HEINE, QUE NÃO HIENA: Comer sempre, não trocar o certo pelo incerto. Heine ( Le Grand) dispensa a máxima de Horácio - nonum prematur in annum ( escrever para a gaveta) - tanto quanto prefere editar e receber na hora: "enquanto o meu coração estiver cheio de amor e a cabeça do próximo cheia de tolice, nunca me há-de faltar assunto para escrever". Ora aqui está quem gosta de levar o jantar para cima da árvore; também dava um bom leopardo, o nemorívago Heinrich Heine.
posted by FNV on 3:56 da tarde
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SCOLARI NÃO TINHA RAZÃO: Os Quaresmas e os Moutinhos são imprescindíveis. Para perder.
Adenda: Não que a coisa me cause estupor, mas registo-a: os jornalistas do Público, depois de duas péssimas exibições da selecção sub-21 ( acrescentadas de duas derrotas sem marcar qualquer golo), em nenhuma das ocasiões puseram o seleccionador Agostinho Oliveira na coluna do "menos". Quem duvida que Scolari só precisa de um empate para lá figurar? É o jornalismo "isento" e "objectivo"...
QUEM SABE? A pergunta é sincera: alguém me sabe indicar qual a audiência do programa "A revolta dos pasteis de nata", que passa ( neste preciso momento) no segundo canal ? E já agora: quem paga aquilo?
posted by FNV on 11:46 da tarde
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SÉRIE " OS EUA E O NARCOTRÁFICO" (V): Terminemos a secção sul-americana com um rápido birdview sobre a história dos carteis e com uma previsão de carácter geral. Hoje dois carteis, para a semana o último ( a bem dizer não será apenas um) e a tal previsão. A cocaína era vista pelos americanos nos anos 70 como uma droga relativamente inofensiva: antes que a Time de 1981 trouxesse na capa um elegante copo de martini a transbordar com cocaína sob o título "High on cocaine", já o dr.Bourne, que tinha ajudado Carter na campanha presidencial de 76 (e se tinha tornado entretanto Special Assistant for Health Issues), apelava à mão leve para com a droga. Em breve seriam os tempos do crack, como já aqui referi, e do início mediático da aventura dos carteis. O Cartel de Medellin, cujo nome mais conhecido era o de Pablo Escobar, integrava ainda os irmãos Ochoa ( Juan David, Jorge Luis e Fabio) e Juan Rodriguez Gacha. O seu período de ouro foi a década de 80 e digamos que foi a organização certa, no lugar certo e na altura certa ( os tempos do crack). Como dissemos noutros posts da série, a aliança entre os EUA e os regimes peruanos e bolivianos teve como resultado uma cada vez maior inacessibilidade das zonas cocaleras: o cartel de Medellin colheu os frutos. A cocaína era introduzida nos EUA através das redes mexicanas de tráfico de marijuana, os mexicanos pagos à percentagem. Na linha de sucessão aparece, ainda na Colômbia, o Cartel de Cali. O departamento de Estado e a DEA cercaram o cartel de Medellin ( o orçamento da DEA quase duplicou entre 1980 e 1985), Escobar e Gacha morrem (1993) e os irmãos Ochoa capitulam. Foi o tempo das operações Swordfish ( 1980) e Pipeline ( 1985). O cartel de Cali era comandado pelos irmãos Orejuela, por José Londono e por Helmer Pacho Buitrago. Nessse gloriosos tempos, Boeings 727 atestadinhos de cocaína aterravam em várias cidades mexicanas, a droga seguindo via terrestre para os EUA. O cartel é decapitado, Londono é preso em 1996 e os manos Orejuela em 1995. Os mexicanos tomam as rédeas e a história recomeça.
posted by FNV on 4:00 da tarde
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SARAVÁ: Isto de saudar reentradas na blogosfera arrisca-se a ser um exercício perigoso, mas como desta vez o Daniel Oliveira está sozinho, talvez não haja bife.
91.971 km2: Diz o Nuno Mota Pinto, capitão desta nau e moço temperado e certeiro ( tão certeiro que há vinte anos o alcunhei, para a imortalidade, durante um jogo de futebol no qual ele marcou 3 golos de rajada), que o mal deste país é ser muito pequeno ( somos do tamanho de uma reserva de caça tanzaniana média) : toda a gente se conhece. Só ontem pude ver o debate - bom, apesar de muita gente sobre ele ter escrito desdenhosamente mas não perdendo pitada - sobre o livro de Carrilho e mais uma vez confirmei essa sábia conclusão do Nuno.
posted by FNV on 11:39 da manhã
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COCOLITZLI: Um reputadíssimo epidemiologista (e historiador) mexicano, Acunã Soto, professor na Universidade Autónoma da Cidade do México, interessa-se muito pela história da colonização espanhola do seu país. Neste momento trabalha a teoria* segundo a qual as epidemias de meados do século XVI não foram causadas pela varíola trazida pelos europeus. São muitos e bons os argumentos de Acunã Soto, que tem vasculhado os arquivos da época. Os aztecas deram nomes diferentes às doenças responsáveis pelas duas grandes vagas de mortes, baptizando de cocolitzli a segunda delas. A varíola, se foi responsável pela primeira razia, não poderia ter afectado tanta gente 20 e 55 anos depois, porque os sobreviventes teriam desenvolvido anticorpos. Finalmente, os sintomas do cocolitzli não são os da varíola, sendo antes semelhantes aos das febres hemorrágicas que hoje conhecemos, causadas por vírus como o Ebola ou o Marburg. O vector animal da doença terá sido a população de roedores: em períodos de chuvas após secas prolongadas - e que coincidem com os picos do cocolitzli - multiplicaram-se brutalmente transmitindo o vírus patogénico. Ora aqui está um bom pedaço para os "desconstrutores das grandes narrativas". Ou não?
*disponível na Discover, vol 27 n2, Feb06, e também on-line no site da publicação.
POURQUOI PAS? O Paulo Gorjão ( www.bloguítica.blogspot.com), sempre bem informado, avisa-nos que Manuela Ferreira Leite "pode não estar muito interessada em vir a ser a salvadora do PSD" lá para 2008. Desta vez espero que o meu caro Paulo esteja enganado.
posted by FNV on 3:44 da tarde
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O TEMPO, ESSE GRANDE ESCULTOR: Com licença de Yourcenar, aproveito a seguinte passagem de Eduardo Prado Coelho, hoje, no "Público": "Marques Mendes confronta-se com o manifesto apoio do Presidente da República ao Governo". Então o homem não ia ser ( para os soaristas) um "terrível factor de desestabilização" ou um "elefante em loja de porcelanas"?
posted by FNV on 12:50 da tarde
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UM FINAL FELIZ: No "Público" - e presumo que noutros jornais - noticia-se o funeral, esperado, do processo Apito Dourado. Não porque tudo tenha sido uma lamentável confusão gerada pelos irmãos Dalton: o magistrado responsável é que entendeu "não ter condições para continuar". Segundo se soube, um parecer do Prof. Canotilho garantiu ser "inconstitucional o diploma que pune a corrupção desportiva". Já se calculava.
REFORMAS: Todos nós temos aquele momento em que começamos a pensar na reforma e eu não sou assim tão diferente do resto das pessoas. É um momento que pode iniciar-se de várias formas, seja por um acréscimo inusitado de cabelos brancos ou por uma queda precipitada dos pretos; por uma visita mais infeliz que se fez ao médico amigo ou por um amigo feliz que partiu de vez do médico sem nos vir visitar; seja por uma data ou fase importante do crescimento dos filhos ou pelos cadilhos inerentes a uma data de trabalho importante em fase de crescimento - não interessa: há sempre uma altura em que se começa a pensar mais na reforma e o momento político-económico do país não ajuda a que se pense nisso sem alguma apreensão.
Confesso que ainda não sei muito bem como se irá pagar a minha reforma mas vou-me divertindo delineando as formas que terá de assumir: será ao ar livre! Terá um mínimo de terreno livre de telhas para que os meus olhos cansados possam descansar sem as ditas, sem varandas, vivendas, marquises e outras construções desumanas que pululam pelas nossas paisagens portuguesas. E essa vista suave terá de ser encontrada pelo menos a partir da cozinha, toda envidraçada, da sala e do meu quarto. Mas deverá ser próxima de um lugar civilizado e com bons acessos para que os filhos possam vir facilmente cravar os velhos pais e provar o apurado dos refogados feitos com tempo e sossego. E com eles os netos e os amigos de todos.
Indispensável o alinhamento rigoroso de um pomar saboroso, com frutas a sério a cheirar seriamente a fruta e suficientemente perto de casa para que se possa, lá pelo fim da manhã, ir sem cana pescar da árvore mais próxima o limão mais reluzente e sem que, na sala sossegada, se derreta no copo alto o gelo antecipadamente posto para o Bombay Sapphire matinal... Servido o qual servirá de confortante companhia para uma vagarosa passeata pela bicharada: devidamente escondida das autoridades nacionais e europeias, a galinhada alegre a que, no devido momento, se cortará o pescoço para as saborosas cabidelas (na altura proibidas) que animarão saudáveis e estrelados serões. Lá, mais ao fundo, os anafados requinhos que possibilitarão a anual matança secreta (ela também proibida), aí pelo carnaval. Os coelhos em que tropece e sobre os quais caia e quebre o pescoço serão igualmente convidados para o tacho e servidos sobre torradinhas finas, com molho espesso e batatas cozidas com pele. E para colorir tudo couves, repolhos, grelos, alfaces, tomates - todos a saber ao que devem saber.
Será uma agradável casa de campo, como desejava a Elis Regina, carregadinha de livros e discos, onde eu possa em silêncio esperar os limites do corpo e, finalmente, de cuca legal. Mas dispenso a esperança de óculos porque detesto que me mexam nos olhos. Dispensaria ainda a nefasta televisão, não fossem os noticiários e a necessidade (que antecipo) de rever pela enésima vez as séries do Jerry Seinfeld. Fundamental, no entanto, a presença de um bom rádio, que tanta e tão boa companhia me faz nestas noites em que sonho, imagino, vejo e escrevo estas coisas sobre a reforma.
Por falar nisso, há gente com sorte: estão ali a dizer numa estação qualquer que o Rui Costa vai para o Benfica.
posted by VLX on 11:50 da tarde
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UM REFERENDO NUCLEAR: Espera-se que "a esquerda" ( PCP, BE e redacções associadas) não boicote um referendo à utilização da energia nuclear. É uma boa discussão, sobretudo porque o perigo já o temos a 80 km da fronteira (o que não significa necessariamente que o tenhamos de ter do lado de cá da fronteira), não menos importante que a do aborto. O país não pode conferir a um punhado de iluminados o direito de decidir quais as matérias referendáveis.
AINDA A IGREJA E O PROTOCOLO: Quem vive nas grandes cidades não se importará se o padre não for convidado para a inauguração de um troço de estrada ou de um campo de futebol. Noutras terras, outras gentes: a presença de um sacerdote, na inauguração de uma obra importante para uma pequena comunidade, significa o reconhecimento social da obra; logo, da gente que a fez ou que por ela lutou. O Portugal das couves, do reco caseiro, dos velhos, dos partos vaginais e da palavra de honra, pese a tendência natural para a extinção, ignora a existência de "60 confissões religiosas" ( número extraordinário) e do multiculturalismo, como tem sido obrigado a ignorar "o progresso": querem tirar-lhe a cruz sem lhe dar o ouro.
posted by FNV on 5:54 da tarde
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"O FERNANDO DAS BIFANAS": No passado dia 11 do corrente mês, anunciei aqui, pesaroso, que o Sr. eng.º Fernando Santos seria o próximo treinador do Benfica. Combinando os factores salário baixo + credulidade + benfiquismo + virgindade, só poderia ser essa a escolha. Ficavam de fora todos os grandes treinadores e o Carlos Queiroz ( 1º factor), todos os treinadores donos do seu nariz ( 2º factor), o Eriksson ( 3º factor) e o Toni ( 4º factor). Pena é que o presidente do Benfica se tenha referido ao novel treinador como "O Fernando". Não augura nada de bom, a menos que Vieira se estivesse a referir ao "Fernando das Bifanas", dono de uma roulotte (das ditas) noutros tempos estacionada nas imediações do Estádio da Luz.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.