E acrescento: por que motivo Sócrates quer, com um sistema de portagens que só o Topo Gigio entenderia, criar um buzinão da ponte? Está farto de governar, ou pretende, por qualquer razão obscura, fritar o ministro?
... deve ser o que vai na estereofonia daquela camioneta que se prepara para, nas próximas horas, fazer os 350 quilómetros até à capital. Sugiro uma paragem a meio da viagem, para recuperar forças, talvez no Pompeu dos Frangos. Lá também os têm muito bons.
Em tempo: na SIC - Notícias já está o Carpideira do costume.
posted by VLX on 10:25 da tarde
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STASIS BENFIQUISTA:
Momento de apoio inquestionável à equipa. Para traidores já basta a direcção*. Já jogámos melhor, as coisas estão a caminhar na direcção certa. Com um Falcão e um guarda-redes qualquer podemos vencer a Champions. Benquerença esteve ao seu nível, nem se notou o efeito da troika ( Fernando Gomes, Herculano Lima e Andreia Couto, todos Dragões de Ouro) que comanda a Liga.Essas desculpas ficam para o morcões da ribeira. Como penitência, vou pôr a louça na máquina.
posted by FNV on 10:05 da tarde
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STASIS BENFIQUISTA:
Lembro-me de um 5-0 ao Sporting, ouvido na rádio, que até começou com um remate do Cerdeira, do Sporting. Lembro-me do lamber de beiços antes dos jogos da equipa de Baróti e Eriksson: Pietra, Chalana, Stromberg, Alberto,Filipovic, Nené. O Nené... o único homem com que eu era capaz de casar. Lembro-me do sorriso que me provocava o façanhudo Pal Csernai, até pelas chatices que arranjou ao "grupo do Barreiro". Lembro-me da batida do coração provocada pela segunda equipa de Eriksson - Thern, César Brito, Valdo, Mozer e Ricardo Gomes. Lembro-me da alegre anarquia dos russos ( Mostovoi, l'emmerdeur) e das traquinices do Dean Saunders ( no tempo do Souness sempre a rir no banco). Sobretudo, recordo que não olhava para a baliza: durante décadas ( salvo o interregno Bossio), Manuel Galrinho Bento e Michel Preud'homme fizeram-me crer que a baliza do Benfica não existia. Hoje, a menos de uma hora do jogo, um som de túmulo enche-me o cérebro e só tenho olhos para aqueles três paus unidos por uma rede e traídos pela estupidez de treinadores e dirigentes.
posted by FNV on 4:56 da tarde
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MINI-HIPER-CULTURALISMO:
Quando um punhado de fanáticos islâmicos assassina 3000 pessoas, é apenas um punhado de fanáticos islâmicos; quando um fanático cristão queima o Corão, do Paquistão à Indonésia juram-se represálias contra todo o Ocidente. Isto está a ir muito bem.
Vi e ouvi os excertos da entrevista. Os anti-ácidos tradicionais não servirão à jornalista do Público que assina, hoje, a peça sobre a entrevista de Fidel Castro. A parte sobre o Irão, os judeus e Israel ( "por que Israel tem de existir?" , lembram-se?) foi de tal forma indigesta que a jornalista ( sejamos simpáticos) está perdoada pela mascarada que fez.
Percebi e achei natural que a decisão fosse lida por súmula numa sexta-feira e apenas entregue posteriormente. Primeiro porque no processo de copiar os ficheiros e imprimir os documentos poderia haver fugas de informação, o que permitiria que, no limite, à comunicação social fosse possível tomar conhecimento da decisão antes dos próprios arguidos e advogados a ouvirem. Depois porque não é impossível que na leitura se detectem pequenos erros e gralhas que necessitem de correcção.
Já não percebo que no fim-de-semana se não consiga proceder a essa eventual correcção de gralhas (cerca de 700 páginas por magistrado) nem que na segunda-feira seguinte se não consigam fazer as impressões e copiar os ficheiros para notificação dos interessados.
Não fica bem na fotografia, a máquina judicial, mas na verdade isso não afecta em nada a substância da decisão.
posted by VLX on 7:11 da tarde
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O DIÁRIO DE BAZAINE (XII):
Viveram junto muitos anos e viram sair de casa três filhos criados. Isto durou quase quarenta anos. Abdicação e sacrifício: é curioso como estas palavras são agora malditas. Por outro lado, o amor é hoje o rei. O amor aos animais, o amor às criancinhas, o amor ao corpo, o amor-czar das relações sociais, o amor aos desfavorecidos. Uma pessoa fica a pensar onde será fabricada tal quantidade de amor.
posted by FNV on 11:44 da manhã
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FREEPORT/CASA PIA:
A razão do silêncio do governo, do PS e dos compagnons de route, relativamente à sentença da Casa Pia não é misteriosa. Não adianta puxar-lhes pela língua. Durante muito tempo, a tese do PS, e dos rosa proche, assegurava que tudo não passava de uma "cabala monstruosa para prejudicar o partido". Repetir isso agora siginificaria, no mínimo, "um violentíssimo e imbecil atentado ao estado de direito " e um ataque "brutal" à independência dos juízes e MP envolvidos.
Quando nos deitamos cinco minutos a pensar neste caso deparamo-nos sempre com coisas surpreendentes e silêncios chocantes.
Não obstante os factos criminosos terem ficado provados, uma arguida viu-se salva da condenação por via daquela bizarríssima alteração legislativa.
Num país civilizado com uma comunicação social decente, o assunto não morreria por aqui. Existe uma real situação concreta, relativa a crimes gravíssimos e hediondos, que se aproveita de uma inusitada alteração legal. Se não o tivesse querido fazer antes, era pelo menos agora altura da comunicação social investigar pormenorizadamente como se chegou a este estado de coisas com este tipo de crimes, começando por dissecar o processo legislativo. Quem o promoveu, porquê, para quê, como, com que argumentos, com que fundamentos, com que intenções, finalidades, propósitos.
Era o mínimo que um país civilizado exigiria.
Mas, infelizmente, como dizia há dias Felícia Cabrita, em Portugal não existe jornalismo nem jornalistas de investigação dignos desse nome. Ou existem muito poucos. E julgar Portugal um país civilizado...
Previsões do declínio. A direita conservadora andava inquieta no início da década de 30. Sob o manto de Spengler, Keyserling ( "Die Kultur des Sich-leicht-Machens", Das Tagebuch, Maio de 1930) refilava contra a democratização do ensino, coisa inserida num vasto plano de faciltação geral da vida do indivíduo; Hesse vociferava contra o intelectualismo, muito diferente do dos nossos pais, turbulento, selvagem e pobre em tradição; Ludwig Bauer ( "Mittelalter,1932") assegurava que o comboio do desenvolvimento levar-nos-ia directamente à Idade Média . Bauer acreditava que depois do século XIX ter descoberto o "Eu", os ocidentais, à custa de Mussolini e "do seu substituto alemão", desejavam agora ser aliviados do fardo e, reprimidos, ansiavam por "vestir um uniforme". É verdade que o fascismo e o nazismo alimentaram-se da ideia de superação do declínio, é verdade que o bolchevismo se distinguiu pela pretensa superioridade sobre o declínio burguês ocidental, é verdade que o Islão radical desdenha as prostitutas e os debochados europeus. O facto é que, se regressarmos a Hesíodo, percebemos que a ideia de decadêcia é apenas um super-ego da ideia de progresso. Às vezes castiga? Claro. Qual é o super-ego que não dá umas palmadas?
Sem trabalho, 140 euros gastos em livros escolares, a mãe sozinha em Reguengas e a um passo do lar sorvedouro. Tem o nariz empinado e o cabelo apanhado num puxo perfeito. Cruza as pernas nuas como a conta bancária e trava a voz tensa: Ainda por cima, o meu marido chateia-me porque não me apetece cama. Há muito tempo. Os homens simples acreditam na autonomia departamental. Elas não. Um dia, os economistas debruçar-se-ão sobre a relação entre o subprime e a secura dos lábios.
É enternecedora a ingenuidade do João Gonçalves. Não é necessário o juntismo ou o unionismo. Basta o europeísmo. Isto vai dar para mais para um número da série Weimar: lendo desqualificação e humilhação nas decisões da UE, muito pasto, do Tejo ao Danúbio, se abrirá às chamas. Lentamente.
posted by FNV on 10:09 da tarde
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NA PRAÇA PÚBLICA IV:
No meio deste frenesi que vai pela comunicação social, amplificando as inúmeras declarações de inocência dos arguidos entretanto condenados, há silêncios que chocam e só podem deixar as pessoas perplexas. O silêncio do Governo é um deles.
Não sei bem de que Ministério depende a Casa Pia (julgo que é do Trabalho e Segurança Social), mas não aparece ninguém a fazer uma declaraçãozinha? Ou pelo menos mandar o porteiro à porta ler um comunicadozeco qualquer? A Ministra não tem nada a ver com o assunto? Não tem nada a dizer? Não nos diz, ao menos, que não tem nada a dizer? E a comunicação social não pergunta? Esqueceu-se? Não quer saber?
Passaram-se horrores com as crianças em colégios tutelados pelo Estado, na dependência do Ministério do Trabalho, e agora, que houve uma condenação judicial, a tutela assobia para o lado? Como sempre fez? E ninguém se indigna? Este país é uma choldra, realmente.
posted by VLX on 6:07 da tarde
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ESTALINEGRADO DOS PEQUENINOS:
Von Paulus, que quando esteve no 13º Regimento de Infantaria ( julgo que em Estugarda) foi descrito pelos seus superiores como um típico oficial de estado-maior, sem rasgo nem audácia, mas muito cortês, também passou de de sitiante a sitiado. Ângelo Correia bem avisa: "Por outras palavras, o PSD estará sempre condicionado a nunca vetar a proposta orçamental do PS". O cerco está cada vez mais esquizóide. Os sitiados vêm cá fora regar as margaridas e passam as linhas inimigas sem dar cavaco. Os sitiantes jogam batalha naval. Boa distracção: dispensa a coragem e aperfeiçoa os dedinhos.
posted by FNV on 1:33 da tarde
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FALAR VERDADE:
Neste número da Ler, uma análise ao mecanismo do conformismo e ao diagnóstico descuidado que o PS fez da situação do país, faz agora um ano. O PSD que menciono não é o PSD actual. No próximo número, Joseph Roth.
O PR apela ao consenso orçamental num momento delicadíssimo. Que disparate. Portugal sempre se distinguiu pela enorme capacidade de ruptura. Em 1974, o povo, depois de dezenas de motins e revoltas, incumbiu um simples e humilde capitão de receber o poder de Caetano; os pides foram todos presos, ou fuzilados, ao que se seguiu uma guerra civil. Mais tarde, em democracia, um general responsável por actividades terroristas, e mortes, foi preso para a vida e destituído de patente; nos anos 80, os autores da megafraude do Fundo Social Europeu foram desmascarados e a rede clientelar-vampiresca que comeu o dinheiro da CEE caiu em desgraça. O complexo da guerra colonial estava resolvido por volta de 1990. O arco parlamentar cobre todo o espectro ideológico, a crítica literária e cinematográfica é impediosa, há alunos calões que chumbam o ano, enfim, o país sempre respirou stasis. E quer o PR um consenso nesta altura de crise grave? Proceda-se em conformidade.
posted by FNV on 11:37 da tarde
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CONTRATEM BOURMONT:
O patético cerco continua. A arma especial ( uma catapulta sem rodas) da revisão constitucional, com que contavam obter supremacia, jaz abandonada na periferia do acampamento. Era difícil de manejar e agora os sitiantes fazem de conta que nunca a viram. Parece que há entre os enfatuados milicianos quem tenha passado os olhos por Clausewitz. Talvez se tenham esquecido do capítulo XI do livro quarto: a batalha deve ser ser encarada como uma guerra concentrada, como o centro do esforço de toda a campanha. Bem, chamem o Bourmont, pode ser que o Saldanha esteja de férias.
posted by FNV on 11:19 da manhã
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NEM POR ISSO:
Este tipo de charla só é inocente na aparência. Sublinha o estereótipo e (in)directamente reforça as atitudes de violência contra as mulheres. O padre Maia desempenha um cargo institucional e estava a falar numa iniciativa partidária. Aposto que não diria que "os pretos só entram nas igrejas para carregar baldes de cimento". As mulheres não servem apenas para limpezas. Uma até foi presidente do partido que organizou a reunião na qual o padre Maia participou.
Clitemnestra, mãe de Orestes, sonha: dá à luz uma serpente que reclama alimento. O réptil, inteligente, não fere a mama, porque com o leite suga um coágulo de sangue. A seu tempo cá traremos o maior intérprete de sonhos de todos os tempos ( morreu há mais de mil e duzentos anos). Para já, Bazaine aproveita. Este é o sonho das mulheres que têm medo do amor. Foram magoadas, claro. E escondem essa mágoa do passado num medo do futuro. A maioria delas não foi magoada por um namorado nem por um marido.
Também não conheço o livro, mas suspeito que , dada a matéria em discussão, o gene distintivo não deve estar relacionado com a pigmentação das pálpebras . Depois dos ciganos, os muçulmanos e os judeus. A acusação aos últimos tem a vantagem de fazer o pleno junto de imbecis que ainda há pouco bradavam contra a islamofobia. A judiaria sempre reuniu consensos. E estou de acordo com o Gabriel Silva: os excertos não permitem conhecer tudo. Que fale e publique.
A próxima, é um dia em que pesaremos o valor da fórmula de Kraus: Nunca devemos nomear. O que devemos dizer não é que alguém fez, mas que era possível ter feito. Por outro lado, sopesaremos outra sentença, a do cavaleiro Marinho Pinto:" O processo Casa Pia foi ( é?) uma tentativa de decapitação do PS".
Para vizinhos. É o habitual. Resta esperar, e estudar, para saber se pretendem zimbabwezar ou melhorar.
posted by FNV on 12:49 da tarde
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NA PRAÇA PÚBLICA III:
Nós não sabemos se aqueles condenados são culpados, dizia eu, mas os juízes do colectivo sabem-no muito bem. Como advogado, já tive de me deparar com vários erros judicais, erradas apreciações, diferentes interpretações. Dos Magistrados Judiciais ou do Ministério Público. Acontece. Errar é humano. Há diferentes interpretações. Mas como observador custa-me a crer que num caso tão badalado, tão mediático, tão falado, os investigadores, as autoridades policiais, o Ministério Público ou os três juízes que analisaram o caso tão atentamente se tenham todos enganado.
De resto, as críticas que tenho ouvido aos magistrados judiciais não me convencem. Por duas vezes aqueles sugeriram ler o acórdão na íntegra. Por duas vezes foi aceite que isso não fosse feito. Louvo até a sua atitude (a dos magistrados): sem pretender denegrir os funcionários judiciais ou outros intervenientes, admito que se tivessem divulgado o cd com o acórdão para cópia ou para impressão para oferecer aos ilustres advogados, a totalidade do acórdão estaria na comunicação social muito antes de se ter concluído a sua leitura. Tenho a certeza de que aquele acórdão não foi feito sequer em computador integrado na rede do Tribunal. Por isso ninguém soube dele antes de ser lido. Numa altura em que todos criticam essa entidade abstracta a que denominam “Justiça” (esquecendo-se de que esta mais não é do que aquilo que o legislador pretende), é de louvar a manutenção de um segredo.
Sempre segundo a comunicação social, temos um embaixador com um historial penoso, um empregado e antigo aluno (e vítima) da Casa Pia que confessa os crimes, um médico dos miúdos da Casa Pia que, segundo se diz, atestava a qualidade e higiene ‘do produto’, para além de tudo o mais que foi provado, um vice-provedor da Casa Pia que, no mínimo, tudo deveria conhecer, um apresentador da televisão que já há vários anos era referenciado neste tipo de coisas, amigo de um tal fulano também referenciado nestas actividades, que entretanto fugiu às autoridades e terá desaparecido do país, e um estranho personagem que estranhamente aparece em cena a defender o principal arguido, até ser substituído e constituído igualmente como arguido. Passam-se anos em julgamento, a analisar o caso, e os três juízes estarão enganados? Relativamente a todos os condenados? – É possível, mas não é impossível pensar o contrário. (cont.)
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.