Amanhã passarei perto da Catedral só para sentir o cheiro, no dia seguinte volto para casa e aguardo. Com Timóteo digo não canto coisas antigas / bem melhor são as modernas. Assim espero, que vencê-los é ar renovado. O Porto ( é como dizemos) obriga à despreocupação total no que concerne a aspectos técnicos. Até dispensava a batalha, dessem-me os deuses a vitória numa bandeja importada de Elêusis. Ganhar-lhes não é uma festa, é uma necessidade. Uma nuvem me ensombra o juízo: Proença rima com Benquerença.
Excelente artigo * de Olga Martynova, cidadã nascida na Sibéria ( Dudinka), sobre "a geração russa dos anos 40 que antecipou o nonsense de Ionescu e Beckett ". Escreviam histórias para crianças e faziam traduções técnicas para sobreviver ao espírito de liberdade da sociedade estalinista ; foram descobertos já tarde, por Brodsky e outros, tal a artesanalidade das suas produções. Vvedensky, Ruskin, Lipavsky e outros, formaram nos anos 30 a Oberiu ( Sociedade da Arte Real) e grande parte dos poemas e textos avulsos foram publicados na Schreibheft em 1992. Com o perdão de Olga Martynova, uma versão portuguesa de um pedaço de Lipavsky e do seu bessmysliza ( absurdo):
" A minha ex-mulher tinha um talento notável. Em qualquer altura levava mão ao peito e tirava de lá uma pulga. As pulgas agora já não me mordem tanto, mas quando o fazem são enormes. Entram porta adentro, deitam-se, e quase não sobra espaço para mim no quarto."
* original em alemão no Neue Zurcher Zeitung de 17 de Fevereiro último, versão inglesa em www.signandsight.com, edição de ontem. Quem puder que consulte www.schreibheft.de.
Com tantas eólicas, e agora com a maior central fotovoltaica da Europa, Portugal já tem o chamariz. Estou seguro de que os extraterrestres escolherão o eixo Lamego-Beja para a sua primera visita ao planeta azul. Por isso, em vez da OTA, deveríamos estar a construir o primeiro ovniporto do (nosso) mundo. Não há que temer a originalidade, sobretudo depois do Alqueva e do estádio do Algarve.
posted by FNV on 12:46 da tarde
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DONDE SE NÃO CUIDA SALTA LEBRE:
Embora muito criticado, o pedido de Marques Mendes para que o governo alivie a carga fiscal foi um bom tiro. Se Sócrates apresenta como trunfo a recuperação da economia, o pedido faz algum sentido. Se Sócrates rejeita o pedido, o país pode concluir que a recuperação não é, afinal, tão evidente. E aqui reside a inteligência táctica de Marques Mendes : o governo pensará duas vezes antes de voltar a bramir triunfos. Olé!
Nota: o endereço correcto do blogue de Vítor Dias é http://otempodascerejas.blogspot.com
Os andrades estão a chegar. Vêm da vala fétida, essa coisa que fica a oitenta léguas de Lisboa e paredes meias com a civilização. Que sejam bem recebidos: dois golos em cada parte, um vermelho para o gajo com nome de pré-Páscoa e um cigarrinho para o "professor" que muito sabe sobre como morrer na praia. O denguela deles anda mais calado do que a boa educação em reunião do CDS. E zangado com os jornalistas. Pois é, longe vão os tempos das bicadas diárias sobre o Sport Lisbon e Benfica e as calinadas do orelhas. Agora só pia a horas certas.
O truque é velho e bom ( Hitler utilizou-o com os sudetas, o Hamas com Israel). Sigam com atenção a história dos marinheiros ingleses detidos no Irão, pois é bem capaz de vir a valer o velho ditado: se queres prender o lobo prende-lhe a loba. Sendo, evidentemente, um pretexto ( para ambos os lados), transforma-se num ápice num catalizador da tensão acumulada. A zona de incerteza está do lado iraniano - começaram a coisa -, a vantagem negocial também - podem terminá-la a qualquer momento. A inacção apenas é letal para os ingleses.
Domingo recebemos os bárbaros. São arraçados de Citas com Getas e dados à provocação, embora este ano estejam muito calmos. Nunca fiando. É uma batalha seminal da qual depende o futuro da civilização. O vermelho terá de ser muito mais do que sangue e honra: será a cor única ou não será. O nosso capitão-general, homem algo abúlico - até nos trejeitos de pescoço -, prepara um losango. Deixá-lo estar. Fundamental é engoli-los sem misericórdia: não basta uma vitória, é preciso exterminá-los.
SALAZAR: A vitória de Salazar no concurso da RTP tem duas leituras animadoras: a recusa da vitória dos comunistas através do seu líder histórico (nem a feijões...) e o protesto contra a falência do actual sistema político e respectivos protagonistas.
posted by Neptuno on 7:48 da tarde
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SOLUÇOS DE CROCODILO:
O "Público", pela pena da srª Wong, está muito preocupado com a entrada da extrema-direita nas associações estudantis. Compreende-se : nisto de extremas e estudantes a esquerda tem lugar cativo. Pena foi que quando há uns anos os meninos da outra extrema - entre outras proezas como a "recepção" a Cavaco - despejaram baldes de lixo na mesa que presidia a uma RGA da AAC, o "Público" não tenha ficado com soluços; fosse outra a autoria do rebelde acto e não haveria susto que curasse os ditos.
Por volta de 1908, Freud andava pegado com Steckel ( Gori/Hoffmann) por causa da fenomenologia da masturbação ( acção ou pulsão), mas é outro cromo da altura que ganha o prémio. I. Sadger achava que a primeira masturbação infantil é feita pela pessoa que ( primeiro ) cuida do bebé: a mãe. O que estava em causa era a desconstrução da infância, por via da qual a nossa existência se apresentava apenas como um enorme recalcamento. A libertação sexual dos anos 60 acasalou com décadas de psicanálise e promoveu a adolescência a um estado crítico. Em alguns casos, comatoso. O "fenómeno" das drogas, na juventude americana e inglesa da época, foi compreendido como uma negação do princípio do prazer imposto pelo Super-Eu social. Este mambo-jambo ajudou a enterrar a figura do pai autoritário, remetendo-o para um canto escuro da caserna. Começava o granel. A neurose da classe média não radicava na repressão sexual via autoridade paternal - como a cartilha freudiana-marxista acreditava -, a prova estando hoje à vista: por cada queca livre nasce um terapeuta sexual assoberbado de clientes. O pai zeloso e repressor ter-se-ia modernizado de qualquer maneira. A tal "neurose colectiva " teve as suas raízes nos primeiros movimentos de libertação ( finais do século XIX) que se depararam com um problema ( belíssimamente reconhecido por Oscar Wilde): afinal, entregar o comando ao departamento de baixo não resolve os problemas. Os casais de hoje, modernos e desempoeirados, não são sexualmente mais felizes do que os de ontem. São é mais livres de sofrer, o que já não é mau.
O príncipe Ahmed, ministro do Interior da Arábia Saudita, quer formar um corpo de polícia feminina. Khaled Al Awad, membro do Conselho da Shoura, quer instalar internet gratuita em todas as escolas e universidades sauditas. Tudo na edição em linha de anteontem do www.khaleejtimes.com. Aos poucos, muito aos poucos, a coisa vai. Mesmo que hoje se pense que as coisas se fazem ao ritmo das excitações fáceis. Lembram-se da Guerra dos Cem Anos?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.