ESFOIRAS: Enquanto a burocracia gozosa de Lisboa notifica, as ribeiras e as praias entregam-se, exangues, aos solfejos das indústrias e aos borrais das estações de tratamento (?) das águas públicas. Mas não temeis, ó campeões da reciclagem: no meter da pilha no pilhão e do vidro no vidrão, Portugal é campeão.
LEOPARDINHOS: As crias regressam à escola, provocando um pequeno tumulto na acácia: boleias, horas de refeições, articulação com actividades "extra-curriculares". O leopardo, entretido com a papelada de Bolonha, observa o frenesim materno. Vai ajudando como pode, entre duas dentadas na vitela mirandesa. Nada a fazer: elas - as crias e a mãe - nasceram para isto. Ele também.
CIÊNCIA E RELIGIÃO: O único programa de televisão que odeio, se assim posso dizer, visceralmente, é o ominoso Dr. House. Hoje aproveitei-o para ir desconversar com um amigo num bar da Alta. Chego a casa e dizem-me: "Foi o melhor Dr. House de sempre. Bateu-se contra Deus - e deu empate: 3-3". Não me admiro. A paciência divina também tem limites.
posted by PC on 4:21 da manhã
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AVISO: Contino sem acesso à caixa de correio da nau. Rogo àqueles que pretendam alguma resposta urgente a qualquer coisa que deixem uma nota nas caixas de comentários. Depois logo se combina o modo de resposta.
posted by FNV on 1:20 da manhã
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VACAS SAGRADAS:Não compreendo porque é que a biografia e o passado de Mário Soares são brandidos como cutelos de cada vez que alguém discorda dele. E não compreendo, porque entendo que a biografia, a inteligência e a imensa classe, não colocam ninguém ao abrigo de dizer disparates. Recordo-me de, em conversa com um amigo antes das presidenciais, ter discordado da ideia que Soares arriscava uma humilhação: na altura pensei, como hoje penso, que um homem como Soares, que sempre se sujeitou a eleições, nunca poderia ser humilhado numa corrida eleitoral fosse qual fosse o resultado. Hoje, entendo que Soares pode e deve ser criticado, violentamente se necessário, no plano da discussão das ideias. Pretender que se meta a viola no saco em nome da "biografia" é desrespeitar o espírito de um democrata e livre pensador.
Nota: isto é uma contradita aos meus caríssimos blogo-amigos ( se eles me permitem o abuso de confiança) João Gonçalves e Luis M. Jorge.
PARABÉNS: Ao conimbricense CITAC, que festejou ontem no TAGV os seus 50 anos. Não vou a jantares de tropa, de faculdade ou de teatro, mas contribui para o livro que assinalou a entrada na andropausa.
posted by FNV on 11:48 da manhã
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SERINGAS NA CADEIA: A decisão difícil, politica e tecnicamente, é a da criação de programas de troca de seringas nas cadeias, os needle exchange programs (NEP). A prevalência do HIV é maior no ambiente prisional - varia, dependendo dos países, entre 10 e 25% da população prisional - e a vulnerabilidade dos drogados também. As salas de injeccção assitida (SIA) , na Suiça, Alemanha e Espanha, precederam os NEP, precisamente porque estes são de mais difícil implementação, enfrentando todas as resistências que as SIA enfrentam e mais uma: os sindicatos de trabalhadores prisionais. Em 1991, o Regional Office for Europe da OMS propôs seis medidas essenciais em termos de política de redução de danos em ambiente prisional, sendo que uma delas era o fornecimento de seringas esterilizadas. Desde então, um total de 19 cadeias europeias (da UE) experimentaram os NEP, nos três países que referi. Em 1995, o Ministro da Justiça da Baixa Saxónia aprovou dois projectos piloto que arrancaram no ano seguinte. Uma cadeia com 170 reclusas em Vechta e outra com 230 reclusos em Lingen, desenvolveram NEP com todos os cuidados. Foi providenciada formação específica para os guardas e foram delimitadas as zonas nas quais as seringas se podiam trocar. Os reclusos obtinham seringas novas e desinfectante ( lixívia) em máquinas semelhantes aos dispensadores de preservativos. A monitorização do programa do programa esteve a cargo do Prof. Ossietzky, da Universidade de Oldenburg. O resultado da avaliação acabou por ser de tal modo positivo que, nos anos subsequentes, mais cinco cadeias, duas em Berlim e três em Hamburgo, aderiram aos NEP. No Canadá, a discussão está mais avançada do que em Portugal e tem trazido a público alguns factores interessantes. O Union of Canadian Correctional Officers está contra a proposta do director dos serviços prisionais, Piloma-Santini. Os guardas, dos quais 167 foram , nos últimos sete anos, picados por seringas usadas, temem que este número aumente se os NEP forem adoptados. Piloma-Santini entende que, pelo contrário, a adopção de NEP em seis dos 54 estabelecimentos prisionais canadianos ajudaria a melhorar as condições de seguranças dos guardas. Se é evidente que os NEP não constituem uma medida de fácil adopção, não o é menos que são a única forma de minorar os danos causados pelo consumo de drogas injectáveis em locais onde estas não deveriam existir.
Fontes: Kerr, T., Jurgens, R.: Syringe Exchange Programs in Prisons: Reviewing the Evidence.Canadian HIV/AIDS Legal Network, 2004. Stoever, H.:Drug Substitution treatment and needle exchange programs in Germany prisons, Journal of Drug Issues. Spring, 2004.
A LER: O Luis M. Jorge e o seu post "Calma, Odete". Quando penso que Odete Santos é uma das mais ortodoxas do mais estalinista partido comunista da UE, partido esse que só quando foi oficialmente admitido ( 1986) deixou de poder dizer que o massacre de Katyn foi uma invenção imperialista, já não me apetece escarnecer, rebater, discutir. Nada. Népias.
posted by FNV on 6:42 da tarde
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11/9: Um dos aspectos mais marcantes dos recentes documentários e filmes sobre o 11/9 prende-se com as histórias pessoais das vítimas do atentado. Não eram soldados numa qualquer guerra mas sim pessoas comuns, no seu normalíssimo dia de trabalho como qualquer um de nós que, de um momento para o outro, são confrontadas com a sua inevitável e iminente morte. Tudo isso torna ainda mais chocante o "mas" - bem identificado por JPP no seu debate televisivo com Soares - que alguns usam no seu comentário aos atentados: condena-se os atentados e lamentam-se as mortes "mas"... o "Império" estava a pedi-las. Se existe uma matriz civilizacional comum ao mundo ocidental ela deve ser defendida sem concessões. Não há justificação possível para atentados terroristas - suicidas ou outros - contra civis. Tal não significa um cheque em branco aos americanos e à respectiva política externa. Nada disso. Mas, mesmo a total discordância com essa política não deve nunca insinuar uma justificação para o que aconteceu.
LIVRES HUMORES: Quando o meu caro PC ( post anterior) comenta um post meu, isso significa que me levou a sério, o que só rararamente acontece ( risos). Mas desta vez julgo que não tem razão: " algumas provas bem esgalhadas" e documentário "até aí exaustivo e detalhado" não me parece serem expressões de desprezo apriorístico pela mencionada teoria da conspiração. Também me parece que uma teoria da conspiração, só pelo facto de o ser, não tem necessariamente de ser uma boa teoria ( sorrisos). O meu caro PC assinala , e bem, uma fraqueza humana: a de "querermos saber a verdade toda de uma vez". É certo, mas não o é menos a existência de outra característica humana: a de gostarmos de escolher as verdades, e só aquelas, com as quais somos capazes de viver. Depois há aquele detalhe que sempre me intrigou: por que motivo as teorias da conspiração são quase sempre como as bússolas doidas? Por que motivo as teses conspirativas sobre JFK, Aldo Moro, Reagan e agora o 11/9, apontam sempre a responsabilidade nubífera de forças conservadoras e capitalistas-situacionistas ? Por que motivo estou certo de que a magna questão - " a quem aproveitou isto?" - não se colocará acerca do atentado de Madrid? Estarei enganado? ( soluços).
LIVRE EXAME: A emoção é boa no amor, nas artes e no futebol. No debate, costuma atrapalhar. Surpreende-me ver gente tão proclamadamente independente, tão habitualmente interrogativa, tão intransigentemente crítica, a despachar por entre dois esgares sardónicos a chamada "teoria da conspiração" quanto ao atentado do 11 de Setembro. Claro que dói remexer em verdades cómodas. Durante a década de 80, havia uns "lunáticos" que asseveravam que Sá Carneiro tinha sido vítima de um atentado. Mais de vinte anos passados, não se sabe ainda exactamente o que aconteceu, mas já ninguém é lunático, nem anti-comunista primário, por ter essa opinião. Tudo vem do desejo fáustico de sabermos a verdade toda, definitivamente, agora. A história desmente-nos em cada ano: o conhecimento é sempre parcial (no duplo sentido de condicionado e parcelar) e provisório. Será possível pensar um acontecimento desta natureza excluindo categoricamente qualquer "e se..."? De que serve (e a quem serve) ridicularizar, como o faz o nosso FNV, hipóteses diferentes dos acontecimentos? Não será mais produtivo procurar refutá-las na mesma base - factual - em que são apresentadas, ou, argumentativamente, nas inferências que dela se retiram? Não gosto dos Denkverboten, a que o Lutz se referiu aqui, em termos que subscrevo por inteiro. Não só por razões morais, mas também porque servem muitas vezes de ninho à mentira e à falsificação. Daí a necessidade de rebater as teses que nos parecem estapafúrdias como se fossem verosímeis, sob pena de pairar sempre sobre as coisas o espectro de uma verdade existente mas inominável. A democracia não é importante nos consensos. Serve, precisamente, para as opiniões conflituantes em debates difíceis. Livre exame, com respeito pelas regras da argumentação. As emoções, aqui, são fósforos breves.
posted by PC on 2:24 da manhã
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O SÍNDROMA DE MUNCHHAUSEN: Existe um motivo suplementar para tentar encontrar Ben Laden: precisa de ajuda psiquiátrica, pois está absolutamente convencido que destruiu dois edifícios nos EUA no dia 11 de Setembro de 2001.
posted by FNV on 1:12 da manhã
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LOBO EM PELE DE CORDEIRO: Na RTP, sob o olhar prazenteiro do dr. Mário Soares e ao lado de uma Fátima Campos Ferreira desnudada em azul, o dr. Yiossuf M. Adamgy ( que já em tempos aqui trouxe) mente com todos os dentes acerca das "opções da mulher no Islão". Apesar das vestes de Fátima. É um progresso civilizacional. Num dos seus livros - "A Mulher no Islão", Ed. Al Furqán, 3ª edição, 2000, pp 43-45 - o dr. Yiossuf diz coisas como estas:
" Num mundo que tem visto os seres humanos vestirem-se desde os inícios dos tempos, a prática do nudismo toma, por vezes, um aspecto humorístico. Mais do que isso, ela sugere o eventual retorno do homem à animalidade, à vida selvagem, à total privação da vergonha e da decência. Assim, para evitar tais catástrofes, o ISLÃO exige que a mulher muçulmana cubra e proteja e seu corpo, e vá de encontro aos requisitos da modéstia , honra e virtude. (...) Que contradite com as modas ocidentais , que cada ano se concentram, intencionalmente , a excitar a mais sensualidade dos olhares públicos. Nos últimos anos, temos assistido ao surgimento do mini-vestido, da mini-saia, do cabelo molhado, das calças justas, do vestuário transparente, "topless"...( uma lista infindável), tudo destinado a expôr, ou a realçar, as partes intímas do corpo feminino. A sociedade ocidental encontra-se, infelizmente, tão apodrecida , que os seres humanos , homens e mulheres, não se sentem envergonhados de andarem despidos em público, completamente nús e, realmente, tão desnudos como peixes."
Para além da especificidade da ortografia, percebe-se melhor a tolerância de alguma padralhada para com indivíduos destes. O Diácono Remédios vive entre nós e a patrulha, habitualmente implacável com o "marialva" Miguel Sousa Tavares ou com o impagável João César das Neves, permanece sorrateiramente calada. Como convém.
UMA VEZ KHADAFY...: O autodenominado "alvo a abater", o paladino da verdade, afinal também (a exemplo de outros presidentes de outros clubes, com mais curriculum que ele nesta matéria) acha normal "combinar" os árbitros. E, quando confrontado com os insultos de um adepto no Campus Vara CGD, ameaçou os jornalistas de fechar as portas a futuros treinos caso o incidente fosse noticiado.
posted by Neptuno on 10:33 da tarde
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OLÉ! Bom futebol, ontem, na Luz: despachámos os gajos do Estrela com muito salero. Aquele Andersson foi muito bem comprado pelo sr. Veiga.
posted by FNV on 12:46 da tarde
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AJUDAR À MISSA: Os agentes de turismo da Figueira queixam-se de um péssimo mês de Setembro. Deve ser para estimular o turismo que a piscina de água salgada, situada na avenida principal, está fechada desde o passado dia 3.
posted by FNV on 12:21 da tarde
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" UMA CONSPIRAÇÃO DE ESTÚPIDOS ": Com licença de JK Toole, o documentário exibido ontem na RTP, atribuindo a autoria do 11/9 a Bush e demais corruptos, constitui o primeiro episódio. O segundo, abundantemente repetido pelo canoros da opinião, assenta neste original bidé do pensamento: as consequências militares do 11/9 "justificam" as teses purificadoras da padralhada de turbante armadilhado. Muito bem, vamos por partes. O documentário de ontem , ao qual assisti interessadíssimo, demorou uma eternidade a apresentar "provas" segundo as quais o 11/9 foi uma conspiração americana. Algumas dessas "provas" estavam bem esgalhadas, outras provocavam o riso: a temperatura do fuel a arder dentro das torres não era suficiente para derreter o aço, mas uma temperatura inferior, provocada pela existência de bombas nas caves, já foi responsável pela implosão do edifício. Adiante, que não sou engenheiro. O que eu queria era saber o "quem " e o "porquê". Eis então que os autores do documentário me revelam a luz: uma informação recolhida na Wikipédia (!!!) indiciava a presença de ouro nas caves dos edifícios. O documentário, até aí detalhado e exaustivo, colapsa em segundos: ouro-Kuwait-Bush-Rudy -pretextos -para -a -guerra e coisa e tal. Estas inanidades só são úteis por um motivo: os alegres cineastas repetiam à exaustão que "nestas coisas é sempre preciso ver quem aproveitou com o crime". Pela mesma lógica peçonhenta, no próximo aniversário dos atentados de Madrid, a RTP passará uma peça destas explicando que foi Zapatero que encomendou o atentado de Atocha. Edificante. A segunda parte do belo raciocínio põe o livro a começar a meio, como é próprio dos aldrabões. Como se até ao 11/9 , da Síria ao Irão, não estivesse já em pleno movimento um rolo compressor das mais elementares liberdades civis; como se Sourosh já não tivesse emigrado há muito; como se Naquib Mahfuz não tivesse sido já esfaqueado à porta de casa; como se os Budas milenares não tivessem sido já dinamitados; como se muitas comunidades islâmicas na Europa não estivessem já sequestradas pelos fanáticos; como se o 11/9 tivesse sido uma estreia. Entre outras razões, uma explica esta desgraça intelectual: de há 40 anos para cá que esta gente só raciocina ( perdoem-me o exagero) quando os americanos apontam o dedo. Recentemente, viajaram com os ianques para todo o lado: Sarajevo, Mogadíscio, Kabul, etc. Tenho visto gentalha preguiçosa, que nunca leu uma linha sobre a história do Khorasam, dissertar alarvemente sobre a "especificidade da resistência cultural dos pastun ao invasor ocidental". Preocupadíssimos com a confusão entre o Islão radical e o Islão pacífico, nunca gastaram um euro ou uma página com as centenas de pensadores moderados que ao longo de todos estes anos têm fugido da ditadura das madraças e se vão refugiar nas universidades ...americanas. É uma saloiada intelectual, que reage pavlovianamente sempre que os EUA mexem um dedo porque se limitam a ler o mundo pelos olhos dos americanos. O que, como se sabe, nem sempre é recomendável. Igantius Reilly, o personagem de Toole, também julgava que as suas páginas de caderninhos Big Chief continham os elementos de uma nova História comparada. Nos intervalos, rezava.
posted by FNV on 10:59 da manhã
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GLUP! Por motivos técnicos, estou sem acesso à caixa de correio da nau. Qualquer mensagem importante deve ser sinalizada nas caixas de comentários: depois contactarei o emissor. Desculpem o incómodo.
TRUGREDE: Ájax não sabe o que fazer. Não quer agradar aos Atridas, não quer sucumbir sozinho: " É uma vergonha para um homem almejar uma longa vida, se não conseguir libertar-se dos seus males ". É sempre assim: uns morrem em pecado, outros assistem. Uma terceira espécie finge não compreender.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.