OUTRA VEZ VERÃO: Um gajo da minha idade ( 39), barrigudo e mole, ou é rico ou é esperto.
Não estava a falar de mim: sou, infelizmente, magro. Um abraço, caro João, já não te via por cá há algum tempo.
posted by FNV on 10:16 da tarde
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É VERÃO ( post para encher blogue) : Cheguei há pouco da praia com o cabelo ainda sujo do maremoto. Safei três notas de cinco euros e um bulldog a-não. Enquanto via passar as ambulâncias, encarrapitado em cima de um jipe virado ao contrário, reparei no velho cabeça de dinamite, que lembrava aos transeuntes a sua máxima para as calamidades( cito de memória): Quando a casa está arder, esquecemo-nos do jantar; mas mal os bombeiros chegam, corremos a resgatá-lo das cinzas.
posted by FNV on 9:29 da tarde
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MAL AGRADECIDO: Para assegurar a continuidade do Ballet Gulbenkian, Pedro Santana Lopes disponibilizou mais de um milhão de euros para assegurar 50% do seu orçamento. Um tal de Paulo Ribeiro, ex-director do Ballet, veio aceitar a massaroca não sem antes deitar um coice a PSL, dizendo que nunca o tinha visto num espectáculo de companhia. Isto chama-se morder a mão que dá de comer. A isto chama-se ser mal agradecido. Cresci sempre a respeitar e a admirar a Fundação Gulbenkian mas nela dantes não cabiam pessoas como Paulo Ribeiro.
posted by VLX on 7:37 da tarde
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O PRIMEIRO DIA: Hoje é o primeiro dia das férias judiciais de verão, esse período de dois meses que o Ministro da Justiça julga apenas servir para que os magistrados, advogados e funcionários judiciais toquem viola e cocem a barriga. Em boa verdade, para o Ministro ter o que merecia, o que as pessoas que ele ofendeu deviam fazer era mostrar-lhe o que aconteceria se a realidade que ele tutela fosse exactamente como ele a imagina. Se efectivamente não se trabalhasse nas férias judiciais, ao fim de um ano o sistema estaria completamente embarrilado e ao fim de dois estaria de tal forma entupido que o Ministro da Justiça seria corrido e enxotado do governo com o epíteto de pior Ministro da Justiça que alguma vez houve. Felizmente para o Ministro (e para as pessoas em geral), a maior parte daqueles sobre quem cuspiu tem brio e sentido de responsabilidade e não lhe dá a lição que ele devia receber. De todo o modo, confesso que este Ministro me faz ficar irritado por estar sozinho em casa com três crianças para que alguém vá resolver problemas de outras crianças ou de pais desavindos no primeiro dia de férias judiciais, sábado.
posted by VLX on 7:21 da tarde
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DO DIDASCALICON: Do Hugo, o de St. Vítor: " O homem que adora a sua terra natal é ainda um principiante; aquele para quem todo o solo é como se fosse o da aldeia onde nasceu já é forte; mas perfeito é aquele que considera o mundo inteiro como uma terra estrangeira."
GOLEADORES DE TODO O PORTUGAL, UNI-VOS! É para informar que está em curso uma campanha de angariação de fundos e vontades, destinada a fazer permanecer em Alavalade o guarda-redes Ricardo. Dado que vieram a público desestabilizadoras notícias sobre o intreresse de clubes de nomeada ( o Talleres de Cordoba da Argentina e o Kaisers Chiefs da África do Sul,) no impressionante nº1 de Portugal e do Sporting, venho em meu nome estritamente pessoal pedir que depositem os vosso donativos no seguinte endereço: www.ficaricardo.lusiaves.corner.pt.
posted by FNV on 10:15 da tarde
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PARA A ALEXANDRA: Do Seta Despedida, que anda às voltas com os olhos do escuro, um velho provérbio javanês: De noite, tudo o que é nosso pertence aos ladrões; de dia, tudo o que é nosso pertence ao rei.
NEM LAWRENCE NEM MASSIGNON: Reparo que a utilização do termo "negociar", no contexto da luta contra o terrorismo, tem feito alguma confusão, como por exemplo ao JMF do Terras do Nunca, que prefere "seduzir" e "armadilhar". Por outro lado, no Mão Invisível, continua a negar-se em absoluto qualquer derivação do termo. Dois pontos: É estranho que negociar, quando se trata de terrorismo assuma um significado cândido e familiar. Negociar implica muitos comportamentos: comerciar, traficar, preparar, diligenciar, entre outros. É estranho que para ocidentais orgulhosos da sua História, negociar signifique a concessão de um estatuto de dignidade e boa fé à outra parte. Ao longo dos séculos, os europeus negociaram a compra de escravos e ópio, negociaram a queda de marajás e sultões, negociaram territórios inteiros, negociaram como Diabo e com o filho dele. Negociar, procurar obter vantagem numa determinada situação, não é necessariamente um exercício moral e passional . O senhor Hirschmann até demonstrou as vantagens da nova ética. Mas mais estranho para mim, é o som que vem dos novos sinos: há muçulmanos bons e muçulmanos maus, os bons têm de ser ensinados a separar a a religião do Estado, todos tendo de ser desenvolvidos, escolarizados e alimentados; Dito de outra forma, ocidentalizados. Seria fastidioso enumerar os filhos do direito de não-representação, batido na admnistração colonial da zona, que os europeus e americanos geraram. O próprio termo Médio-Oriente, foi inventado em 1902 por um historiador americano da Marinha, Alfred Manham, por razões de estratégia naval ligadas à importância do Golfo Pérsico. Mais o que importa é o presente, e som dos sinos. Com que então há farruscos bons e farruscos maus: muito bem, como os distinguimos? Seguimos a via do inquérito ou da análise de conteúdo? E a propósito da secularização, pressupondo que os seduzimos a deitarem para o lixo a lógica da fiqh ( ou Figh'h) e do seu braço armado, a sharia, o que lhes oferecemos em troca? A MTV e o Spielberg, ou Kant e Locke? Shabestari, ex-director do Centro Islâmico de Hamburgo, diz que falta à sociedade islâmica um corpo de conhecimento - uma filosofia jurídica sistematizada, uma filosofia compreensiva da ética, uma ciência económica - que não esteja incluido na jurisprudência religiosa. O problema é velho, embora os bravos sejam novos. Louis Massignon, o último orientalista europeu, preconizava numa deliciosa entrevista concedida em 1925 aos Cahiers du mois, que a laicização exportada para o Oriente acabaria por ter como resultado "preparar o campo para o duelo final". A verdade é que o contacto ocidental com a terra média desequilibrou as velhas estruturas - colonizou e depois modernizou - tanto quanto permitiu o surgimento de novos espaços de liderança, que se arrogam de um sistema de interpretações dos deveres da jihad assaz peculiar. Em muitos lugares, um muçulmano não sabe para onde se virar. Na Europa, no entanto, os meninos bem nascidos e educados, não se importam de morrer pela tal de Al Quaeda. Estranho: não vivem eles na terra de Kant e Locke? Dou uma ajuda: sim, mas também na de Lawrence e de Balfour; e na de Massignon, que bem nos avisou. E a tempo. A ladainha que o terror se deve à fome e aos trapos, é apenas mais uma representação do território complicado. É a exportação do modelo da revolução industrial e da sua correcção social, para o tal sítio onde Shabestari diz não existir um corpo de conhecimento para o receber, a ele, ao modelo ocidental.
ALGUÉM O VIU? O país arde como nunca e os únicos comentários oficiais que se ouvem são os dos condutores dos carros dos bombeiros. E o Ministro, alguém o viu? Ter-se-á escapulido para umas curtas férias? Para não se queimar foi-se bronzear para qualquer lado? Para não ir de vela terá ido fazer um cruzeiro? É incrível que com o país inteiro a arder a única coisa que se consiga apagar completamente seja o próprio Ministro.
posted by VLX on 11:47 da tarde
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E CONTINUA... Um leitor regular ( Lucklucky ), outros leitores e o pessoal do excelente Mão Invisível, não se têm poupado a esforços para provar que estou enganado. Desde já agradeço o facto de se interessarem pelo que escrevo e comigo debaterem. Vamos a isso.
posted by FNV on 3:58 da tarde
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CONTINUAÇÃO: Um simpático leitor anónimo envia-me um texto que explica a impossibilidade do diálogo com os novos cavaleiros do apocalipse, dado que estes não se organizam de nenhuma forma inteligível. O Pedro Picoito do Mão Invisível, responde ( agora sim) às minhas teorias sobre o diálogo com o terror, dizendo essencialmente que a acção militar é prioritária contra os ratos de esgoto. Na medida exacta das minhas insuficiências, vamos a isto. Um aspecto interessante desta história, é que conhecemos razoavelmente o arsenal dos "bons" tanto quanto conhecemos bastante bem as limitações ao seu uso. Apesar de todas as críticas, os EUA, por exemplo, não podem apagar da face da terra um território de digamos 1000 km2, apenas porque julgam que este inclui 50 operacionais da Al Quaeda. Ora, a zona de incerteza ( roubando o termo a Crozier) é toda do lado dos "maus". Não sabemos o que têm ou o que tencionam utilizar, nem quando, nem como. Pode o Pedro dizer que os serviços de informação não dormem, eu direi que pelo menos sonham acordados, como nos fatídicos dias de Setembro, Março e Julho. Por outro lado, se há uma lição a tirar do ataque às Twin Towers, é a de que sobrestimamos o julgamento moral dos "maus". Por fim, o argumento de que a Al Quaeda é uma rede não-convencional e porquanto incapacitada de entabular negociações é desmoralizante: se assim é, também é incapaz de ser vigiada e travada. Outro aspecto, o que mais me atrai, é o político, e é aí que entra a negociação. O meu ponto de partida é que em todos os confrontos da História, houve, em algum momento, negociação. Só não se sabe quando, mas sabe-se que se tem de negociar. Ora, as boas regras e o bom senso mandam que se evite negociar numa posição de extrema fraqueza. Parto do pressuposto, curioso que sou sobre a génese deste apostolado profissional do Islão fundamentalista, que os rapazes, mais dia menos dia, farão alguma coisa que pode deixar os "bons" em muito maus lencóis para negociar. Eu sei que existe a questão moral, eles são ratos de esgoto. Mas qual de nós, assolado por uma praga de ratos na nossa biblioteca, desdenharia negociar? Responda-me o Pedro, francamente. A Al Quaeda atacou em 1993 uma das Twin Towers e oito anos mais tarde voltou lá para fazer o que se sabe. Entretanto, destruiu as embaixadas americanas no Quénia e na Tanzânia. Depois Madrid e Londres. Dizia Isaiah Berlin que antes de tentar mudar o mundo, é preciso compreendê-lo. Uma escalada militar impede essa tentativa de compreensão, oferece pólos de sedução aos mártires e pretextos à quinta coluna. Negociar, ganhar tempo, obter informação, expor identidades, é coisa para homens de barba rija e narizes treinados.
(Depois existem outros pontos fulcrais, que se prendem com a pobre leitura que os EUA fazem do árabes, mas isso ficará para mais tarde.)
Caro Anónimo: Tem razão. Eu já aqui trouxe várias vezes as contribuições e os desejos de intelectuais islâmicos moderados, desde bloggers iranianos até figuras como Karim Abdel Souroush ou Fátima Midrissi. É essencial ajudá-los, mas tal é apenas uma parte da questão. Voltarei à coisa assim que puder.
LONGE DA VISTA, LONGE DO CORAÇÃO? O psicólogo não pesca nada de geopolítica nem de defesa. Mas interessa-se pela espuma. Reparou num aspecto muito badalado: foi coisa boa a forma como os ingleses conseguiram esconder dos abutres da informação as imagens dos mortos. O psicólogo achou deveras metálica esta satisfação. Compreende, apesar das sua limitações, o ponto de vista dos satisfeitos: a imagem da dor é uma vitória do terror, logo, sofre-se em recato. Não confundir com estoicismo: para a equipa do Stoa, não se espera nada do dia de amanhã. Quer o psicólogo dizer que a negação do espectáculo do terror lhe parece trazer no bico uma função, uma esperança, por isso é sentida como uma espécie de vitória sobre o Mal. E é aqui que o psicólogo fica a remoer: precisamos ou não de ver a imagem do Mal, a impressão que ele nos deixa agarrada à pele? O psicólogo não sabe.
posted by FNV on 11:40 da manhã
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PODIUM II: Não conseguir imaginar um inimigo é uma projecção natural da cultura ocidental: vive bem e acha que já faz tudo pelos que vivem menos bem. Assim, não só não percebe que lhe queiram mal, como se contenta em acreditar piamente naqueles dois pressupostos. É mais ou menos como a maratonista que, entrando isolada no estádio, se esquece de dar a última volta à pista.
posted by FNV on 10:57 da manhã
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PODIUM: A mistura da ressaca colonial e da predação capitalista ( factos indesmentíveis) com a base identitária das Al Quaedas, é a primeira grande vitória destas. É mais ou menos como o 2º classificado ficar com a medalha de ouro, porque o 1º fez tropeçar o 3º.
ENQUANTO OS PASTEIS NÃO SE FAZEM: Rumem às termas de S.Pedro do Sul ( acabo de chegar de lá) e rastejem sob o calor até à Adega da Tia Fernanda. Não só tem uma cozinha maravilhosamente decorada ( uma antiquíssima bandeira do Benfica devidamente encaixilhada sobre o forno de lenha), como serve umas pataniscas de bacalhau ligeiramente melhores do que as minhas : finas e douradas, sem excesso de farinha ou de cebola, acabadas de fazer e levemente estaladiças. E mais: há anos que repito a experiência e são sempre boas.
PS: isto é para vocês, porque para o PC, os pasteis são homemade, eheheh...
posted by FNV on 4:36 da tarde
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PELA HORA DA MORTE: Gosto pouco que qualifiquem moralmente os meus textos sem que ao menos os tentem discutir*. Em "100 VÍRGULAS", talvez o estilo tenha encapsulado o essencial. Aqui está ele: Comecemos por um silogismo simples no qual a validade da premissa inicial faz toda a diferença:
a) Numa guerra, ambos os contendores uitilizarão todas as armas que possuirem. b) A coligação e a Al Quaeda estão em guerra. c) A Al Quaeda utilizará todas as armas que possuir.
En passant a simplificação identitária das partes beligerantes, o que digo é que se a Al Quaeda ( ou parte dela, ou o que raio ela for ) puder utilizar armas químicas no centro de Washington ou de Roma, utiliza. Veremos então se o diálogo continuará a ser uma patetice. O que vejo, como parte viva e interessada, são bazófias ocidentais. De dois géneros: a bazófia do vamos acabar com eles e a bazófia do podemos aguentar com eles. A primeira pretende convencer-nos que se pode derrotar um inimigo novo - não tem território certo, nem nacionalidade específica - com armas velhas: invasões, coligações, campos de prisioneiros. A segunda ilude o próprio bazofiador: aguentamos isto até um certo ponto, até não nos envenenarem a água ou matarem tantos dos nossos de uma só vez, que seja impossível ler uma lista dos nomes dos cadáveres sem adormecer. Não se dialoga nem se negoceia com terroristas? Dialoga-se e negoceia-se com tudo o que mexa, se essa for a condição para continuarmos vivos. Os bravos que hoje dizem o contrário, batendo com a mão no peito ainda não estão em posição de o compreender. Cá estarei, infelizmente, para no dia em que a parada se tornar insuportável, os ver elogiar os esforços diplomáticos que na altura se desenvolverem. Significa isto, neste momento, covardia e capitulação perante o terror? Se o quiserem, sirvam-se. Prefiro pensar que o meu silogismo barato é convenientemente realista. Negociar (para negociar, que eu saiba, é preciso dialogar) não significa necessariamente capitular ou ceder. Significa, numa zona de incerteza obscura e perigosa, procurar obter vantagens para o nosso lado. Uma das partes nesta contenda já negociou no passado e em muitas ocasiões, com os piores facínoras. Dir-me-ão que a outra parte não quer nada que lhe possamos dar; claro que quer, quanto mais não seja, as nossas vidas. Aí está uma belíssima base para negociação: o que eles pretendem, aparentemente não é sujeito a negociação, mesmo para eles. Se com eles ( e este essencialismo do we-they é sempre redutor, mas enfim...) conseguirmos negociar, já estaremos a ganhar. Se a conclusão do meu silogismo não se referir a berlindes, naturalmente.
* Refiro-me ao comentário do Pedro Picoito ao meu post "100 VÍRGULAS". O Pedro habituou-me à discussão e não à qualificação pura e simples. Mas não se perdeu nada, acabou tal qualificação por ser um pretexto para desenvolver um pouco o tema.
Ao Azia: Obrigado, erro corrigido, mas infelizmente não por muito tempo: sou um caso perdido nos advérbios de modo. Já quanto ao "salto de lógica", fui naturalmente ler o que você escreveu sobre os atentados de Londres e acho bem que fique pelas correcções gramaticais ( O Azeite e Azia, entre outros "raciocínios lógicos", trouxe os vietnamitas à baila).
O MUNDO É FEITO DE MUDANÇA: Há uns tempos, escrevia eu aqui, a propósito das "listas de terroristas", sobre como é fácil entrar e sair das listas de "maus". John Garang, líder da Sudan People's Liberation Front, que controla a parte sul do país, tomou ontem posse como vice-presidente do Sudão, na presença de Koffi Annan e de um membro da administração americana. No sul do Sudão existe petróleo. O registo das actividades da SPLA, onde se inclui o sequestro de seis membros da Cruz Vermelha (quatro deles morreram em cativeiro) e alguns atentados à bomba a companhias petrolíferas, pode encontrar-se aqui e a informação sobre Garang aqui. Não por muito tempo, certamente.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.