Tenho usado a figura do cerco, mas hoje aproveito o Egito Gonçalves. A leitura passista ( o CAA costuma assumir as preferências) do recado do PR é clara: Cavaco não fará de Martim Moniz . Sem ninguém para se entalar na porta, aos sitiantes resta esperar. De novo. Uma velha teoria da psicologia social diz que se a minoria inovadora resistir ao tempo, à dissensão e ao choque com o poder uniformizador da cultura dominante, tem boas hipóteses de alcançar o poder ( ou um estatuto associado no caso de minorias não políticas). Moscovici pensava em grupos ideologicamente consistentes ( desde movimentos pelos direitos civis a guerrilhas marxistas sul-americanas). Acontece que esta direcção do PSD é um soluço. Assentou no regresso da máquina autárquica menesista-botista ressabiada com MFL e com o "partido lisboeta", contratou um janízaro ( Ângelo Correia) que o líder "ouve quando quer e quando não quer" e acolheu um corpo expedicionário avulso: oportunistas, vira-casacas e, inevitavelmente, alguma gente de boa vontade. Esta amálgama, como é próprio das amálgamas, não tem direcção. Tacteia, experimenta, endeusa as sondagens e aguarda o apodrecimento do governo. Se os amalgamados lá chegarem , sabemos o que valem: uma ampulheta.
Tenho gostos caríssimos: A meio da manhã, pego no livro que quero e sento-me no sofá do escritório, ou na varanda se estiver bom tempo; Não ambiciono nada que dependa de humanos; Visto a primeira camisa que encontro na gaveta; Escolho leituras para os meus filhos; Faço uma sesta monástica todos os dias.
Friedrich Wolfe, "A Arte é uma Arma!" (Kunst ist Waffe!, Berlim, 1928):
"Eles não sabem , ou não querem saber, o que as estatísticas oficiais nos dizem: das 510,219 crianças de idade inferior a 14 anos, que vivem na Saxónia, quase 20% já trabalham; que algumas fábricas empregam crianças em turnos de onze horas; que em Annaberg, crianças a partir dos oito anos trabalham em fábricas (...). Não sabem que , de acordo com o relatório de saúde municipal de Berlim, de 1922, 34% dos tuberculosos não tem uma cama individual (...). O escritor que não vê os trágicos conflitos que se desenrolam actualmente nas nossas ruas , que não lhes é sensível, não tem sangue nas veias ".
posted by FNV on 2:24 da tarde
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O DIÁRO DE BAZAINE (IV):
Olha para nós como se fôssemos alpista, mas merecia melhor. O marido escolheu divorciar-se na semana em que ela descobriu um umbigo maligno. Fcou ligada ao desertor. Durante muitos anos confundiu-o com a gaiola. Quando decidimos separar-nos, não contamos com a realidade ( os advogados encarregam-se disso). Este marido abraçou a realidade em vez de abraçar a companheira.
posted by FNV on 12:40 da tarde
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WEIMAR (III):
2) Thomas Mann, no Outono de 1918 (enquanto Preuss esboçava o texto fundamental de Weimar), queria* a monarquia: O parlamento e o trabalho partidário minam a a vida da nação . Não quero política: quero eficácia, ordem e decência. Acontece que em 1948, numa espécie de sinopse da sua obra ( Dezasseis anos), Mann regressa a Mário e o Mágico (1930). Afinal, a novela era sobre a psicologia de massas do fascismo. Em Abril de 1932, numa carta ao editor checo, negava tal leitura. A página tantas ( 69 da minha edição da Grasset), Mann descreve as ferramentas e o método de Cipolla, o Mágico. Enquanto adormece um jovem num sono profundo, e diante da reacção da plateia, o feiticeiro explica: Eu é que sofro. É a caricatura do ludibriador , do hipnotizador, que , no entanto, carrega o peso ( sofre) de conduzir os destinos que nele confiam. Tanto pior para a eficácia , ordem e decência, não é, sr.Mann? Podem elas existir assim sem aquilo?
O auxílio imediato ( numa zona cansada pelos fogos) e a coordenação funcionaram de forma impecável no explosivo acidente da A-25. Os analistas, lépidos na crítica de tudo quanto mexe, não tiveram uma palavra de elogio.
posted by FNV on 8:38 da tarde
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A FLECHA DE ZENÃO (VIII):
Este presunto era provocador . De facto. E que tal, em nome do direito e boa convivência, autorizar a construção de uma sinagoga naquele bairro?
O fanatismo do futebol é berlinde ao pé do fanatismo basco: foi a Holanda que venceu o Mundial. E isto mostra como o fundamentalismo,, o verdadeiro, é altamente racional ( Eisenstadt demonstrou-o há muito tempo).
posted by FNV on 11:20 da tarde
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PIOR A EMENDA:
Quanto ao "saudosismo serôdio", pois certamente. Não imagino um saudosismo precoce, mas concedo que talvez exista. Um novo paradigma?
posted by FNV on 10:05 da tarde
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A FLECHA DE ZENÃO (VI):
Os mortos de Batista, Pinochet, Stroessner, Salazar, são mártires da ditadura fascista. São sim senhor. Sita Valles ( o livro de Dalila e Álvaro Mateus, que já cá trouxe no ano passado, também conta a história), como milhões de outras pessoas, foi fuzilada por tentativa de golpe contra um legítimo movimento de libertação popular . E é um "assunto melindroso".
Quando era atraente e saudável, as mulheres pareciam-me distantes, frágeis e distraídas. Agora vejo-as empinadas em cima de dez centímetros de salto, apressadas e levemente angustiadas. O olhar faz a paisagem que o muda.
posted by FNV on 10:48 da tarde
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HÁ CERCO, MAS NÃO HÁ COLUNA:
No actual PSD. Uma coluna direita, sólida. Talvez feia, talvez pouco sorridente. Bastou uma sondagem desfavorável e voltaram a dedicar-se aos exercícios de ordem unida ; entre as tendas e as celhas com roupa são muito bons, tal como nas piadolas dos blogues. A guerra é que não é com eles. Estes improváveis sitiantes dizem aos sitiados: se não abrem as portas, levantamos o cerco. De certa forma compreende-se; ao fim de todo este tempo, alguém lhes ouviu uma ideia sobre política de defesa, de educação ou de ambiente? Claro que não: táctica & ambição desmedida. Solo.
Quem controla o passado, controla o futuro, não é? Joseph Roth é um dos maiores escritores que alguma vez li. Num dos seus livros viajo pela Berlim dos anos 20. Os textos, escritos entre 1921 e 1925, estão reunidos numa edição da Granta Books de 2003 - está lá um outro, desencontrado, de 1933, já sobre o nazismo - e são um manual de jornalismo literário. As viagens no S-Bahn, os domingos de manhã no barbeiro, recheados com conversas sobre o nacionalismo de Hamburgo, os passeios no Tiergarten. Roth pinta, nós vemos. A sua Berlim é uma cidade onde não suspeitamos completamente do futuro, excepto na descrição , e na previsão, que faz do destino dos judeus ( sobretudo noutro livro, que cá trarei) e dos sionistas. Defende os primeiros com uma coragem sombria e classifica os segundos como idiotas ( ele era judeu). Mais tarde, diante dos novos-velhos factos, rectifica. Lá voltaremos. O passado, a origem. O populismo: narodnik ( russo), poporanismul ( romeno), népies ( hungaro) volkisch ( alemão). Socialismo, comunismo, xenofobia, racismo; mais tarde, fascismo e nazismo. É a matéria. Em 1919, na Roménia ( Berend 2001) , Pancu funda o Movimento Cristão Socialista Nacional.Mais tarde, Codreanu e Zelensky combinam a receita : a democracia quebra a unidade do povo romeno e transforma milhões de judeus em cidadãos romenos. E enquanto Weimar se discutia, o populismo fascista romeno não tinha dúvidas: A democracia não tem autoridade - um partido destrói o outro. Codreanu entendia existir uma conspiração judaica , contra a Roménia ( estaria bem na blogosfera portuguesa ), que pretendia estabelecer uma Palestina desde o Báltico até à Checoslováquia.
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