O "BÍCIO": Regressa sempre ao curral, o vício, como uma ovelha tresmalhada. E ainda bem, porque uma ressaca, mesmo que de apenas 15 dias, não deixa de ser uma ressaca.
posted by FNV on 11:44 da tarde
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TÊXTEIS CHINESES: O Taiji "tem um corpo sem inteligência, mas tem um princípio" dizia o chinês , que assustava assim o seu interlocutor, o frade Piñuela, em Cantão, por volta de 1680. A independência do neo-confucionismo da filosofia aristotélica sempre assustou os missionários, que tinham horror ao vazio. Zhongùo, a terra dos Han, também tem horror ao vazio, esteja ele onde estiver; Inclusive na Europa.
posted by FNV on 9:04 da tarde
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JOSÉ MOURINHO: O homem que o Benfica despediu e o Sporting rejeitou, e a quem o FCPorto não entregou o prémio de treinador do ano, apesar de ter ganho a Liga dos Campeões e o título nacional.
REVELAÇÕES: 1) O ESTRANHO CASO DAS SONDAGENS: Ninguém me contou, ouvi em directo na rádio. Santana Lopes, para enaltecer o trabalho feito durante a campanha eleitoral, confidenciou hoje ao Congresso que, no princípio da campanha, o PSD dispunha de sondagens que lhe atribuíam 20% - vinte por cento - dos votos. Assim, até 20 de Fevereiro, terão sido conquistados mais 10% de eleitores. Ora, nas sondagens que davam ao PSD um "mínimo histórico", de 28 de Janeiro, falava-se em 27, 7% - vinte e sete vírgula sete por cento - dos votos. Foram estas sondagens que motivaram a curiosíssima ameaça, por parte de Santana, de processar as empresas responsáveis. O que pode explicar, então, tais ameaças, perante sondagens próprias que apontavam para os 20%? Afastando a hipótese da má-fé, restam apenas três: ou Santana, sob a emoção do momento de hoje, se enganou nos números - e não queria dizer bem 20%, e talvez a campanha não tenha, então, aumentado a votação em 10%; ou se deu, num dos dois momentos, um fenómeno de dissociação cognitiva; ou, afinal, o Presidente cessante tinha mesmo razão para reclamar contra as sondagens publicadas, por darem ao PSD mais 7,7% dos votos do que aquilo que o próprio Partido previa.
REVELAÇÕES: 2) JOB PERANTE O INSONDÁVEL: Continuando a comentar a evolução da campanha eleitoral e das sondagens, Santana afirmou, segundo percebi, que o "pico" mais alto da "votação" no PSD coincidiu com a morte da Irmã Lúcia. Com retórica humildade, admitiu ter sido um "erro" político suspender a campanha nesse momento, para logo de seguida reiterar que, se pudesse voltar atrás, faria exactamente o mesmo, por uma questão de "princípios" e de "valores". Ventos e marés podem contrariar-se, mas nada há a fazer contra eventos desta magnitude.
CAFÉ-TV: Já terão reparado que grande parte do lixo noticioso televisivo - o grosso das peças - que estica as notícias até ao limite do suportável, consiste em entrevistas a pessoas acerca do que acham sobre o que se está a passar. Esta técnica não tem por objectivo obter uma versão confirmativa do discurso do jornalista, nem tão pouco acrescentar verdade ou independência à narração mediática. O objectivo é familiarizar o espectador com o espectáculo; Moscovici já há vinte anos descreveu um processo análogo, mas circunscrito às relações particulares; a representação de objectos socialmente relevantes passava por aquilo que ele designava "pressão para a inferência": discutirmos entre nós aquilo que se passa à nossa volta, sem que tal resulte na adição de nada especialmente novo. Actualizando, e de forma simples, ao espectador é transmitida a ideia de que também ele tem algo a dizer sobre a realidade-visível. E isto faz-se colocando em cena as opiniões dos transeuntes, que bem podiam ser as do espectador comum. O espéctaculo já não admite a seca e objectiva narração, obrigando a uma inferência das suas causas e dos seus contornos, transportando para a peça televisiva a discussão de café. Claro que para além de sufocar as mesas das inferências particulares - as verdadeiras, as do café de bairro - ordena e uniformiza a opinião. Mas isso já é outra história, que ficará para outra ocasião.
posted by FNV on 10:00 da tarde
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DÁ-DÁ-GRR-GRR: Uma mulher birmanesa está a amamentar dois tigres bébes ( cheguei lá via Público/ Myanmar Times) no jardim zoológico de Rangoon. Ao que parece, a tigresa andava agressiva e desleixada (depressão pós-parto provocada por uma má internalização da função maternal?), e assim, a fêmea humana, que está a amamentar um filho-homem de sete meses, resolveu ajudar. Mas a mulher, de 40 anos, não é parva: "decidi alimentá-los até que tenham dentes". Um seio feminino, com um tigre bébé pendurado, faria as delícias de Bion, o psicanalista obcecado pelas funções alfa e beta do aleitamento. Mas também deliciaria a rapaziada da Internacional Situacionista, que no Inverno de 1963 rejeitava o "antigo utopismo", aparentemente irrealizável; Essa malta sonhava com uma quantidade de práticas novas em busca da sua própria teoria.
REMIX: Uma psicóloga, na TSF, diz que não quer misturar religião com a discussão sobre a alteração à lei do aborto, mas vai dizendo que "é preciso resolver isto, porque conheço mulheres de 90 anos que estão aterradas porque em tempos abortaram, e quando morrerem vão ser castigadas". Quereria a psi dizer que se a lei for alterada, estas mulheres morrerão em paz, absolvidas dos seus pecados? Ou que se a lei for alterada agora , as mulheres que abortarem hoje, morrerão por isso, sossegadas, com o terço na mão, quando tiverem 90 anos? Já sabia que andamos algo confundidos, mas esta é de antologia.
Obrigado aos leitores pelos comentários: ficaram tão admirados como eu. A situação colocada pela comentadora-anónima tem que se lhe diga, mas não percebo porque não diz qual é a sua profissão. De qualquer forma, abordarei o assunto assim que possa, sob o ângulo da minha, a psicologia clínica (seja lá isso o que for).
AS PERGUNTAS DO MENINO ZÉZINHO: M. Z.: Ó S'tôra, por que é que aqueles que andam sempre a dizer mal da França não comentam as sondagens que dão a vitória ao Não no referendo do Tratado Constitucional e só andam para aí a murmurar pelos cantos? S'tôra.: Olha, uns, porque têm pena de não ser, agora, franceses, mas têm vergonha de o dizer; outros, porque desejam que ganhe o Sim, mas isso significa admitir que querem pertencer à mesma União onde está a França. M. Z.: É o que se chama uma posição delicada? S'tôra: Sim. E agora, volta à tabuada dos 7.
PRIMO LEVI:"Consigo perdoar a um homem, mas não por palavras; Perdoarei um homem que prove, pelos seus actos, que já não é aquilo que foi.": Levi, o judeu piemontês, numa entrevista ao La Stampa, em Julho de 1986. Isto e muito mais - para além de várias entrevistas e dos mais famosos títulos, outros menos conhecidos, como o Agora ou Nunca, numa grossa ( mais de mil páginas) mas manuseável edição da Robert Laffont, acabadinha de sair.
O HERÓI: Que esta época não produz heróis, já sabíamos, Carlyle está proscrito. É difícil ser-se herói, depois de Nietzsche e de Freud nos terem explicado que tudo o que fazemos tem uma segunda intenção. Os generais, principais fornecedores de heroísmo de outros tempos, são hoje burocratas ou assassinos. Os príncipes, esquecidos do conselho de Maquiavel, misturam as suas fornicações públicas com as do povo, em alegres orgias mediáticas de imitação. Já os demagogos, os "condutores do povo", acabaram mal - enforcados por vontade própria ou não - e os políticos de hoje põem ajuizadamente as barbas de molho. O escrutínio pós-estruturalista, e os seus filhos aprendizes da fusion cuisine cultural, explicam-nos deliciados que tudo é relativo: pois que então isso de se ser herói, é muito discutível. Restam os mini-heróis, nascido em micro-úteros psico-sociais, como os bombeiros, os líderes de bandos suburbanos e os futebolistas, todos sofrendo de vida curta e esquecimento longo. Assim este Papa, João Paulo II, vindo do alfobre das religiões monoteístas, essas, as que sempre produziram um tipo especial de heróis, ocupou o lugar vago. O lugar da necessidade.
posted by PC on 2:29 da tarde
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SERVOS DO SITEMETER: Ternurenta, a preocupação dos blogues ateus-revolucionários-fracturantes, sobre o que Papa disse, fez ou imaginou, nos seus últimos dias. Profissionais das audiências, pois então, que a vidinha custa muito a ganhar. Mas também serve para compreendermos o que os atormenta.
posted by FNV on 12:39 da tarde
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REISEN: Na casa de saída, o cavalo dá razão a Goethe, agora apaixonado de Cristiane, e esquecido da filha do pastor de Brion: para que há-de um jardineiro viajar? Também eu, desde que encontrei uma coruja a meio-sotão, não me canso de não sair do mesmo sítio: ela traz-me as boas novas, eu conto-lhe as más.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.