FALA QUEM SABE: Ao ler este post de Helena Matos (De comparação em comparação), lembrei-me da crónica do inefável Prof. César das Neves, datada do dia imediatamente anterior, onde se compara o "entorpecimento das autoridades soviéticas diante da derrocada do sistema" às "manobras, declarações e interpretações" dos que geraram a "catástrofe" da despenalização da IVG, para concluir: "Na URSS foram necessárias duas gerações para admitir a evidência. Desta vez as coisas serão mais rápidas?" O verdadeiramente extraordinário: o mote da crónica é a "cegueira ideológica".
BAPTIZAR UMA TENDÊNCIA: As tendências internas de um partido costumam ser designadas a partir de um nome do político que as lidera (à excepção do PCP, onde também as tendências são colectivas: "os seis", a "terceira via", o "grupo dos 24", os "renovadores", etc.). Em regra, a tendência e os seus seguidores são baptizados por derivação do sobrenome: Mário Soares, António Guterres, Jorge Sampaio, Paulo Portas, Manuel Monteiro, Luis Filipe Menezes, Fernando Nogueira, etc., deram origem ao soarismo, ao guterrismo, aos sampaístas, ao portismo, aos monteiristas, nogueiristas e menezistas. Porém, esta regra sofre várias excepções. A mais notável é o "marcelismo", precisamente porque todos sabem quem é "o Marcelo" e "sousismo" (ou mesmo "souzismo") seria pobre (embora "rebelismo" não fosse inadequado). Depois, há o grupo dos duplos apelidos. No passado, a imprensa não tinha medo das tendências de nome longo, sobretudo quando cada um dos apelidos, separadamente, era pouco significativo ou podia dar azo a leituras ínvias (como sucedeu, p. ex., com o "sá carneirismo"). Hoje, os apelidos duplos não são preservados, obrigando a uma redução estética. Os "cavaquistas" não gostariam, provavelmente, de ser conhecidos como "silvistas" (demasiado próximo de "silvícolas"), e ao "barrosismo" teria repugnado, decerto, o epíteto de "durismo". "Mendista" não é brilhante, mas é claramente melhor que "marquista". Já entre "santanista" (foneticamente próximo de satanás) e "lopista" (nome por que eram conhecidos os seguidores do ditador paraguaio Solano López), venha o diabo e escolha. Na mesma linha, o Expresso vem esclarecendo repetidamente que a tendência de Manuela Ferreira Leite se chama "ferreirismo" - opção que se afigura desastrosa, pois salienta o som do ferro, quando os indecisos precisam da suavidade que o nome Leite (associado à imagem maternal) poderia emprestar. Enfim, há uma plêiade de políticos cujo nome não ajuda à criação de uma tendência. Pensemos, p. ex., em Manuel Alegre e José Lello : ser "alegrista" não deve ser cómodo e "lellismo" é embaraçoso. Os seguidores de Passos Coelho não devem dizer que são "passistas" antes de perscrutarem cuidadosamente a audiência. O nome da tendência de Rui Rio é uma incógnita absoluta. E quanto a Ângelo Correia? "Correiísmo" está fora de questão: é difícil de pronunciar e pouco marcante. Terá de ser mesmo "angelismo".
Na altura em que a SEDES adivinhava o colapso da democracia, em que Pacheco Pereira ouvia dizer no talho que qualquer coisa explosiva ia acontecer, em que o João Gonçalves fazia eco das preocupações golpistas do general Garcia Leandro, em que uns patuscos achavam que o império ia acabar porque a ASAE não gostava da forma como as bolas-de-berlim eram vendidas nas praias e em que António Barreto dizia não ter a certeza se Sócrates era ou não fascista, escrevi aqui sobre um assunto bem mais prosaico: o empobrecimento da sociedade portuguesa ( quem desconfiar que procure a série " O poder de nomear", algures no arquivo deste blogue) . Não reconheço à SEDES mais legitimidade do que a qualquer outra opinião publicada em jornal ou em blogue. Estou-me nas tintas para a idade da instituição ou para o nome dos seus sócios. As opiniões valem pelo que valem. E concordo com o Rui Tavares ( RTP-N): estarmos em período pré-eleitoral não é uma desvantagem . A não ser para quem não vai a jogo. Tem a SEDES o direito de pensar o que quiser, eu continuo a pensar que vivemos um problema de falta de guito. Claro que a partir daqui muita coisa pode acontecer, por isso me parece estúpido prometer instalar ar condicionado quando se tem a casa a arder.
posted by FNV on 11:09 da tarde
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O BARMAN: Qual Direito, qual carapuça. Para quê regras? A inteligência futebolística inventou a eternização das reuniões. A partir de hoje, doravante e para o futuro, aquele que declarar encerrada uma reunião ou assembleia, ainda que depois de publicitada e publicada a coisa, terá de se entrincheirar na sede da instituição, de arma em punho, para evitar que os restantes membros regressem, reabram alegremente os trabalhos e prossigam com o que quiserem. Mas isto é capaz de não chegar. Será talvez preciso fazer também umas rusgas pelas cervejarias vizinhas, não vá o resto da malta reabrir os trabalhos, por entre finos e tremoços, e deliberar sobre o que lhes der na telha.
A coisa vai ser particularmente grave nas assembleias gerais ou nas reuniões da administração das sociedades. Já estou a imaginar tudo a suspirar para que "o velho se vá embora e dê por encerrada a reunião" para os sócios poderem reunir de novo e decidirem o que lhes apetecer, designadamente sobre os dividendos (que a vida está cara). A teoria abre portas imensas nas assembleias de condóminos. O pessoal que ficar para a segunda reunião, logo a seguir ao digestivo do jantar, vai, finalmente, conseguir ter o prédio pintadinho de roxo e amarelo, como sempre quis o do 3º C traseiras, e as cuecas poderão voltar a secar nas varandas.
O problema prosseguirá em crescendo quando um grupinho ainda mais pequeno, acabada a segunda reunião, decidir, já a meio da ceia, reabrir pela segunda vez uma garrafa e pela terceira os trabalhos e acrescentar mais umas quantas deliberações às da segunda reunião. Ou quando (isto já no bar da discoteca) uma mão-cheia de resistentes voltar a abrir a ordem de trabalhos e acrescentar à dita a destituição do anterior presidente e a eleição, com louvor e aclamação, do novo presidente da agremiação: o barman.
Está fresco e a cadela boxer sabe exactamente o que fazer. Espera na sala até que a dona comece a pôr a louça na máquina. Depois vai à cozinha lamber os talheres; depois lambe os pés da dona. O dono ficou na dita sala. Não se mexeu, não se envolve em coisas de gajas. É, como Manuela Ferreira Leite, um homofóbico.
posted by FNV on 8:55 da tarde
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UMA BELA DEFINIÇÃO:
Pinto da Costa reagindo à decisão do CJ da Liga: "Tenho de ver isto com um certo fair play, porque não dá para levar isto a sério".
posted by FNV on 2:10 da tarde
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PALERMO, PALERMO:
Elísio Amorim, deputado do PS pelo círculo de Aveiro, foi um dos principais organizadores do jantar que um grupo de deputados ofereceu a Pinto da Costa na Assembleia da República no passado mês de Maio. É também o vice-presidente do CJ da Liga e abandonou a reunião do dito CJ quando percebeu que Pinto da Costa ia ser suspenso por dois anos. Naturalmente: então convida-o para jantar na AR e depois condena-o por tentativa de corrupção? Se isto é assim agora, com todos os holofotes e com toda a "perseguição", imaginem como era antes.
posted by FNV on 11:03 da manhã
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RUY BELO, SEMPRE:
Os bravos generais caem do escadote citam teilhard frequentam o templo São eles e não as damas quem nos salões dá o mote Os filhos podiam invocá-los como exemplo seu peito fero é todo uma medalha e ganham sempre só perdem a batalha do escadote quando o inimigo grita: toma chegou a tua vez de receberes um hematoma Seja a subir seja a descer - desde que não seja escada - os generais avançam pois não temem nada Mas - sobressaltam-se eles - o que é que o meu olhar avista? Um simples escadote o grande terrorista.
Roubando o termo aos meus vizinhos psicanalistas, é o que se aplica à reacção perante os resultados dos exames do secundário: quando os miúdos têm boas notas a matemática é porque os testes foram fáceis, quando os miúdos têm más notas a português é porque o ensino é uma vergonha. Raio de elites...
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.