LIVRE EXAME: A emoção é boa no amor, nas artes e no futebol. No debate, costuma atrapalhar. Surpreende-me ver gente tão proclamadamente independente, tão habitualmente interrogativa, tão intransigentemente crítica, a despachar por entre dois esgares sardónicos a chamada "teoria da conspiração" quanto ao atentado do 11 de Setembro. Claro que dói remexer em verdades cómodas. Durante a década de 80, havia uns "lunáticos" que asseveravam que Sá Carneiro tinha sido vítima de um atentado. Mais de vinte anos passados, não se sabe ainda exactamente o que aconteceu, mas já ninguém é lunático, nem anti-comunista primário, por ter essa opinião. Tudo vem do desejo fáustico de sabermos a verdade toda, definitivamente, agora. A história desmente-nos em cada ano: o conhecimento é sempre parcial (no duplo sentido de condicionado e parcelar) e provisório. Será possível pensar um acontecimento desta natureza excluindo categoricamente qualquer "e se..."? De que serve (e a quem serve) ridicularizar, como o faz o nosso FNV, hipóteses diferentes dos acontecimentos? Não será mais produtivo procurar refutá-las na mesma base - factual - em que são apresentadas, ou, argumentativamente, nas inferências que dela se retiram? Não gosto dos Denkverboten, a que o Lutz se referiu aqui, em termos que subscrevo por inteiro. Não só por razões morais, mas também porque servem muitas vezes de ninho à mentira e à falsificação. Daí a necessidade de rebater as teses que nos parecem estapafúrdias como se fossem verosímeis, sob pena de pairar sempre sobre as coisas o espectro de uma verdade existente mas inominável. A democracia não é importante nos consensos. Serve, precisamente, para as opiniões conflituantes em debates difíceis. Livre exame, com respeito pelas regras da argumentação. As emoções, aqui, são fósforos breves.
Vi ontem o documentário Toda a Verdade na SIC Notícias. De forma sistematizada, percorrendo os vários domínios da conspiração, a equipa jornalística desmontou todas as alucinações de um qualquer Thierry Meyssan ou Mathias Bröckers. O "gran finale" veio com a entrevista ao advogado dos terroristas, amigo confesso da segunda figura da Al-Quaeda, Ayman al-Zawahiri. Nas palavras dele, tudo isto são distracções que em nada servem a causa árabe... Uma das curiosidades do documentário, foi ter percebido que as teorias da cabala sobre o 9/11 resultaram todas da compilação de informação da internet, sem que os autores tivessem feito o contraditório Abraço
João, a falta de contraditório foi um dos pontos que mais me impressionou. É certo que, em alguns casos, eles terão tentado. Mas também é claro que não era um documentário imparcial. O meu argumento é precisamente esse: procurar discutir as coisas nesse plano, testando o cumprimento das regras, e não varrer as coisas, com escárnio, para baixo do tapete. Abraço.
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