Na época da euforia despesista de Guterres, Cravinho achou que tinha tirado da cartola uma ideia genial para a locomoção das gentes, as scuts. Claro que não passava de um disparate e, estava-se mesmo a ver, não tinha pernas para andar. Mas os socialistas, cegos quando toca a desbaratar dinheiro, não se importaram com minudências. As pessoas não eram números e toca então de forrar o país de alcatrão, quem viesse atrás que fechasse as luzes e pagasse a factura. Assim se fez. E quando chegou a factura não havia dinheiro sequer para pagar a luz, como toda a gente já antevia. Agora, sem luz e sem dinheiro, não se vê grande solução.
Para sacar massa aos contribuintes sem grandes revoltas na capital, os socialistas de Lisboa inventaram um método de cobrar portagens mas só nas estradas dos indígenas provincianos longínquos, numa zona do país algo indefinida a que eles chamam "o norte", com vértice no Porto, sem saber muito bem do que falam. Só que, para agravar a idiotice socialista, a maneira como foram feitas as obras impede, por diversas razões, a instalação de portagens normais. Vai daí, da cabecinha socialista alfacinha nasce o chip de matrícula, algo que se a tecnologia de então possibilitasse seria instalado por Estaline em todos os bebés nas maternidades da URSS.
Com a corda ao pescoço, e fartos de levar reguadas dos professores de Bruxelas por erros nas contas, sempre que lá vão, os socialistas decidem tramar as gentes do tal "o norte", exigindo em cima do joelho a instalação dos chips na frente dos carros para ontem.
Entretanto, as concessionárias das Auto-Estradas com portagem, com a Brisa à cabeça, esfregam as mãos e alargam, nas praças das portagens, as zonas de via verde e diminuem as portagens manuais, aguardando-se a sua extinção juntamente com os empregos dos portageiros. Mais recentemente, reparei que nas áreas de serviços das Auto-Estradas também se alargava a todas as bombas de gasolina a possibilidade de pagamento através da via verde, seguramente com efeitos nos empregos das pessoas que lá trabalham. Aliás, uma vez instalados os chips em todos os carros, muitos mais empregos serão colocados em risco. Menos o de Cravinho, claro, esse ficou assegurado: há que saber recompensar a genialidade dos nossos políticos se não vai para lá qualquer idiota e esfrangalha o país.
posted by VLX on 7:07 da tarde
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(6) comments
TEMOS DE COMEÇAR A PARTIR A LOUÇA:
Tenho uma filha com dez anos e que vai ser obrigada a acariciar um pénis de esferovite ( menos mal...) e ler um "desenho que explica o início da prática da masturbação". A minha filha tem dez anos. Isto vai muito mal. Tal como se lutou pelos direitos civis dos negros e pelo direito ao casamento dos gays, impõe-se agora uma luta pelos direitos educacionais das crianças. Os nossos filhos não têm de ser discriminados face aos restantes actores sociais. O Estado é laico, logo não pode obrigar as crianças a cultuar princípios político-religiosos como esse de acariciar pirilaus de esferovite. Leiam esta peça de fascismo social assente no mais abjecto arquivo do poder repressivo do direito à diferença:
" Tenho pouco tempo, o danado voltou outra vez. Os meus filhos estão adultos, a minha mulher é independente, não deixo dívidas. O que me mói é saber como aguentar estes meses e, mais importante, de que forma vou ser lembrado. Tenho a impressão de que tudo continuará a correr normalmente. É triste".
É barriga cheia, é o que é. Se você deixasse miudagem e uma viúva aflita, o tango seria de ir às lágrimas. Mas aceito o desafio (de responder às suas perguntas ) porque os deuses estão ocupados. Vai aguentar os últimos meses cumprindo o plano. Você sempre suspeitou que seria assim. Pois siga a linha amarela : de dia um herói, à noite uma galinha assustada. Recordações? O meu caro amigo está livre desse inferno. Os outros que ardam.
A tese mais cabra é a que garante que tanto vale assinar "Anónimo" como "António Silva". Pois vale: nas paredes de um WC. Já num conjunto de textos publicados ao longo de um largo período de tempo, seja em blogue seja em caixas de comentários, nos quais o principal ( ou até único, em alguns casos) objectivo é insultar, o anonimato garante apenas uma coisa: cobardia sanguínea.
posted by FNV on 10:13 da manhã
#O DIREITO À ESTUPIDEZ: Mais do que à incompetência, neste bom resumo do Tomás Vasques.
posted by FNV on 11:03 da tarde
#COZINHA CONTRAMOLECULAR (III):
Cação, fresco e barato, às postas sobre um fundo de azeite grosso com acidez suficiente e sabor registado. Alhos encamisados, colorau, sal legítimo ( dos marnotos ou do Sul) e um golpe de vinagre são. As ervas: hortelã-da-ribeira, coentros, poejos e orégãos. O lume é como se fosse para nos queimar os dedos: lento, baixíssimo ( pode ser feito em tacho no forno, a comida de fogo alentejana sabe-o bem) e curto. Mais de vinte minutos e o peixe desfalece. Prefiro deitar esta sucessora da sopa bacorinha sobre uma fatia de matinário pão comunista, mas não desdenho umas aquilinas batatas novas cozidas com pele. Beba-se um tinto da Granja-Amareleja, que já os há aí outra vez, , sem madeira nem pó artificial de taninos. Não vá trabalhar a seguir. Imagine o seu sofá como um sobreiro portátil e deite-se ( não à sombra dele, mas nele).
Se és escritor / poeta e aprovaste os fornos nazis ou os soviéticos pelotões da NKVD, o que conta é a qualidade literária; se és escritor/poeta e foste salazarista ou franquista, és uma desgraça. Tudo como dantes em Abrantes.
posted by FNV on 10:42 da tarde
#A IMBECILIDADE DOS PSICÓLOGOS:
É ilimitada. O que me ri com este post da Carla. Acrescento que a minha boxer é venenosamente ciumenta ( os meus filhos e a minha mulher não me podem abraçar) e as visitas são aconselhadas a manter um comportamento muito discreto ( lembro-me sempre de um episódio relatado por Ruark, no qual duas cadelas boxer salvam uma senhora inglesa durante a revolta dos Mau-Mau).
posted by FNV on 2:52 da tarde
#A ÚLTIMA SÉRIE (XXII):
23 de Junho de 1891. Gide a Valery: "Vous êtes un ange de lumière, Paul-Ambroise, et je vous aime beaucoup. Vous savez les mots qui consolent et les sourires éternels". Depois discutem um verso. Valery tinha escrito une tige lente, où le vent étranger se pose, Gide sugere escapar às treze sílabas: le vent étranger pose. Acabou por ficar une tige, où le vent vagabond se repose. Vagabundo ou estrangeiro, pouco importa. O que interessa é repousar nestas páginas de amizade e lentidão. Se seremos acolhidos ou expulsos, isso já depende dos homens e não das palavras.
Se só a acção educa a classe explorada, a verdade é que a tenacidade com que vão tentando arranjar uma sarrafusca é notável. Pena é o tal Celé, traficante de provas dadas e parece que conhecido como Mata-Bófias, ser chamado ao palco pela senhora da Revista Operária. Isto ainda não está bem afinado. Há um certo funcionalismo desleixado, um certo ambiente de zemstvo.
posted by FNV on 9:43 da tarde
#TRISTES TROCADILHOS:
Os que misturam um resultado de um jogo de futebol com a realidade norte-coreana. Mais do que mau humor, revelam uma insensibilidade ártica acobertada numa espécie nova de cripto-racismo: escarnecer dos abandonados.
Joseph Roth (" O Anticristo", 1934) : Permaneci ao serviço do patrão que comandava os mensageiros das mil línguas, línguas essas que se encarregavam de fabricar as notícias. De certo modo. Procelárias que voam para todo o lado e em todo o lado acontece alguma coisa. O resultado, ou um dos resultados, é que deixamos de compreender o que nos acontece para passar a compreender o que acontece. Uma despersonalização que explica, em boa medida, o sucesso dos psis.
posted by FNV on 10:27 da tarde
#Dr. K.A. MORE (XI):
"Ele diz que só não se vai embora por causa da nossa filha. Às vezes penso que devia deixá-lo ir. Ficar com alguém por causa de uma criança não é nada. Devemos ser felizes por nós, pelos nossos ideais".
Sim, uma criança, nesse contexto de que fala, não significa grande coisa. Hoje asseguram que tanto faz: pai e mãe, duas mães, dois pais, uma mãe, um pai. Mas há mais. Os nossos ideais ( a vizinha do 5ºesq, um ano de férias, a paz no mundo) existem para que possamos suportar a realidade, não existem para que confundamos o sonho com a realidade . Uma criança não vale mais uns anos de casamento? Nesse caso, nem a criança nem o seu casamento valem grande coisa. É você que vale muito? Bem vejo. E para fazer o quê?
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.