Mar Salgado

quinta-feira, setembro 11:

A SENHORA PALIN E O CULTO DA PERSONALIDADE:

A reacção foi fortíssima. O paradoxo também: se a senhora era uma ilustre desconhecida, como é que tanta gente sabia tanta coisa má sobre ela? A resposta é simples: foram procurar. E foram procurar porque a personagem é interessantíssima? Como é que uma pessoa daquelas se torna numa personagem interessantíssima? Pois é.
A esquerda anquilosada ainda reflecte o culto da personalidade. Basta reparar no PCP e no BE: Comités para aqui e Mesas para acolá, mas vai-se a ver e Louçã e Jerónimo ( como antes Cunhal) são personalidades ultra-produzidas. Mais do que isso, são símbolos do partido que representam. Já o PS pode ter à frente coisas tão díspares como Soares, Guterres e Sócrates. Do PSD nem é bom falar. Graças aos deuses.
A direita autoritária produz o culto, mas esvaziado da ligação doutrinária. Salazar não é nem primo de Stroessner, Franco nunca usurparia Baptista. À direita, o verdadeiro culto da personalidade vem dos antecedentes socialistas. Hitler - e o seu Partido Nacional-Socialista - e Mussolini - director do "Avanti!" em 1912 - executaram a performance como manda o figurino.
A reacção a Sarah Palin foi, portanto, típica da zona política que cultiva a personalidade ( a entronização de Obama na Europa, sobretudo por ser negro, é deliciosa: não existe um único político europeu de topo asiático, negro ou cigano). Assim, elevaram uma personagem menor - e quanto a mim francamente desinteressante - a um patamar disparatado. Essa manobra incluiu todos os ingredientes: diabolização, desqualificação, mitomania, ódio. Muito ódio.
Todos conhecemos a importância da manipulação das emoções básicas na adoração pessoal. É uma atitude compreensível e, felizmente, atávica: viemos para vos revelar a verdade e para vos salvar deles. Ou dela, neste caso.


Adenda: O Lutz dá-me aqui uma ajuda inesperada. Que o problema não é a senhora mas "o que ela representa". Nas primeiras 48 horas, o problema foi ela ser caçadora, usar arma ( é difícil caçar ursos com uma fisga), ser pró-vida ( como Guterres), ser uma ex-miss ( como milhares), ter cinco filhos e ser bonita . Isto representa o quê? Rigorosamente nada. É uma salada.
Não. A reacção foi ao que a senhora é, e não ao que a senhora representa. Foi à pessoa, daí eu insistir no culto da personalidade. Invertido.

 

posted by FNV on 10:07 da tarde #

Comments:

Boa noite FNV,
Na mouche ! Evangelistas qb é o que esta esquerda tem para oferecer.
Cumprimentos

# posted by  António P. : 10:45 da tarde

 

tem graça, eu, que não sou suspeito de marxismo-leninismo, também cultivo o paradoxo, decidi substituir Hugo Almeida por João Moutinho, no exacto momento em que os calmeirões dos pescadores de arenques começaram a despejar bolas para a área

Professor Carlos Queiroz

# posted by  cheio-de-nervos : 12:09 da manhã

 

Não despejaram coisa nenhuma. Estereótipos. O 1º golo deles conclui uma jogada de bola corrida e o 2º resulta de um remate de longe.
Continuas a não pescar nada de bola.

# posted by  FNV : 12:24 da manhã

 

isso é normal, só deixei de ser adjunto há apenas dois meses

Professor Carlos Queiroz

PS - Essa de que o 2º golo foi de longe é para diminuir o erro do Quim?

# posted by  cheio-de-nervos : 1:40 da manhã

 

Pois é... no jogo que eu vi o 2º golo da DK foi marcado de cabeça sobre a linha da pequena área na marcação de um canto... até me fez lembrar outro que sofremos contra a Alemanha, com o saudoso Ricardo

# posted by  PC : 2:00 da manhã

 

eh eh eh...a bola foi desviada...

# posted by  FNV : 2:00 da manhã

 

3 golos: um a concluir uma jogada de bola corrida, outro num remate de longe e o terceiro num canto, onde enormalmente as bolas são despejadas. Escolham a ordem que quiserem, mas não me falem, seus analfabolistas, de dinamarqueses altos e toscos.

# posted by  FNV : 2:02 da manhã

 

enormalmente, nem mais

# posted by  cheio-de-nervos : 2:35 da manhã

 

Infelizmente, nada podemos fazer para alterar a ordem das coisas como elas são. Eu até preferia que o 2º golo tivesse vindo em terceiro lugar, mas não foi o primeiro nem o terceiro: hélas, foi o segundo.
A propósito do post: a "entronização do Obama" na Europa será mesmo por ser negro? Isso seria mais ou menos o mesmo do que os americanos entronizarem a Frau Merkel por ser mulher (também nunca tiveram uma mulher presidente). Mas enfim, a questão racial dá para pegar por onde se quiser: não se pode alterar a ordem das coisas como elas são.

# posted by  PC : 2:54 da manhã

 

Filipe,

Interesse por uma personagem não é um mero culto de personalidade. Intersse não é o mesmo que fascínio acrítico

O filipe escreve: "se a senhora era uma ilustre desconhecida, como é que tanta gente sabia tanta coisa má sobre ela? A resposta é simples: foram procurar. E foram procurar porque a personagem é interessantíssima? Como é que uma pessoa daquelas se torna numa personagem interessantíssima? Pois é." mas depois não explica porque é que ela é interessanrtíssima, limitando-se a tratar interesse como se este fosse igual a culto de personalidade, por definição. O seja, o Filipe não explica o interesse (não o considera possível ou razoável) mas apenas o define como absessivo. E com isto, na realidade, ignora aquilo que é dito pelo seu 'paciente'. Ou seja: é uma psicanálise dogmática e exterior ao sujeito que é analisado.

# posted by  Joao Galamba : 3:16 da manhã

 

João: nada de psicanálise sff.O interesse ppdito já tinha sido abordado por muita gente: o NMP, você, etc. É mulher, caçadora, ex-miss, etc.Eu limitei-me a tentar compreender a violência da reacção, que existiu como é asssumido agora nas hostes democratas.

PC: não vejo é que é que a ordem dos golos afecta a discussão sobre os estereótipos futebolísticos, mas enfim tu vens mais fresco de férias lá saberás.:))
Quanto ao sr.Obama, é para mim óbvio que muita gente na Europa o entronizou imediatamente por ser negro. Muita gente o assumiu: mesmo sem o conhecer existe o simbolismo e trá-lá-lá.
Os preconceitos são como a ordem das coisas: não os podemos alterar ( pelo menos de uma penada).

# posted by  FNV : 9:19 da manhã

 

"Muito ódio", heim? Excelente, FNV! lixou-os! E o que é que lhes receita, coitados?

# posted by  Pedro : 10:33 da manhã

 

FNV,

desculpe lá insistir no tema, mas acho que se há algo que o filipe não fez foi tentar compreender. Compreender algo implica lidar com o que o conteúdo concreto daquilo que é dito. Mas o filipe limitou-se a pré-julgar (ou seja, ficou-se pela pré-compreensão) formalmente uma determinada reacção.

O filipe não fez mais do que estabelecer uma equivalência formal entre reacção e histeria ou disproporcionalidade, o que desqualifica o conteúdo particular dessa mesma reacção. Por outras palavras: recusou-se a lidar com a reacção considerando-a como justificada por razões, preferindo reduzir a reacção a algo explicado por motivações irracionais.

Compreender e explicar não são a mesma coisa.

cumprimentos,
joao

# posted by  Joao Galamba : 10:44 da manhã

 

FNV:

"compreendo, compreendo... olhe, eu acho que o senhor precisa sobretudo de tranquilidade. Esse ódio está a desgastá-lo. Entretanto, posso receitar-lhe..."

Pedro ;)

# posted by  Pedro : 10:57 da manhã

 

Eh eh eh ... Ó João: olhe que compreendo. Tanto compreendo que acho a senhora, como referi no post, francamente desinteressante. E há um contraponto, neste par acção-reacção, em alguma luso-direita compostinha: adoraram a senhora. Escapa-me a razão.

# posted by  FNV : 11:09 da manhã

 

O post está muito engracado... comecando pelo fim:

"a entronização de Obama na Europa, sobretudo por ser negro"

Ou seja, eu gostaria de ver Obama na Casa Branca nao por ser Democrata e/ou ter as ideias que considero correctas para os EUA, mas por ser preto. Eu e + de metade dos restantes europeus - como somos todos rascistas - nao elegemos nem pretos nem ciganos -nem poderíamos pensar de outra forma. Fantástico raciocínio...

"Como é que uma pessoa daquelas se torna numa personagem interessantíssima? Pois é.
A esquerda anquilosada ainda reflecte o culto da personalidade.(...) Essa manobra incluiu todos os ingredientes: diabolização, desqualificação, mitomania, ódio. Muito ódio."

Como só posso falar por mim, e nao sendo da "esquerda anquilosada" whatever that means, eu diria que nao sinto ódio pela senhora. Sinto é alguma frustracao na possibilidade de os EUA continuarem o mesmo ciclo dos últimos 8 anos. A senhora Palin é apenas uma figurante no cenário de campanha.

Escusa de elaborar grandes teorias diabólico-ideológicas. A malta nao quer mesmo é mais 4 anos do mesmo. Com Palin ou sem Palin.

Como os americanos já nos habituaram em 2000 e 2004, isto nunca se sabe como vai acabar...

# posted by  JMI : 11:38 da manhã

 

Também gostava de ter escrito isto, postado no Margens de Erro, Pedro Magalhaes:

"Mas não sou imparcial quando se trata de eleições americanas, repito. Depois do que se passou nos últimos oito anos, se em vez Obama o candidato Democrata fosse o Pato Donald, eu, se pudesse, votava no pato. É para verem o grave da coisa."

# posted by  JMI : 11:54 da manhã

 

JMI: não disse que os europeus gostariam de ver Obama na Casa Branca por ele ser preto. O que eu disse é que é a sua condição étnica, ainda por cima nos EUA, veio à frente do resto.
Eu também disse que que não deixa de ser interessante que numa Europa que fez a Expansão, e se afirma multicultural, não haja ainda um chanceler, um PM ou um presidente que não seja branquinho da Silva.
Isto foi o que eu escrevi, não sei se foi o que você leu.

# posted by  FNV : 12:49 da tarde

 

"Essa manobra incluiu todos os ingredientes: diabolização, desqualificação, mitomania, ódio. Muito ódio.
Todos conhecemos a importância da manipulação das emoções básicas na adoração pessoal. É uma atitude compreensível e, felizmente, atávica: viemos para vos revelar a verdade e para vos salvar deles. Ou dela, neste caso."

Sim, Filipe, o que eu achei mais interessante foi isso: não o ódio como reacção primitiva, espontânea, mas o seu uso como técnica de persuasão. Gostei particularmente de ver a artilharia "filosófica" ao serviço de objectivos tão pueris como o de chamar "provinciana" a uma mulher. O que seria preciso para lhe chamarem estúpida?

E ainda outra questão: até que ponto não anda o nosso centro-esquerda a dramatizar as eleições americanas para se distrair de um país que o espelho lhe devolve todos os dias, cada vez mais triste e sem esperança?

É mais cómodo combater uma tonta do Alaska, que nem dá por nós.

# posted by  Luis M. Jorge : 12:53 da tarde

 

muito bom!

# posted by  Isa : 1:57 da tarde

 

Muito bem - porque é que nao elegemos líderes políticos africanos, magrebinos, asiáticos, ciganos, etc, na Europa?

Uma questao de tempo. A colonizacao portuguesa acabou em 1974.
A guerra da independência da Argélia acabou em 1962.

A Marcha de Washington, onde Luther King discursou o "I Have a Dream" foi em 1963.

Se tudo correr bem, nao vai esperar muito mais.

# posted by  JMI : 2:30 da tarde

 

Nem o futebol mobiliza tanto comentário. Sim senhor. Parece que o estimado Filipe acertou em cheio. Ódio, muito ódio.

# posted by  Unknown : 4:31 da tarde

 

Filipe,
Há três espumas maravilhosas: a do mar, a da cerveja, e a espuma de raiva desta malta desesperada com Sarah Palin... Adoro-as todas!...

# posted by  VLX : 7:50 da tarde

 

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