QUANTO MELHOR, PIOR: Imbatível, esta frase de Manuel Serrão sobre a prestação, até agora, da selecção nacional : "Sem hipervalorizar a forma sofrida como chegámos aos oitavos-de-final (...)". Não sei se perceberam: 3 jogos, 3 vitórias, 5 golos marcados e apenas 1 encaixado, revestem uma "forma sofrida" de alcançar os oitavos-de-final. Há que ser justo, Serrão faz parte de um inner circle tradicionalmente objectivo, independente e racional na avaliação das prestações da selecção de Scolari.
posted by FNV on 4:54 da tarde
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VAN der ÉDIPO: Um partido holandês pretende ver reconhecido o direito legal às relações sexuais com menores de 14 anos. Não sei os pormenores, mas também não são relevantes. O que há chega. Quando li sobre o assunto , recordei-me de um ensaio de Borges (sobre Léon Bloy) que cita a famosa frase biblíca de São Paulo: videmus nunc per speculatum in aenigmate: tunc autem facie ad faciem. Borges discorre sobre a melhor tradução e escolhe a de Cipriano de Valera: " Agora vemos por espelhos, no escuro; mas depois veremos cara a cara". Entre os antigos, ver demais era perigoso. O filho de Laio, à entrada de Colono, defende-se alegando ignorância: "Foi com ausência de conhecimento, da minha parte , que incorri nesta situação". A maldição dos Labdácidas castiga um excesso de visão, do espelho no escuro . Se daqui a uns anos pudermos ver que crianças de 12 anos se sentem confortáveis numa relação sexual, estaremos , finalmente, cara a cara. Oxalá haja Colono para nos receber.
FOLLOW THE LEADER: Big Phil (Scolari) pode tomar más opções (discordo dele muitas vezes), perceber medianamente de futebol (segundo alguns), não arriscar muito ou ter mau feitio. Mas uma qualidade tem certamente: é um lider. Podemos compreender isso não só através das declarações dos jogadores mas também pela forma como protege o grupo contra todos os elementos externos, incluindo ou sobretudo a própria entidade patronal, que tem que cumprir à risca as suas exigências. A sua liderança, num estilo bastante diferente, acaba por ter um impacto nos jogadores semelhante à de Mourinho. Do meu lugar na bancada, penso que, hoje em dia, não é possível ser-se um grande treinador de futebol sem ser também um líder e que, esta componente da liderança é tão importante como o conhecimento técnico. Obviamente, sem se perceber nada do assunto ou sem matéria prima não haverá liderança que aguente.
posted by Neptuno on 6:47 da tarde
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O BOM ERRO: Em Timor, Rogério Lobato é acusado de "tentativa de revolução". A revolução - o movimento do astro - só aproveita ao observador, estragando normalmente a vida ao revolucionado. Parece-me que este caso é mais para medalha do que para cadeia.
posted by FNV on 12:51 da tarde
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MUITO BONS: Os últimos posts de Carlos Leone ( estão antes das fotografias romenas), sobre literatura e comunidade, no www.esplanar.blogspot.com. E curiosa confissão: estreou-se no blogue, ao lado de João Pedro George, depois de o Público se ter recusado a publicar uma carta de sua autoria.
DESINTEGRACIONISMOS: Conta o Público que os jornais luxemburgueses (nomeadamente, o Tageblatt e o Jeudi, que não consegui ler on-line) publicaram alguns editoriais incomodados com o "chauvinismo" dos festejos e das bandeiras portuguesas, vendo neles um testemunho de "infantilidade", de "não-integração" e, mesmo, de "segregacionismo". Quem assim celebra, segundo Danièle Fonck, "não percebe que se solidariza com o seu país natal em detrimento do país de acolhimento". Deixemos de lado o facto mais óbvio - não sucedia nada de tão excitante no Grão-Ducado do Luxemburgo desde que Juncker foi falado como possível Presidente da Comissão Europeia - e transponhamos a situação para Portugal. Imaginemos que o Brasil, Cabo Verde ou a Ucrânia iam somando vitórias num Mundial de que Portugal não participa. Exceptuando as 27 pessoas do costume (que seriam respeitosamente filmadas e entrevistadas pela TV), não vejo ninguém que se melindrasse com bandeiras e cortejos de vitória das respectivas comunidades. Nem nos jornais. O que vejo é um bom pretexto para largas confraternizações globais bem avinhadas e um possível aumento dos casamentos mistos. A ideia aqui, boa ou má, é que as graças e as vitórias de quem cá vive nos aumentam. De modo que a encomenda pode bem ser devolvida à procedência: "segregacionismo" e "não-integração" é não saber partilhar as alegrias de quem convive connosco. Mas é difícil explicar a um luxemburguês o que é ser emigrante. E é impossível explicar-lhe o que é ganhar jogos na fase final de um Mundial.
A LINHA: Timor não me interessa particulamente nem tenho opinião sobre o assunto. Ainda assim, existe um aspecto digno de nota que confirma a teoria genética de Locke: a passagem do estado de guerra ao estado civil exige abdicação. Se imposta pela situação criada pelos personagens ou se imposta externamente, isso veremos com o passar do tempo. Claro que existe também a alternativa maoísta: "Se a linha é correcta, tudo haverá: se não há gente - aparecerá; se não há armamento - aparecerá. A linha é o elo, puxando pelo qual se pode obter toda a cadeia."
posted by FNV on 10:18 da tarde
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ESTA JÁ NÃO ME DIVERTE TANTO: Uma das formas de racismo mais irritante é a condescedência. Se digo "preto" sou racista, mas se faço o comentário que fez o jornalista da RTP que apresentou o resumo do Costa do Marfim - Sérvia, não corro esse risco. Não sei se repararam, mas quando jogadores de equipas africanas falham ou consentem golos é por "ingenuidade". Todo o racismo é estúpido e este não foge à regra: apesar de muitos dos jogadores africanos serem experimentados profissionais dos campeonatos europeus, são sempre "ingénuos", Claro que se um mexicano falha um penaltie ou se um sueco erra três vezes seguidas a baliza tobaguenha, isso já é "azar" ou "inépcia".
NUNCA ME DIVERTI TANTO: Vejo a primeira meia-hora do jogo. Vejo a equipa de reservas de Portugal, já classificada para a fase seguinte, chegar com incrível facilidade ao 2-0 frente ao 4º classificado do ranking FIFA. Chego a casa e vejo o inimitável Rui Santos. Diz-me que o México teve muito azar porque atacou bastante, desperdiçou um penaltie e viu um seu jogador ser expulso. Quase que sinto a sua dor, dele, do Rui. E vejo-o acabar, matreiro: " com esta sorte, Portugal ainda acaba campeão do Mundo". Mais um "espírito independente" para a colecção.
posted by FNV on 11:49 da tarde
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TERNURA DOS 40: Não pude contar com todos aqueles com quem gostaria de estar - os restantes marujos desta embarcação - mas não deixei de assinalar a entrada nos "entas". Os primeiros sinais são claros: mais sono, mais cansaço e ressacas maiores!
posted by Neptuno on 6:56 da tarde
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WHO CARES? Steve Benem, blogger e colaborador eventual do Washington Monthly, reúne hoje, na referida publicação, um leque de possiveis candidatos presidenciais norte-americanos com uma característica comum: são todos adúlteros. Em Portugal isto seria impossível: os nosso políticos são todos casados heterossexuais ou solteiros heterossexuais. Isto sim, é sentimento patriótico.
40 ANOS: Para um velho amigo em festa, Neptuno, uma velha prescrição chinesa: que sejas recompensado pelo vento e pelas chuvas favoráveis.
posted by FNV on 11:56 da tarde
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O CRIME DE JOHN PANTSIL: Pelo que li no Público de hoje, foi o de ter festejado a vitória da sua selecção ( o Gana) empunhando uma bandeira de Israel. Um responsável da federação ganesa pediu desculpas e explicou que Pantsil "não está a par da política internacional". Pantsil não sabia que não se pode empunhar a bandeira de Israel porque tal pode ser considerado uma ofensa aos árabes. Eu também não, mas pensei que sendo o Mundial na Alemanha talvez houvesse atenuantes.
posted by FNV on 8:58 da tarde
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SINTONIA PERFEITA: Miguel Sousa Tavares repete hoje, em A Bola, que Scolari só depois do jogo inaugural do Euro-2004 pôs a jogar " o meio-campo do FCP". Como é apenas uma mentira mil vezes repetida ( só faltava Deco nesse jogo inaugural) , Pinto da Costa diz hoje, no mesmo jornal, que "teria bastado o Deco para ganhar a Angola e ao Irão". Críticos "racionais" e "objectivos" da selecção, muito diferentes da massa acéfala da bandeirinha à janela. Sem sombra de dúvida.
posted by FNV on 1:40 da tarde
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FASTIDIOSO: O número de colunistas - já de si fastidioso - que ostenta na lapela a demarcação do patriotismo futeboleiro. Amélias, entregadoras, varuncos e quebra-brilhas, todos assinalam agora ( outros houve que sempre o fizeram) a sua elevadíssima condição de portugueses, esconjurando o povão da bandeira à janela. Melhor fora que pagassem as contas da mercearia, assoassem os fedelhos e trabalhassem de vez em quando.
posted by FNV on 11:03 da manhã
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NÃO SEI SE JÁ REPARARAM: Desde que o Bloco de Esquerda acabou, o país está mais amodorrado. Não tarda nada o eng.º Sócrates está a celebrar o 2º aniversário de utilização intensiva do joystick e eu pergunto: então e o "flagelo" do aborto, essa prioridade nacional? Passa-se directamente para a clonagem ?
posted by FNV on 1:15 da manhã
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O COMPLEXO DE HIPÓLITO: Fedra apaixona-se pelo enteado, Hipólito. Sei pouco, sei que que não é correspondida ou que talvez se envergonhe do sentimento. Mata-se, não sem antes denunciar Hipólito. De que o acusa? De existir. Este amor, ultra-romântico porque revelador da estonteante fraqueza humana, amassa uma sentença justa. É a própria Fedra quem a profere: "Só sei uma coisa: morrer quanto antes é, no caso presente, o único remédio". Eurípedes sabia que os românticos são uns incuráveis narcisistas: morrem para não amar.
posted by FNV on 12:55 da manhã
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TRILOGIA: Em Maio de 1896*, o New York Herald noticiava as atribulações de uma jovem, Clara Burnham: "Made desperate by a lovers's quarrel, first she took laudanum. Saved from this, she used a pistol and then set fire to her clothing." Ópio, chumbo e fogo: quem resiste a isto resiste ao amor.
NEM POR ISSO: O assunto transcende a bola, é mais de carácter retórico. Hoje, nos jornais, Rui Marques e Carlos Santos voltam a pegar na coisa. De que se queixa esta boa gente? Que estamos num estado tal de acefalia que quem ousa criticar Scolari e a selecção é logo acusado de anti-patriotismo pelos unanimistas patrióticos das bandeirinhas de ocasião. Não digo que tal não ocorra, mas não me parece ser esse o osso. Vamos por partes:
1) Scolari é criticado, e violentamente, desde 2003. Houve quem classificasse a prestação portuguesa no Euro 2004 como suficientemente negativa para implicar a demissão do seleccionador (Pinto da Costa) ; houve quem dissesse, num alarde de génio matemático, que só ganhámos três jogos nessa competição ( Miguel Sousa Tavares). Nos jorrnais e nos shows tele-futeboleiros, Scolari é regularmente vergastado. Escapa-me como é que isto configura qualquer espécie de unanimismo norte-coreano.
2) Quanto aos patriotas de ocasião, não poderia estar mais de acordo com o enfado que provocam em qualquer cabeça arejada. Mas o mundo da bola sempre foi assim: a selecção é vivida como um clube e, como é natural, os tiffosi vestem-se dos pés à cabeça e dizem baboseiras. Ainda não escavacam estações de serviço nem declaram certas zonas de certas cidades como propriedade privada.
3) O mais interessante, por estranho que possa parecer, é verificar uma evidência: quando se acha que uma pessoa é burra, incompetente e mal formada, é muito difícil aceitar que essa pessoa possa fazer um bom trabalho. Isto parece-me, repito, evidente. Na actual situação só temos duas alternativas: ou desejamos ter razão, e isso significa prever que as coisas vão correr muito mal à selecção; ou desvalorizamos sistematicamente os eventuais bons resultados obtidos pelo imbecil. A primeira alternativa é estranhamente difícil de assumir, talvez por causa de uma réstia de patrioteirismo. Já a segunda é naturalmente mais fácil. O Blasfémias, por exemplo, classificava o Irão e Angola como as "duas piores selecções do Mundial": assim mesmo, sem tirar nem pôr. Outro exemplo que retive foi a propósito das folgas dos jogadores: Scolari era tido como um moraleiro autoritário, mas depois foi largamente criticado quando disse que não tinha o direito a imiscuir-se naquilo que os jogadores fazem nos seus dias livres. Desqualificação, sempre.
4) Termino com uma declaração de interesses. Não aprecio o estilo do homem nem concordo sempre com as opções que toma ( talvez isto me livre da acefalia anunciada); aprecio os resultados que o homem consegue e aprecio o fim do regabofe na selecção principal. Não consigo imaginar muitos daqueles que detestavam o estilo de Mourinho, a trocá-lo por Couceiro ou Toni. Como me costumava dizer um amigo, "um homem pode ser um cabotino e um bom treinador de futebol."
O LEOPARDO ROMÂNTICO: Não é Napoleão mas imagina-se dono da floresta que bordeja a savana. Não tem o sentido prático da zebra, que se (o) pudesse ver enlouquecia. De medo, certamente. Sabe que tudo é aparência: as manchas negras no seu corpo amarelado confudem-no com a árvore. Parece uma árvore e ri-se com os bigodes dos que o acham um belo bicho. A beleza, para ele, é um pedaço de carne arrancada a um corpo ainda vivo. Tudo o que tem é tudo o que deseja, sonha o romântico leopardo.
É UMA BANDEIRA, NÃO É UMA MORTALHA: O pessoal que põe bandeirinhas na janela, nas antenas dos carros, à volta dos cachorros, etc., não me incomoda nada. Sinto-me numa espécie de 10 de Junho prolongado, confundo as cordas de flâmulas com os santos populares, chego a fantasiar um Dia da Libertação. Já me incomoda mais o pessoal que julga que a bandeira é uma mortalha para o cérebro. Há quem suspeite de uma vasta conspiração que visa descredibilizar Scolari e a Selecção, encabeçada por esbirros de Pinto da Costa, cujo lema é "Quanto pior, melhor". Dela participariam todos os que têm o desplante de criticar as escolhas do seleccionador, ou as exibições da equipa, porque agora o que se quer é "união". São, basicamente, "maus portugueses" (noutros contextos, são "inimigos da sua própria cultura"). Não faltava mais nada.
posted by PC on 7:37 da tarde
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BOMBISTAS SUICIDAS OU BOMBAS HUMANAS? A discussão está a ser lançada por Nichole Argo, investigadora do IMT. Nichole está a preparar o doutoramento trabalhando em Israel e na Faixa de Gaza e lançará brevemente um livro. Ou muito me engano ou fará correr muita tinta. O seu objectivo é destruir o elo de ligação entre o terrorismo e o extremismo religioso. Começou pelos "bombistas suicidas", designação que rejeita. Até agora tem divulgado algumas conclusões no alaraboline que são muito discutíveis. Nichole acha um erro chamar suicidas a indivíduos muito bem integrados na esfera social e "altruisticamente comprometidos" com a vida . Nichole recusa a ligação Islão-Terror: fazendo a história dos mártires, entende que até 2003, 95% dos casos foram motivados pela auto-defesa (Líbano, 1ª Intifada, etc) , não estando relacionados com a exaltação religiosa. Por outro lado, apresenta o caso paquistanês: as 10.000 madrassas existentes exportaram os seus mártires para o Afeganistão, onde a luta ainda decorre. A tese de Nichole passa por valorizar a motivação política e emocional em detrimento do papel do Islão doutrinador de violência. A tese de Nichole assenta na defesa da comunidade sob ameaça como a principal motivação para os ataques suicidas, pois entende que mesmo os líderes religiosos mais fanáticos não conseguiriam chegar "às pessoas normais", que se transformam em bombas humanas, sem um sedimento social e prático. Esse sedimento é a pobreza, a destruição, a humilhação, etc, etc. Nichole cita um palestiniano que lhe explicou o meandro da coisa: " If we don't fight, we will suffer. If we do fight, we will suffer, but so will they."Podemos desconfiar do alibi que Nichole arranja para o fanatismo religioso, mas ela tem alguma razão nas dúvidas que levanta. Onde Nichole escorrega ( para não dizer outra coisa), e entra até em contradição com a explicação do palestiniano, é quando declara ser subjectiva a improbabilidade estatística de ataques suicidas em países com liberdade de expressão. Declara ser compreensível, do ponto de vista da tal "defesa da comunidade", a atitude de Mohamad Khan ( líder dos bombistas londrinos) que dizia : "tenho que utilizar bombas porque os ocidentais não me ouvem". Original, sem dúvida.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.