COLIGAÇÕES: A comunicação social tem passado o fim-de-semana a discutir se os partidos da maioria vão ou não às eleições em coligação. O assunto tem alguma graça porque quem segue minimamente estas coisas estava já convencido de que não haveria qualquer hipótese de isso acontecer, ocorressem estas em 2006 ou amanhã. Isto porque o maior partido da coligação parecia não querer concorrer coligado, o que era muito natural.
Com efeito, é perfeitamente natural que nestas situações o partido maior se sinta sempre suficientemente legitimado, forte e capaz de concorrer a umas eleições sem ajudas. Contudo, por outra via, é também natural que um governo de coligação se apresente ao eleitorado junto e unido como esteve na governação e no programa que propôs.
O facto de os partidos da coligação irem ou não unidos a eleições legislativas terá a ver não só com os interesses particulares de cada um mas, com o facto do PSD decidir de uma vez por todas ir coligado. Terá realmente de ser o PSD, o maior partido da coligação, a tomar essa difícil decisão e terá de ser ele a decidir se é exactamenteisso o que pretende. Isto porque nas últimas eleições em que foram coligados, essa intenção não era suficientemente clara (para não dizer que não era real) e isso reflectiu-se na campanha e nos resultados.
É do lado do PSD (e não do CDS) que existem manifestos opositores a esta coligação (veja-se Cavaco Silva, Pacheco Pereira, Miguel Veiga, Marcelo Rebelo de Sousa, Marques Mendes, etc. - todos os dias a combaterem por todos os meios o próprio partido). Ora isto dificulta seriamente o trabalho da coligação pois esta tem de combater não só a oposição como parte do próprio PSD.
Só que o PSD de 2004 já percebeu que este líder do CDS não é propriamente o Freitas do Amaral de 1982 que, por interesses pessoais, se rebelou contra o governo, desmantelou a coligação e se pôs na alheta à procura de Belém contra os interesses do país.
Mas o PSD também já compreendeu que este CDS não está para ir coligado quando o seu parceiro faz crer ao eleitorado que nada tem a ver com ele e o deixa sozinho no palco a receber insultuosas acusações («extremistas de direita» e «antigos fascistas» são epítetos ofensivos e injustificados que já Mário Soares endereçava a Freitas do Amaral - olha a quem!... - em 1986, quando este apoiado por Cavaco...).
Por isso, se, por interesses ou ódios pessoais, este bloco do PSD prefere entregar o governo da nação ao PS, não vale a pena ao CDS incomodar-se em ser o alvo directo das críticas da oposição (tal como escrevia aqui há dias) nem ser criticado sem ter a mais pequena defesa dos membros do PSD (como aconteceu este ano nas europeias).
Por outro lado, se essa gente se consciencializar de que para o país é melhor ter como governante alguém do PSD, em coligação com o CDS, do que um governo do PS (sozinho ou apoiado pelos bloquistas ou pelos comunistas), assim talvez já seja possível pensar-se numa coligação.
Cabe ao PSD decidir-se e ao CDS sacrificar-se. A bem da Nação.
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