RITUAIS: Hoje sinto pelo almoço o que muitos ex-fumadores sentem pelo tabaco: como é que fui capaz de viver tantos anos com aquilo. Para quem o baniu da sua vida há quase 15 anos, é muito claro que o almoço é uma violência. No momento em que o corpo começa a absorver o ritmo do dia e o discernimento se aproxima da velocidade de cruzeiro, quer-se é café para olear as juntas e nicotina para encadear os neurónios - não uns pezinhos de coentrada, ou umas sardinhas rescendentes, regados por um tinto a condizer. Mas um dia não são dias: quartos-de-final contra a selecção de Inglaterra pedem consistência e, sobretudo, bonomia. Depois de me violentar com uma feijoadinha de javali no Zé Manel, seguida de um sorvete impossível de terminar, na melhor companhia que há, venha então o jogaço, para ver com uma parelha dos tempos em que almoçava.
posted by PC on 3:05 da tarde
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ETA: Primo Levi talvez perdoasse um carrasco que demonstrasse através de actos - e não apenas de palavras - que tinha deixado de ser aquilo que foi. Isto escreveu Levi, no La Stampa, em Julho de 1986. Pelo que tenho lido - e por isso Helena Matos , na sua crónica de hoje no Público, tem alguma razão -, a ETA ainda está na fase orgulhosa. Se bem me lembro, um dos últimos a ser orgulhosamente abatido com um tiro na nuca, foi um jornalista com um longo passado anti-franquista.
posted by FNV on 3:01 da tarde
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A DIAPSALMATA* DO LEOPARDO KIERKEGAARD (III):"A tendência social e a bela simpatia que a acompanha propagam-se cada vez mais. Em Leipzig, criaram uma comissão que, enternecida com o triste fim dos velhos cavalos, resolveu comê-los."
MAMMA, SIAMO QUI: Começa a cheirar ao Mundial de 82, quando a Itália passou a primeira fase com três empates (Polónia, Perú e Camarões), e depois empandeirou, corridos, a Argentina de Maradona, o Brasil de Sócrates e Zico, a Polónia (nesse jogo, sem Boniek) e a Alemanha de Stielike, Littbarski e Rummenigge.
LESÕES: A lesão cervical de Freitas do Amaral (espero que não seja nada de grave e que recupere bem) está para Sócrates como a lesão de Ricardo Costa estaria para Scolari.
posted by Neptuno on 10:47 da tarde
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MUNDIAL II: Amanhã jogamos contra a Inglaterra e todos esperamos que Portugal ganhe, mesmo admitindo que a bola é redonda ou, com mais propriedade, que não temos Deco. Alguns entenderão que já fomos suficientemente longe, que somos pequeninos demais para almejar "o caneco" mas eu não estou convencido da nossa pequenez no futebol nem que os nossos jogadores estejam a jogar no mundial a feijões. Aliás, se tudo se reduzisse apenas a uma mera feijoada, para tão bons ingredientes talvez não fosse necessário um cozinheiro reputado do melhor que há mas tão caro e irascível. Boa sorte, selecção de jogadores.
posted by VLX on 5:31 da tarde
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A RELATIVA INSTABILIDADE DA ABSOLUTA MAIORIA: Em pouco mais de um ano, o governo alterou os responsáveis de três pastas importantes: defesa, finanças e negócios estrangeiros. Scolari deve ser o ministro há mais tempo no cargo.
posted by FNV on 3:35 da tarde
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A COCAÍNA "AFRICANA", O JORNALISTA E O INSPECTOR: O Público da passada quarta-feira dedicou duas páginas ao tráfico de droga e fez uma pequena entrevista a José Braz, director do DCITE da PJ. O jornalista estava intrigado com as apreensões de cocaína "que chegam à Europa em voos provenientes de países africanos". José Braz reflecte sobre a possibiidade de os traficantes contarem com algum relaxamento alfandegário devido ao facto de alguns desses "países manterem grandes afinidades com países europeus". José Braz acaba por afastar essa possibilidade ( felizmente), mas não nos brinda com um átomo de pensamento sobre o assunto: ou não o tem ou guarda-o para si. Em todo o caso, é uma pena. O envolvimento da África Ocidental no fornecimento de cocaína à Europa já aqui foi tratado em diversas ocasiões, mas parece ser possível ajudar o inspector Braz e o jornalista do Público. O processo não é assim tão recente. Em Fevereiro de 1996, numa audiência perante o House Banking and Finantial Comittee do Congresso norte-americano, Harold Wankel, da DEA, discorria sobre lavagem de dinheiro em África. Wankel explicava aos membros da Comissão que, durante toda a década de 90, a Nigéria se tinha especializado na lavagem do dinheiro do tráfico de heroína afegã, criando um pipe-line da droga para a África do Sul. Wankel fez, nessa altura, um aviso: os nigerianos estavam a lançar as bases de uma futura cooperação com os carteis colombianos e brasileiros de cocaína. Isto não deve espantar ninguém. A Nigéria foi, no contexto do tráfico de droga, tradicionalmente activa: nos bons velhos tempos em que a Inglaterra dominava o comércio mundial do ópio, os nigerianos aprenderam muito sobre as funções de entreposto. Mais recentemente, as ligações à heroína asiática - em 1999, juntamente com o Gana e a Polónia, a Nigéria fornecia 37% da heroína necessária aos ingleses - ensinaram ao africanos as bases do ofício. Por outro lado, uma boa parte das antigas e experimentadas redes berberes de tráfico de haxixe começaram a ser usadas para o tráfico de cocaína. Resta saber por que motivo a África Ocidental é hoje uma etapa na viagem da cocaína sul-americana para a Europa. Antonio Mazzitelli, responsável do UNODC em Dakar, numa entrevista à Reuters ( salvo erro em Dezembro do ano passado), resume a coisa : polícia ineficaz, redes criminosas bem estabelecidas e corrupção generalizada. Mas não só. O repouso dos contentores de cocaína nos portos de Cabo Verde, Senegal, Marrocos ou Nigéria, é fácil e barato. Permite o estudo conveniente das melhores formas de fazer chegar a droga à Europa, sobretudo a Portugal , Espanha e Holanda. A ocasião faz o ladrão, e talvez as pessoas já não se recordem dos tempos em que tomar banho nos Açores significava chocar com fardos de cocaína. Quer isto que as redes africanas encontram, por exemplo em Portugal, as mesmas condições de que Mazittelli falava. Dir-me-ão: "mas a nossa PJ é muito eficaz e aí estão as enormes quantidades de cocaína apreendida para o provar". Rectificação: a nossa PJ está agora a ser eficaz. O narcotráfico provoca e depois reage: desde o início do século que a ligação portuguesa se faz sossegadamente e só agora enfrenta problemas. Também à memória faz bem recordar que uma dada quantidade de droga apreendida num determinado país e num determinado período, corresponde a um terço do total de droga em circulação durante esse mesmo período e nesse mesmo país. A quem este raciocínio possa causar estranheza, recordo que a capacidade de produção de cocaína é imensa, pelo que a apreensão de 10 ou 20 toneladas é relativamente inócua para o traficante. Sobretudo se significar que outras tantas chegam ao seu destino...
A DIAPSALMATA* DO LEOPARDO KIERKEGAARD ( II): "Emprego o meu tempo da seguinte maneira: metade a dormir, metade a sonhar. Quando durmo, nunca sonho, pois seria um desperdício; dormir é o fastígio do génio."
* em tradução livre e pobre
posted by FNV on 8:53 da tarde
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A DIAPSALMATA* DO LEOPARDO KIERKEGAARD (I):" Dizem: o tempo passa, a vida é uma torrente, etc. Eu não me apercebo: o tempo queda-se imóvel e eu também. Todos os planos que esboço são-me devolvidos; quando quero cuspir, cuspo na minha cara."
O CARTEIRO TOCA SEMPRE TRÊS VEZES: O dr. Zorrinho, terceiro cérebro do Plano Tecnológico ( one wonders o que terá acontecido aos anteriores) , quer instalar a internet nos correios das aldeias. Óptimo. Os mexericos e a as cartas anónimas vão passar à fase electrónica.
posted by FNV on 10:02 da tarde
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LÁ COMO CÁ: Mr. Le Pen, que desde que o Mundial começou não se tem cansado de vergastar uma selecção francesa "cheia de negros", está a esta hora a mastigar anti-ácidos. Pode -se sempre convidá-lo para uma reunião de um grupo de auto-ajuda numa certa cidade portuguesa.
posted by FNV on 9:59 da tarde
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OFERECEM-SE ORELHAS DE BURRO: Segundo a TSF, o árbitro russo do Portugal-Holanda declarou que, embora esperasse o contrário, o jogo sujo e violento foi sobretudo dos holandeses e que foram estes os instigadores do que se passou no relvado. Eu, que vi uma caça ao homem durante os primeiros sete minutos, tendo obviamente a concordar. Outros terão mais trabalho, atarefados que andam, alguns até alarvemente, a tentar enfiar a dura realidade dentro dos seus desejos. Os deuses lhes ofereçam, de brinde, um saco largo.
UM ABRAÇO: Ao João Pinto e Castro, pelo ...bl-g- -x-st-, que se junta hoje (ou no passado dia 23...?) ao já vasto grupo "III Milénio" da blogosfera portuga. Tirando o nome , é um dos blogues que menos mudou desde que nasceu - e ainda bem.
posted by PC on 3:22 da tarde
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SUBSÍDIOS PARA A COMPREENSÃO DA MENTE CRIMINOSA: O Luís Januário da www.anaturezadomal.blogspot.com, inspirado num texto de Fernanda Câncio ( não confundir com a reportagem), diz que quem escreve "Se tens inveja do meu viver, trabalha, malandro", "está pronto para matar". Quem escreve isto e quem é "salazarista". É verdade: e quem não é pelo multiculturalismo, quem não luta contra a globalização, quem não é a favor do casamento dos homossexuais e do lince da Malcáta, enfim, só pode ser um psicopata.
posted by FNV on 3:16 da tarde
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MUNDIAL: Dizia alguém na rádio que se deveria ir em romaria junto de Filipe Scolari para pedir desculpa pelas críticas ou opiniões formuladas, primeiro, e agradecer, depois, a exibição da equipa portuguesa no mundial de futebol. Confesso perceber bastante mal este endeusamento que se pretende fazer do homem: ele não está a fazer mais do que aquilo para que foi contratado e pelo que é pago (muito bem pago, diga-se), mesmo que o responsável máximo da FPF afirme publicamente que não lhe exige nada (o dito mais espantoso que alguma vez saiu da boca de um empregador, mesmo incluindo aqui o Estado).
O extraordinário é que para além do chorudo ordenado e da completa falta de exigências, Scolari tem a seus pés um país embandeirado em arco que tudo lhe permite, admite e aceita, desde as birras aos insultos, no mais puro fenómeno terceiro-mundista que em Portugal me foi dado assistir. E não é só intra-fronteiras: pelo mundo inteiro, com particular destaque na Europa e na Alemanha, milhões de emigrantes portugueses oferecem o seu apoio desinteressado ao seleccionador e ficam horas, dias, à espera de ver a comitiva passar por breves segundos, para a aplaudirem entusiasticamente.
Acresce que Scolari tem à sua disposição (como ninguém alguma vez teve em Portugal) um lote de jogadores tão fantástico que lhe permite deixar em terra jogadores unanimemente considerados de excelência (um deles talvez aquele único que pontualmente poderia chegar aos calcanhares do fabuloso Cristiano Ronaldo e substituí-lo em caso de infelicidade que se espera não venha a suceder). Mas Scolari tem mais, tem fantásticos jovens jogadores carregadinhos de experiência (Cristiano, R. Carvalho) e tem jogadores mais velhos e experientes com garra de adolescentes e capazes de carregar o jogo (Figo, Costinha); tem mágicos da bola (Deco) e forças da natureza (Maniche); e tem ainda na baliza alguém com tanta, mas tanta sorte que apenas é comparável à da estrelinha que acompanha o nosso seleccionador (é sempre um susto ver aquelas bolinhas a passearem-se saltitando alegremente de poste a poste sem que ninguém lhes chegue perto, quer para as empurrar para dentro quer para as suster).
E como não bastasse ter em cada jogador português um portento, Scolari beneficiou ainda de quase uma equipa inteirinha completamente organizada por José Mourinho e que foi nada mais nada menos do que a vencedora da Champions League exactamente no ano em que Scolari conseguiu em Portugal perder a final do Euro 2004 contra a Grécia, feito pelo qual viria a ser condecorado pelo Presidente da República.
Se na altura Scolari não percebeu o conjunto de diamantes e a fortuna que lhe caía em sorte, não percebo eu agora porque estranho motivo ele demora tantos jogos já em competição oficial a acertar com a equipa e a mostrar um jogo minimamente à altura do conjunto de magníficos jogadores de que dispõe. Se não fosse a qualidade do grupo que nos caiu em sorte, provavelmente já nem estaríamos no mundial.
Pelo que continuo na minha: Scolari faz aquilo para que lhe pagam e tem à disposição um conjunto de condições e de atletas fenomenal que o país nunca teve para oferecer em bloco a nenhum seleccionador. E portanto eu dele só espero a vitória, que é o que os nossos jogadores merecem.
posted by VLX on 11:57 da manhã
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A ÁFRICA DELES: Nos bons tempos, os programas de vida animal na TV tinham tudo o que era preciso: elefantes recém-nascidos abandonados pelas progenitoras, zebras devoradas vivas por uma matilha de leões, macacos a cair directamente na boca dos crocodilos, etc. Agora, por exemplo no Diário dos Felinos, temos uns maricas excitados dentro dos jeeps a procurar a "Fifi" e a "Lola", temendo que o "Jack" não as encontre e mais não sei o quê. Ora bolas!
posted by FNV on 11:46 da manhã
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HANNIBAL LECTER NA PARVÓNIA (II): Nem tudo é mau na cobertura mediática dos crimes de Santa Comba: óptima reportagem de Fernanda Câncio, no DN de hoje. Sóbria, curta, bem escrita e deserta de psicologia de alguidar.
posted by FNV on 11:30 da manhã
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FOLLOW THE LEADER II: Scolari mandou chamar todos os jornalistas, hoje de tarde, para comentar a falta de fair-play da Holanda no seu jogo contra Portugal, pedindo a despenalização de Deco com base no argumento de que a sua expulsão foi motivada pelo não cumprimento das regras de fair-play - subscritas por todas as selecções presentes no mundial - por parte da equipa holandesa. Todos sabemos (e sobretudo Scolari) que tal recurso à FIFA para a despenalização de Deco - caso venha a ser interposto - está votado ao fracasso. Mas, no famigerado balneário, é mais uma vitória.
posted by Neptuno on 12:11 da manhã
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FAIR PLAY:Muito pior do que sermos teimosos é esconder essa teimosia. Esse encobrimento, geralmente infantil como sabe quem tem crianças pré-púberes, acaba por transparecer de uma maneira ridícula: procuramos todos os detalhes e vasculhamos todos os caixotes na vã esperança de termos razão. Não há nada de liberal nem de blasfemo num pré-adolescente moralista e borbulhento.
MARCO: Houve um grande Marco - Van Basten - talvez o melhor de sempre na sua posição. E há o Marco pequenino, a criança mimada com mau perder. Que se esqueceu que não se ganham jogos eliminando fisicamente os melhores do adversário, que se esqueceu do mais básico fair-play - incutindo esse mesmo esquecimento nos seus jogadores - tentando ainda ignorar que a sua equipa cometeu mais cinco faltas do que a portuguesa (que, alegadamente, teria tentado parar o jogo com esse expediente!). Outras opções erradas também contribuiram para a derrota, como por exemplo a não utilização de van Nistelrooy. Mas essa é uma opção legítima.
NINGUÉM PÁRA o pessoal responsável pelas iluminações festivas da cidade. Depois do originalíssimo trabalho que nos apresentaram no Natal, beneficiam-nos agora, na Portagem, com uma Rainha Santa escoltada por dois coelhos cheios de escarlatina. Estranhamente, ainda não há foto disponível aqui.
posted by PC on 5:51 da tarde
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SÉRIE "OS EUA E O NARCOTRÁFICO" (VI): Com três semanas de atraso, o último post sul-americano; como prometido, dedicado aos carteis mexicanos. A série entrará depois no Afeganistão, onde muita coisa haverá para contar. Entre 2001 e 2005, 1493 agentes federais da força de elite mexicana anti-droga, que conta com 7000 homens, estiveram sob investigação judicial. O problema? Suspeitos de estarem envolvidos na ajuda aos principais carteis de narcotráfico. Isto dá uma pequena ideia da dimensão do problema que o Procurador-Geral, nomeado em Abril do ano passado por Vicente Fox e que dá pelo extraordinário nome de Daniel Cabeza de Vaca, tem de enfrentar. A preocupação americana é óbvia: 70 a 90% da cocaína consumida nos EUA entra pela fronteira mexicana. O esquema mexicano assenta num pressuposto simples: as bases dos carteis estão longe da fronteira ( Sinaloa e Guadalajara, por exemplo), as unidades de envio são construídas o mais próximo possível dos EUA ( Nuevo Laredo, Tijuana, etc). O grupo de Felix-Gallardo, o cartel de Tijuana dos irmãos Arellanno-Félix e a organização de Carrilo-Fuentes, escreveram a história no narcotráfico mexicano nas décadas de 80 e 90. Assassinatos, alianças e traições, apimentaram um enriquecimento impressionante, uma vez que a matéria prima esteve sempre disponível. Quando os EUA começaram a apertar a Colômbia ( o que já aqui descrevi), julgou-se que os mexicanos enfrentariam problemas. Nem por isso. Ocorreram algumas alterações na orgânica dos carteis - estão mais dispersos, ao estilo da Al Qaeda - mas o fluxo da cocaína entrada nos EUA não diminui. No passado mês de Março, o San Jose Mercury News dava conta do estado de sítio em que se encontra Nuevo Laredo, que está apenas a duas horas de San Antonio. Os bandos guerreiam-se alegremente nas barbas dos americanos, tendo surgido dois novos super-gangues, os Los Negros e os Los Numeros, recrutados pelo cartel de Sinaloa, de El Chapo Guzmán, no contexto da guerra contra o cartel do Golfo comandado pelos Zetas. Em síntese, o narcotráfico mexicano está bem e recomenda-se.
OH COME, ALL YE FAITHFUL: Sabemos como os jornais e os comentadores ingleses, tal como os franceses, são parciais e enviesados quando têm que comentar jogos de futebol que lhes interessam, directa ou indirectamente. Porém, ao contrário dos franceses, geralmente resignados a um azedume ancestral, os ingleses têm a mania que podem fazê-lo com graça. Ora isso é um grande equívoco, como se comprovou há dois anos atrás: mais tarde ou mais cedo, perdem abruptamente o sentido de humor, tornam-se pateticamente self-indulgent, e bolsam prosas que não são muito diferentes das eulogies do Record e de A Bola sobre as derrotas do Benfica. Quem tiver paciência, pode sempre enviar um e-mail - de preferência em português - a um tal Rob Smyth, que, entre outras piadas, escreve assim: "Ronaldo is off the field again. The man from Madeira, he no look happy" (sic). Bem sei que a coisa é feita para ter graça, mas comparem um texto do mesmo palhaço, no mesmo dia, sobre o Inglaterra-Equador. Tem muito menos graça, não tem?
Era bom que fossem muitos, muitos e-mails. Eu já fiz a minha parte, tal como em 2004. E quem gosta de viver, aconchegado, sob o lema semper fluctuat, nec mergitur, pode sempre correr o risco de esperar por sábado.
posted by PC on 4:08 da manhã
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BOLA ORGULHOSA: É facil bater na "futebolização" do país e na alienação que isso representa, especialmente, quando se atravessam tempos difíceis. No entanto, é muito fácil entender a paixão que o fenómeno desperta. O triste facto é que, nos últimos anos, poucas vezes temos motivos para sentimos um orgulho nacional tão vivo como após vitórias como a conseguida hoje contra a Holanda ou como há dois anos, no Euro, contra a Inglaterra. Uma coisa é certa: seria óptimo que pudessemos encontrar grandes motivos de orgulho na política, et pour cause, na educação, na justiça, na economia e na saúde, que de alguma forma mitigassem os sucessos futebolísticos.
OBRIGADO Maniche. Obrigado Luis "Imenso" Figo. Obrigado Ricardo, Miguel, Ricardo Carvalho, Fernando Meira, Nuno Valente, Deco, Petit, Simão, Cristiano Ronaldo, Pauleta. Obrigado Scolari por ter feito uma equipa que se vê como equipa. Obrigado Costinha pelos últimos 6 anos.
posted by PC on 10:47 da tarde
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"TODA? NÃO!"* Toda a Gália está contente.
*Se não viram, peçam à SIC-N uma cassete/DVD com a análise do Rui Santos: é de chorar por mais. Há um moço no www.blasfémias.blogspot.com que também não vai nada mal.
posted by FNV on 10:40 da tarde
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A CARGA DA MANADA: Enquanto cozinho, ouço a TSF: Scolari agora é um profeta. Estes amantes provisórios dos treinadores ( que largam, enojados, quando aparecem as derrotas) são sempre divertidos, havendo no entanto uma coisa que incensam que não me diverte nada: o espírito de família da selecção. Não me compreendam mal. Sou do tipo familiar, mas na minha família não há chefões. Já utilizei, em posts anteriores, a metáfora da manada solidária e obediente. Acrescento-lhe hoje o espírito de colégio interno. Pode ser que funcione, mas a mim, leopardo irrecuperável, é que não me apanhavam nele. Por muito bom jogador de bola que este sinceramente vosso fosse, nunca conseguiria ser "um jogador de Scolari ". Tenho pena.
posted by FNV on 12:52 da tarde
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HANNIBAL LECTER NA PARVÓNIA: Era inevitável: o caso de Santa Comba trouxe à tona um batalhão de aspirantes a Clarice Sterling; ele é "passagem ao acto", ele é "retrato psicológico do psicopata", ele é tentar meter o Rossio na Betesga: conciliar uma colecção de louvores e décadas de boa vizinhança com a "personalidade do monstro". Por entre a gelatina psicológica, ainda ouvi alguém dizer que tinha de se tentar aperfeiçoar um método predictivo e preventivo. A maior parte da psicologia é uma colher de água no deserto imenso: mais sólida do que uma miragem, mas igualmente inútil. É uma disciplina preguiçosa, que na maioria das ocasiões ignora absolutamente as teses da falsicabilidade e que se entretem a repetir o que gostamos de ouvir. O tipo é "obviamente um psicopata" depois de ter cometido os irremissíveis crimes. Peguemos no exemplo do teste predictivo: a ideia assenta no pressuposto de que a cabeça de um homem de 30 anos já contém os elementos psicopáticos que o poderão levar a esquartejar adolescentes 20 anos mais tarde. Estes vendedores de banha da cobra nunca sairam de uma concepção determinista e atomista da psique: estão convencidos que todas as nossas acções estão pré-determinadas e que se encadeiam ordenadamente. Fantasiando-se detentores dos segredos de Elêusis, cuidam ser indispensáveis para nos explicar o que somos. Delírios.
posted by FNV on 11:27 da manhã
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AI CARAMBA! Não que vos queira abesourar a esta hora, mas este mexicanitos que obrigaram a super-hiper-Argentina a prolongamento não são os mesmo aos quais nós deveríamos ter espetado quatro secos. Estes eram do Centro-Sul, zapatistas, os nossos eram afiliados de Doroteo Arango, vulgo Pancho Villa; mais gordos e tenros, já se vê.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.