O Nuno Mota Pinto, nas nossas discussões, costuma dizer que o nosso mal é sermos um país pequeno onde toda a gente se conhece. Talvez, mas existem
estaminets de idêntica dimensão onde as coisas se passam de modo diferente, por isso o bacalhau tem de ser cortado mais fino.
A apropriação de um media privado por pessoal não hostil ao governo não pode ser feita sem a conivência dos capitalistas. As vantagens que os capitalistas tiram dessa cedência têm de ser procuradas em factores exteriores ao universo mediático.Querem um exemplo simples? Leiam, no
Expresso, a entrevista que Erik Schmidt, da Google, deu à Newsweek.: "
Não podemos continuar a participar na censura " e "
Tem a ver com a nossa relutância em participar na censura " . Ou seja: participaram e , por algum motivo, cansaram-se.
As corporações para-govermanentais ( assessores, agências de imagem, pessoal político especializado) trabalham como gramscianos
persuasores permanentes *. Actualizando Gramsci, o trabalho já não é feito para conquistar ideologicamente os intelectuais tradicionais, ou, melhor ainda, para produzir os seus próprios intelectuais orgânicos ( pp 11 do Cadernos, edição da IP, New York 1971). Trata-se agora de conquistar as linhas editoriais, ou, melhor ainda ( Gramsci utliza a expressão "mais eficazmente"), de produzir as suas próprias plataformas mediáticas através da escolha de persuasores amigáveis.
A diferença entre os métodos utilizados no caso TVI e os utilizados no tempo da governamentalização descarada da RTP durante o cavaquismo ,reside no papel dos capitalistas. Este
artigo de Laura Pardo distingue as diferentes formas ( persuasão, coerção, ameaça) de condicionamento da representação da palavra, que é o que está em causa nos media. No artigo ( sobretudo nas páginas 7 e 8) encontramos uma boa revisão sobre o papel dos produtos mentais resultantes da persuasão encarada como um exercício de poder.
Os capitalistas aceitam fabricar os persuasores permanentes ( os novos directores de jornais e rádios que devem dinheiro a bancos controlados pelos governo) porque se estão nas tintas para o ambiente político exterior à saúde financeira do capital ( veja-se a Google).
Confundir tudo isto com "a ameaça à liberdade de expressão" na sociedade inteira é, isso sim, uma enternecedora demonstração de ingenuidade.
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Um bom exemplo ( sem as considerações pessoais de "boy" e outras que tal ):
"O problema da falta de currículo foi um pormenor facilmente contornável com a ajuda da maioria absoluta conquistada nas urnas. Rui Pedro passa logo em 2005 para o lugar de assessor da Comissão Executiva da PT Multimédia para os sectores de Business Inteligence, Imobiliário e Segurança (áreas até então desconhecidas do seu currículo).
Em Abril de 2006, Soares toma posse com 32 anos como administrador executivo da holding do Grupo PT, com um salário anual de 2,5 milhões de euros – meses mais tarde renova o seu mandato como dirigente da Comissão Nacional do PS no Congresso de Santarém".