HAMSTER: Regressado de férias e perante um computador a sério não poderia deixar de circular pelos blogs e, de entre estes, pelo nosso querido Causa Nossa (link à direita) para ver as novidades. Aos mais providos de sentido de humor, sugere-se um passeio por lá só para verem o entusiasmo e a proliferação de textos de Ana Gomes sobre o caso das cassetes, escritos na semana passada: as insinuações são imensas e a excitação é tremenda. Confesso não ter fontes tão abundantes nem o assunto me excitar tanto (já nem tenho idade para isso) mas acreditem que a coisa tem piada, lida à distância de hoje: aconselho a consulta. Pena é que de toda a montanha de questões aí desenvolvida da realidade só tenha resultado um pequenino rato, um pequeno e fofo hamster, rosadinho e branco. Melhor sorte para o próximo capítulo do assunto, é o que se deseja.
posted by VLX on 1:55 da manhã
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O ACESSÓRIO III: Depois vem «o caso das cassetes», de imediato transformado numa violação do segredo de justiça (coisa que só incomoda quando incomoda...). A acreditar no best of publicado pelo Independente, fica-se sem se perceber qual o segredo que ali estaria a ser violado por qualquer dos intervenientes nas conversas telefónicas, dado que elas se resumiam a situações que eram já do domínio público e não se descortina (o defeito poderá ser meu) que informação desconhecida terá sido passada por algum responsável. Talvez, com algum jeito, se avente aqui ou ali uma ou outra mensagem menor e insignificante na generalidade do caso, mas nada de relevante.
Fica-se apenas a saber que um Director da PJ fala irreflectida e disparatadamente com um jornalista seu amigo sobre assuntos que não devia debater e que a assessora para a imprensa do Procurador-Geral (ela própria uma jornalista) faz o mesmo (embora aqui as suas funções fossem exactamente falar com a imprensa). Se aquilo era o best of, valia de muito pouco. Bem menos do que outras gravações já vindas a público e que incluíam factos e personalidades muito mais marcantes da nossa vida política. E calão, o que dá sempre uma graça. Mas sobre o principal, zero.
O ESSENCIAL III: Acontece que, neste caso, o principal não é tão limitado como isso: temos um jornalista (cuja carreira certamente terá terminado) que grava as conversas que mantém com as suas fontes, sem as avisar, e que guarda descuidadamente os respectivos registos ad eaternum, sem justificação; temos um jornal (cujas fontes certamente diminuirão drasticamente) que não possui medidas mínimas de segurança para proteger os seus registos ou os dos seus colaboradores (bastaria um cofre); e um jornal (o mesmo) de onde qualquer coisa pode ser furtada.
Temos uma comunicação social em crise (só talvez o DN e o Expresso compreenderam verdadeiramente este perigo) porquanto as inúmeras fontes que claramente possuía irão desaparecer ou reduzir-se substancialmente nos próximos tempos (e nunca mais serão oferecidas pelo telefone...); temos um outro jornal que publica registos alegadamente furtados, temos um político que reaparece das cinzas para uma vez mais se insurgir contra os mensageiros e contra a alegada violação do segredo de justiça (sobre a qual tem uma particular posição, sobejamente conhecida), mais do que contra a mensagem propriamente dita.
Enfim, temos mas é a nítida e impressiva sensação de que, passados trinta anos, tudo o que se passa é só fumaça, é só fumaça... Desta ver para atacar a credibilidade de um processo judicial, isso não há dúvida nenhuma: mas querem enganar quem?
posted by VLX on 12:38 da manhã
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O ACESSÓRIO II: Face aos aumentos do petróleo, o líder da Associação dos Revendedores (julgo que se chama assim), António Saleiro, vem a público dizer que em virtude da diminuição das margens de lucro, tornar-se-á impossível aos revendedores de produtos petrolíferos continuarem a garantir o crédito aos municípios e a diversas entidades (crédito esse cuja estranha concessão ficámos a conhecer). O Presidente da Associação dos Municípios, Fernando Ruas (também Presidente da Câmara de Viseu), ripostou de imediato dizendo que se os revendedores de gasolina cortarem o crédito aos municípios, estes revoltar-se-ão contra aqueles, fazendo-lhes a vida negra, perseguindo-os e até encerrando alguns estabelecimentos.
O ESSENCIAL II: Sempre que numa bomba de gasolina pago com cartão de crédito (local onde geralmente só se aceitam cheques visados), são-me cobrados 50 cêntimos sob o argumento de que não têm margem para os juros ou taxas dos cartões. Porque carga de água esses mesmos estabelecimentos andam a conceder crédito aos municípios? Quem negociou, quem autorizou? Não havendo almoços de graça, que se passa em troca? Por outro lado: vivemos num país regulado por leis, claras, transparentes e iguais para todos, ou num país em que quem tem o pau na mão pode ameaçar os particulares, exigindo-lhes crédito? Que chantagem é esta? «Ou me dás crédito ou encerro-te o estabelecimento?...» Com que fundamento legal? Só por perseguição? E pode-se? E se o fundamento legal para o encerramento já existia, porque não está o estabelecimento encerrado? Será porque dá crédito à entidade licenciadora? E será assim com tudo? «Ou me dás crédito ou o teu processo vai para o fundo do monte?...» Bonito, bonito. Sobre isto que é importante, não se ouve um ai...
posted by VLX on 12:32 da manhã
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REGRESSO: Regressa-se de umas pequenas férias, de um curtíssimo período em que deliberadamente se esteve longe da realidade, em que não se leram jornais nem se viram ou ouviram noticiários e o reatar do contacto com o mundo real é assustador e repugnante!
Fica-se com a ideia de que as pessoas se andam apenas a preocupar com o acessório mas nunca com o essencial; ou, o que é mais grave, que se cingem ao secundário para esconder o principal. Repare-se.
O ACESSÓRIO: Folheando ao acaso jornais mais antigos, logo numa primeira página regista-se que João Soares afirma que Sérgio Sousa Pinto lhe disse que iria ser roubado nas eleições (pelos próprios colegas de partido, obviamente). Os restantes candidatos fecham-se em copas e o mensageiro insurge-se unicamente por ter sido revelada uma conversa privada. Quanto ao essencial, nicles.
Ainda na imprensa escrita, uns dias mais tarde mas já num pé de página, João Soares, o mesmo João Soares (sempre João Soares), adianta que conviria averiguar os rendimentos dos seus colegas de partido, nomeadamente para os comparar nos momentos anteriores e posteriores à sua saída do governo. A sugestão não tem nada de subtil mas os seus colegas, alguns aos pulos, soltando uivos de dor e agarrados às canelas, continuaram aferrolhados em copas e nada disseram, apenas tendo assobiado para o ar. Quanto ao fundamental da acusação, népias.
O ESSENCIAL: As acusações de João Soares são terríveis e, como ele não identifica os responsáveis, as suas suspeitas mancham todos os socialistas, em particular os antigos governantes e os actuais responsáveis do partido. Eu não conheço o interior do PS tão bem como João Soares para avaliar o rigor do que ele afirma mas se fosse socialista estaria naturalmente indignado e exigiria que ele se esclarecesse (e nos esclarecesse) ou se rectificasse de imediato. O que resulta principalmente destes bizarros episódios é que um dos concorrentes à direcção do PS não se ensaia nada para desferir golpes abaixo da cintura e que os restantes concorrentes aceitam-nos sem enxovalho, provavelmente para não sofrerem pior. Aquela gente ainda mete muito medo...
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