Ao longo dos anos de democracia o PS mudou bastante. A base soarista e o seu marcador directo, o ex-Secretariado, deram origem a uma fase de tendências que culminou com Constâncio a tirar da gaveta o socialismo que Soares lá tinha enfiado e a arrumá-lo definitivamente no cofre. Depois veio a fase social-católica de Guterres, apoiada nas ramificações maçónicas. Com Sócrates, o PS voltou a mudar e adoptou a farda tecno-vanguardista. Uma boa mistura que permitiu arrebanhar o centrão ( com a tecnologia, a determinação e o sentido prático das coisas) e sossegar os provincianos gauche-fracturantes ( que nunca vemos ao lado dos trabalhadores que são despedidos durante as férias, mas que vemos sempre que cheira a costumes & intimidades). Enquanto Cavaco durou, o PS penou mas depois organizou-se. O PSD não o conseguiu fazer. Na primeira oportunidade, Barroso entregou as chaves a Santana Lopes. Regressado à oposição voltou a desaproveitar. Escolheu Marques Mendes, uma relíquia cavaquista de quem Belmiro disse um dia que nem para porteiro da Sonae contrataria, e depois entrou na Corrida Mais Louca do Mundo: um personagem de novela mexicana ( inesquecível o episódio televisivo em que apareceu a chorar acompanhado da família na altura do escândalo das viagens dos deputados) acolitado por uma piolharia de arrivistas, oportunistas e vira-casacas. Dizem-me que tudo isto é por causa das estruturas locais, dos sindicatos de votos, das concelhias, das distritais e do diabo a sete. Pois o remédio é simples: uma parte do PSD sai e reorganiza-se sem esses fiadores da vergonha. Quem sai? Quem diz que as suas ideias e as suas energias estão reféns dos tais fiadores da vergonha que paralisam o partido. A famosa "herança de Sá Carneiro", coisa só aplicável ao PREC e às suas sequelas, não se incomodará nada. A cultura do PSD, reformista e liberal, também não se importará de ser transmitida sem a douta sentença de um qualquer cacique beirão ou da brigada do circuito da carne assada. O óbice? Naturalmente o risco. Em casa nova não há luxos nem mordomias. Pois é.
posted by FNV on 5:02 da tarde
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À SAÚDE DE EPICURO:
O futebol e a boa mesa conseguem levantar o moral do mais ensimesmado. Esta semana, num mui improvável contexto, debati longamente as tácticas de Queiroz e aprendi uma coisa sobre a chanfana ( já me achava doutorado no assunto): a sopa do casamento. Epicuro, um homem frugal, não a desdenharia. Contou-me uma nativa de Miranda de Corvo que com parte do molho da chanfana se faz uma sopa acrescentada de nabo, couve segada, massa e alguma batata. Chanfana ao quadrado, é o que é.
Quando Menezes ganhou as "directas", Ana Sá Lopes e Francisco Almeida Leite escreveram isto. É interessante verificar agora que Passsos Coelho desdenha Lisboa não porque não gostasse de a acrescentar ao seu anorético currículo, mas porque tem medo de perder. Uma derrota estragar-lhe-ia a aura de falsa grande promessa. Chegará à liderança do partido em pantufas e com o aplomb diplomático de um encarregado de negócios.
As pessoas amontoadas à porta, o tiro de partida e a sala cheia num ápice. Tony Carreira vai cantar. Antes, um político candidato a Presidente do Governo Regional dos Açores vai falar. Oito minutos. Tony começa a cantar e o político dança para as televisões. Ao som de Tony. As pessoas cantam e dançam. Ao som de Tony. Manuela Ferreira Leite é acusada de não gostar destas coisas. Há acusações que são medalhas.
posted by FNV on 5:20 da tarde
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UMA LIÇÃO: No meio de uma campanha eleitoral acesa e dura pelo mais poderoso cargo do Mundo, os dois candidatos tiram tempo para cumprir uma tradição: participarem no jantar da fundação Alfred E. Smith. Uma fundação católica inspirada num antigo governador de Nova Iorque e que foi o primeiro candidato católico à Presidencia dos EUA em 1928 (perdeu e foi então atacado ferozmente pelas suas convicções religiosas diferentes da maioria evangélica e protestante). A troca de galhardetes, o tom humorístico, o fair play democrático aqui presentes são uma elegante demonstração de uma democracia antiga, consolidada e à prova de fanatismos e sectarismos primários. Uma lição para apoiantes excitados - sobretudo para os que, de fora dos Estados Unidos, tendem a projectar nesta disputa eleitoral a sua imaturidade política e o seu sectarismo ideológico (de direita e de esquerda). Aqui ficam os vídeos.
McCain
Obama
posted by NMP on 4:17 da tarde
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PASCOAES, SEMPRE:
Dos fumos da distância, Étereos e azulados, Surge, vertiginoso, Um resplendor de chama. Há fogueiras queimando Os longes ensombrados; Dir-se-á que o nosso olhar tudo o que toca inflama.
( Vida Etérea, 1906)
posted by FNV on 12:33 da tarde
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UM PARTIDO OSSÍVORO:
Já foi presidente da CML, já deixou de ser, já voltou a ser e já voltou a deixar de ser. Agora é outra vez candidato. Para além de Pedro Santana Lopes,o PSD não tem nenhuma proposta diferente para Lisboa. A Distrital decidiu comer os ossos. Tenho dito aqui que o consulado de Manuela Ferreira Leite pode ser de uma utilidade excepcional para o regresso à política. Distanciou-se da agenda mediática, tem ignorado os wonks, os spins de serviço e as agências de sabões, não cede aos hoplitas regionais. É disto que se trata e não de vencer eleições. Se MFL rompesse com a distrital de Lisboa - vetando PSL ou assumindo o desagrado por tal escolha - daria mais um contributo para o restauro do partido. Perderia ainda mais sindicatos de votos e provocaria tumultos vários, sem dúvida. Rasgava e cortava a direito. O partido, mais tarde, beneficiaria dos frutos desse restauro. Dizia Clausewitz que é necessário muito mais força moral na decisão estratégica do que na decisão táctica. Enquanto que na decisão táctica o chefe está sob a pressão dos acontecimentos e perigos vários, e por isso o medo é suprimido, na decisão estratégica tudo é lenta e devidamente ponderado: a possibilidade de paralisia e a fraqueza das convicções são mais evidentes. Clausewitz tem razão: é na decisão estratégica que se joga o estofo da liderança.
posted by FNV on 10:17 da manhã
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CHUI IN THE VELDT:
Depois de uma pequena contrariedade, o leopardo está de volta.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.