SABER AO QUE SE VAI: Deste lado da fronteira, acreditaria na boa vontade dos súbitos alardes de iberismo se fossemos nós os ricos. A não ser assim, prefiro a singela - mas mais autêntica - tabuleta a dizer "trespassa-se".
posted by FNV on 11:25 da tarde
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MENINOS (II): Dantes os filhos vinham porque sim ou porque eram necessários, hoje vêm por prazer ou quando já não são inconvenientes. Esta nuance permitiu a ascensão dos psicólogos e dos especialistas em educação, como é evidente. As crianças nascem mimadas como animais de cobrição, e bem, pois são cada vez mais raras. Nos hemisfério norte passa-se esta coisa curiosa: damos à luz cada vez menos petizes, divorciamo-nos cada vez mais. Ou seja, o investimento é difícil e precioso mas aparentemente suportável por apenas um dos membros do casal. A cultura adolescencial - radical na defesa de instâncias envernizadamente estéticas como os direitos das doninhas, o culto do corpo, o desporto, a emotividade - é o recurso de sobrevivência imposto pela factura do abandono. Tudo à superfície, livremente, é certo; tão certo como nos sentirmos estranhamente desejados e rapidamente descartados.
posted by FNV on 11:02 da tarde
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MONTALE, SEMPRE:
" Ho scoperto ora che vivere non è questione di dignità o d' altra categoria morale. Non dipende, non dipese da noi. La dipendenza può esaltarci tavolta, non ci rallegra mai. "
OLHA A NOVIDADE: O Guiness Book, com 98 anos de atraso, reconheceu que o Benfica é o maior clube do mundo.
posted by FNV on 8:06 da tarde
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"THE FENCE OF LIES":Mario Vargas Llosa, no New Statesman, sobre o muro que os americanos pretendem construir em parte da fronteira mexicana. Llosa conta que a sua empregada doméstica guatemalteca faz 8000 U$ por mês. Pois...
posted by FNV on 6:08 da tarde
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EU TAMBÉM: Vital Moreira (Causa Nossa) faz a pergunta certa sobre os seguidores de Rumsfeld. Mas não, caro Vital, ninguém segue um cão danado.
EPITÁFIO DE UM CABO DE GUERRA ( THANK YOU MR. RUMSFELD) : Fez tudo aquilo para o qual foi contratado. Num número antigo da Foreign Affairs ( May / June 2002), Rumsfeld explicava: livrar a America de novos ataques, manter a capacidade de intervir onde for necessário, perseguir o inimigo, proteger as redes de informação. Era um civil, é um facto, e os civis são maus generais. Mas a guerra já não é o que era e os generais também não ( hoje são todos políticos) . Foi despedido como um cão danado e abandonado por aqueles que até há bem pouco tempo nele confiavam. A guerra segue dentro de momentos. Como sempre.
posted by FNV on 10:56 da tarde
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UM VOTO DE BOAS-FESTAS: Hugo Chávez quer o Menino Jesus em todos os lares venezuelanos, mas à cautela enfiou nas carteiras do povo um triplo subsídio de Natal ( diz o "Público" ) nas vésperas das eleições presidenciais. E é este um dos heróis do Fórum Social Mundial e interlocutor privilegiado do marxista Samir Amin.
posted by FNV on 11:31 da manhã
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A BELA ADORMECIDA:O PCP substituiu os " fascistas" pelos "neo-liberais", o BE entretem-se com os bancos e com as " fracturas" , o CDS espera por Paulo Portas. O " bom " PSD aguenta Marques Mendes, aterrorizado com a perspectiva de um meio-regresso: Santana apoiado por Meneses. Nestas condições, Sócrates até pode fazer o congresso na casa dos Sete Anões.
posted by FNV on 11:16 da manhã
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FOR YOU, O DEMOCRACY:
Come, I will make the continent indissoluble, I will make the most splendid race the sun ever shone upon, I will make divine magnetic lands, With the love of comrades, With the life-long love of comrades.
I will plant companionship thick as trees along all the rivers of America, and along the shores of the great lakes, and all over the prairies, I will make inseparable cities with their arms about each other's necks, By the love of comrades, By the manly love of comrades.
For you these from me, O Democracy, to serve you ma femme! For you, for you I am trilling these songs.
Walt Whitman
(para encerrar o capítulo dos comentários sobre as eleições americanas que já devem enjoar. Peço desculpa por enjoos eventualmente provocados)
posted by NMP on 6:46 da manhã
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NOVAS PERSPECTIVAS O sistema político americano, com as suas eleições primárias, provoca 2 tempos distintos no discurso eleitoral dos candidatos às eleições presidenciais. Um primeiro momento em que, para ganhar as eleições dentro dos partidos há a necessidade de convencer as bases. Um segundo tempo em que o objectivo é conquistar os não-partidários. A existência deste sistema levanta problemas interessantes, sobretudo no próximo ciclo político até 2008. Será que a actual moderação sobreviverá ao período das primárias? E quem tem a tarefa mais díficil - os candidatos democratas ou republicanos? Apesar de os democratas terem, para já, o vento eleitoral a seu favor uma resposta a estas perguntas não é fácil nem imediata. Do lado democrata há actualmente uma candidata que se destaca - Hillary Clinton. Mas, para além dela, há uma proliferação de nomes que talvez entrem na corrida: Barack Obama, o senador de Indiana Evan Bayh, o ex-governador do Iowa Tom Vilsack, o ex-candidato a Vice-Presidente John Edwards, e eventualmente Al Gore e mais alguns. O tema da guerra no Iraque é particularmente fracturante dentro do Partido Democrata. Como se viu nas eleições para Senador no Connecticut (em que Lieberman foi preterido dentro do Partido Democrata por um candidato anti-guerra, tendo vindo mais tarde a ganhar as eleições gerais como independente), a base do Partido Democrata é muito mais ferozmente anti-guerra do que o eleitorado em geral. A isto, é preciso acrescentar a tradicional indisciplina dos democratas, muito permeáveis à influência de grupo externos ao partido como a MoveOn.org ou bloggers. Como em tudo na América, havendo procura, seguramente que aparecerá a oferta: com toda a certeza emergirá um candidato com um inflamado discurso anti-guerra. Os melhores candidatos a esse papel são Al Gore (que nunca apoiou esta opção) ou John Edwards (que repudiou publicamente o seu voto a favor, pedindo desculpas). Este cenário pode colocar muitas complicações a Hillary Clinton. Tentando manter uma pose de Estado, a senadora sempre recusou arrepender-se publicamente do seu apoio à guerra. Qualquer mudança de opinião neste campo abre o flanco a acusações de oportunismo político e, pior, a afastá-la do centro político (e ela não tem uma imagem centrista tão consolidada quanto a do seu marido). O exercício é delicado e está ainda por cima sujeito a acontecimentos no relacionamento entre o Congresso e o Presidente que Clinton não controla totalmente. Daí que não seja de estranhar que a cara mais feliz da noite de terça-feira passada fosse a de John McCain. As eleições intercalares praticamente eliminaram qualquer hipótese de pré-anunciados candidatos da direita religiosa (como Allen que perdeu a corrida poara Senador na Virginia e Santorum a quem ocorreu o mesmo na Pennsylvania). Resta Mitt Rooney, ex-governador do Massachussets, mas que não parece sere um candidato ameaçador para McCain. Mais, para a direita religiosa, Hillary Clinton é uma espécie de anti-Cristo. Mesmo que as primária sejam renhidas (o que é de duvidar) McCain não terá de se esforçar muito para ter os evangélicos a votar em massa em si, no caso de chegar a uma eleição contra Hillary. Acresce que o domínio do Congresso pelos democratas retira o argumento, para 2008, de que todos os males da América são culpa dos republicanos. E mesmo nesse ponto, McCain está bem escudado - não há senador mais independente do seu partido do que ele (havia o de Rhode Island mas perdeu). O novo paradigma eleitoral que implica um cortejar dos independentes do centro abre novas perspectivas aos moderados republicanos. Aquilo que há meses parecia impossível, um ticket McCain/Giuliani, soa hoje aos ouvidos de muitos republicanos como necessário e inevitável. Resta saber se Rudy não terá ambições próprias (ele tem-nas desmentido veementemente e mantem relações próximas com McCain). Até há pouco era considerado demasiado moderado, sobretudo em questões morais como o aborto e o casamento entre homossexuais, para alguma vez poder ganhar primárias no Partido Republicano. Pode, no entanto, ter-se sentido encorajado pelos resultados de terça. Os democratas devem sentir-se felizes e optimistas. A onda eleitoral parece estar do seu lado. Mas de uma maneira curiosa, o resultado de terça-feira abre também novas perspectivas do lado republicano: a possibilidade, hoje muito mais real do que antes, de conseguirem juntar numa candidatura presidencial dois dos seus mais populares militantes. Com estatuto de heróis e ícones da moderação política no Partido Republicano. A corrida para 2008 promete ser das mais interessantes das últimas décadas.
posted by NMP on 5:41 da manhã
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UM NOVO PARADIGMA ELEITORAL? Em 2000, Karl Rove, o cérebro da política eleitoral republicana, afirmou que nessas eleições tinham faltado a Bush 4 milhões de votos da direita religiosa, que não se incomodaram em votar num candidato então aparentemente centrista. As eleições de 2002 e 2004 vieram provar que a sua aritmética eleitoral estava certa. A noite de anteontem feriu de morte esta estratégia política. De tão preocupados em segurar estes votos da direita religiosa, os republicanos foram alienando de forma bem perigosa o apoio dos independentes que em anteriores eleiçõs tinham garantido a sua maioria. O ambiente da América pós-11 de Stembro convidava a uma estratégia de clara confrontação política por parte dos republicanos (eletoralmente falando claro, outra coisa é avaliar se esta seria a táctica mais inteligente para combater o terrorimo). O centro assustado (essencialmente independentes moderados de classe média que habitam os subúrbios, os daily commuters) apoiava sem reservas uma política externa agressiva. Uma certa ideia difusa de fazer a guerra ao terrrorismo ao ataque tinha tomado conta dos espíritos da maioria dos americanos. Toda a retórica pré-guerra do Iraque, o apoio esmagador a essa opção (não esqueçamos que a maior parte do Partido Democrata apoiou essa decisão) devem ser entendidos nesse ambiente. Três anos depois, o panorama político mudou. A prolongada indefinição da situação no Iraque e uma série de acontecimentos internos (Katrina, na minha opinião, o momento-chave de viragem da popularidade de Bush, bem como a corrupção e escândalos que sempre florescem em períodos de poder absoluto) criaram um clima político anti-republicano. E fizeram com que o voto dos independentes fosse esmagadoramente na direcção dos democratas. Foi o centro político que deu a vitória aos candidatos democratas, como a direita religiosa a tinha dado aos republicanos em 2002 e 2004. Isto explica muitas das análises que sustentam um regresso dos moderados ao comando da política americana. É certo que os democratas escolheram muitos candidatos no Midwest e no Sul que são, na sua essência, conservadores políticos (pró-guerra, anti-aborto e nalguns acaso até anti-apoiso federal a programas de investigação que usem células estaminais). É óbvio que o Partido Democrata fez a campanha mais profissional desde há muitos anos - a maior prova desse profissionalismo foi o facto de Nancy Pelosi ter estado quase um mês desaparecida de palcos com visibilidade nacional para não assuatar o heartland. Com o poder vem a responsabilidade. Na noite eleitoral, Howard Dean afirmou na televisão que nunca foi objectivo dos democratas retirar do Iraque (esta afirmação provocou sorrisos e gargalhadas num estúdio de TV repleto de analistas que bem se recordavam do Dean candidato anti-guerra). Nancy Pelosi (uma personagem bem mais interessante e hábil do que a caricatura de esquerdista de São Francisco faz crer) tem feito afirmações na mesma linha, garantindo a cooperação estratégica e construtiva do congresso com o Presidente. Mais que um regresso da moderação à política americana (veremos, nos próximos tempso se é esse o caso) começou um novo tempo de refocagem no swing vote (que já não mudava há algumas eleições). Resta saber se e quais serão os políticos moderados a lucrar com este novo paradigma eleitoral.
A PRIMEIRA VÍTIMA: Rumsfeld vai demitir-se hoje. É a primeira vítima do realinhamento político americano. E uma demissão que peca por tardia. A forma totalmente disfuncional e incompetente como Rumsfeld geriu a intervenção no Iraque há muito justificavam a sua queda. A situação tinha chegadao a um ponto tal que na semana passada um editorial de uma revista de militares, tradicionalmente disciplinada, tinha pedido a sua resignação. Consta que esta demissão terá sido iniciativa do próprio ao perceber o óbvio ontem à noite. É que ele foi seguramente um dos maiores responsáveis pelas perdas eleitorais dos republicanos.
A DIFÍCIL ARTE DA OPOSIÇÃO A MEIO DE UM CICLO ELEITORAL: Os portugueses que ouvem Marques Mendes estão perplexos: "as mudanças na saúde são pontuais, na educação não mexem na estrutura e na segurança social deixam tudo na mesma ". Doentes, professores e pensionistas desejariam alguém que os defendesse das " reformas ", mas em vez disso têm quem as nega.
posted by FNV on 6:51 da tarde
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CHECKS AND BALANCES: Se se confirmarem as previsões, não se passará nada mais na América do que o reforço do sistema de checks and balances em que assenta a democracia americana. O poder concentrado num só partido é, na história política americana, mais uma excepção do que a regra. Esta divisão de poder é bastante saudável.
posted by NMP on 4:21 da tarde
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A LER: No Origem das Espécies um brilhante artigo/post de Onésimo Teotónio de Almeida sobre a intrincada eleição americana de hoje. Das poucas vezes que escrevo aqui sobre política americana tenho-me esforçado por deixar claro que esta realidade é bem mais complexa e com nuances do que a caricatura que se vende na Europa faz crer. Tenho a certeza que esse esforço é em vão. Não há nuance que abale a certeza dos que vêem o Mundo na base de «bons e maus», de «boa América» e «má América». De certa forma invejo-os: deve ser muito mais simples viver assim, assente em certezas tamanhas. É claro que, tendo já visto alguma coisa, sabemos que assim que a «boa América» ascende ao poder e começa a tomar decisões, torna-se, aos olhos dos mesmos, prisioneira condicionada pelas grandes conspirações da «má América» (lembram-se da Bósnia? do Kosovo? da Somália?). No fundo, para esta linha de argumentação, apenas a «má América» funciona - umas vezes directamente (quando está no poder) outras vezes através de procuradores (as grandes empresas ou o complexo militar-industrial). Não há volta a dar-lhe. O mais irónico é que o mecanismo mental que faz alguns dividir uma realidade complexa entre bons e maus é, na sua essência, o mesmo (ainda que simétrico) que permitiu um dia que um Secretário da Defesa americano dividisse um velho e histórico continente entre «Velha Europa» e «Nova Europa». Não deixa de ser engraçado.
posted by NMP on 3:38 da tarde
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O BEIJO DA MORTE: Quando um líder do PSD recebe os encómios de Alberto João Jardim, das duas uma: ou está a chegar ou está para sair.
posted by FNV on 11:48 da manhã
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MENINOS: Fora do mundo de plástico, da TV e das revistas, a vida da mulher, divorciada e sozinha com dois filhos, é uma estucha. Carrega todos os inconvenientes da vida familiar sem nenhuma das vantagens ( nenhum homem o desejaria). A ausência do pai, salvo se este for violento ou alcoólico, é devastadora, quanto mais não seja pela simples aritmética: todas as necessidades das crianças têm de ser satisfeitas pela mulher. Um batalhão de aldrabões vendeu à sociedade que isto faz parte da liberdade. O suicídio também. Se a mulher não tiver o apoio de uma mãe ( ou de uma sogra), é o Inferno em versão doméstica. Chega a casa com os petizes por volta das sete da tarde, tem de vigiar trabalhos escolares e birras, providenciar boleias, para actividades extra-curriculares ( se houver dinheiro), e refeições; quando tudo finalmente sossega, está exausta. Depois, se a mulher for decente, há a culpa e há a raiva. Olha para as crianças e espera que elas um dia compreendam. Ouvir adultos cujos pais se divorciaram precocemente é instrutivo: sentem-se roubados tanto quanto sentem que roubaram o sossego a alguém. Desde os anos 70, e progressivamente, os jovens casais dão uma pirueta e vão para a vida familiar convencidos que aquilo é uma festa. Quando a festa acaba, fazem exactamente o mesmo que lhes fizeram. Compreenderam bem demais.
AURAS: " A aura de viver no intervalo das coisas que podem definir-se " faz-nos sorrir, escrevia Fernando Pessoa, a propósito do autor de "Sácha", no oitavo número da Contemporânea ( 1923). É uma fabulosa descrição do rosto do filho que dorme, depois de lhe termos contado uma história; mas também do rosto do filho, descansadamente inerte, antes de o vestirmos para a última despedida. É a definição de um intervalo terrível.
AMPUTAÇÕES: Rui Rio quer estancar a subsídio-dependência ( iniciativa meritória ) cortando todos os subsídios. Só que Rio não parece compreender que isso é estancar a hemorragia cortando a perna.
posted by FNV on 12:44 da tarde
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FANTASMAS: Gaby Wood publica no último número da Cabinet um resumo do seu ensaio " The Phantom Museum ", dedicado à alucinação do membro-fantasma. Ficamos a saber que foi Ambroise Paré, cirurgião das campanhas de Francisco I, quem primeiro descreveu a sensação: os amputados sentem que ainda possuem o membro amputado. Séculos mais tarde, outro cirurgião, Silas Mitchell , com muita experiência em Gettysburg, alcunhou definitivamente o termo. Pormenor interessante, Mitchell notou que os alucinados sentiam o membro amputado na última posição em que estava quando ainda inteiro: uma mão era sentida como contorcida ou como enrolada em torno do punho da arma.
posted by FNV on 12:18 da tarde
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DE ACORDO: " Vejo como muito patusco alguém que pensa que pode fazer uma vida a partir de uma imagem oca ", disse Louçã ao "Sol". Não entendi bem por que motivo a entrevista começa por este tema.
Mar de opinioes, ideias e comentarios. Para marinheiros e estivadores, sereias e outras musas, tubaroes e demais peixe graudo, carapaus de corrida e todos os errantes navegantes.