O REFÉM: Sempre achei que Sócrates era o Santana da esquerda, no sentido de ser alguém igualmente ávido de poder e com um excelente sentido mediático (que Santana terá entretanto perdido), sabendo usar as câmaras em seu benefício - o que se me afigura eleitoralmente decisivo. No entanto, no que Santana tem de genuíno e arrebatado Sócrates sobeja em demagogia implacável e frieza analítica, ao serviço da sua pessoa e do seu projecto de poder - que, neste momento, passa pela sua manutenção. Mesmo sabendo isto, havia a esperança de que Sócrates, uma vez no poder, assumisse com coragem o tipo de governação que o país precisa. Puro engano. Na hora da verdade, descobriu-se que o "animal feroz" anda pela "trela" do aparelho, este sim o verdadeiro poder. Quando foi confrontado com o "dever ser", que o penalizaria eleitoralmente mas que lhe conferiria um estatuto de estadista (espécie extinta há alguns anos) e que beneficiaria o país, sucumbiu perante a alternativa de ser "amparadao" pelo tenebroso aparelho, de quem ficou refém, tendo em vista os próximos sufrágios eleitorais. Sigam a despesa, as Otas, os TGV's, os Linos, os Gomes, os Varas e os outros milhares de boys. Afastem-se os poucos Campos e Cunha que ainda têm estômago para a choldra em que se transformou a política deste país. No que toca a credibilidade, não encontro grandes diferenças entre este governo e o anterior. Encontro, no entanto, duas diferenças importantes: a boa imprensa de referência cor de rosa (imaginem-se as mesmas situações num governo liderado por Santana Lopes) e a conivência do PR - que explica muito da situação em que o país está quando termina os seus mandatos, se comparada com a que encontrou quando assumiu funçoes.
posted by Neptuno on 12:36 da tarde
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(1) comments
PEQUENO ANÚNCIO GRÁTIS NO JORNAL DO PARTIDO:"PROCURA-SE Sabujo encartado com cartão do partido desde tenra idade para cargo de administração de empresa pública. Não é necessária qualquer licenciatura ou experiência de coisa alguma, sendo irrelevantes quaisquer antecedentes de uso indevido de dinheiros públicos. Situações de amizade ou de anteriores sociedades com o PM serão consideradas. Salário superior ao do Presidente da República."
CÁ SE FAZEM...(dedicada ao nosso FNV): Lembram-se daquele tempo em que certo clube usava e abusava da estratégia de ter vários clubes satélite, na mesma região e na mesma divisão e que, a troco de jogadores (entre outras benesses..) e no meio de grande promiscuidade directiva, faziam umas atençõezinhas ao clube grande quando era preciso? Parece que alguém aprendeu a mesma cartilha quando estava lá na maison... E hoje lá vai haver um jogo de retribuição para apresentar a equipa dos nossos amigos que, infelizmente, desceram de divisão.
ANTES DE UMAS CURTAS FÉRIAS ( As verdadeiras só em Setembro): Desejo (mas não vaticino) que a Liga de Futebol Profissional averigue as declarações do senhor Jacinto Paixão. Num país normal, o orgão que tutela o futebol interessar-se-ia em cuidar de saber se é verdade que o Sr.Reinaldo Telles fez de motorista a um árbitro, se é verdade que o deixou num restaurante com a conta paga, e se é verdade que as prostitutas que o referido árbitro tinha à espera no quarto também estavam incluídas no putativo pacote motorista/mordomo. Num país normal. Vaticino ( mas não desejo) que o futebol atraente de Koeman morra na praia, se não vier um rato-de-área e um carro de assalto. O primeiro para os dia em que o futebol de Koeman é sexy, o segundo para os dias em que está com dores de cabeça. Vaticino (e desejo) que Adriaanse continue a pôr Lucho Gonzalez a trinco: estraga à vontade que é teu.
Nota: Em posts de futebol, e dada a falta de higiene semântica de alguns comentadores anónimos ( alguns, infelizmente, não tão anónimos como isso), não permitirei comentários. Tentem um duche frio ou a RTP-N.
RECENTRANDO A CONVERSA: Sobre o que escrevi aqui, aqui, e aqui, multiplicaram-se os comentários e os e-mails discordantes. Óptimo, também é para isso que esta coisa serve. Não quero voltar ao assunto, porque já disse tudo o que tinha a dizer. De qualquer maneira, reconheço que devo andar a escrever muito mal, porque muitos comentários falam sobre coisas que eu julgava não ter escrito. Por isso, sinto-me obrigado a explicar alguns pontos, que nada acrescentam aos posts anteriores: 1) Julgava que nunca tinha escrito sobre a questão de saber se houve ou não um erro de avaliação dos concretos agentes policiais envolvidos no caso, porque sempre me pareceu que isso é um aspecto lateral do problema. Julgava que sempre tinha tentado criticar a orientação política geral dada pela polícia britânica que permite um shoot-to-kill em caso de dúvida (explico novamente: no caso de alguém, de quem se suspeita ser terrorista forrado de bombas, fugir perante a interpelação de homens à paisana armados), assumida publicamente pelo Chefe da Met, Sir Ian Blair (por favor, clique, pacientemente, aqui). Por isso falei sempre em políticas (e não polícias, ao contrário do que a Zazie pretende, com insistência, nos seus comentários). Neste ponto, parece que não estou assim tão sozinho: parece que os políticos britânicos também acham prudente saber o que o povo acha destas políticas de excepção. 2) Julgava eu não ter chamado idiota útil a niguém. Julgava eu ter escrito que quem se desvia do dogma do aplauso àquela política é chamado de idiota útil (clique, pacientemente, aqui). 3) Ao contrário do que diz Mr. Lucklucky, e pese embora o seu nick, não é normal disparar sobre alguém em fuga porque é suspeito de um crime. Normal é que isso acarrete a condenação do acto por parte da hierarquia e a eventual responsabilidade criminal de quem o pratica. A resposta à sua pergunta (por que será que no caso do terrorismo, etc.) é simples: é que neste caso particular o Chefe da Metropolitan Police admitiu publicamente que o acto se enquadra numa política organizada e delineada pela própria hierarquia. Não é costume um Chefe de polícia fazer isso, pois não, Mr. Lucklucky? 4) Ao Pedro Picoito, que me interpelou directamente: não me recordo de ter lido algum texto seu onde chame "inimigos da civilização ocidental" ou "idiotas úteis" a quem sustenta que a dúvida não pode ser fundamento para matar. Se o fez, é uma grosseria. 5) À Zazie, que me pergunta sobre as minhas informações: não são privilegiadas, são de todos, e estão, por exemplo, aqui: "the Metropolitan police commissioner, Sir Ian Blair, expressed "deep regrets" over the killing, and said the force accepted "full responsibility". However, he last night defended the "shoot-to-kill" policy for dealing with suspected suicide bombers, arguing that it was necessary to shoot suspects in the head if it was feared they might set off a bomb on their body". Itálicos meus. 6) Pedindo desculpa aos leitores mais atentos, transcrevo o que escrevi no primeiro post desta série, para que ninguém forme uma ideia errada a partir dos comentários: "Também se sabe que o assunto é muito delicado: por um lado, está fora de causa a legitimidade de atirar a matar contra um terrorista suicida para o impedir de fazer detonar os explosivos; por outro lado, qualquer erro de avaliação tem, como teve, consequências dramáticas. A responsabilidade das autoridades está, então, na máxima redução possível dos riscos de erro e na aceitação de que a dúvida não pode ser fundamento para atirar a matar". 7) Quanto às bandeiras e ideologias como explicação última do que escrevo a propósito deste tema: lamento, mas já dei.
posted by PC on 6:45 da manhã
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O BOMBEIRO INCENDIÁRIO: Tem graça ter sido o "orientalista" Bernard Lewis ( ultimamente muito citado) e não Samuel Huntington, a lançar o termo "Choque de Civilizações". Fê-lo num artigo de 1990 na Atlantic Monthly, intitulado "The Roots of Muslim Rage". Huntington só 3 anos depois (na Foreign Affairs) utiliza a expressão, para logo de seguida a consagrar em livro. E tem graça porque muito tempo antes, durante a administração Carter, Bernard Lewis foi o ideólogo do plano Brzezinski, que consistia em tentar atear, em quase todo o sul da URSS, a chama do fundamentalismo islâmico.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.