa capital: o facto de ser a única cidade portuguesa verdadeiramente cosmopolita. Acolhe os seus e os outros. A sua beleza e a sua luz são pólos de atracção para os que vêm de fora, como eu ou como o VLX, que vem do Norte (Laipeziche, suponho).
posted by Neptuno on 3:54 da tarde
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CAPITAL (ainda bem que estou longe dela): pois a verdade é que lá fui, mas a coisa não me correu nada bem.
Ainda mal tinha chegado (mas já parado no trânsito), ia-me entrando pelo carro dentro um avião enorme, vindo da esquerda e sem prioridade (dada a altura a que voava, ainda pensei que fosse chover, mas felizmente isso não aconteceu): aquela gente continua a querer ter os aviões a pararem à porta de casa, que isso lhes faça bom proveito.
Depois, o dia estava cinzento: foi-se a luminosidade tão característica de Lisboa e que tanta beleza lhe dava. Acho que deve ter sido ofuscada por uma construção enorme, recente, logo após o aeroporto, de uns tons de amarelo berrante e de um verde terrível que nem sabia existirem (devem ser cores feitas a computador...). Aquilo transformou o Bingo mesmo ao lado num edifício belíssimo.
Pelo meio, duas horas e meia de trânsito parado (sem contar com a viagem) roubaram-me o tempo necessário para cumprimentar convenientemente o Sr. Brito e matar saudades daquele balcão maravilhoso (para o tempo que passam no trânsito, trabalham quando?...).
Claro que se sente ali tudo o que boas quantidades de dinheiro oriundas de todas as regiões do país podem comprar: túneis infindáveis, viadutos a perder de vista, edifícios magníficos, inúmeros placards de publicidade camarária, metro enterrado no subsolo (!!), mas não qualidade de vida.
Qualidade de vida, em Lisboa, é algum que só se pode ter ao fim-de-semana, motivo pelo qual não percebo que os lisboetas saiam da cidade exactamente nessa altura: pela parte que me toca, acho que Lisboa se está a tornar num local muito agradável para se ter uma casinha de fim-de-semana. Já à semana aquilo é terrível, como verifiquei uma vez mais com todo o horror.
Para cúmulo, venho de lá com uma prescrição de uma dieta pavorosa e manifestamente irrealizável. Porcaria de terra!
posted by VLX on 1:17 da tarde
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VER DE NOVO: A última vez deve ter sido há muito tempo: não me lembrava desta cor salmão pelas encostas da cidade quando o solstício de Inverno é soalheiro.
posted by PC on 2:55 da manhã
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O que NÃO pedi ao Pai Natal:
Um telemóvel.
Um filho.
Uma camisa branca.
Um país novo.
Saúde para todos.
O MAR SALGADO é uma nau pluralista de velhos lobos do mar, com uma tendência maioritária para estibordo, que navega quotidianamente pela blogosfera. Contactos, sugestões, críticas, insultos e propostas para lobosdomar@hotmail.com
posted by NMP on 2:53 da manhã
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SAUDADES DE LISBOA:Este post de VLX lembrou-me as malditas saudades que sinto de Lisboa. Questões profissionais levaram-me há alguns meses a emigrar. Tenho raízes em Coimbra, onde nasci e vivi e, além de Lisboa, vivi em Paris e agora na Capital do Império (gosto de todas estas cidades). Tenho felizmente viajado alguma coisa nesta vida, mas é, confesso, sobretudo de Lisboa que tenho infinitas saudades.
Saudades que não quero matar. Como alguém que me é muito querido me ensinou, as saudades não se matam, acarinham-se e aprende-se a gostar de viver com elas. E é com esta Lisboa, magistralmente retratada aqui por António Botto, que eu tenho aprendido a gostar de viver:
Lisboa, berço da força
Cais das grandes aventuras
Onde embarcaram aqueles
Em madrugadas escuras
E em barcos de uma só verga
Navegando sem receio
De que o mar na sua fúria
Partisse de meio a meio
A frágil embarcação,
Lisboa das Descobertas
Pátria de espada na mão!
Lisboa rica de timbres
Mas em que um é sempre belo:
- O Sol doirando as ameias
Do seu glorioso Castelo!
Ó Lisboa das fragatas
E das manhãs outonais,
Dos marinheiros valentes
Beijando estas e aquelas
À noite pelos portais.
Lisboa desmazelada
Sem garbo, sem atitude,
E sem compostura séria;
Lisboa da fadistice
- Senhora Dona e galdéria!
Lisboa das zaragatas
Por qualquer coisa e por nada;
Lisboa dos decilitros
De tasca em tasca, vadia,
Complicante e à bofetada;
Lisboa da tradição
- Sorriso de nostalgia!
Quartel do alto heroismo,
Lisboa chorosa e forte,
Saudosa, infeliz, cantando
Na plangência de um harmónio
Cantigas que ouviu à morte!
Lisboa dos pátios sujos
Onde se ralha e se dança
Até romper a alvorada!
Descalça, de mãos na ilharga,
Impetuosa, vibrante,
Lisboa da garotada
Jogando a bola nas ruas.
Lisboa das horas mortas
Com namoros à janela.
Lisboa dos chafarizes
Onde a água é um cantar
De nautas e mariantes;
Lisboa das guitarradas
No lirismo dos amantes!
Lisboa das melancias
Descarregadas ao Sol
E aos berros no Cais da Areia.
Lisboa das noites lindas
E onde é oiro a lua cheia!
Ó Lisboa dos mendigos
E dos velhos sem asilo;
Lisboa do céu azul
E onde o Tejo é mais tranquilo.
Lisboa de bairros tristes,
Humilde, religiosa
Sem fundos de convicção,
Lisboa do meu amor,
Essa maldita paixão
posted by NMP on 2:39 da manhã
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E AGORA, JOÃO ? O nosso caro amigo do Terras do Nunca atravessa a crise existencial dos 6 meses de idade e pôs-se a pensar. Pressenti no texto algo que me aterrorizou: a possibilidade de ele deixar de escrever. De sair da blogosfera.
Queria daqui fazer-lhe um apelo para que continue com o mesmo espírito combativo e a mesma fibra intelectual. Faria muita falta à blogosfera e a nós em particular. Poucas vezes concordamos. Pensamos de forma diferente. Muitas vezes o João pica-nos e critica. Contesta, estimula, incomoda, irrita, enerva, diverte, contraria, perturba, chateia, desafia mas sobretudo obriga-nos a ser minimamente consistentes. Força-nos a tentar ser melhores (muitas vezes sem grande sucesso, mas isso já não é responsabilidade dele).
Agora, João, como dizia o poeta do canto e das armas Não te deixes murchar. Não deixes que te domem / É possível viver sem fingir que se vive. / É possível ser homem. / É possível ser livre livre livre.
Parabéns pelos 6 meses.
posted by NMP on 2:14 da manhã
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CAPITAL: Tenho por certo que, de tempos a tempos, se deve ir a Lisboa. Tocar o poder, onde ele verdadeiramente existe. Cheirar o dinheiro, no único sítio onde ele neste país está (mesmo que catalogado nas velhas pesetas). Saborear o desembolsar fácil das notas (na terra portuguesa onde tudo o que se faz é bom e bonito, ou horroroso e mau, mas sempre caro e vistoso); ouvir os eléctricos (que por cá – quase - se resumem aos carris); e ver aquele céu azul (que apenas o Tejo nos dá). Só nos faz bem aos sentidos.
Amanhã vou lá. Imagino-me já a pedir uns gambrininhus geladíssimos ao Sr. Brito, enquanto espero uns croquetes com mostarda, ou impacientemente à espera de um fígado de ganso bêbedo no XL. Ou apenas passeando-me naquela Lisboa tão rica.
Acho que, de tempos a tempos, os nossos dirigentes lisboetas também se deveriam deslocar ao resto do país. Só para ver como é.
J. J. GOMES CANOTILHO, o primeiro jurista a receber o Prémio Pessoa. Merecido pela obra notável, pela seriedade com que encara o ensino e a Universidade, pela espantosa capacidade de inovar, pelo constante entendimento do direito como um instrumento ao serviço da vida; mas também porque representa um saber sereno, cuja influência não depende de aparições semanais na comunicação social. O Doutor Joaquim Gomes deve sentir-se tão satisfeito com a atribuição do Prémio como com o impressionante uníssono dos aplausos, vindos de todos os lados e quadrantes. Juntando-me aos restantes marinheiros desta nau que foram seus alunos, envio-lhe daqui um caloroso abraço de felicitações.
posted by PC on 11:40 da tarde
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DEPOIS DA TEMPESTADE...: Este fim de semana foi um verdadeiro Cabo das Tormentas, parte delas na companhia de ilustres membros desta tripulação. A inevitável calmaria permitirá um convívio mais são com o teclado e, logo que o convés enxugue, iremos buscar mais prendas ao porão.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.