PODEM DESCANSAR: Se perdermos com a Argentina ou com a Holanda. Se ganharmos à primeira, nada de especial: conhecem-se "as dificuldades das selecções sul-americanas em Mundiais disputados na Europa"; se eliminarmos a Holanda, repete-se a tristeza do último Europeu. À cautela, comprem ranitidina.
PORTO, CIDADE ABERTA: Hoje, por volta das 19.00, no Majestic. À minha esquerda, o líder da Nova Democracia lanchando tranquilamente. À minha direita, doze, não mais que doze, provavelmente todos os ganeses que vivem no Porto, em corrida lenta, cantando, por Sta. Catarina fora. Um deles, eufórico, com um papel A4 nas mãos, que exibia aos passantes: o desenho da bandeira do Gana.
posted by PC on 9:39 da tarde
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EM CONTRA-PÉ: Estes dias de céu amorrinhado fazem as ruas mais compridas e as pessoas mais pequenas. As praias estão cheias de deslocados, como agora se diz, enrolados em camisolas; a ONU não os acode. A água, outrora tão endeusada, organiza-se em pequenas células terroristas neoplásicas. Quando o bom tempo chegar, poderemos secar os preservativos.
posted by FNV on 12:32 da tarde
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DA RÚSSIA, COM AMOR: Depois de Smolensk, Napoleão chega a Gjastk. As coisas não andavam depressa e Napoleão, fazendo fé em Tarlé, arranja tempo para escrever a Maria Luísa: "Há dezanove anos que faço a guerra e dei muitas batalhas e fiz muitos cercos na Europa, Ásia e África. Abreviarei esta guerra para te voltar a ver bem depressa." Se fosse hoje, esta carta provocaria um tumulto. Mas vendo bem as coisas, hoje ninguém abreviaria uma guerra para voltar a ver a amada.
UMA ESTALADINHA BEM REPENICADINHA: Em todos os pobres de espírito que, por causa dos Quaremas, dos Baías, da ditadura brasileira e da Nossa Senhora do Caravaggio, têm implicado com tudo e mais alguma coisa no que se refere à selecção nacional. Angola, a tal selecção constituída por "desempregados e por empregados de clubes da 2ª divisão portuguesa", empatou com o 4ª classificado do ranking da FIFA. Agora podem implicar com o pentado de Scolari ou com o número de lugares de estacionamento existente no hotel onde estagia a selecção nacional.
posted by FNV on 10:01 da tarde
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LEOPARDOS: Bem me esforço mas não encontro nenhum na selecção portuguesa. É tudo bicharada muito solidária e obediente, assim ao jeito de uma manada de gnus. Há por lá um velho leão ( Figo), uma chita ( Ronaldo), um texugo africano ( Petit), uma girafa ( Meira) e um flamingo ( Nuno Gomes). Falta, no imorredoiro baptismo de Henrique Galvão, o magnífico patife. Já tivemos um: chamava-se Nené.
posted by FNV on 4:51 da tarde
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ANGOLA É DELES: O treinador de Angola queixa-se, e com razão, do tratamento recebido nos media portugueses ( colunistas incluídos). O racismo organiza-se em três fases: superioridade, medo e paternalismo. Em Portugal estamos na fase 3. Muito gostaria de ver Angola ganhar hoje ao México.
posted by FNV on 12:37 da tarde
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A NACIONALIZAÇÃO DO DÉFICE COGNITIVO: Granizos, fogos, chuvas, calor. O valor mediático do refrão televisivo "não há memória de uma coisa destas " é elevado, não duvido. E este povo, muitas vezes desdentado, que repete o refrão mentido com os dentes que já não tem, satisfaz-se com quê? Deve haver um elemento psicológico. Talvez repetindo a ladainha a gente se conforme mais facilmente com o desastre; os media, quais podengos lançados aos láparos, seguem na peugada. Há no entanto outro elemento, este patológico: é impossível construir uma memória colectiva desta maneira.
posted by FNV on 1:19 da manhã
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LEOPARDOS: Os do Togo e os da Costa do Marfim, claro. Mas os do Equador, liderados por Edison Mendez, que a seu tempo aqui referi, são os meus preferidos. Ai não há leopardos no Equador? Há sim senhor. Ou melhor, já houve. Em tempos gloriosos, a onça (ou tigre ou jaguar), prima direita do Ingwe africano, vagabundeava por toda a América do Sul, seguindo do Amazonas para o Napo. Esta rapaziada de Guayaquil tem todo o estilo do leopardo: sonolenta de patinhas de veludo, salta num ápice e já lá vão 5 golos marcados sem um arranhão. E viva Sucre!
IRRA! A SporTV continua a repetir que o México nunca passou da fase de grupos em Mundiais disputados na Europa. Isto numa estação televisiva dedicada quase só ao futebol e que teve todo o tempo do mundo para preparar as contas do Mundial. É imbecilidade natural ou de escabeche?
posted by FNV on 9:01 da tarde
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RUA COM ELA!: Segundo parece, uma cidadã indiana que pretendia ser portuguesa - talvez por superstição, ou pelo facto de viver cá há muito tempo, ser casada com um tuga e ter filhos portugueses (ele há cada mania...) - viu ser-lhe recusada a nacionalidade pelo facto de, alegadamente, não conhecer personalidades da vida política portuguesa. Não podia estar mais de acordo com esta decisão. Não tanto pelo facto objectivo e culturalmente louvável de não conhecer nenhum político português mas sim pelo que esse facto revela de desconhecimento e desinteresse pela realidade nacional. De facto, adivinho que a dita senhora, sabendo que este poderia ser um dos critérios da atribuição da nacionalidade, terá feito uma visitinha ao Parlamento. No entanto, mostrou total ignorância e desrespeito pelos nossos costumes ao fazê-lo em véspera de feriado ou de fim-de-semana (mesmo que tivessem tentado aprovar uns diplomazinhos...), após as 16.00 horas ou em dia de bola, perdão, de trabalho político. É que não não basta ser; às vezes também é preciso parecer...
posted by Neptuno on 5:59 da tarde
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CHAPÉUS HÁ MUITOS: Ontem foi Louçã: "O Presidente da República tem sido extremamente passivo e alinhado com a governação de Sócrates". Verdade seja dita que quem durante a campanha eleitoral agitou permanentemente o fantasma da luta de galos, não foi Louçã: foram os meninos (e outros com idade para ter juizo) da candidatura de Soares que tomaram o povinho por parvo. Note-se a contribuição de Louçã para a geometria descritiva de carácter libidinal: "passivo alinhado" não lembrava a Reich.
posted by FNV on 12:21 da tarde
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VAMOS A LA PLAYA: A famigerada "sociedade civil", moralmente superior e impoluta, da qual fazem parte os professores, fez greve entre um ( dois, para os lisboetas) feriado e um fim de semana. É esta "sociedade civil" que pretende, no movimento de Alegre ( mas não só), pôr os políticos "na ordem". Quando toca à vidinha, não há independentes para ninguém.
posted by FNV on 12:15 da tarde
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"WHY ARE THEY HERE?" Pergunta obsessivamente Faiza Al-Arji, do blogue A Family in Bagdad. O blogue é quase todo escrito em árabe, mas de quando em quando acede-se a posts em inglês. Supostamente é um blogue colectivo, escrito a partir da capital iraquiana; mesmo que assim não seja, percebe-se que quem lá escreve está muito bem informado sobre pequenos detalhes quotidianos. A tese de Faiza é simples: as forças de ocupação privilegiam os curdos e os xiitas. Ao fim de tanto tempo, a pergunta de Faiza faz algum sentido. A gente da rua desconhece os meandros da geopolítica.
ADULTA PILHÉRIA: Funcionário superior de uma instituição financeira, iniciou uma relação com uma subordinada, casada. Todas as segundas-feiras submetia-a a um interrogatório digno do almirante Canaris: "Foste para cama com ele?". O marido dela, ignorante da situação, nunca lhe perguntava nada. O velho Freud tinha razão: sem desejo não há ansiedade.
posted by FNV on 11:52 da manhã
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EM DEFESA DA PEQUENA BURGUESIA: Cresci rodeado de pessoas que não eram outra coisa, mas cresci a ouvir falar mal dela. Ainda hoje vejo, divertido, como a herança custa a sacudir: cosmopolitas que se zangam por meia dúzia de euros, meninas que cavam na notoriedade das revistas antigos métodos de ascensão social. A expressão hoje tem outros contornos, se bem que o essencial continue: suburbana, passeia nos centros comerciais aos domingos, devora novelas e bola, espeta o dedinho a beber a bica, passa férias na Quarteira, lê Sousa Tavares e põe a bandeira à janela. Pois gosto dela, da pequena burguesia. É gente que trabalha para obter o que tem, o que desde logo é uma virtude. Não recebe heranças nem conhece jornalistas ( se bem que muitos deles não consigam a disfarçar a proveniência), o que a faz gostar de viver as vidas dos outros. Compreensível. É gente que desconfia das grandes mudanças planeadas por teóricos alucinados, preferindo viver a pacata vidinha. Esta pacata vidinha é soberbamente desdenhada pelos frequentadores de livrarias virtuais e de peças urbano-depressivas. É gente mole, carneirenta, agarrada à TV e que palita os dentes. Seja. Esta gente está condenada a um Círculo não descrito pela hiena que poetiza nos túmulos: já se ergueu acima das necessidades do saneamento básico mas ainda não se doutora em Paris. São os novos proletários e alimentam-nos.
posted by FNV on 11:18 da manhã
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O FABULOSO MUNDO DOS TOIROS: José Trincheira, matador de Vila Viçosa ( e de zebus em Angola) , tirou a alternativa em Cáceres, a 28 de Setembro de 1958, tendo como padrinho Cesar Giron. Um ano depois casa-se com "a cançonetista" Maria José Valério e a coisa não corre bem. O biógrafo de Trincheira, Rui Anjos *, dá a a seguinte explicação para o fracassso matrimonial: "O primeiro acto dessa má alternativa, que foi o seu casamento com Maria José Valério, sucede logo na noite de núpcias em que a noiva se furtou à consumação do acto matrimonial, nessa mesma noite, quando antes nunca o fizera. Desculpa para essa atitude: cansaço dos autógrafos dados no copo de água". Pobre Trincheira, antes enfrentar um acoceador na arena...
* Rui Anjos, Trincheira: Arte , Valentia e Tragédia, Ed. Domingos Araújo, Mafra, 1977.
NARCOLÂNDIA EM CAVEZ: Deliciosa história relatada por Pacheco Pereira no www.abrupto.com ( publicada no "Correio da Manhã ", não percebi bem de que dia), sobre a velhinha que tinha canabis na estufa caseira. Aqui há uns anos, um manual da DEA sobre plantações domésticas da erva avisava os agentes da autoridade sobre os truques dos agricultores: " plantam a canabis num canto remoto do quintal mas têm o cuidado de rodear os pés com hortaliça, iludindo assim os vizinhos curiosos".
PESEIRO NA ARÁBIA SAUDITA: Não é assim que os convertemos à secularização.
posted by FNV on 12:30 da tarde
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CRISTALINO: Disse Saramago, ontem, numa homenagem a Vasco Gonçalves ( via Público: "Nem a democracia é uma herança directa do 25 de Abril". Concorda-se, obviamente. Fica por saber por que motivo o 25 de Novembro não é ( também) feriado nacional.
posted by FNV on 12:21 da tarde
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LUSOESQUIZOFONIA: Ouvindo o "Fórum" da TSF, podemos dizer que habitam em Portugal, até ao próximo sábado, dois tipos de seres: os luso-scolarianos e os luso-iranianos.
posted by FNV on 11:53 da manhã
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1918-1926: Durante oito anos o leopardo de Rudraprayag devorou, comprovadamente, 126 pessoas: muitos fígados, corações e músculos humanos passaram por aquelas goelas. A sua área de caça de humanos, sobretudo peregrinos que se dirigiam para Badrnitah, espraiou-se em redor de Nanda Devi, na província de Garwal, norte da Índia. Foi Jim Corbett, excepcional escritor, grande caçador e empenhado ambientalista, que o matou. Só um leopardo conseguiria ter sobrevivido a centenas de batidas, esperas e armadilhas durante oito anos. Se é verdade que Jim Corbett lhe dedicou um dos seus livros ( inteirinho), quase que advinhamos o não menos verdadeiro desfecho: o leopardo estava farto. E velho.
A NOSSA BANDEIRA: Foram precisos trinta anos sobre o vinte e cinco do quatro para os portugueses se afeiçoarem à bandeira do seu país. Durante esse tempo, ter orgulho ou simplesmente gosto na bandeira portuguesa era estupidamente visto como uma coisa salazarenta ou parola. Admito que esta é a mais feia bandeira que Portugal já teve (e teve tantas tão lindas!... resta-nos a satisfação desta ter sido das melhorzinhas que na altura foram propostas, com excepção dos projectos de Guerra Junqueiro, um da Comissão Portuense e a Das Quinas Portuguesas, todas elas das cores azul e branca - isto sem qualquer conotação futebolística). De todo o modo, é a bandeira que temos e temos de gostar dela e de a respeitar, mesmo que ela apenas nos tenha sido devolvida através da bola.
Não descortino nos livros escolares actuais muitas referências à bandeira nacional, mas folheando os antigos encontro inúmeros textos sobre a mesma e sobre o seu significado. Explicam-se as cores, os castelos, as quinas, a esfera armilar, a sua importância num campo de batalha, no topo de um castelo recentemente conquistado ou duramente mantido. Esclarece-se o motivo pelo qual se envolvem as urnas dos heróis com a bandeira, indica-se que é uma luz, uma estrela, um farol que nos guia, divaga-se sobre o modo como a devemos respeitar, é-nos dito o que ela simboliza, o que é e para que serve.
Em lado algum encontro alguém que defenda que a bandeira possa ser usada para lhe ser aposta publicidade. Ontem, vinha com um jornal semanário uma espécie de bandeira portuguesa tendo aposta no canto inferior direito publicidade ao dito jornal e a uma instituição bancária, certamente reflectindo a reconciliação entre ambos.
Como as crianças têm de aprender a amar e a respeitar a verdadeira bandeira do seu país, mesmo que isso se inicie pelo futebol, tive de ir comprar uma bandeira a sério. A espécie de bandeira com a propaganda aposta foi, obviamente e de uma vez só, direitinha para o caixote do lixo.
posted by VLX on 6:33 da tarde
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O "BURRO" DO SCOLARI (II): Pedro Emanuel, capitão do FC Porto, diz hoje no "Público" que se fosse seleccionador não teria levado Quaresma ao mundial: Quaresma "seria mais útil à selecção sub-21".
posted by FNV on 1:30 da tarde
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O "BURRO" DO SCOLARI: "Sofremos muito com o calor" ( Frank Lampard, depois do Inglaterra x Paraguai).
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.