Os microcéfalos saídos das palhotas - e outros animais fugidos dos pombais - comem tudo o que lhes põem à frente ( dos croquetes no camarote presidencial às sovas no aeroporto ao agente do Moretto). Algum dia hão-de tomar banho e rapar os cabelos das pernas. Os benfiquistas armados em intelectuais, como eu, gostariam de esquecer a leviandade, o amadorismo, a estupidez e a incompetência. Entretanto há que vencer os Andrades. É o começo do Mundo.
Mas eu só tinha um amor, Que encontrei murcho no chão! Calcado sem compaixão, Já não parecia uma flor! Ah! quem não teria dor De assim ver a perfeição?
( O 1º de Maio, 1847...)
posted by FNV on 10:20 da tarde
#
(0) comments
ALEA JACTA EST: Com o final da Convenção Democrata e o anúncio da escolha de Vice-presidente de McCain, a campanha para as eleições americanas terminou o seu período de aquecimento. Os dados estão defiitivamente lançados. Serão eleições históricas - o primeiro candidato afro-americano, o primeiro Presidente que vem do Senado desde Kennedy, a primeira eleição desde 1928 que não tem um Presidente ou um Vice-Presidente em exercício como candidato. É minha convicção que o resultado das eleições será mais incerto do que muitos têm tentado transmitir (na Europa, sobretudo, há muito que se estabeleceu que Obama será o inevitável vencedor - eu aconselharia muita cautela nessas previsões). Explicarei porque assim penso, durante os próximos dias e semanas.
posted by NMP on 4:38 da tarde
#
(5) comments
PARA MEMÓRIA FUTURA:
Numa equipa de futebol a defesa é o sistema renal e hepático, e o ataque é o aparelho reprodutor. O meio campo é o cérebro e o pulmão. E aqui o que temos? Yebda ( um abat-jour desengonçado), Carlos Martins ( um tresloucado) e Ruben Amorim ( um trinco de segunda linha que o sr. Flores põe a jogar a médio-ala por causa da situação na Ossétia do Sul). A concorrência dispõe de Lucho Gonzalez, Meirelles, Moutinho, Rochenback. Assunto encerrado. O sr. Rui Costa disse, em Maio, que queria ter o plantel fechado quando começasse o estágio (inícios de Julho). Neste momento - 29 de Agosto - estamos no mercado à procura de um defesa direito ( e único) para o plantel. Tanto pior para a planificação e para o rigor. Acrescento, para não ser acusado de pessimismo, que temos boas hipóteses de nos qualificarmos para a Taça UEFA se formos vítimas da onda de crimes e nos roubarem o Balboa.
posted by FNV on 11:17 da manhã
#
(8) comments
IESSÉNINE, SEMPRE:
Eu sou um moscovita folgazão e vadio. Por todo o bairro de Tverskáia, pelas ruelas todos os cães conhecem o meu andar ligeiro
Todos os cavalos roídos baixam a cabeça quando me encontram. Sou um bom amigo dos animais, Um verso meu cura-lhes a alma.
O País tem o essencial assegurado: uma excelente conjuntura internacional, boas universidades, esquadras de polícia funcionais, tribunais novos, hospitais desafogados, rios despoluídos, cidades relativamente bem ordenadas. É hora de investir em comboios de alta velocidade para Vigo. Para os percebes chegarem morninhos.
Lembras-te bem? À hora do entardecer, Começou a escurecer. O norte agudo do monte Vinha caindo às lufadas, E nisto as ondas picadas Já começando a espumar, E a recrescer empinando-se Até que enfim sobre a costa, Rugindo mais ao curvarem-se, Na costa vinham quebrar! - Que noite, que céu, que mar!
Quando o Carlos Martins estava amnésico, alguém lhe devia ter perguntado: Carlos, hombre!, o que fazes aqui? A camioneta para Huelva sai daqui a dez minutos!. Com a ajuda dos menires do Obélix conseguir-se-iam feitos notáveis. Ainda amnésico, o Luisão ouviria: Então moço? Não disseste que o teu tempo no SLB acabou? Despacha-te para apanhares o avião!. Um Cardozo a recuperar da pancada ( mas ainda amnésico) ouviria simplesmente: "Quem és tu, hombre?"
posted by FNV on 3:18 da tarde
#
(5) comments
PATHOPOLIS (II):
Um país relativamente pequeno, e que é uma das três principais portas de entrada da cocaína sul-americana na Europa, deveria possuir uma força policial autónoma para o combate ao narcotráfico. A PJ está estrangulada financeiramente ( e dilacerada por intra e extra-conflitualidade) e a droga é um útero específico e gerador de subcriminalidade variadíssima que exige uma especialização hiper-profissional. Isto liga-se ao problema das cidades e do crime urbano e suburbano. Minorias étnicas, imigrantes, desempregados e desistentes do sistema escolar são grupos utilizados pelos importadores de heroína e cocaína. É um trabalho que garante proventos rápidos e as forças policiais têm essa percepção há muito tempo. Faugeron e Kokoreff ( Érès, 2002) assinaram um estudo célebre - desenvolvido em França e na Bélgica durante os anos 90 - que confirma essa percepção. Este problema - recrutamento de pessoal e estabelecimento de micro-redes de tráfico localizadas em zonas degradas das cidades - evidencia uma das primeiras razões para a mudança: a criação de um organismo especializado no pathos urbano. Nesta série tentaremos analisar muitas outras razões, mas esta já seria suficiente para justificar a criação dessa estrutura. A pulverização de recursos, o ruído na comunicação entre agências e a inevitável competição pelo poder de actuar e de nomear, impedem que se pense a cidade. Também não é de esperar que nestas condições se possa estudar tranquilamente, pelo que o resultado é, e continuará a ser, uma série de intervenções avulsas e desconectadas.
posted by FNV on 12:35 da tarde
#
(2) comments
NO CAMPO (IV):
As cores. Verde, castanho e amarelo. Branco só os das paredes. Não há vermelho e azul só vemos se tropeçarmos. O campo é monótono como um bom professor de antigamente. Os camponeses velhos são mudos e corteses. Talvez seguir o conselho de Wallace Stevens: ver de novo o sol com olhos ignorantes.
O regojizo pela execução - quase em directo - de um assaltante de bancos existiu. Esse regojizo, para além da bestialidade humana inerente, encobre uma emoção simétrica: a da impotência perante os crimes violentos. Mas também encobre, coisa muito mais preocupante, uma raiva surda face ao discurso explicativo da violência. É um discurso eivado de pseudo teorias psicossociais - frequentemente tolas e difundidas sem critério - que provoca nas pessoas o desejo de um fim rápido e imediato. Os media, à falta de melhor, criam "a onda". Com ou sem lentes de aumento, Portugal terá mais disto. É inevitável, vem com o resto do progresso. Seja como for, o cenário é escabroso. Em 1850 existiam na Europa dez cidades com mais de 250.000 habitantes. Em 1910 já eram quarenta e oito, e cinco delas tinham ultrapassado o milhão de habitantes. Concentração de qualidades humanas. Para o bem e para o mal. Em alguns aspectos, o actual processo de crescimento das cidades não difere muito do processo novecentista e talvez por isso os sistemas de autoridade repitam a receita de então: zonas nobres e seguras para os residentes, zonas porcas e violentas para os recém-chegados e deserdados. Tal como na altura, o crime urbano não é todo igual e o crime suburbano - ou até campestre - apresenta contornos específicos; o tráfico de droga subsidia directa e indirectamente muita criminalidade avulsa. Engolir tudo de uma só vez provoca indigestão. O que é necessário é ver as diferenças. Tentarei nesta série examinar algumas, num estilo ligeiro e interessado como é próprio de um blogue. Necessário será, no entanto, que o PSD estude o assunto em vez de pedir cabeças de ministros e mais polícia.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.