Não é só nas falésias que ignoramos as letras. Os casais também desaguam nos consultórios porque deixaram de comunicar. O sr. Freitas, ao volante, lê stop e acelera. As livrarias estão cheias de lixo ( lá mais para trás encontram-se coisas boas). Uma cultura hiper-comunicacional, inchada de SMS, telemóveis, correios electrónicos e twitters, não parece atribuir grande valor à palavra. Pode-se apontar algumas causas. Prefiro outro caminho. Quando a política substituiu a religião, a palavra deixou de servir para orientar. Desde então que comunicamos muito mal, o que não acontece, por exemplo, no Islão musculado. O problema não está, portanto, nas técnicas que desenvolvemos, está no fracasso delas. Elas não resolveram nada, coitadas. Se enviamos dezenas de SMS por dia, provavelmente elas significam pouco. Se ignoramos repetidamente um aviso - que está lá para nos salvar e para salvar terceiros - e não nos acontece nada, é certo que tenderemos a ignorar outros avisos semelhantes. Se passamos um filme inteiro agarrados ao twitter, também podemos estar numa sala de aula agarrados ao telemóvel. A este propósito - a disciplina na sala de aula - os nostálgicos de um qualquer tempo que não conheço fariam bem em atentar em Tácito*: Agora (...) os professores atraiem os discípulos, não pela severidade da disciplina, não pela experiência do talento, mas pela solicitude nos cumprimentos e pelas atracções da lisonja. Como bem sabem os fanáticos e os educadores de cães, a palavra tem de ser associada a um acto. A nossa cultura, mais do que fracassadamente hiper-comunicacional, está des-actualizada.
posted by FNV on 4:59 da tarde
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CREDIBILIDADE:
Os socialistas e os súcias que nos mais diversos blogues esperam e aguardam benesses e recompensas pela fidelidade canina não estão a ver bem a coisa: é tudo uma questão de credibilidade. E os portugueses não são burros: se lhes apresentam, de um lado, a versão de Belém, e, de outro, a versão de S. Bento, por mais latidos que sejam dados os portugueses sabem bem ver de que lado está a verdade. E realmente é mais fácil acreditar em alguém que tem uma vida pública, longa, transparente e sem problemas, do que naquele cuja vida, apenas distraidamente folheada, é uma confusão de confusões, trapalhadas, bizarrias e situações inexplicadas. Sócrates queixa-se de Belém. Eu acredito mais no silêncio de Belém do que nas patacoadas de Sócrates. E a maioria dos portugueses também, tenho a certeza.
Consultem os registos fossilizados da blogosfera. Leiam o que a esquerda ilustrada dizia sobre Chavez. A única coisa digna de nota é o facto de Chavez não ter escondido nada. Desde o início. A conclusão é óbvia: as lágrimas de crocodilo pelos "excessos" ( eufemismo para genocídios) dos regimes comunistas foram poucas e secaram depressa. A desculpa de outros - "na altura andávamos na escola" é ainda mais sinistra.
Esta inventona também é muito séria e muito grave. Não se compreende o silêncio do ex-titular da pasta do Ambiente. Dá azo às mais variadas especulações. É um écran de fumo, uma nuvem de gaze, uma baforada de nevoeiro.
Pseudónimos, anónimos, heterónimos. Aqui estão os comentários do "João Coisas" no post do 5Dias. Também fiquei com a ideia de que o "Coisas" era um art director (sic) contratado pelo blogue oficial do PS. E não vi mal nenhum nisso. Não entendo esta reacção de Fernanda Câncio ao texto de Pacheco Pereira, pois o essencial da frase seleccionada pela Fernanda é isto: um art director , que não vota PS, colabora no blogue oficial do PS. Eu também presumi que seria uma colaboração remunerada, uma vez que o tal art director não vota PS. Uma vez mais, não vejo mal nenhum na coisa do "Coisas". Estas coisas não me emocionam por aí além. Sendo um veterano da blogosfera, continuo a preferir um registo solitário e desalinhado. Já me disseram que é porque não sou de fiar na hora de saltar para a trincheira ( é verdade, prefiro saltar para fora da trincheira), já me disseram que não expresso solidariedade de forma conveniente e que não me comprometo. Talvez, mas como não espero nada e recuso tudo, acho que o balanço é razoável. Uma coisa sei: o alinhamento excessivo, a histeria agressiva das causas e a colectivização não fazem nada bem aos blogues.
Em Junho último, no mesmo café em que acabámos o liceu e fizemos a faculdade, diante de um par de cervejas, um amigo perguntava-me levemente irado: "Mas quem é Manuela Ferreira Leite?" Esse meu amigo tem ocasionalmente acompanhado o que desde 2008 aqui tenho escrito sobre MFL e eu esperei por essa pergunta. No número anterior demonstrei que MFL não fez nada para vir a ser PM. E ainda bem.Agora teremos de partir pedra. MFL não é uma académica brilhante, não tem sido uma política excepcional, não ganhou fama ( nem sustento) como comentadora nos media, não se deixa fotografar a ler um livro com cara de quem está a ler os classificados. Certíssimo. Um dos mais antigos genes da democracia é a vulgaridade. Em Atenas, a tiragem à sorte para compor a boulê garantia que vinha sempre do povo a força inspiradora da cidade. Esta vulgaridade deve ser lida como simplicidade, como elemento aleatório e não planeado ( a democracia foi instituída sobretudo contra a monarquia). Lembrem-se disto quando os vossos esbugalhados olhos lerem os resultados do próximo dia 27 de Setembro.
Juntem dez jornalistas, dez cientistas sociais e dez especialistas em marketing político. Enfiem-nos numa sala espaçosa e confortável, ofereçam-lhes champagne e caviar ( pode ser espumante e sucedâneo que eles não notam a diferença). Peçam aos vossos convidados que cheguem a acordo sobre as cinco principais características que um candidato a PM tem de exibir se quiser ser eleito. No final do dia escutem os vossos convidados e constatem que Manuela Ferreira Leite não possui nenhuma delas. E há mais. MFL não preparou durante anos o assalto à presidência do PSD, não se "posicionou", não fez a corte aos vossos convidados. E ainda mais: nas directas ( antes de se saber os resultados) era apenas uma figura ornamental. Ou seja, MFL não fez nada do que deveria ter feito caso ambicionasse desesperadamente ser chefe de um partido e depois PM. Um líder para tempos difíceis tem normalmente este pedigree.
De novo me tornei semelhante. Meandros, castanheiros de outono, folhas aspérrimas estavam novamente. Mais uma vez teria de entregar o coração ao bucolismo, o tempo a conjecturas.
( Visões Mínimas, 1968-1974)
posted by FNV on 10:00 da manhã
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TUDO AO CONTRÁRIO (V):
Hugo Mendes, no Simplex, critica uma entrevista que um fiscalista do PSD concedeu. E critica bem. É evidente que 5800 €/ mês em Portugal não significam o mesmo que em Inglaterra, portanto, por cá, 5800€/mês não significa classe média baixa. Não sei se o entendimento do PSD é coincidente com a do fiscalista. Se é, estamos mal. Não me refiro à tributação - não sei o suficiente sobre política fiscal -, mas à visão do país que se deita ao lado destas contas. É-se pobre , ou remediado, ou rico, dentro da mesma cidade. Podemos não conseguir corrigir as desigualdades, mas podemos , ao menos, respeitá-las. Como dizia Montesquieu: A opulência está nos costumes e não nas riquezas. Estas coisas é que são importantes, para mais quando pode vir aí a crise do crédito mal parado, o tal crédito que tem permitido sobrevivência, mas também opulência. Estas coisas são muito mais importantes do que o orgulho da fleur au fusil que tanto tem excitado bloggers sedentos de medalhas e penachos.
É expressamente proibido acreditar que o casamento deve ser entre uma mulher e um homem. Cheguei a isto através do Jamais ( vejam o vídeo) e fiquei mais rico no meu conhecimento sobre o progresso civilizacional: a Miss California não disse que queria prender, perseguir, ou matar os homossexuais que se querem casar. Disse apenas que tinha sido educada de certa forma e que acreditava no que lhe transmitiram. Agora é uma "cabra homofóbica com meio cérebro". Lamento não me indignar com isto. Estou absolutamente conformado e à espera que me enviem para um laogai.
Mais uma. Num parque de estacionamento, para não variar. Pouparam as pernas porque businessi é businessi.
posted by FNV on 2:16 da tarde
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STASIS BENFIQUISTA:
Um ídolo: Filipe Escobar de Lima, do "Público". O que ele escreveu sobre o jogo de ontem: "A sério, o Benfica ainda não ganhou nada". Quando for grande quero ser pago para ser tão perspicaz como o sr. Lima.
posted by FNV on 1:05 da tarde
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TUDO AO CONTRÁRIO (IV):
posted by VLX on 3:38 da manhã
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JÁ LÁ VÃO OITO DIAS:
Passou uma semana e continuo sem saber o que acha a ERC do artigo publicitário assinado por Sócrates e publicado no Jornal de Notícias.
posted by VLX on 2:43 da manhã
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NOVIDADES DE CAMPANHA:
É uma novidade um Primeiro-Ministro apresentar-se em campanha com um chorrilho de novas promessas ao invés de invocar a obra feita. O que o Partido Socialista e Sócrates estão a fazer actualmente é o melhor indicador de que nada têm de relevante para apresentar à população depois do maior período de controle governativo em democracia.
Com o natural pedido de desculpas ao leitor pela dimensão do título do post.
Post Scriptum: por qualquer motivo não se consegue a ligação. Refiro-me aqui ao post de João Galamba, no Jugular (que podem atingir nos endereços da esquerda aí à direita). Uma perfeita imbecilidade completamente injustificada.
posted by VLX on 2:33 da manhã
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COMO ESTRAGAR A SAUDADE:
Raul Solnado, com quem simpatizo imenso, era um humorista sério que soube envelhecer com imensa graça (o que é extremamente difícil, como nos comprova semanalmente e há anos Herman José). E fez e preocupou-se com os seus (a Casa do Artista é uma obra ímpar). Percebo as capas de inúmeras revistas e jornais, o choro e a saudade das pessoas. Mas os excessos anacrónicos das televisões causar-me-ão sempre repulsa neste tipo de situações: estarem a RTP 1 e a RTP-N, por um lado, e, por outro, a TVI e a TVI 24 a tarde toda a darem ao mesmo tempo o mesmo directo dá seca e não se compreende.
do Benfica, claro. Como já se acha campeão deixou-se empatar também para fingir alguma competitividade neste campeonato da bola já decidido pela a dita.
1) Só os imbecis é que não percebem que o Cardozo é um grande ponta de lança. A forma como ele salta às bolas altas recorda-me a minha tia Olinda. E só falhou o penalti porque foi mal servido: a bola estava dois centímetros desviada para a esquerda e a baliza estava obstruída.
2) O sr. Rui Costa é um director desportivo notável. Segunda época e nenhum defesa lateral. Isto mostra a capacidade de estudo e de análise do sr. Rui Costa. O que quer dizer "defesa lateral"? É um defesa que joga de lado? É o defesa que está ao lado? Será um homem que produz efeitos colaterais? É preciso estudar primeiro e decidir depois.
posted by FNV on 10:14 da tarde
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A GOSTO (IV):
Entre 1721 e 1795 três projectos de paz perpétua foram gizados. Saint Pierre ( Abbé), Bentham e depois Kant: Projecto para uma Paz Perpétua, Plano para a Paz Universal e A Paz Perpétua. Mas quem primeiro utilizou a expressão "paz perpétua" foi Nicolau de Cusa ( nascido Krebbs) em De pace fidei, publicado em 1453. A páginas tantas *, Pedro explica ao Persa os poderes de Cristo e garante que também os árabes reconhecem esses poderes. O Persa diz que sim, mas que " será muito mais difícil levar os Judeus do que outros a acreditarem nisso, porque eles nada aceitam relativamente a Cristo". Pedro responde dizendo que "a resistência dos Judeus não impede a concórdia, pois são poucos e não poderão perturbar com as armas o mundo inteiro". As Guerras Napoleónicas e a Guerra da Crimeia não pareceram importar-se muito com os tais projectos, mas as recomendações de "Pedro" foram proféticas: os judeus continuaram docilmente sem armas até 1948. Agora têm armas, e um país, já não são aniquilados, mas não pretendem perturbar o mundo inteiro.
* Edição Minerva/ Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da UC, Coimbra, 2002.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.