Corro TSF, RTP-N, e SIC-N: Salvo uma ou outra excepção, a música é: Sócrates falou melhor, convenceu, tinha os papelinhos com as declarações da adversária do ano da bota morta, prometeu, jurou, rasteirou, silvou, atacou, estava muito melhor preparado. Resumindo: ganhou. MFL não precisa de enunciar uma "mundivisão", não é insegura a ponto de fazer citações disparatadas, não nos trata como experiências. Aponta ao osso ( criar riqueza, clarificar sectores) e inverte a regra da feira: não promete a regulamentação do leite e do mel. À saída, um jornalista ( TSF) pergunta a MFL se é possível governar sem maioria. MFL responde: " Claro. O que este país não precisa não é de mais leis." Ainda não compreenderam. Anos e anos de propaganda e de corrupção da linguagem política não lhes permite compreender.
Adenda: " esta mulher " . A elegância, o espírito democrático, a souplesse de Ana Gomes.E o espanto pela inutilidade das quotas.
O José Quitério regressou ( hoje, na revista do Expresso) ao Carrossel, em Lavos, Figueira da Foz. Subscrevo o JQ. A Bebé sabe como poucas: ainda hoje as minhas línguas panadas não atingem as dela. E que saudades do tosco branco de Silgueiros em garrafa de litro. Uma única espinha escondida sob a forma de conselho de um veterano do Carrossel: evitem lá ir em Julho e em Agosto.
posted by FNV on 12:51 da tarde
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SETEMPO (VI):
Mais leituras pré-outonais. Michael Howard, professor em Oxford (mas) alinhado na esquerda liberal pacifista: promete. Então comprem War and the Liberal Conscience, um original de 1977 revisto e aumentado em finais de 2007 ( Hurst & Company, Londres, 2008). Passa pelos primeiros projectos para a paz perpétua ( esquecendo Nicolau de Cusa) , atravessa as guerras napoelónicas, percorre Paine, Crucé, Cobden, Trevelyan e o apaziguamento de Chamberlain. Os teóricos de peso -Kant, Hegel, Rousseau, Locke e Hobbes - também vêm à festa. Esta edição estende-se agora ao Iraque e ao Afeganistão. Howard entende que mesmo os melhores e mais lúcidos liberais continuam a ver a guerra como uma longínqua e abstracta entidade. Ele quer um trabalho diário , e concreto, para a paz.
posted by FNV on 11:34 da tarde
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EFEITO OBAMA 11/09:
Percorro a RTP2, a TSF e a SIC-N. Nada. Zero. Nenhum programa sobre as teses conspirativas; a CIA parece inocente do 11/09.
Fantástico.
posted by FNV on 9:37 da tarde
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PASSOU OUTRA SEMANA...:
E Sócrates, a Ministra da Educação, o Governo e os socialistas em geral continuam sem querer explicar devidamente aos professores a bondade das suas medidas. Devem estar a guardar-se para apresentar o trunfo na próxima semana. Aguardemos, então.
Nos comentários a esta sondagem, o jornalista diz que o debate de amanhã pode ser decisivo e ajudará "os dois líderes a angariar ou não novas simpatias". Vejamos:
1) Tenho visto, ouvido e lido o que agora se diz sobre o estilo de MFL. Parece que descobriram subitamente que o que antes era uma "absoluta falta de jeito para a política" e uma "incapacidade resinosa de comunicar" é agora o seu maior trunfo. Chamam-lhe "autenticidade". É curioso que politólogos e analistas tão experientes tenham sido surpreendidos desta forma. Não sou politólogo nem analista, mas sempre me pareceram óbvias as qualidades de MFL. Quando concorreu com Santana e Menezes escrevi isto. Depois escrevi isto.
2) Utilizo a técnica que Orwell descreve em Politics and the English Language ( Horizon, Abril 1946). Se o pensamento corrompe a linguagem, a linguagem também corrompe o pensamento. As frases feitas, a ilusão, os eufemismos as metáforas cansativas, os chavões : o nosso anestesiado cérebro só se defende se estiver permanentemente de pé atrás. A linguagem simples e franca, ainda que retoricamente pobre, de MFL é um antídoto natural contra a corrupção do pensamento.
3) Tratar os líderes políticos como angariadores de festas-tupperware pode servir os propósitos de media anestesiados e de líderes que corrompem o pensamento através da corrupção da linguagem. MFL não vai precisar de corromper nada; nem de angariar nada.
posted by FNV on 2:39 da tarde
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E A CERIMÓNIA?
Entretanto, fonte igualmente segura confidenciou-me que vai ser dado um novo passo fracturante e modernizador: está em preparação e quase nos acabamentos o diploma que irá regulamentar toda a cerimónia da união de facto. É incrível - brotou da fonte - e viola aliás o princípio da igualdade que seja unicamente o casamento a ter uma cerimónia própria pelo que estamos a elaborar as regras, dizeres e indumentárias das cerimónias das uniões de facto, ida a banhos e definir quem pode ser o celebrante da cerimónia. Estará também prevista uma participação especial na festa das noivas de Santo António, repescada ao antigo regime. Afiançou-me a fonte que só falta acordar com o Ministério das Finanças a taxa a pagar.
posted by VLX on 11:57 da manhã
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E AS AMÊNDOAS?
Saiu hoje a Lei do Apadrinhamento Civil. Uma ideia boa que vai roubar a outros a denominação, travestida para o republicanismo jacobino tão ao gosto deste governo, e pautada por um infindável conjunto de disposições. Ou quase infindável pois, no prazo de 120 dias, ainda vai ser alvo de um próximo diploma regulamentador.
Contudo, corre já que o diploma vai ser rectificado, porquanto o atento legislador se esqueceu de regulamentar o gravíssimo problema das amêndoas. Com efeito, na referida Lei não consta a possibilidade da "criança ou jovem" receber do padrinho as amêndoas habituais noutras circunstâncias. Fonte segura assegurou-me que não foi esquecimento. Não. A questão prendeu-se com o facto de não ter sido possível conseguir-se um consenso quanto à data da sua atribuição. Está visto que, para este governo socialista, não podia ser na Páscoa. Pela proximidade e possibilidade de confusões afastou-se também, com profunda tristeza eleitoralista, qualquer data em Abril. Foi sugerido o dia 5 de Outubro, alterar a designação para “castanhas civis” e apresentar a coisa como uma conquista republicana, mas parte do governo receou que certos sectores associassem a data ao Tratado de Zamora e com isso não pactuavam. Explicado aos outros o que era esse Tratado, prosseguiu a discussão com a data de 10 de Junho, mas as crianças e jovens de hoje não sabem quem foi Camões. Depois era muito tarde para continuar a discussão, as cervejarias estavam a fechar, e a Lei saiu assim. Mas vai ser rectificada oportunamente.
O Luís concede carácter. Talvez, mas há uma coisa essencial que MFL trouxe ao bolorento debate político: corrente de ar. Lembremo-nos de Barroso, Santana e Menezes. O receio de não parecerem suficientemente modernos e o pavor de mexer em temas consensuais retirou-lhes mielina. Mesmo que não concordemos com tudo e mesmo que tenhamos dúvidas, as rupturas de MFL são apelativas. Se estivermos todos de acordo, no papel, com o que parece consensual, ou espalhafatoso, ou modernaço, não há substância. Os movimentos lentificam-se e o remanso progride. MFL parte de uma parte do centro e rompe. Pode não ganhar, pode o PSD ( essa coisa indefinida) não ganhar, mas ganha o ambiente. É uma política ecológica.
Think, though, of this: Expel regret from your mind, One day's desires gained, one thousand hurts remain; After this life, our fates Will surely unite in another existence. Promise me again; Remember this, you must.
(Chin lu ch'u, "Song of the Golden Thread", trad. William Schultz)
posted by FNV on 12:01 da tarde
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SETEMPO (VI):
A revista do Expresso, desta semana, inclui um texto sobre o problema dos que regressam das esplanadas, dos spas e das ondas do mar para o trabalho, para a vida normal, para os engarrafamentos. Parece que o dito regresso obriga a flamipotentes terapias. Deve ser muito difícil regressar da praia para os falanstérios da vida normal. Para o trabalho que esperou por nós, para a intacta casa, para as ruas limpas e ordenadas, para o automóvel que nos poupa as pernas. Uma maçada.
Bastou um coleccionador de generalidades para mostrar como as patacoadas de Louçã , ainda que ditas com ênfase conselheiral, são inermes. O castor , perseguido por inimigos que dele apenas queriam os suculentos testículos, resolveu cortá-los ( bons dentes...) e salvar-se. Louçã, apanhado na extinção dos benefícios fiscais para a classe média, fez como o castor: deixou-os ir e sugeriu a cubanização geral.
Não, João. Correcção política é precisamente o que MFL fez na viagem à Madeira. Muitos dirigentes do PSD torcem o nariz a Jardim enquanto são livres. Uma vez na cadeira presidencial, os novos líderes engolem o soma e passam a considerar Jardim um exemplo. Mesmo que isso seja feito à custa de declarações miseráveis ( Jardim controla abertamente a informação na Madeira, insulta e espezinha os adversários, etc). Correcção política, seja no sentido que Orwell lhe dá ( eufemismo), seja no sentido de Bennet ( censura) , é sempre uma forma de esconder a realidade.
Uma miúda de nove anos, um sofá e Killl Bill 2. A miúda pica presunto enquanto regista as proezas alucinadas de Beatrix Kiddo. Assim corre a noite-DVD até que, no final, os assassinos são paizinhos amorosos de uma pequena miúda. Ele é rigolades, lanchinhos, cócegas e recordações ternurentas. E assim a miúda real faz a pergunta obrigatória - "Papá:eles podem ser maus e bons? Respondi-lhe que não. Não podemos ser as duas coisas. O que somos é, por vezes, maus que querem ser bons; e, também às vezes, bons que sonham ser maus. Desejo e sonho, desejo e sonho.
José Maria Martins, depois de me ter insultado e ameaçado, moveu-me uma accção judicial. Vai ser bom, excelente mesmo, em tribunal, JMM explicar-me por que motivo "defendo homossexuais e pedófilos" a propósito da minha crítica ao seu pedido para que "Sócrates diga se é homossexual" e à sua exclamação "o país não pode estar nas mãos de homos!". Tenho a impressão de que JMM ganhou um leitor/comentador.
MFL foi à Madeira. Disse que na ilha não há asfixia democrática, mas que no continente há. Compreendo que vá à Madeira e compreendo que elogie a obra de Jardim: uma coisa não é proibida e a outra não é mentira ( Jardim está lá há 30 anos). Outro osso é ir dizer o que disse: é uma declaração miserável. Bem sei que os votantes potenciais do PSD se estão nas tintas, bem sei que no grande desenho isto fará pouca diferença, bem sei que os petimetres oficiais ficarão calados como ratões. Sei, no entanto, que é uma declaração miserável e isso basta-me.
Leituras pré-outonais. Aníbal Pinto de Castro reeditou a sua tese de doutoramento, apresentada em Coimbra em 1973: Retórica e teorização literária em Portugal. Um livro raríssimo que agora pode ser lido graças à Imprensa Nacional ( Setembro de 2008). As melhores partes, para mim, são as dedicadas ao levantamento dos estudos sobre a retórica pura: de Fr. Manuel do Cenáculo a Sampaio Valadares, passando por Verney e pelo seu "Verdadeiro Método de Estudar", está lá tudo. A Imprensa Nacional ainda é a melhor livraria de Coimbra.
MFL, no tema para si aparentemente mais difícil - o casamento gay -, parecia o Pablo Aimar. Louçã, no mesmo tema, parecia o Bermudez: acabou a chutar para canto, mais precisamente para a infertilidade. Louçã ainda teve tempo para dizer que "todas as relações entre as pessoas são a Humanidade". Por delicadeza, MFL não lhe perguntou se excluía a poligamia dessa Humanidade. Ficámos sem saber se Louçã é favorável à poligamia, ou se é ele que define a Humanidade. Sócrates anotou.
Adenda: Segundo o João Tunes, MFL é mumificada, provinciana, capitalista. Ouviram o mesmo debate que eu? Então devem ter ouvido uma avó divorciada, candidata a PM, dizer que se está nas tintas para a forma como as pessoas arranjam a sua vida sexualmente. Segundo o João Tunes, isto é um reflexo do Portugal atrasado.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.