HOJE É TUDO FEITO A TROUXE-MOUXE E É PENA: O EXPRESSO e a TEXTO EDITORA oferecem hoje com o jornal um mapa de Portugal e propõem-se oferecer nas próximas semanas um mapa do mundo e um dicionário de português em cd-rom, o que me parece uma ideia simpática e pedagógica. Ia até colocar o mapa de hoje no quarto das crianças quando reparei que em Arraiolos estava escrito Arroiolos...
É inacreditável a falta de cuidado com que hoje se fazem as coisas, tudo em cima do joelho e atabalhoadamente, e é inconcebível que ninguém da Texto Editora ou do Expresso reparasse no facto e se tenha deixado que a coisa saísse para a rua assim.
É claro que o mapa foi de imediato feito em pedacinhos e atirado para o cesto dos papéis, onde aguardará calmamente a companhia do mapa mundo e do cd-rom, cujo rigor na elaboração deve ser semelhante pelo que não merecem destino diferente.
BOA EDUCAÇÃO: A progressiva degradação do nível educacional da população estará na origem da nossa degradação como país, a todos os níveis, cada vez mais afastados dos índices civilizacionais europeus. Penso que a face mais visível dessa degradação é a cultura da desresponsabilização que vem reinando nas últimas décadas, a qual se reflecte no não funcionamento da justiça, no não funcionamento das instituições públicas, em geral, na baixa produtividade (um contrato de trabalho é encarado por um português da mesma forma que um alemão encara a reforma, tal a super protecção legal do trabalhador), na má qualidade do ensino, etc. A triste verdade é que os portugueses deixaram de acreditar na responsabilidade, já que esta raramente acontece - seja a responsabilidade política, seja a jurídica. E assim, resta-lhes um individualismo feroz, uma cultura de salve-se quem puder ou mesmo e apenas um profundo desinteresse (esgotado o desencanto dos primeiros anos) por tudo o que diga respeito à comunidade.
É sabido que a boa formação de qualquer pessoa será tanto melhor consoante a melhor qualidade dos exemplos que tenha a sorte de usufruir em casa e na escola. Transportando a realidade da pessoa para a população como um todo, a boa formação da população será tanto melhor consoante a qualidade do exemplo de quem a governa. Habituada a exemplos como o da recente (não) colocação dos professores, parece-me inquestionável que a população vem sendo providencialmente abastecida pelos seus governantes de motivos mais do que suficientes para não cumprir as suas obrigações ou, pelo menos, para não as desempenhar com o brio e eficiência que a situação do país exigiria.
Por muito que se apontem diversas causas para a balda a que se chegou, parece-me que não haverá muitas dúvidas quanto aos principais responsáveis.
posted by Neptuno on 6:04 da tarde
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JERRY SEINFELD: Épocas de excesso de trabalho têm destas coisas: só agora tive oportunidade de folhear jornais e de ler no Indy e no Expresso da semana passada as confusões do enterro de Nunes de Almeida e que Sampaio abriu as portas da Basílica da Estrela, confirmar que efectivamente nesse templo se fez uma qualquer cerimónia maçónica, de ver no Diário Económico que Marcelo Rebelo de Sousa não se incomoda nada com isso, de reparar que por qualquer motivo estranho algumas pessoas andam chateadas por se fazerem auditorias e inspecções e se tornarem públicos os resultados, de constatar que no PS a guerra continua aberta, feroz e elucidativa quanto ao modo daquelas pessoas fazerem política, de gramar no Causa Nossa (blog de esquerda em link aí à direita) quase metade (não consegui ler tudo, desculpe-me) do discurso de Ana Gomes no PE sobre o aborto e de reparar alegremente no Público de ontem que Jerry Seinfeld vai passar a dar na SIC Radical a horas decentes. Não obstante a minha opinião pessoal sobre este canal de televisão, esta é das poucas notícias que li que não me deixaram enjoado mas antes bem satisfeito: eu sabia que não devia deitar fora os jornais, nem tudo é sangue...
posted by VLX on 1:54 da manhã
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DINHEIROS PÚBLICOS, OBRAS PÚBLICAS E OS PALHAÇOS QUE AS PAGAM: De ontem para hoje - e doravante para o futuro (como dizia o saudoso actor) - quem for do Porto para Matosinhos pela beira-mar deparar-se-á, ao chegar à rotunda de S. Salvador (também conhecida pela sua denominação mais vulgar "não é a do Castelo do Queijo, é a outra..."), com um punhado de estranhos e altíssimos postes que sustentam no ar, pendurada num equilíbrio aparentemente instável, uma enorme e impressionante roda de bicicleta!
Nada me move hoje - descanse desde já o leitor - contra os simpáticos velocípedes. Mas irrita-me que algures neste mundo esteja uma artista americana a brindar animada e continuadamente com amigos, soltando gargalhadas estridentes e repetindo para quem a queira ouvir: "palhaços!..." É particularmente chato porque os palhaços somos nós, todos nós, os contribuintes portugueses. De há uns anos para cá, os responsáveis políticos nortenhos brindaram-nos com um manancial de obras sumptuárias e desastrosas naquela pequena faixa de algumas centenas de metros entre aquelas ditas rotundas, obras que bradam aos céus e demonstram à saciedade a falta de critério e a facilidade com que se desbaratam os dinheiros públicos: foi construído um viaduto caríssimo (sobre terrenos aparentemente alheios) para que os utentes do Parque da Cidade pudessem aceder directamente ao mar. Excelente ideia mas um luxo que mereceria ter sido melhor pensado. Até porque enfiaram nele uns carris do eléctrico, que nunca lá passou nem se prevê que vá passar porque agora parece que vai haver um novo viaduto e quem lá passará é o metro. Depois porque o fantástico gabinete de engenharia que projectou aquilo - ou o empreiteiro que construiu a obra - não consegue que os paralelos da via se mantenham no lugar, estando sempre soltos e a provocar acidentes e furos, reduzindo as vias a apenas duas faixas e obrigando a que permanentemente lá estejam dois coitados a tentar repor os paralelos no sítio (em vão, diga-se).
Antes do referido viaduto, do lado do Porto, temos aquele magnífico parque de estacionamento da rotunda do Castelo do Queijo, que esteve fechado até agora por se inundar de água constantemente (mais valia terem feito ali a tão propalada marina...). Ao longo do viaduto, deparamo-nos com aquela enorme maluqueira do edifício transparente, que não serviu para nada além de satisfazer a carteira e o ego do arquitecto que nos impingiu o mamarracho. Não serviu nem serve porque a porcaria da obra está desenhada e feita de tal modo que é impossível sequer lavar os vidros da parte de fora (a não ser com andaimes, o que transforma a coisa economicamente inviável, tanto mais que está praticamente em cima do mar, o que obriga a lavagens constantes).
Só faltava mesmo a roda da bicicleta! A roda da bicicleta! Eu estava sinceramente convencido de que era humanamente impossível colocar naquela área reduzida de terreno mais qualquer coisa que demonstrasse a delapidação do dinheiro público com coisas inúteis mas enganei-me redondamente (ou quase: deve ter sido por não caberem ali mais imbecilidades que a roda da bicicleta teve de ficar suspensa no ar...). Também não previ nem acreditei - confesso - na extraordinária capacidade dos nossos responsáveis para torrar dinheiro dos contribuintes: eles sabem daquilo a potes! A potes de euros. Nossos, claro, dos palhaços.
MADONNA: A Argentina Santos da América do Norte (cfr. "O Tal Canal") ofereceu um excelente espectáculo, digno da Raínha do Pop. E o título fica-lhe bem, pela constante capacidade de se reinventar em cada fase da sua carreira, não se acomodando e mantendo-se sempre na crista da onda. Sendo ela própria a criadora da onda que navega.
Embora concorde com o Comandante quanto à dispensável faceta de Joan Baez, penso que, mais múica menos música, assistimos a um óptimo espectáculo, com ritmo, sem momentos mortos e com uma grande performance da melhor artista da actualidade (e não sou particular fan da senhora...)
Ainda uma nota para o público português que, como de costume, desconhece a grande maioria das músicas que vai ouvir. Sentimos sempre um certo constrangimento, quando o artista (neste caso Madonna) faz uma pequena pausa na interpretação, aguardando que o público complete a frase e... nada.
AS OUTRAS VÍTIMAS: Tenho o maior respeito pelas vítimas directas de todos os terrorismos, porque o terrorismo é um crime diferente dos outros. Ao sofrimento físico e psíquico da vítima acresce a degradação da sua condição de pessoa para simples instrumento com que se infunde o terror nos outros membros da comunidade.
O terrorismo também vitima ocultamente. As outras vítimas somos nós, todos os que passamos a viver debaixo do medo. E que, por causa dele, completamos por nossas próprias mãos a acção terrorista, propondo e aceitando novas limitações da liberdade que nos resta. Os EUA e a Europa já foram cedendo, com as suas leis excepcionais contra o terrorismo. Agora chega a vez deles - mas, claro, a forma é diferente; uma dúzia de anos de democracia é muito pouco ao pé de tantos séculos de czares e PCUS.
O ELO MAIS FRACO da candidatura de George W. Bush é, sem sombra de dúvida, a sua controversa politica económica. Os 4 anos do primeiro mandato de Bush foram caracterizados por um aumento inacreditável da despesa pública. Mesmo descontando o necessário esforço na defesa e nos sistemas de segurança interna, George W. Bush parece bem longe do tradicional credo republicano de desconfiança do governo. Durante o seu mandato a administração federal cresceu em competências, estrutura e pessoal.
Para piorar, o programa económico apresentado na convenção republicana é um somatório de planos que implicam o aumento da despesa pública e de intervenção do governo. O conceito de ownership society serviu como guarda-chuva para este aumento de intervencionismo que deve envergonhar os seus teóricos do Cato Institute. Somem-se a esta questionável gestão do Estado os efeitos negativos do ciclo económico recessivo e há muito campo para combate.
Acontece que John Kerry e os democratas estão em situação difícil para denunciar estes desmandos. Tradicionalmente são o partido das despesas sociais e do crescimento do Estado. Nos últimos anos, apresentaram no Congresso inúmeras propostas para aumentar a despesa pública.
De qualquer forma, é por aí que Kerry terá de ir, para conseguir ser eleito. Se continuar a apostar apenas na sua suposta imagem de herói de guerra, mais habilitado por isso para os desafios externos dos Estados Unidos, arrisca-se a chegar ao fim da candidatura feito num oito. O impacto das críticas de outros veteranos, independentemente da sua justeza, mostrou como é má uma estratégia de campanha que assenta num único argumento, que ainda por cima é muito frágil (porque na sua essência não é um argumento político).
Além disso, no ambiente da América de hoje, não há grande margem de manobra para colocar em causa, com sucesso, opções de fundo de política externa (o que aliás Kerry prova todos os dias, acrescentando nuances sobre nuances para se justificar e tentando passar um artificial ar de duro que soa a falso). A guerra do Iraque é algo controversa, mas convoca sentimentos de patrotismo difíceis de contrariar. E ao contrário da Europa, a guerra ao terrorismo não é aqui vista como um fracasso (como resultado dos traumas do 11 de Setembro, muitos americanos pensam que sempre é melhor ter a guerra a 10.000 km do que à porta de casa).
A melhor hipótese de Kerry continua a ser a aplicação do It's the Economy, Stupid !
posted by NMP on 3:59 da manhã
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MADONNA REVISITED: Aos que logo à noite vão ver a dona Esther, um pequeno alerta de quem já cumpriu a função: uma boa parte do concerto é comicieira (contra Bush e pró-Kabbalah). Não chega para estragar o todo, mas soa a falso porque parece metido a martelo num alinhamento de suposta revisitação da carreira.
Quem mandou a senhora aderir à canção de intervenção ? Devia ter deixado isso para quem tem queda e talento para tal.
posted by NMP on 3:32 da manhã
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UM MOTE ou um desígnio, como hoje se diz.
(...)
E ao imenso e possível oceano
Ensinam estas Quinas, que aqui vês,
Que o mar com fim será grego ou romano:
O mar sem fim é português.
(...)
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.