1) Leio no Record ( pp20) que Pinto da Costa disse, ontem, na inauguração da Casa do FCP de Mira, que "mais vale haver uma casa pequena onde haja amor, do que um palacete onde se vive na indiferença". É. Aquelas casas onde os pais dizem (com amor) aos filhos que se reprovam na escola levam um tiro no joelho. É bonito o amor.
2) E por falar em festas, o SLB faz hoje 105 anos. É uma data boa, franca e forte. Bem sei que há clubes que descobrem certidões de nascimento numa velha caixa de munições, mas nós não precisamos disso: toda a gente sabe quando nascemos. É a vantagem de ser um clube universal.
3) Viram o jogo ontem? Então já sabem. Se pertencem a uma das melhores escolas do mundo, se conseguem fazer com que o Maradona vos venha ver de propósito, se são campeões olímpicos e se têm o melhor pé esquerdo do futebol luso, não há que enganar: acabam no Benfica a jogar a ... extremo-direito.
posted by FNV on 10:31 da manhã
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UA NOITE DE CHUVA (XVI):
A tristeza andava triste. Ajoelha-te e fala comigo. Um longo olhar fez sombra aos suspiros. Serve-me e conquista-me, ouviu a tristeza. Regressemos então ao tempo. Não atender o banco, não ouvir os miúdos, vender o carro. Fingir que saímos, fingir que não estamos nus. É uma tristeza comida ao sol.
Há que ver a coisa pelo lado positivo: ao menos agora essa gente só faz batota com os regulamentos. Já não é mau.
posted by FNV on 11:59 da manhã
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FUGAS DE INFORMAÇÃO:
Segundo o jornal Público, o Procurador-Geral da República teria defendido junto da Directora do DCIAP (que rejeitou a ideia, por considerar “não existirem ainda condições”) o levantamento do segredo de justiça do caso Freeport para acabar com as especulações e constantes fugas de informação sobre o inquérito. Isso poria fim às “insinuações” e “informações incorrectas” que têm sido divulgadas, até porque o Ministério Público tem de respeitar o segredo de justiça. “o que é muito difícil em Portugal”. Considera o PGR que “é preciso apurar quem faz continuamente essas fugas de informação” (tudo o que está entre aspas vem assim no jornal Público).
Ora bem. Se o PGR está preocupado e considera as notícias vindas a público fugas de informação é porque elas têm um fundo de verdade e não são, por isso, especulações, insinuações ou informações incorrectas: se assim fossem não estaria preocupado, não ligaria nem se preocuparia em tentar descobrir quem possibilitaria essas fugas de informação nem abriria inquéritos nesse sentido.
Segundo ponto: até se admite, por razões humanas, que seja difícil garantir o segredo de justiça. Já que o PGR resolva o problema num concreto caso abolindo o segredo de justiça se torna coisa inexplicável quando em inúmeras outras situações o exige, obriga e consegue.
Terceiro ponto: sejam quais forem as leis que nos regem, é público que o Ministério Público quase tudo pode e consegue numa fase de inquérito (não só as divulgações que se divulgam como situações outras que nos repugnam: se não fosse a clubíce futebolística, quem em Portugal admitiria ser escutado nos seus telefonemas durante sete meses sem que nada de errado se passasse, apenas porque apetece ao Ministério Público ou porque se é denunciado por uma antiga namorada?).
O Ministério Público tem todas as condições legais para levar a cabo com êxito o seu trabalho e em segredo suficiente, se o souber guardar. Se não o consegue fazer, não culpe os árbitros nem aqueles que fazem as regras, é mau perder.
posted by VLX on 12:31 da manhã
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DÚVIDA RAZOÁVEL:
Aqui há dias, em declarações ao Correio da Manhã (não sei se em entrevista combinada se apenas por se ter cruzado com um jornalista com um microfone na mão numa movimentada passadeira da capital), a Procuradora-Geral-Adjunta Maria José Morgado queixava-se das leis, que favoreceriam a corrupção. De entre elas, normas que diferenciariam os prazos de prescrição e que poderiam ter a ver com o caso do outlet de Alcochete. Até pode ser que tenha razão, mas fica por explicar a razão pela qual o Ministério Público, face às normas que deveria conhecer, ficou quieto nas investigações relativas ao caso durante uma porção de anos.
Sobre os beberetes das inaugurações do governo, João Faria, em entrevista a Paulo Rangel, perguntou se o PSD iria ficar apenas pela denúncia ou se iria mais longe. Paulo Rangel não respondeu de imediato, como é seu hábito. Fiquei com a ideia de que, por momentos, lhe apeteceu dizer: "agora façam os senhores o vosso trabalho..."
posted by VLX on 11:13 da tarde
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E, NO FUNDO, A RAZÃO É EXTRAORDINARIAMENTE SIMPLES:
Os dirigentes desportivos das equipas portuguesas derrotadas invariavelmente culpam terceiros pelo sucedido. Ora são forças ocultas, ora favores nunca confirmados, um deles criou até o hábito de chamar semanalmente a polícia. Mas a culpa dos insucessos nunca é dos dirigentes, nem dos jogadores, nem da equipa como um todo. Quando muito, chuta-se um treinador borda fora e não se fala mais nisso. Certa e determinada comunicação social também não ajuda, não só porque embandeira em arco à primeira exibição positiva como, principalmente, porque quando o assunto merece festa não a sabe terminar a tempo.
Isso é mau para os adeptos, que acreditam na coisa, embriagam-se com ela e não se orientam no essencial, que seria exigir dos dirigentes e dos jogadores profissionalismo. Mas, pior que tudo, é mau para os jogadores, que esfuziantes com o excesso de confiança, as palmadinhas nas costas em demasia, entram em campo como se fosse apenas para serem festejados e receberem ovações, como se a vitória já cá cantasse, e não para jogar e conquistá-la.
Isso já aconteceu este ano com o Benfica, quando ainda andava na Taça UEFA, e aconteceu agora na Champions com o Sporting, com quem até simpatizo. Teve, no fim-de-semana passado, uma belíssima exibição (embora o adversário já tivesse conhecido melhores dias - dizem-me, eu não sou assim tão velho...). O adversário derrotado chamou, como é useiro e vezeiro, a polícia para cuidar do roupeiro ou lá quem era (pelo menos desta vez não fez cenas no túnel, como é costume).
Ora, nos dias seguintes, a comunicação social lisboeta clamava que Liedson (que à força quer pôr na selecção) e Derlei iriam desfazer os alemães (soube agora, com enorme espanto, que o Sporting nunca tinha ganho a nenhuma equipa alemã, na Champions). Andou-se nisto três ou quatro dias, com primeiras páginas fenomenais. Os jogadores devem ter posto os pés em campo com o ego na lua: jogar assim é difícil, mas a culpa da derrota por cinco atirou-se ao metro e noventa de um jogador, ao fora de jogo de outro (acontece) e a mais não sei o quê.
Se abrissem bem os olhos, perceberiam que a Champions não é a feijões e que a carreira do Futebol Clube do Porto na Champions não é por acaso. Em Portugal, só o Futebol Clube do Porto tem demonstrado traquejo, experiência e qualidade para jogar na Champions sem envergonhar (para dizer o mínimo e não embaraçar as outras equipas). Com sucesso e regularidade. E, para quem joga assim na Champions, é natural que domine anualmente o campeonato nacional: tudo o resto é foguetório de quem convive mal com a derrota anual.
Mas muitos, cegos, preferem continuar a ouvir as desculpas esfarrapadas dos seus dirigentes para as derrotas nacionais. Por mim tudo bem: enquanto assim for não corrigem os erros e a caravana passa.
Adenda: Como é evidente, não quero com este texto defender que, face à categoria exibida anualmente pelo FCP na Champions, seja completamente impossível que outras equipas portuguesas consigam obter do FCP, no campeonato português, algum sucesso. Não me esqueço de que o Leixões já lhe ganhou, que o Sporting lhe pode ganhar no próximo sábado, que até o Benfica conseguiu este ano dois brilhantes empates pouco esperados: todos sabemos que qualquer equipa se tenta agigantar e aparecer quando defronta o FCP. Mas é raro suceder, isso é um facto.
Por vezes não é tanto o que somos, mas o que representamos. A atitude de MFL - a sua relação com os eleitores - ultrapassa as limitações da personagem. Não lê Sartre à varanda nem Gide ao almoço? É provável. Não é excepcionalmente desenvolta a tagarelar? Talvez. Não é bela nem jovem? Certamente. Então o que representa? Pela negativa, uma ruptura com o PSD-chiclete, com o PS surreal e com o tom geral dos media:
1) O PSD-chiclete vem embrulhado nos autarcas eternos, autênticos marajás que tropeçam na realidade de cada vez que saem do sultanato. Um caminho vicinal não é uma auto-estrada. 2) O PS surreal , recorrendo a uma imagem de Hannah Arendt, é uma quantidade de gente sentada a uma mesa - o dinheiro para a propaganda - que subitamente desaparece. O PS vive hoje com uma única obsessão: fingir que a mesa não desapareceu. 3) Os media - o tom geral - cantam a rapariguinha do shopping matriculada no BE. Não estão para maçadas nem dispostos a pensar. Os assaltos na Brandoa, as causas fracturantes as canelas do Ronaldo cumprem a função. Perfeitamente.
A situação é teoricamente tensa porque vão faltar pequenas e grandes coisas. Os livros dizem que nestes casos a tentação de seguir o líder é mais forte, mas também mais reversível. O pressuposto messiânico ( Bion) da (in)consciência grupal de que o líder beneficia pode virar-se contra ele. Sobretudo se o líder continuar a prometer contra a realidade e não apesar dela. Pela positiva, o que MFL representa - ou pode representar - terá nos eleitores o efeito de um xarope amargo: o confronto com a realidade. Do que somos e do que teremos que ser. Não é nada fácil ganhar eleições dizendo às pessoas que têm vivido acima das suas possibilidades e que terão de aprender a distinguir o essencial do acessório. Depois do fecho do Milano Sera, em 1955, Feltrinelli desenhou um novo jornal. Em carta ao Partido Comunista, Feltrinelli dizia* que o novo projecto teria de ser livre de qualquer herança de iniciativas anteriores e desligado da tradição dos jornais oficiosos. O projecto de MFL, no que diz respeito à representação que os eleitores farão, terá de passar por aí: em ruptura com o passado manso e livre da língua de pau.
* Senior Service, Ambar, 2002
posted by FNV on 11:43 da tarde
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ANTENA ISLÂMICA:
posted by FNV on 5:44 da tarde
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OS SETE MAGNÍFICOS:
E porquê Vigo?
Porque lá, a mesma colónia pela qual cá pedem 54 € custa 35 (pelo que com apenas dois frascos, que aguentam perfeitamente até à véspera do 26 do 4, fica logo paga a viagem). Porque o gel de 4,40 fica por 3,15. O sabonete de 3,29 sai a 2,5. E ainda nem entrámos no Clube Gourmet.
Além disso, Vigo traz-me sempre fabulosas recordações futebolísticas, fico logo com vontade de ir rever os 7 magníficos.
posted by FNV on 10:42 da tarde
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UMA NOITE DE CHUVA (XV):
Era um caso obscuro. O juiz mandou ligar os holofotes e as zebras correram à desfilada. Chamaram o dicionário a depor. Que não. Só falava se lhe dessem as letras esmagadas com uma colherzinha. Os passageiros da cadeia também querem mais. Casos obscuros para guardarem debaixo do colchão.
A diferença entre isto e isto é terrível. O governo sabia perfeitamente que as falências e despedimentos dos últimos meses de 2008 não podiam resultar noutra coisa. Facto que até um ignorante destas matérias - como eu - compreende. O governo não assumiu a situação porque quer ganhar eleições. Se em vez de "interesses estrangeiros" puséssemos "interesses partidários", noutros tempos e noutros lugares isto seria alta traição
Tenho acompanhado, aqui, no Mar Salgado, e desde o início, a aventura comunicacional de Manuel Ferreira Leite. Uma coisa deslocada possui um encanto especial: ilude a ordem e ilude quem (nos) ordena. Os san- ch'u devem a sua beleza literária a essa indefinição. 2009 vai ser produtivo para os que se interessam pelas representações que o público faz das mensagens políticas. E vai ser particularmente produtivo por causa da ansiedade que a crise económica evoca: os comportamentos, as atitudes e os efeitos estarão sob outro olhar.
Os psicólogos sociais granjearam prestígio no primeiro quartel do século XX com as histórias das massas. Le Bon até começou antes ( 1900, se não me falha a memória), Freud aproveitou-o, Reich também ( com o Psicologia de Massas do Fascismo) e depois os behaviouristas deram uma ajuda: as multidões ( as foules de Le Bon) são um organismo com comportamentos programados. Gramsci , o cirurgião dos grupos dominantes, criou a figura do intelectual orgânico - o "dirigente" ( permanent persuader nas traduções inglesas): uma produção automática de influência, uma espécie de computador central cuja função é programar as "massas" e reprogramar-se a si mesmo. Lenine, Hitler e Mussolini esculpiram uma estética que Benjamim resumiu a propósito da Revolução Francesa : na tarde do primeiro dia de combate verificou-se que em vários locais de Paris , independentemente e no mesmo momento, se tinha disparado contra os relógios murais. Depreende-se que tenham ficado todos com a mesma hora, tão evidente foi a suposta sincronização. Este insignificante vol d'oiseau teve por alvo ilustrar uma convicção antiga da psicologia social: a identidade das multidões, das "massas". Era bom mas acabou-se, e é hoje ridículo ouvir caboucos definir a política como " comunicação de massas". Nunca foi - é a arte de governar a cidade - e já não há "massas". O que há hoje? Uma miríade de pequenos grupos que pontualmente exibem interesses comuns. A torrente informativa impede a formação reticular das antigas "massas" - Gramsci não conseguiria escrever hoje o seu código de influência. A genética da politeia sucumbiu, naturalmente, à luta inter-grupal. Mas tempos difíceis acordam memórias distantes. 2009 vai opor uma encenação para o poder ( Sócrates e Passos Coelho) a uma conquista da cidade ( MFL). Vamos ver. (cont.)
posted by FNV on 5:51 da tarde
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STASIS BENFIQUISTA:
Uma das coisas fascinantes no Sobrinho da Tia Lola é aquele ar de quem acabou de chegar. Hoje teve "desde o início a sensação de que a equipa não estava bem posicionalmente".
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.