Nunca imaginei que lá se chegasse, à obrigatoriedade de se ser homossexual, sempre vi esse dito como uma chalaça ou coisa assim. Afinal não. Do alto da sua cátedra e abrigada por um conceito muito próprio de liberdade pessoal, Ana Matos Pires entende que quem tem tendências homossexuais, mesmo que não as pretenda ter e sofra com elas, está obrigado a ser homossexual até ao fim da vida. Não pode pedir ajuda, não pode mudar de vida, não pode alterar o seu rumo, não pode consultar ninguém, não há retorno. A pessoa sofre, a pessoa por qualquer motivo não quer ser homossexual, a pessoa quer ser diferente do que sente ser, mas Ana Matos Pires não deixa. É uma orientação de um só sentido, proibida a inversão de marcha. E se alguém os ajudar, mesmo que a seu pedido, é intolerante. Deliciosa baralhação de conceitos sobre a liberdade individual.
Eu concordo com o VLX. E quem tem tendências heterosexuais, se se sentir mal com elas, também deve poder pedir (poder pedir? hhmmm) ajuda psiquiátrica. Ninguém tem nada que saber o que se pede ao psi.
Eu até acho que quem se sentir melhor a pensar que é o Napoleão pode pedir ao psi que o convença que venceu a batalha de Austerlitz e comeu a Josefina.
eheheh, companheiro Vasco, você, como sempre, é uma caixinha de surpresas. Eu tenho 2,00 metros de altura, mas gostava muito de ter 1,75 metros, à semelhança, aliás, de alguém que você conhece bem aqui pela vizinhança. Por isso preciso da sua ajuda, é que tenho a impressão que a minha liberdade individual é do tempo da outra senhora...
Mete-me pena ver por lá o Luís Lavoura a falar de um caso delicado pessoal/familiar e ser tratado daquela maneira pela autora do post... que raio de discussões palermas que não são capazes de se calar perante o sofrimentos dos outros!
José Serra, em que é que o Luis Lavoura foi desrespeitado? O Luis Lavoura falou de um caso familiar, não o achando assim tão delicado que não pudesse ser discutido em público. A autora do post (e não só) respondeu-lhe, dando a sua opinião sobre a questão familar que o próprio levou para a discussão e a sua diferença para a questão do post. Nem o Luis Lavoura se queixou de ser maltratado. Menos paternalismo.
Ó Vasco, já discuti isto coma a Ana Pires: ela não concede a possibilidade de alguém não se sentir bem com a sua homo e pedir ajuda, mas já acha bem um psi ajudar alguém a assumir a sua sua homo. Pronto, é uma opinião.
FNV, posso dar a minha opinião? A posição da Ana Pires é perfeitamente lógica: para ela, que acha que a homossexulidade não é uma doença, ajudar alguém a assumir a sua homossexualidade é exactamente convencer essa pessoa de que não é doente. Mas é como disse lá em cima, eu nisto sou liberal. Um tipo que não se sinta bem como é e que queira ser outra coisa, deve recorrer a um psi para o efeito. Há lá maior doença do que um tipo não ser como quer? Então...
José Serra, a questão é que ninguém ofendeu o Lavoura.
caramelo, vá lá ler os comentários e não seja tão rápido no gatilho... não digo que haja ofensa, mas no entusiasmo da diatriba a autora do post disse algo que me arrepia só de a pensar a ser lida pelo visado... tanto mais que ele nunca mais voltou a responder, apesar da insistência da menina... mas claro, tudo isto é paternalismo da minha parte e o que interessa mesmo é uma boa discussão sobre a liberdade.
Ó Caramelo, aí é que está o osso.Já ajudei pessoas que estavam a sofrer, porque eram casadas, tinham filhos, mas gostavam de outra pessoa. Estavam indecisos e angustiados. Agora pergunto: o divórcio e o casamento são doenças?
Enganou-se, José J. C.Serra, não só não se trata de qualquer entusiasmo, muito menos de diatribe, como o Luís Lavoura voltou. Não tenho por hábito os comportamentos de que me acusa, lamento.
Bem visto, Filipe. Há na argumentação de Ana Pires dois determinismos que minam a lógica do raciocínio: um determinismo biológico válido unicamente para a homossexualidade e um determinismo cultural só válido para a heterossexualidade. No primeiro caso, se é gay não pode querer mudar para hetero, pois a biologia impede-o; no segundo caso, se é hetero pode mudar para gay pois foi a cultura que o vinculou à orientação sexual anterior. O conceito de doença na homossexualidade, um dos grandes cavalos de batalha na passagem do DSM-III para o DSM-IV, foi ultrapassado e ainda bem. Recordo, porém, que no mesmo DSM-IV (pelo qual não tenho apreço de monta, nem por outros inventários de mercearia psiquiátrica) surge codificada uma perturbação de identidade de género que, não sendo obviamente homossexualidade, alerta para o facto de haver em crianças, jovens e adultos «uma persistente e forte identificação de género cruzada». Isto, segundo a Bíblia da psiquiatria, parece que já doença. Em que ficamos?
Nem mais, Filipe, excelente exemplo, você não "tratou" o divórcio nem o casamento, porque diabo há que tratar a homossexualidade? É tão bizarro como falar em tratar a heterossexualidade.
Prezada Ana Pires, não me parece que a acuse do que quer que seja. Repito o que escrevi: «Mete-me pena ver por lá o Luís Lavoura a falar de um caso delicado pessoal/familiar e ser tratado daquela maneira pela autora do post... que raio de discussões palermas que não são capazes de se calar perante o sofrimentos dos outros!»
O «daquela maneira» é quando diz: «homosexualidade não é doença, mas o autismo sim» a uma pessoa cujo filho foi, ontem ou hoje, recentemente diagnosticado autista (ou lá perto), como o próprio afirmou. Isto, na boca de uma técnica da área da saúde mental parece-me insensibilidade e casca grossa. Não a acusei, Ana Pires, limitei-me a dizer que achava uma palermice discutir tão perto do sofrimento de outrem. Contudo, se achar que as minhas observações a ofenderam de alguma maneira considere desde já as minhas desculpas. Saudações. José Serra
Não é verdade, José, nunca me ouviu falar em determinismo biológico ou cultural.
Deixe-me também dizer-lhe que a mudança nosográfica não se deu do DSM III para o IV, entre os dois houve o III-R e que, para além de tudo o mais, está a falar de um instrumento classificativo, não de uma bíblia nem de uma lista de mercearia, existem instrumentos classificativos em medicina, só isso. Ainda noutro dia falava nos casos de homossexualidade egodistónica com o FNV... bateu à porta errada, lamento outra vez.
Prezada Ana Pires, torna-se um prazer para mim ser corrigida por si, sobretudo numa área em que é tão versada como o DSM e quejandos. Pode continuar.
Eu não disse que a Ana falava de determinismos. Fui eu que os deduzi das suas palavras e da sua posição contrária à de DSampaio. É da minha lavra não da sua.
E continuo da mesma opinião. Certamente estarei errado. saudações cordiais
O problema ( = compromisso) de base é que a AMP quando fala de homossexuais só pensa nos que estão, como direi... no 'lobby'. Então, a opção (a única opção), é assumir, claro. - Há lá coisa mais dignificante?! - “Envergonhai-vos, morrei para o mundo, gays escondidos da terra!” (uma gaivota voava, voava...) Talvez haja mesmo um mundo separado, onde estão os que não querem mesmo ter orgulho. – E têm direito, porque não? Desde que não façam vítimas pelo caminho (great issue, aliás). Pessoalmente, acho também que, na generalidade, deve ser muito mais doloroso não sair do armário do que exigir - ou consentir - no 'empowerment ' pessoal que resulta da expressão livre da identidade. E que, (já agora), aproveita a onda redentora do momento (a gaivota...). Até vejo nessa coisa uma grande vantagem: - a honestidade para com terceiros: - sim, sim, aqueles que podem ser ‘arrastados’ no embuste, com gravíssimo dano, quer a intrujice seja activa, ou meramente passiva. Porque em qualquer caso é consciente.
Já quanto ao resto, irrita-me solenemente o novo catecismo, a propaganda excessiva, a histeria dos paladinos. - Deixem viver, deixem crescer, pode-se? (há miúdos confundidos a assistir)
José, Quem falou em "cunho biológico",não foi o Daniel Sampaio, foi o João Marques Teixeira na Pública de dia 2 de Maio- repare que o DS "aspou" a citação. Cumprimentos.
Teresa, Nunca, mas mesmo nunca, leu ou ouviu - nem lerá ou ouvirá - de mim juízos de valor face ao coming out. Cumprimentos.
Pois, FNV, não se tratam casos de casamentismo, divorcismo e homossexualismo, da mesma forma que se tratam casos de paludismo. Se te aparecer um tipo com a mania que tem uma girafa na cabeça, não vais certamente tirar-lhe a girafa da cabeça, mas sim tirar-lhe a mania que tem uma girafa na cabeça.
Caramelo, não disparates. Ana: mesmo que não haja escolha, no sentido que julgo que lhe está a dar, há muitas vezes uma ilusão sobre o que se quer, sobre o que se julga melhor. Como terapeuta aprendi a respeitar sempre essa ilusão ( desde que ela não viole direitos fundamentais de terceiros). Tive uma mulher em terapia que depois de uma relação com outra mulher ficou a seco. Que não, que não "gostava de mulheres", que gostava daquela mulher específica. Isto não é nada simples.
subscrevo, filipe: nada de mais complexo... O exemplo que deu recorda-me uma paciente com cinco anos de relação estável (e prossegue) que, há coisa de seis meses, se apaixonou loucamente por uma colega de trabalho, com a qual iniciou relação «paralela, fogosa e escondida (como ela diz). Refere-me que não sente atracção sexual por outras mulheres mas só por aquela (como no caso que apresentou), que está satisfeita com a relação que tem com o companheiro, e que encontrou na colega - agora namorada - uma paixão jamais experimentada antes. Sugiro-lhe que no meio de tanta paixão a sua vida relacional se complicou sobremaneira (relação paralela, uma das partes - ele - desconhece a relação «clandestina» e familiares e amigos também). Diz que não quer escolher pois se o fizer irá provocar sofrimento e todos ficam a perder. Sublinho-lhe que não optar é já uma escolha. Ao que ela responde: por que hei-de definir-me gay ou hetero se posso ficar com o melhor das duas coisas. Respeito aquela que parecer ser a ilusão dela -para usar a linguagem do Filipe - , a de que não optando não fará sofrer ninguém. Mas acho que também há ali um misto de protecção de si própria, de não se assumir e, em simultâneo, uma necessidade imperiosa de se sentir amada e de amar, de experimentar e dar prazer. Arriscaria, até, dizer (correndo o risco de delirar) que estas duas relações respondem a duas necvssidades de vinculação diferentes, mas igualmente poderosas: a necessidade de paixão, de entusiasmo, por um lado; e a necesidade de estabilidade e refúgio, por outro.
Enfim, isto para dizer que é preciso juntar à complexidade do tema em apreço outras variáveis que o construto doença/não doença não abrange. É aliás, redutor. (tão redutor como o binómio pecado/virtude que a Igreja usa para interpretar e avaliar oscomportamentos sexuais hetero e homo).
Uma coisa é uma pessoa sofrer por ter certa orientação sexual. Pode até ser normal que a nege, visto que tem de lidar com um mundo hostil, que por exemplo gosta muito de produzir prosas horripilantes em blogs que não nos facilitam nada a vida. Toda a gente tem direito a procurar ajuda para as suas angústias, como não podia deixar de ser.
Uma coisa completamente diferente é dar a entender que uma orientação sexual tem cura, uma coisa tão absurda que nem vale a pena explicar. Tais "tratamentos" são nocivos e contra-producentes, por introduzirem expectativas e objectivos irrealizáveis, levando a uma angústia permanente. Basta que imagine que o tentariam curar a si da sua orientação sexual.
Percebeu agora? Se ainda não, se calhar não há cura.
Não há cura. Só se nos obrigarem a ler só isto ou só aquilo. O que é uma chatice.
Mas por acaso não costumo ler o vlx, só que quando as pessoas opinam sobre assuntos que por acaso até nos afectam pessoalmente, reservo-me ao direito de. Com a permissão do leopardo.
"disparates"?! grunf... ficas-me a dever pelo menos sete anos de terapia por essa, meu. Mas este tema está a ficar mesmo demasiado esotérico para mim, discutam lá isso os senhores doutores.
eu já ouvi um amigo (homem e heterossexual) dizer que a homossexualidade deve ser muito bom: já viu muitos a passarem-se para o outro lado, mas nunca viu algum voltar. eu (homem e heterossexual) só digo: no dia em que a homossexualidade for obrigatória viro lésbica!
agora a sério: já é demais esta história de se estar sempre a ceder às reivindicações dos homossexuais! fazem-se sempre passar por vítimas mas quem funciona em lógica de lobby são eles. e com esta estratégia têm conseguido tudo o que querem. quase só falta o casamento (até aqui eu ainda tolero, mas distinguindo do casamento dos heterossexuais) e a adopção de crianças - isto, na minha opinião, é completamente inaceitável. por muitos países que a legalizem, não deixa de ser um perfeito disparate. como dizia o Nilton: está na moda...
MM: - Lobby, sim senhor. Lobby. Disse muito bem. Olhinhos abertos e cabeça fresca: só não vê quem não quer. A coisa tem de ser observada fria e atentamente. Lamento, mas nisto, razão tinha o Candal. Todinha. Quanto à viagem para o outro lado não ter retorno... então mas não é mais que óbvio que jamais poderia ter? Pense lá bem... Mamma Miya!
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