Mar Salgado

terça-feira, novembro 30:

NARCOANÁLISE ( nº2, série 3):

1) Só agora completei o estudo do relatório preliminar de 2010 do UNODC sobre a situação do ópio afegão. Quem acompanha estas séries talvez recorde as críticas que fiz ao ex-director do gabinete. Antonio Maria Costa, um ano antes de sair, disse uma verdade óbvia: o dinheiro do narcotráfico está a ser utilizado para financiar bancos nesta época de crise mais ou menos global. Costa foi sempre irrealista nas previsões acerca da erradicação da cultura do ópio, mas agora acertou (por acaso foi substituído, Yuri Fedotov é o novo patrão ). Quando é que as pessoas se convencem de que o dinheiro gerado no negócio não fica em caves de indivíduos mal afamados?
Sempre que leio estes relatórios impregnados de voluntarismo norte-americano não consigo deixar de recordar uma das coisa que mais dificilmente entrava nas cabeças dos meu alunos ( quando dava aulas): os EUA são os responsáveis pelo actual estado de coisas.Começaram nas Filipinas e só pararam ( para ganhar balanco) nas conferências de Nova Iorque/ Single Convention Geneva, 1962. Isto leva-me a outra memória: os alunos não aceitavam que a inovação, nesta matéria, é a proibição. E em Portugal os media preferem dar espaço a ignorantes e/ou cavaleiros andantes. Paciência.

2) O relatório. Um facto interessante. Naquela selvajaria, de 2009 para 2010, os mesmos 123.000 ha plantados. A produção, no entanto, baixou de 6,900toneladas para 3,600. Como? Uma doença. Da planta, da papoila. Teremos de aguardar pelo relatório final para saber o que aconteceu excatamente ( há informações imprecisas, especulações, etc).
Um facto preocupante para ser analisado mais tarde: o preço subiu brutalmente. Farm -gate prices: 64U$/kg para 169U$/kg de pasta de ópio ( o que se consegue depois de precipitar num bidão as impurezas e matérias lenhosas e é depois seco e parece mousse de chocolate). Uma previsão que se pode fazer é esta: o grau de impureza nas ruas vai aumentar e o negócio da cocaína vai melhorar muito.

 

posted by FNV on 12:39 da manhã #

Comments:

“Quando é que as pessoas se convencem de que o dinheiro gerado no negócio não fica em caves de indivíduos mal afamados?” Alvitro a resposta que conhece: Nunca!

# posted by  Unknown : 1:10 da tarde

 

É bizarro: as pessoas devem pensar que esse dinheiro só é empregue em malfeitorias.

# posted by  FNV : 5:37 da tarde

 

Esta nova geração não consome muito mais cocaína que heroína?

# posted by  maloud : 5:55 da tarde

 

Os chorudos proventos do “comércio das drogas” são aplicados em diversos fins:
a) Desde logo no aprimoramento do “negócio”: novos esquemas de tráfico, novas drogas, novos distribuidores.
b) Um outro substancial quinhão destina-se à segurança e fluidez do negócio: corrupção do poder político, magistraturas e forças policiais.
c) Uma parte não despicienda conquista a vontade das populações das áreas produtoras das substâncias e populações vizinhas dos quartéis-generais do tráfico.

# posted by  Unknown : 6:39 da tarde

 

e uma quarta parte em conflitos militares
e uma quinta parte em hospitais, escolas, etc,
Maloud: sim, já tratei dessa alteração há muito tempo.E as razões não são só as que os media apregoam. A seu tempo.
Seja como for, o ópio já passou por piores bocados.

# posted by  FNV : 6:53 da tarde

 

"a inovação, nesta matéria, é a proibição."
Não se lê e depois fazem-se perguntas com respostas já no blog.

# posted by  henedina : 3:23 da tarde

 

ehehheheh...

# posted by  FNV : 3:44 da tarde

 

“uma quarta parte em conflitos militares”: incluído na alínea b);
“uma quinta parte em hospitais, escolas, etc”: incluído na alínea c).

# posted by  Unknown : 11:22 da manhã

 

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